Sobre a Govanização da guitarra atual

Autor Mensagem
Pepe Le P
Veterano
# dez/15 · Editado por: Pepe Le P
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Govan é um grande músico, assim como Kotzen. E os dois são as bolas da vez para os pagadores de pau e baba ovos desta geração. Toda época tem caras para serem endeusados e caras para endeusar... alguns são esquecidos em uma ou duas décadas, outros se eternizam.

Esse ponto de se eternizar ou não é bem interessante. O que faz com que o fulano de tal seja eternizado e outro, tão bom ou melhor, não venha nem a ser conhecido? Mesmo nas artes, nossos templos são erguidos dentro de contexto que muitas vezes nos é difícil visualizar. Tu já esboçaste alguma coisa nesse sentido no teu comentário, mas provavelmente tem muito mais coisa a ser levada em consideração.

Da pra analisar por que o Bonamassa (que eu também acho um bom guitarrista/músico) tem a projeção que tem e o Pedro Tagliani não (embora reconhecidíssmo num meio bem específico)

De brinde vai um som do Raíz de Pedra (quem não tiver paciência curte só a intro do cara):



Numa linha similar vem o tal endeusamento. Eu, por exemplo, já sei há muito tempo equilibrar bem admiração e respeito pra não partir pro fanatismo de virar seguidor seja dos "imortais" ou dos "fogo de palha" que a mídia insiste (com sucesso) em alojar na cabeça da galera.

Sobre seu questionamento realmente só o tempo trará a certeza, mas posso, a partir de uma análise de contexto, te prever que o Govan e o Kotzen serão lembrados daqui a décadas (muitas já não da pra afirmar, por conta de toda a complexidade da evolução social que mencionamos). Certamente não como aqueles que abriram os caminhos e revolucionaram o mundo da guitarra/música, pois hoje há cada vez menos espaço pra essas pessoas (embora possam e devam estar surgindo aqui ou ali), mas como caras que contribuíram pra "arte guitarrística" de uma geração.

Nesse meio tempo vou ficando com meus Clubes da Esquina, Lenines e Vitor Ramis e, de vez em quando, curtindo uma guitarrada ou os clássicos do passado.

Abraços!

davissilva
Membro Novato
# dez/15 · Editado por: davissilva
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Falando apenas por mim, a grande maioria das ressalvas que eu tinha em relação ao Govan sumiram após o último disco dos Aristocrats (Tres Caballeros) e o sua última participação com a banda do Steven Wilson, no disco "Hand. Cannot. Erase."

Pra mim, nesses trabalhos o cara começou a encontrar um "sweet spot" entre a técnica e a musicalidade que poucos dominam, pelo menos pro meu gosto. Dá pra melhorar a musicalidade? Sempre dá, todo guitarrista, mesmo as lendas, podem (e devem) melhorar... Mas achei que ele tá no caminho certo com esses dois últimos trabalhos.

Lelo Mig
Membro
# dez/15
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Pepe Le P

Geralmente há um hiato enorme entre o trabalho técnico, específico de músico, para músicos e um trabalho artístico.

Muito, muito poucos mesmo, conseguem unir estas duas coisas.

E, quase sempre, o que fica para a eternidade é a arte, muito mais no sentido de estética e promoção de reflexões sócio culturais, do que no seu sentido "habilidade técnica". Até porque, quase todos os guitarristas voltados a trabalhos de foco técnico e no instrumento, só gravaram álbuns insignificantes para a discografia do rock ou de seu estilo. Geralmente é aquela equação: "fulano toca muito = o álbum meia boca prá ruim".

Os álbuns históricos acabam sendo os sem pretensões técnicas ou específicas de um instrumento.

Daqui 50 anos The Edge será lembrado.....Govan não garanto.

Pepe Le P
Veterano
# dez/15 · Editado por: Pepe Le P
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A arte tem o valioso dom de elevar e dar mais margem a subjetividade. Como tu bem frisaste ela vai muito além do aspecto técnico, que em alguns casos passa até a ser pouco relevante.

The Edge faz parte de uma banda que virou icônica. Vai muito além da guitarra, apesar dela ser um elemento marcante no trabalho do conjunto. Por trás dos álbuns históricos vem todo aquele contexto que citamos (mas não aprofundamos e acredito que nem vamos): é produção, é momento histórico/político/musical, é atitude/performance, são os interesses de quem roda as engrenagens sociais, é mais um monte de coisa (em maior ou menor grau, dependendo do caso).

Nem o Govan nem nenhum guitarrista vai fazer albuns com a projeção dos Beatles, pois para isto entram em jogo diversos outros elementos que vão para além da música (que obviamente também conta). Acho que essa galera nem tem essa pretensão.

Beatles, U2 e toda essa trupe contribuíram até para moldar os "standards" de aprovação em termos de gosto popular. A 400 anos atrás o que bombava (em termos de Europa Ocidental) era bem diferente do que bomba agora, mesmo a história (Ocidental) tendo gravado os nomes dessa galera (e os caras eram foda, vamos combinar). Poderia ter o nome da Maria Anna Mozart lá, mas fatores externos a música não permitiram que isso ocorresse.

Agora se tu me perguntar se eu gostaria de ter o Govan ou o The Edge na minha banda eu tenderia em responder que seria o cabeludo e respeito a opinião de quem preferisse o irlandês. Entra aquela velha questão de gosto manja?

Se tu me questionar quem é "mais músico" (por mais que ainda tenha margem pra subjetividade) eu responderia o Govan sem hesitar, ao passo que se substituíssemos a palavra músico por "artista" eu talvez já pendesse pro outro lado.

No mais acho que o ponto central continua sendo o gosto de quem está comentando. Quem aprecia uma música instrumental com foco na guitarra (e guitarrices) tende a gostar do cara, já o pessoal do bom e velho rockn'roll provavelmente vai achar um saco.

O cara é um puta músico e ponto final, merece meu respeito. Agora se ele agrada ou não aí são outros quinhentos. E é interessante esse aspecto da arte: ela não precisa agradar a todos. Deixei essa frase pro final pra resumir o que penso da estória.

EDITADO:
Deixo um som de um grande camarada da minha banda que ,com pouco, entra muito no que estamos discutindo:


cafe_com_leite
Veterano
# dez/15
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d.u.n.h.a.
Nos últimos tempos venho vendo que a modinha é bastante musica ambiental com uns toques de post-rock e uns trechos melosos de acústico ou algo meio indie.


Pode crer. Tipo o que o matheus assato já fazia há um tempinho quando ele nem tinha pelo na cara.

cafe_com_leite
Veterano
# dez/15
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d.u.n.h.a.
Nos últimos tempos venho vendo que a modinha é bastante musica ambiental com uns toques de post-rock e uns trechos melosos de acústico ou algo meio indie.


.Adler3x3
Não tem aquela outra batida de uma base boa junta, não tem um baixo, e a bateria é aquela merda de sempre.
Não tem criatividade nenhuma, um som forte, mas chocho.
Claro tem algumas raras exceções.



Aí que você se engana. Pegue o erotic cakes do Govan e verás um trabalho de baixo e bateria muito interessante. Fives, a música em si (creio que a mais famosa do Govan), chapei o globo quando ouvi a primeira vez. A harmonia, a levada, o baixo e a dinâmica da bateria, tudo somado aos belos temas do mano Jesus. Baita música, os solos insanos de Govan são só a cereja do bolo.

FELIZ NATAL
Veterano
# dez/15
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Sei lá, sou mais o Dado Villa-Lobos. Toda rodinha de violão alguem puxa com m riff dele, dada a sua influencia na musica tupiniquim

makumbator
Moderador
# dez/15
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cafe_com_leite
Pegue o erotic cakes do Govan e verás um trabalho de baixo e bateria muito interessante.

O baixo desse disco todo é genial. Linhas muito musicais, com excelente execução e timbre foderoso, é das melhores coisas do álbum.

João Pedro Strabelli
Veterano
# jan/16
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Acho que o problema não é a govanização, a kotzenição, a malmeenstização ou qualquer outra “…ção” que tiver por aí. É a ideologização (perdoem o palavrão) do que o cara imagina que a guitarra e o guitarrista deveriam ser.

Essa ideologia da guitarra tem alguns subtipos interessantes:

• o domínio da técnica. Ou o cara toca quinhentas notas por segundo enquanto toma café, assobia e chupa cana ao mesmo tempo ou é um lixo.

• o domínio do estilo único. Ou o cara toca o estilo que eu acho o melhor ou é um lixo.

• o domínio do “a música pede”. Se o cara for um fritador 200% das vezes que toca um solo, a música pedia 800 notas no solo. Inclusive, quando foi tocar o Parabéns pra você no aniversário do filhinho, fez um solo de cinco minutos no final porque sentiu que a música pedia aquilo.

• o domínio do “o que eu gosto está certo”. Se eu não gosto o cara é ruim, mas se eu gosto ele é ótimo.

• o domínio da condescendência. Tá, se você não entendeu que o que gosto é a melhor coisa do mundo, dá pra ser educado e dizer que cada um tem o direito de escutar o (argh!…) que quiser.

Agora sem zoeira. Govan é um bom professor. Li uma entrevista dele alguns anos atrás e percebi isso. Tem uma boa técnica mas ainda não vi algo que me surpreendesse. Não é o único, mas me parece mais simpático, mais didático e mais aberto e acessível que os outros.

Mas, o mundo da guitarra tem umas coisas estranhas, e muita gente precisa mostrar que tem técnica para se sentir bom. Aí, fica chateado quando um carinha qualquer sem metade da técnica toca algumas coisas legais e as pessoas gostam.

E, só para concluir, público é público, contratante é contratante, e gosto pessoal é gosto pessoal. Não me profissionalizei porque não queria tocar algumas coisas toda semana, embora curta algumas dessas coisas de vez em quando.

Soultunes
Membro
# jan/16
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Ate porque malmsteenizacao não é problema, é solução.
Viva o rei \o/

Del-Rei
Veterano
# jan/16
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Quem é Malmstem?

Um aceno de longe!!!

Drinho
Veterano
# jan/16
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Malmsteen é um dos caras mais mal educados que a música já conheceu...
Inclusive disse em uma entrevista que hoje depois que casou melhorou como ser humano..

Como guitarrista não questiono, eu teria que ser melhor do que ele para falar mal dele e obviamente eu teria que estudar mais 750 anos para isso....

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