Funk Carioca. Cultura Brasileira

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El_Cabong
Veterano
# nov/13 · Editado por: El_Cabong
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little_wolf
Se ele estivesse ouvindo no talo Led Zeppelin ou Miles Davis, você estaria tendo a mesma reação de raiva?

A raiva seria bem menor com certeza.
Mas teria raiva igual porque, tem horas que eu não quero ouvir nada.

Esses dias a minha esposa estava no quarto tentando fazer a minha filha dormir, mas tinha uns vizinhos fazendo churrasco a noite e com o som a todo volume. Eram até umas músicas que eu gosto e ouço de vez enquanto, mas naquela hora eu estava enraivecido com aquilo !!
______________________________________________

A culpa não é do gênero, é do indivíduo mal educado.

Com certeza !!!
Se não existissem funkeiros mal educados eu não teria a mínima noção do que viria a ser um Funk Carioca.

little_wolf
Veterano
# nov/13 · Editado por: little_wolf
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O problema, El_Cabong, é que muitas vezes e pra muita gente essa ira contra o funk tem muito preconceito embutido. Preconceito contra favela, contra o subúrbio, contra os pobres, contra o seu modo de vida, contra sua cultura... O gênero musical acaba entrando no pacote, porque no fim ele é uma voz legítima sim desses grupos. E o modus operandi de ouvir o som alto em lugares públicos é retrato da precariedade da educação.

rcorts
Veterano
# nov/13 · Editado por: rcorts
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little_wolf

Não! você não deve ter entendido o sentido da minha colocação. Tempo de maturação é uma coisa. Tempo de perder o interesse é outra totalmente diferente. E foi isso o que aconteceu com o axé, "pagodão molejo", jovem guarda (tá mais pra velha guarda hoje em dia) e tantas outras coisas chulas que ninguém (no sentido genérico do termo) quer saber de escutar hoje em dia.

O samba sim, teve seu tempo de maturação, através do qual deixou de ser considerado preconceituosamente como "música de preto macumbeiro" pra se tornar o estilo mais representativo de Brasil internacionalmente. Trata-se de um estilo que se provou rico em conteúdo tanto poético, quanto cultural e harmônico, e que permaneceu sobre os tempos e para além morro, dentro e fora do Brasil.

Bossa Nova talvez seja o menos representativo de Brasil dentre os exemplos que eu citei. Apesar de que, mesmo com toda a influência do jazz nesse estilo (que aliás é algo explicitamente declarado) os temas são mais suaves e calmos, como quem está a ver um por do sol à beira mar, diferente do Jazz que apesar de suave ao mesmo tempo se caracterizou pelo timbre rasgado das Divas do Jazz. E dizer que a relevância da Bossa Nova como um gênero legitimamente brasileiro se deve só a rítmica é praticamente cuspir no túmulo do Tom Jobim.

Também não estou sendo hermético na questão do Funk. Basta observar outros estilos que aconteceram aqui na mesma linha caindo rapidamente em declínio e você vai observar se se trata apenas de marolinha ou não.

O Calipso no Brasil é um bom exemplo disso. Cadê a dupla Joel e Chimbinha? antes todo dia eles estavam em programas de auditório. E hoje quem mais lembra do nome do Chimbinha no Brasil são os metaleiros pra fazer vídeos de comparação do tipo "Chimbinha vs Ardanuy" ou "Chimbinha Vs Kiko Loureiro" no Youtube.

Não estou dizendo que não vá ter público. Até hoje existe público de axé no Brasil, mas é muito restrito. Não se vê mais aquela enxurrada midiática de axé como se via na época das Carlas Perez da vida. E pode até ser só pitaco, meu camarada, mas se você observar outros fenômenos parecidos, não é difícil chutar que logo logo essa febre passa e vem outra coisa pior no lugar, porque é assim que a indústria cultural gera dividendos.

little_wolf
Veterano
# nov/13
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rcorts
Você tem razão em partes. A questão talvez está na duração dos ciclos. Talvez por uma questão geracional e tecnológica, os ciclos estejam cada vez menores. Mas isso não tira a importância do gênero. Sobre o funk especificamente, ele é uma manifestação dos guetos, da favela. Se não durar comercialmente pro mundo, possivelmente continuará existindo no seu nicho.

E sobre a Bossa Nova, não é a relevância, mas a contribuição. Se você exclui a parte rítmica e partir pra análise harmônica, é jazz. O que deu à bossa nova a cara de bossa nova foi o suingue e o ritmo brasileiro. O forró, outro gênero que você citou, tem base gringa e forte. Música modal, mixolídia. Influência forte de música folclórica europeia. E o que deu a sua cara foi a pitada rítmica brasileira/africana. Esses gêneros já nasceram fruto de globalização e miscigenação, numa época que esse termo nem sonhava em existir. Vai querer exigir pureza de DNA do pobre do funk?

damiusc
Veterano
# nov/13
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Vishh escreveram um monte de coisa aqui!! Depois eu leio tudo.. hehe
Mas só passando pra ilustrar o tópico hehe

rcorts
Veterano
# nov/13 · Editado por: rcorts
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little_wolf

Você tem razão em partes. A questão talvez está na duração dos ciclos. Talvez por uma questão geracional e tecnológica, os ciclos estejam cada vez menores. Mas isso não tira a importância do gênero.

Cara, não é questão de ciclo menor, ciclo maior. O que presta dura. O que não presta cai rapidamente no esquecimento. Simples assim. Chico Buarque já não é mais popular há décadas e suas obras tem um conteúdo que transcende gerações.

Sobre o funk especificamente, ele é uma manifestação dos guetos, da favela. Se não durar comercialmente pro mundo, possivelmente continuará existindo no seu nicho.

E o que eu tinha falado antes: No meu ponto de vista não passa de mais uma modinha. Depois que passar, essa ondinha volta a ser apreciada apenas no seu local e contexto de origem. A exemplo do que foi com o axé.


E sobre a Bossa Nova, não é a relevância, mas a contribuição. Se você exclui a parte rítmica e partir pra análise harmônica, é jazz. O que deu à bossa nova a cara de bossa nova foi o suingue e o ritmo brasileiro. O forró, outro gênero que você citou, tem base gringa e forte. Música modal, mixolídia. Influência forte de música folclórica europeia. E o que deu a sua cara foi a pitada rítmica brasileira/africana. Esses gêneros já nasceram fruto de globalização e miscigenação, numa época que esse termo nem sonhava em existir. Vai querer exigir pureza de DNA do pobre do funk?

Cara, você tá viajando feio na maionese. Em que momento eu falei de pureza de estilos. Pra mim isso não tem a menor importância. Se é bom é o que interessa. O Cazuza surgiu basicamente da influência do rock americano que aquela bichinha escutava (só para esclarecer, sem preconceitos, pois era uma bichinha extremamente talentosa), e fez músicas ótimas. Tô falando de conteúdo, e tentando ser ponderado. Mas se você quer saber o que eu acho de verdade, sem rodeios, pra mim Funk não tem qualquer espécie de conteúdo. Pra mim é pura porcaria e degradação humana, cultural e social.

E quanto a relevância do gênero, se você quer saber da minha opinião, muito pessoal mesmo, funk carioca (que fique claro, no contexto surgido depois dessa palhaçada de Bonde do Tigrão) não serve pra mais nada senão para identificar o Brasil como um país de traficantes, cafetões e va*i*s.

Lelo Mig
Membro
# nov/13 · Editado por: Lelo Mig
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O Rei agradece!

rcorts
Veterano
# nov/13
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Lelo Mig

Boa!

o.Oo 0
Membro Novato
# nov/13
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Casper
Minha tese:
http://menegasso.blogspot.com.br/2012/12/akai-x-funk-carioca.html


Legal.

O modo de cantar berrando e a pouca preocupação com a afinação da voz, aparentemente (e apesar de poder ser facilmente corrigida hoje em dia com meios eletrônicos simples) parece não incomodar os adeptos do gênero.

Muito engracado. E nao tem a ver, mas isso me lembrou a Lydia Lunch cantando com o maior lirismo e em territorio jazzistico como uma verdadeira rapper.

little_wolf
Veterano
# nov/13 · Editado por: little_wolf
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Cheguei agora do trampo, então first things first

Thiago Livgren que toca mais ou menos
Mas pegou meio pesado falando que esses proibidão aí é genial. Me diz, qual é a genialidade de dizer: "Será que vc aguenta, loirinha? É claro que eu aguento, negão"??? Se for sobre revolução, e.t.c., qual benefício um baby boom pode trazer? Acha que essa galera realmente gasta com camisinha? E.t.c.

Genial por dois motivos: o primeiro motivo, porque o gênero não se leva a sério. E convenhamos, um dos motivos que tornou o rock bundão e caretão é se levar a sério demais, desde o pop-rock e principalmente o indie rock. Um dos sintomas da contestação roqueira, sempre foi a auto-ironia. E o rock foi perdendo isso cada vez mais a partir dos anos 90. Você pode torturar o Catra, a Tati Quebra-Barraco, a Waleska Popozuda, e você nunca vai ouvir deles uma confissão de que se levavam a sério.

O segundo, mais importante, é que lidam com um dos temas (senão o mais) mais tabus da sociedade, e principalmente da sociedade puritana brasileira: o sexo. E o mais genial é a maneira com que abordam o tema: forma direta, vocabulário rude. Quando o Caetano recorre aos "olhos de gueixa, Kabuki, máscara" o Bonde do Tigrão vai "passar cerol na mão". Enquanto o Caetano gosta "de ter / Sentir seu estilo / Ir no seu íntimo", o Bonde do Tigrão vai "aparar pela rabiola". Obviamente os dois querem comer a mulher. Aí alguém vai comparar os vocabulários o que é covardia. Um é branco, estudado, com incentivo a cultura pela casa e amigos. Outro é preto, favelado, com muita sorte deve ter um segundo grau completo via supletivo. Um cresceu com oportunidades à sua volta, outro com o inferno.

E o mais interessante em relação ao funk putão foi quando as mulheres assumiram o protagonismo. É a versão favela e suburbana do que representou o Bra-burning no final dos anos 60. É o grito de liberdade das mulheres, do direito de fazerem o que quiser com o próprio corpo, de assumir e escancarar publicamente seus desejos, seus prazeres, suas taras, e dar um tapa na cara no no puritanismo carola e no falso moralismo da sociedade. O fato do rcorts soltar um
não serve pra mais nada senão para identificar o Brasil como um país de traficantes, cafetões e va*i*s. (e o fato de muita gente pensar como ele) é a prova cabal de que elas estão no caminho certo. Ênfase nesse último negrito.

Tem outras coisas que eu gostaria de postar aqui mas o texto já está grande demais, e que no decorrer da discussão eu vou mandando, mas o fato é que não é fácil para nós entendermos e aceitarmos o funk como movimento cultural legítimo. Sabe por quê? Se fizer um recenseamento do FCC você consegue traçar o perfil do usuário médio do forum: Homem, branco, cristão, ensino médio como escolaridade mínima, renda familiar Classe B, e por aí vai. O perfil do funkeiro (e do seu público alvo por consequência) é o avesso do nosso. É diametralmente oposto ao perfil do usuário médio deste fórum. É a tendência de nós, bacanas, rejeitarmos o que vem do morro por padrão. É difícil pra nós que não sabemos 1% do que se passa sobre os morros nas favelas e não passamos por 1% do que muitos deles passaram ou passam até hoje entender o que se passa na cabeça deles. A maioria cai no caminho fácil e preguiçoso do "rock wins" e gritar funk é lixo. E querer calar a voz deles sob o pretexto de qualidade artística e cultural é crueldade. É preconceito social travestido de preconceito musical, que a culpa cristã e a auto-indulgência impede de admitir.

little_wolf
Veterano
# nov/13 · Editado por: little_wolf
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Lelo Mig
Cara, por essa lógica você tá atacando o inimigo errado. Se tem alguém que tornou o funk do rei uma merda não foram os morros cariocas, foi o Jota Quest. O Casper já postou: o funk carioca de funk só tem o nome. O gênero é totalmente diferente. É mais fácil encontrar genes comuns entre o pagode cohab e o samba, entre o Restart e o Rock, entre o sertanejo Leandro e Leonardo e o modão de viola do que entre o funk carioca e o funk roots que não tem nada mesmo em comum.

RRRRRRRRRRRRRRATINHO!!!!

MMI
Veterano
# nov/13
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Agora que vi esse tópico...

Há 20 anos atrás o Kiss lançava esta música. A letra, se traduzir, na minha opinião dá um funk tranquilamente...



Essa é mais nova (acho), mas também rola de virar um funk pela letra:



rcorts
Veterano
# nov/13
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little_wolf

Cara, em um ponto tenho que confessar que te admiro. Você persiste. E tem argumentos. Particularmente, gosto quando a discussão ocorre assim, de forma saudável.

Mas nem por isso tenho de concordar com tudo. Até porque, esta discussão não se encerraria em simples justificativas como: preconceito social, preconceito musical, ideologias religiosas, quebra de tabús, estilo mais ou menos agressivo, etc...

Há várias outras questões (complexas inclusive) envolvidas, como a estética (musical, poética, e até performática) por exemplo. Todas questões subjetivas. E ainda tem uma questão muito, mas muito subjetiva que entra nessa discussão, que é a do gosto pessoal. E nesse ponto, independente de ser coisa de pobre, gente com baixo nível educacional e favelados, ou de ser um produto cultural elitista, independente de ser ou não um movimento cultural legítimo, uma coisa é certa: ou se gosta de algo, ou não.

E pra gostar não precisa de motivos, muito menos dá pra explicar gosto só com base em classe social, nível educacional ou localização geográfica. Tem muita música sendo feita hoje por gente de classe média alta (como o Indie, por exemplo) que não consegue tirar um suspiro meu.

Eu moro em Goiânia. Aqui e em grande parte do Brasil rola uma piada, de que em Goiânia, se juntar dois caras numa esquina e um tiver um violão vira uma dupla sertaneja. 90% dos meus familiares detestam rock. Praticamente em toda reunião de família em que estou presente, as músicas que rolam são em maioria sertanejas. Quando sobra espaço hoje em dia, rola algum funk ou forró receita de bolo (tudo igual, parece um disco furado, igual a escutar um CD do Chuck Berry). Antigamente era a porcaria do axé. Enfim, meus primos e tios odeiam rock, e eu comecei a gostar desse estilo eu nem me lembro como ou porque. Simplesmente da primeira vez que ouvi gostei, e depois não parei mais. Agora, em momento algum vou acusá-los de não gostar de rock por que são ignorantes, porque desconhecem todo um contexto por trás do surgimento do rock, ou porque são cristãos e etc... E acho que eles não tem nem mesmo a obrigação de tentar conhecer. Se tivessem que gostar eles simplesmente gostariam.

Por outro lado, que o funk é um movimento cultural brasileiro, isso eu nem discuto, tá aí pra quem quiser ver/ouvir. Como eu disse antes, infelizmente. O rap também é um movimento cultural com uma certa representatividade no país, apesar de ligeiramente menos expressivo do que o funk (no meu ponto de vista). Nem por isso eu tenho de respeitar ou valorizar.

Outro ponto que acho válido tocar é que não tenho obrigação de ser passivo em minhas opiniões e simplesmente aceitar que algo é bom ou legítimo só porque alguns sociólogos cunharam um termo pra definir isso como relativização cultural.

A enorme crítica sobre o etnocentrismo é muito bonitinha na teoria. Mas na prática, me diga, sem pelo menos um pouquinho de etnocentrismo como alguém poderia agregar valor a algo?

Como alguém poderia diferenciar práticas culturais e interpretar seus conteúdos simbólicos partindo da premissa de que tudo é normal, de que tudo tem seu valor, e de que não há nem melhor nem pior, apenas as diferenças?

O maior equívoco que, a meu ver, invalida ou pelo menos questiona essa zen-teoria de "sociólogos da empatia" é o simples fato de que, ao se estabelecer uma crítica ao fato de que um grupo possa nutrir algum tipo de preconceito contra outro grupo, instantaneamente se cria um outro preconceito maior ainda: quem não valoriza outras formas de expressão é ignorante e etnocêntrico?

Oras bolas, se você não pode usar de comparação para estabelecer julgamentos, como poderia atribuir valor à sua própria cultura?

Então, num ponto concordo com você, funk é sim uma manifestação cultural brasileira. É produto cultural originalmente de uma classe social desfavorecida Mas que nem por isso deve ser impedida de se expressar, e que também, nem por isso deve ser considerada incapaz de produzir algo melhor do que isso. Tomo o Seu Jorge por exemplo. É um artista que eu admiro, gosto e respeito bastante, e o cara saiu da favela.

E quando digo melhor, aí entra todo o meu gosto pessoal, estético, social e etc.... etc... etc...

AllanGouveia
Membro
# nov/13
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na minha opinião, posso entender que faz parte da cultura e tudo mais, mas é uma bosta...

É ridículo ver que bons músicos passam vidas ganhando merreca, enquanto 5 gurias que nunca estudaram e não sabe o que é um octógono fazer uma "música" que nem sabem em que tom estão cantando e com uma letra aonde um quadrado tem oito lados e "todo mundo" gosta, a mídia aplaude e elas ganham a maior grana falando pornografias nas outras músicas e idiotices nessa música em questão...

Eu acho que essa música é reflexo da educação no Brasil...

Sabe porque concordo que essa merda de funk carioca faz parte da cultura? pq li em um livro que é música é um reflexo da sociedade na qual ela foi criada... Mesmo sendo uma merda, é aquilo que o povo que ouve gosta...

Fazer o que, neah?

AllanGouveia
Membro
# nov/13 · Editado por: AllanGouveia
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El_Cabong
Genial mesmo é essa sua comparação kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

Thiago Livgren que toca mais ou menos
concordo com você... funk é uma bosta... Aquilo é um insulto a quem estuda música... A maioria das pessoas que cantam funk não sabe nem o tom da própria música deles!

Olhe oque é funk carioca de verdade kkk

Thiago Livgren que toca mais ou menos
Membro Novato
# nov/13
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little_wolf
Você pode torturar o Catra, a Tati Quebra-Barraco, a Waleska Popozuda, e você nunca vai ouvir deles uma confissão de que se levavam a sério.
Como respeitar um movimento que nem eles mesmos se levam à sério?

O segundo, mais importante, é que lidam com um dos temas (senão o mais) mais tabus da sociedade, e principalmente da sociedade puritana brasileira: o sexo. E o mais genial é a maneira com que abordam o tema: forma direta, vocabulário rude. Quando o Caetano recorre aos "olhos de gueixa, Kabuki, máscara" o Bonde do Tigrão vai "passar cerol na mão".
Existem letras sobre sexo (explícitas ou não) em praticamente todos os estilos musicais. Cantar sobre isso não é novidade. Existem músicas eruditas sobre sexo. Até onde eu sei, pra ser genial tem que ser novo.

Aí alguém vai comparar os vocabulários o que é covardia.
Ninguém pediu pra galera da "comunidade zika" conhecer tantas palavras quanto um filho de ricões.

É a versão favela e suburbana do que representou o Bra-burning no final dos anos 60. É o grito de liberdade das mulheres, do direito de fazerem o que quiser com o próprio corpo
Digamos que tu tivesse uma filha com essa ideologia, como ia se sentir?
E se vc tivesse um filho(a) pequeno, inocente, e passasse um carro na rua estourando um "quero dadadadadadada", e ele(a) perguntasse: "Pai, ela quer dar o que?"

Se fizer um recenseamento do FCC você consegue traçar o perfil do usuário médio do forum: Homem, branco, cristão, ensino médio como escolaridade mínima, renda familiar Classe B, e por aí vai.
Poucos aqui são cristãos praticantes, eu creio, mas o resto eu concordo.

O perfil do funkeiro (e do seu público alvo por consequência) é o avesso do nosso. É diametralmente oposto ao perfil do usuário médio deste fórum.
Onde eu moro, metade da galera do funk tem essas características do pessoal do forum. Eles estudam, os que pararam podiam continuar se quisessem. Mas pararam para viver como V1D4 L0K4. Grande parte das funkeiras ainda estão na escola (e váaaaarias são brancas), brigando por funkeiros.

querer calar a voz deles sob o pretexto de qualidade artística e cultural é crueldade.
Negros americanos não sofriam menos que negros brasileiros. Eles criaram o Blues, o Jazz, o Funk (o original), O R.A.P., o Gospel, e.t.c.
Os pobres brasileiros, independente da cor da pele, criaram outros estilos, como o Sertanejo, a Moda de Viola, o Samba, a Bossa, a M.P.B., o Baião, entre outros (o lance aqui não tem a ver com influencia externa). Esses estilos, assim como o funk, também não foram criados no meio de paz e tranquilidade. Se tem algum estilo que pode ser a voz da favela, é o R.A.P., pois aí sim eles afrontam a sociedade, quando falam a mais pura verdade sobre suas vidas e sistema de onde vivem (não defendo apologia ao crime, mas falar sobre a criminalidade muitas vezes é válido).
Concordo que o funk seja um movimento, porém o considero como um movimento social e nada além disso.

AllanGouveia
Aquilo é um insulto a quem estuda música... A maioria das pessoas que cantam funk não sabe nem o tom da própria música deles!
Sim! Inclusive uma vez ouvi um funk que o "riff" era basicamente 3 notas da escala cromática. Era só um sample, pra variar. ¬¬
Certo dia eu estava conversando sobre funk com um colega funkeiro, e defendendo a minha opinião referente à falta de musicalidade do funk. Eu pedi pra ele me mostrar um funkeiro que soubesse o que é uma semínima, ou um 4/4, ou em tom estava cantando, ou simplesmente um funk que tivesse algum instrumento musical não sampleado. Ele me disse que tinha um funk com um solo de guitarra. Imaginei 2 coisas:
1º: Putz, que porcaria que deve ser isso.
2º: Ah, deve ser só a intro de Sweet Child O'Mine com um beatbox no fundo. ¬¬

Rednef2
Veterano
# nov/13
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Essa letra aqui do Guns N' Roses daria um funk certinho:



Nessa versão ao vivo aqui rolou até mesmo um prototipo do que viriam ser as "popozudas":



Lord-g
Veterano
# nov/13
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damiusc
Comentem, julguem, critiquem. Fiquem a vontade, a casa é sua!! heheh

Quer a moral da história???
Aqui -> A porcaria que nossa música tá virando.


fernando tecladista
Veterano
# nov/13
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Pudera então os músicos brasileiros trabalharem para subir a qualidade desse estilo que se consolida em grande parte do território nacional.

gente que toca canta com essa batida já tem, acho que varias coisas da Fernanda Abreu tem esse ritmo ou chega proxímo, mas eu não vejo ninguém vestido de mano com o carro rebaixado adesivado com a música dela no talo

esse mesmo perfil que comentei acima também anda com o som no talo tocando as piores de letra do sertanejo universitario

então o que acontece não é querer elevar o estilo, mas o sujeito gostar da apelação, da letra grotesca, do palavrão na música, de ir descendo a bundinha até o chão, qualquer coisa que cante isso ele vai tocar no talo,... até uma ópera com esse tipo de letra vai emplacar

Casper
Veterano
# nov/13
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MC Inteligente - O Melhor Funk Carioca / Melhor Funk do Mundo



BrotherCrow
Membro Novato
# nov/13
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Essa é uma discussão que vai longe sem chegar a lugar nenhum... o que não quer dizer que não valha a pena discutir. Dá pra aprender muito analisando isso.

Mas vamos lá. Você vai definir o que é arte? Não sei se é possível, porque muitas vezes o que faz a arte evoluir é justamente essa redefinição constante. Pra um barroco, Stravinsky podia soar como barulho. E o John Cage? São artistas geniais justamente por ter pressionado os limites do que é música e do que é barulho (ou mesmo silêncio, se vc pensar no Cage, né?).

Aí você diz, "ah, mas não tem técnica". Aí não sei, nunca tentei tocar, mas será que não é justamente questão de exigir um ouvido diferente, uma sensibilidade diferente? Eu não me considero capaz de escrever um funk de sucesso. Se eu fizesse um funk, podia até ter mais técnica, mas não acho que fosse estourar, porque não é a minha praia.

Ainda sobre a técnica: tem excesso dos dois lados. Gente que faz música absurdamente técnica que não tem identificação com o público, e pessoas como essa turma do funk fazendo música "sem técnica" que ressoa com uma parte grande da população. Aí eu vejo a galera julgando com dois pesos e duas medidas: dizem que é mais importante tocar o público do que ser tecnicamente bom, mas quando o funk faz justamente isso, aí "não é música".

Funk é música. Tem ritmo, harmonia e melodia. É musica objetivamente, não é questão de opinião. Eu como indivíduo não posso decidir se funk é música; talvez não possa nem decidir se é bom ou ruim: só posso decidir se eu gosto ou não.

Então, ok: eu mesmo não gosto de funk. Mas eu não sou parâmetro pra nada, tem muita coisa que eu não gosto, e mais coisas ainda que eu não conheço. Tem bandas que eu sei que são boas, mas não consigo gostar. O que não cola pra mim é o argumento "não é arte porque eu não gosto".

Tem vezes que eu até ouço funk e me divirto: dou risada com MC Carol, por exemplo. Aí eu não estou pensando se ela canta bem, se o arranjo é incrível nem nada. Se você vai numa festa e tá rolando uma música que você não gosta, você manda trocar a música? Não, você vai embora da festa e deixa o pessoal curtir.

Quem não tem um parente ou amigo que diz que "rock é só barulho"? Será que a música tá no ouvido de quem ouve? Se estiver, é como um código que cada público entende ou não. Você é guitarrista, ouve o Steve Vai e pensa "nossa, como ele usa bem o modo lídio". Enquanto isso, um funkeiro está ouvindo o Catra e pensando "nossa, ele é muito zika, esse metaleiro tá ouvindo só bululu". Cada um na sua.

Sei que é polêmico e tentei não ser ofensivo com ninguém. Só acho que quanto mais respeito houver por todos os gêneros musicais, mais a arte se beneficia. Concordo com as reclamações sobre falta de educação dos ouvintes, mas isso existe em qualquer gênero. Onde eu moro, por exemplo, é muito mais com sertanejo do que com funk.

Bora fazer música. É mais produtivo que reclamar da música dos outros. As músicas do Bob Dylan não deixaram de existir só porque existe MC Mayara. Você estará fazendo mais pela "boa música" se produzir música que considera boa do que se passar o resto da vida reclamando da música que você acha ruim.

Malz ae escrever demais.

Lelo Mig
Membro
# nov/13
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Lord-g

Cara, não leve tudo que você vê no Youtube/Internet à sério:

Esse documentário é propositalmente falso.

O que o diretor André Moraes fez foi um mockumentary, um falso documentário, narrado pelo ator Caco Ciocler, que, como pede a proposta, tem iludido muita gente. "Cara, é uma loucura. Tem gente que entrou na história. É um curta conspiratório apenas. Estamos fazendo essa brincadeira com um livro que não existe, mas isso não importa, é para refletir sobre a nossa música"

http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2013/05/21/falso-documentari o-que-desvenda-plano-de-destruir-a-mpb-vai-ganhar-serie-na-web.htm

rcorts
Veterano
# nov/13
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b]Thiago Livgren que toca mais ou menos[/b]
Existem letras sobre sexo (explícitas ou não) em praticamente todos os estilos musicais. Cantar sobre isso não é novidade. Existem músicas eruditas sobre sexo. Até onde eu sei, pra ser genial tem que ser novo.

Pois é, faltou tudo. E eu pergunto a qualquer um aqui. Onde que falar sobre sexo é questionamento pra porra alguma? Tá, talvez lá no contexto do surgimento do feminismo fizesse algum sentido. Hoje tá tudo liberado, então tanto faz se tem uma enxurrada de músicas esdrúxulas e com o mesmo batidão repetitivo falando disso o tempo todo e escrachadamente. Não muda e nem acrescenta nada na minha vida e nem na da maioria dos brasileiros. Só muda mesmo na vida de muitas adolescentes fãs de funk que andam engravidando e abortando aos 14 anos de idade.

Num país como o nosso em que convivemos diariamente com corrupção, altos impostos, criminalidade, falta de cidadania, baixo nível educacional e assistência de saúde precária, falar sobre sexualidade chega a ser irrelevante. Sexo cada um faz como gosta, e isso pouco interessa à sociedade, coletivamente falando.

Por outro lado, é bem verdade mesmo que tem muito roqueiro hipócrita. O rock tem muitas letras bastante banais e sujas. Mas pelo menos não se resume a apenas isto.

Também não vejo problema em falar de sexo. Sexo é bom e eu gosto. Mas falar o tempo inteiro APENAS sobre isso e da maneira mais grotesca possível não é justificativa nenhuma da suposta "graaaande" genialidade e relevância do funk para a cultura brasileira.

El_Cabong
Veterano
# nov/13 · Editado por: El_Cabong
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little_wolf
O problema, El_Cabong, é que muitas vezes e pra muita gente essa ira contra o funk tem muito preconceito embutido. Preconceito contra favela, contra o subúrbio, contra os pobres, contra o seu modo de vida, contra sua cultura... ... porque no fim ele é uma voz legítima sim desses grupos ...

Pelo menos no meu caso não é isso.
Por exemplo. Eu gosto muito de Reggae de raiz, e este estilo musical nasceu no suburbio da Jamaica, na favela entre os pobres e era uma voz legitima de protesto deles.
Pra mim a diferença entre o Reggae de Raiz e o Funk Carioca está no abismo de diferença de qualidade entre os dois.
____________________________________

Antigamente existia realmente o Funk Carioca de protesto e com boas letras, por exemplo.

Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde nasci,
e poder me orgulhar
e ter a consciência que o pobre tem seu lugar ...


Este "Funk Carioca" cativava a minha simpatia !!!
Era uma voz legitima e inteligente, e não uma letra de música cheia de merda e futilidades que nem é hoje.

Thiago Livgren que toca mais ou menos
Membro Novato
# nov/13
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BrotherCrow
Em grande parte do seu post eu concordo. Só não entendi uma coisa:

Funk é música. Tem ritmo, harmonia e melodia.
Ritmo sim, melodia, mesmo que uma nota só, sim. Mas onde tem harmonia?

little_wolf
Veterano
# nov/13
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BrotherCrow

Tem vezes que eu até ouço funk e me divirto: dou risada com MC Carol, por exemplo. Aí eu não estou pensando se ela canta bem, se o arranjo é incrível nem nada. Se você vai numa festa e tá rolando uma música que você não gosta, você manda trocar a música? Não, você vai embora da festa e deixa o pessoal curtir.

Que bom que não estou sozinho no mundo. Alguém aqui captou o espírito!!

BrotherCrow
Membro Novato
# nov/13
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Thiago Livgren que toca mais ou menos
Tem tons simultâneos que se relacionam. Entendo isso como harmonia.

Thiago Livgren que toca mais ou menos
Membro Novato
# nov/13 · Editado por: Thiago Livgren que toca mais ou menos
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El_Cabong
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde nasci,
e poder me orgulhar
e ter a consciência que o pobre tem seu lugar ...

Essa até eu gostava!

rcorts

Não muda e nem acrescenta nada na minha vida e nem na da maioria dos brasileiros. Só muda mesmo na vida de muitas adolescentes fãs de funk que andam engravidando e abortando aos 14 anos de idade.
E das crianças que ficam ouvindo e perguntando sobre o que é...

Por outro lado, é bem verdade mesmo que tem muito roqueiro hipócrita. O rock tem muitas letras bastante banais e sujas. Mas pelo menos não se resume a apenas isto.
Algumas bandas são banais falando até de outras coisas. Eu por exemplo não gosto das letras do AC/DC. Os Scorpions tinham letras sobre sexo também, e várias (algumas até poéticas). Porém, sabiam questionar a vida e a sociedade quando necessário.
O tema sexual do funk fica pior quando eles misturam com outras coisas, como por exemplo, ideias captalistas: "Ela dá pra nóis porque nóis é patrão... 800x"

Lelo Mig
Membro
# nov/13 · Editado por: Lelo Mig
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"É o grito de liberdade das mulheres, do direito de fazerem o que quiser com o próprio corpo....."

Pode ser... talvez seja...só sei que não permito que meu filho de 12 anos ouça isso:




Com certeza estou velho e ultrapassado, mas ainda prefiro acreditar que devo educar meu filho a respeitar as mulheres.

Ah, Lelo, larga à mão de ser hipócrita, vai dizer que você não gosta de uma *****??

Sim gosto.... mas entre 4 paredes. A vida sexual de uma namorada/amante minha não compete ao julgo público.

Acredito que as mulheres de verdade estão dando seu grito de liberdade estudando e trabalhando!

little_wolf
Veterano
# nov/13 · Editado por: little_wolf
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rcorts
Eu moro em Goiânia. Aqui e em grande parte do Brasil rola uma piada, de que em Goiânia, se juntar dois caras numa esquina e um tiver um violão vira uma dupla sertaneja. 90% dos meus familiares detestam rock. Praticamente em toda reunião de família em que estou presente, as músicas que rolam são em maioria sertanejas.

Eu sei o que é isso. Sou goiano também. Moro em Brasília mas passei a minha adolescência em Goiânia. E peguei a "idade das trevas" quando tínhamos apenas uma rádio que tocava rock e ela foi vendida para o nobilíssimo deputado brasiliense Wigão que a transformou em mais uma rádio sertaneja. E isso numa época sem internet, sem Submarino, sem Amazon, sem mp3...

E por muito tempo cultivei essa rebeldia "rock wins". Eu ia pras festas de família tocando sertanejo o tempo todo, ficava com cara de quem tinha chupado limão galego. Achava que eu estava certo e quem estava errado era o mundo. Com o passar do tempo você acaba percebendo que não tem nada de errado. Que a nossa cultura é assim. E uma hora você se pega assoviando e cantando aquelas mesmas músicas que você fazia guerrilha contra. E não há nada de errado nisso.

O que acontece, rapaz é que o suposto etnocentrismo, o preconceito musical (social) é o back-end. O front-end é pior ainda. O front-end é frustração e recalque roquista, pelo fato do gênero que adoram não ser o gênero mais popular no país. E se fosse, eles estariam ouvindo funk, sertanejo e pagode, porque essas seriam a piece du resistance. E a relativização é importantíssima sim. Temos a tendência de achar que música é produto. Não é. Música é produto+contexto. E talvez mais contexto que produto. Se você não entende história da música por exemplo, não entende contexto histórico, você passa achar Bach, Beethoven e Chopin como "mesma coisa" e conhecendo seus contextos vai perceber que quase não tem muito a ver um com o outro. E muitas vezes a implicância é mais com o contexto do que com o produto. E te garanto que você pode jogar na minha mão qualquer gênero musical por pior que ache que ele seja, que vou achar muitos pontos positivos, o que não implica também que vou gostar de todos eles. Mas isso nos impede de tornarmos sectários babacas como os "rock wins".

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