Porque o negro americano não toca samba?

Autor Mensagem
Casper
Veterano
# nov/15


http://www.socialistamorena.com.br/por-que-nos-eua-nao-tem-batucada/

Algumas partes do texto:

Não é curioso que os Estados Unidos não usem tambores em sua música como todos os outros países que tiveram mão-de-obra escrava vinda da África? Eu sempre fiquei me perguntando isso. Por que a música dos negros norte-americanos é tão diferente da música brasileira, de Cuba, do Caribe? Onde foram parar os tambores? Cadê a batucada?

Pense em todos os grandes ídolos da música afro-americana: Charlie “Bird” Parker tocava sax. Louis Armstrong tocava trompete. Nina Simone tocava piano, assim como Stevie Wonder e Ray Charles. Miles Davis tocava trompete. E Wynton Marsalis, idem. Robert Johnson tocava guitarra. Chuck Berry, idem. Leadbelly tocava um violão de 12 cordas.

Os negros chegaram aos EUA vindos, em sua maioria, de regiões que hoje se conhecem como Senegal, Gâmbia, Nigéria, Camarões, Namíbia, Congo, Angola e Costa do Marfim. Os negros brasileiros vieram de Moçambique, do Benin, da Nigéria, e também de Angola, Congo e da Costa do Marfim. Com todas as diferenças existentes entre estas nações africanas, todas elas faziam uso de tambores com fins musicais e de comunicação. Por que então nós temos o samba e os gringos não? Por que não tem atabaque, agogô e cuíca na música afro-americana e sim saxofone, clarinete, trompete, instrumentos “de brancos” que os negros, aliás, aprenderam a tocar com maestria? Simplesmente porque os tambores foram proibidos na terra do tio Sam durante mais de 100 anos.

No dia 9 de setembro de 1739, um domingo, em uma localidade próxima a Charleston, na Carolina do Sul, um grupo de escravos iniciou uma marcha gritando por liberdade, liderados por um angolano chamado Jemmy (ou Cato). Ninguém sabe o que detonou a rebelião, conhecida como a “Insurreição de Stono” (por causa do rio Stono) e que é considerada a primeira revolta de escravos nos EUA. Conta-se que eles entraram numa loja de armas e munição, se armaram e mataram os dois brancos empregados do lugar. Também mataram um senhor de escravos e seus filhos e queimaram sua casa. Cerca de 25 brancos foram assassinados no total. Os rebeldes acabaram mortos em um tiroteio com os brancos ou foram recapturados e executados nos meses seguintes.

A reação dos senhores foi severa. O governo da Carolina do Sul baixou o “Ato Negro” (Negro Act) em 1740, trazendo uma série de proibições: os escravos foram proibidos de plantar seus próprios alimentos, de aprender a ler e escrever, de se reunir em grupos, de usar boas roupas, de matar qualquer pessoa “mais branca” que eles e especialmente de incitar a rebelião. Como os brancos suspeitavam que os tambores eram utilizados como uma forma de comunicação pelos negros, foram sumariamente vetados. “Fica proibido bater tambores, soprar cornetas ou qualquer instrumento que cause barulho”, diz o texto.

erico.ascencao
Veterano
# nov/15
· votar


Caramba, nunca tinha reparado neste aspecto!

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


Casper
Esse aspecto é bem conhecido de quem estuda a história da escravidão ou sua economia política. Já nos livros dos grandes historiadores Eugene Genovese e Eric Williams (ambos afro-descendentes) há referências à questão.
Sem contar o maior genocídio da História, o dos povos pré-colombianos pelos Conquistadores, o capitalismo gerou outro mal profundo que hoje nos afeta gravemente: A Escravidão Mercantil, da qual o Brasil é o paroxismo...
Abç

FELIZ NATAL
Veterano
# nov/15
· votar


http://www.socialistamorena.com.br/por-que-nos-eua-nao-tem-batucada/

parei de ler aqui

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


FELIZ NATAL
Porque?
Você é tão preconceituoso que não sabe discernir o que é certo ou o que é errado?
Eu, por exemplo, passo para meus alunos têxtos de Adam Smith e até já passei de Adolph Hitler.
É por isso que que a cultura nesse país não vai pra frente...

MMI
Veterano
# nov/15
· votar


Casper

Achei o texto um absoluto despropósito.

A bateria (drum kit) é uma criação americana. Não é um instrumento ideal para solo (é "non-pitched"), faz parte do que chamamos de "cozinha da banda", então é complicado um baterista liderar uma banda. Da mesma forma que são raríssimos os baixistas nessa situação, mas aí já falamos de instrumento que se afina, se faz solos etc. Assim mais difícil se falar em "ídolos" na bateria na mesma proporção de vocalistas, pianistas, saxofonistas, trompetistas, guitarristas que com mais facilidade lideram uma banda e ganham destaque e seguidores.

Porém...
Não é curioso que os Estados Unidos não usem tambores em sua música como todos os outros países que tiveram mão-de-obra escrava vinda da África?
Não, não é e achei isso uma besteira sem tamanho. Toda vez que se ouve um blues, um rock, um jazz, metal, country e tudo que deriva disso, ou seja música dos EUA ou derivada dela, em 99,9% das vezes se ouve uma bateria. De novo, a bateria é uma invenção americana como a guitarra elétrica, por exemplo. E vem me falar que os EUA não usam tambores em sua música???

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


MMI
Acho que vc não leu o têxto.
A proibição do uso de tambores durou de 1740 à 1866, portanto muito tempo antes do surgimento, não apenas dos "drum kits", bem como até mesmo do blues como expressão cultural negra, muito antes do surgimento, no século XX, do estilos musicais norte americanos populares...
Abç

MMI
Veterano
# nov/15
· votar


Mauricio Luiz Bertola

Eu li, Bertola, mas acho que você que não leu...

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15 · Editado por: Mauricio Luiz Bertola
· votar


MMI
Lí sim, e bem ( essa é minha profissão). Ademais, eu já conhecia o assunto.
Ademais, o têxto é uma pergunta, e não uma afirmação peremptória, e a explicação, a "resposta" é um fato histórico, uma lei, que foi aplicada aos estados escravistas norte americanos por cêrca de 125 anos.
Em nenhum momento o têxto diz que "não se usam, ou usavam, tambores na música norte americana" como vc diz, mas sim que esta proibição restringiu seu uso por mais de um século, resultando em um tipo específico de uso de tambores, bem mais restrito que em outros lugares.
Aqui no Brasil, por exemplo, nunca houve tal tipo de lei, apesar da repressão aos escravos e suas manifestações culturais.
Desculpe-me, mas vc equivocou-se...
Abç

JJJ
Veterano
# nov/15
· votar


Interessante... marcando.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


A título comparativo, cabe observar quantos (quantitativamente falando mesmo) ritmos existem na cultura norte americana e quantos existe, por exemplo, na cultura caribenha ou na brasileira.
A disparidade é grande....

JJJ
Veterano
# nov/15 · Editado por: JJJ
· votar


Bateria é uma coisa, percussão tribal (que acho que é o assunto do Casper) é outra. Sim, é tudo percussão, mas a bateria, tal qual a conhecemos veio bem depois desse período histórico do texto.

E tenho a impressão (só impressão, não googlei nada...) de que a bateria foi um instrumento "branco" de início. Pode ter até se inspirado em algo de origem africana, mas os grandes bateristas que começaram a "estourar" (Gene Krupa me vem à cabeça) eram, em geral, brancos, não?

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


JJJ
Exatamente
http://www.vicfirth.com/drumset-history/
Repare na 1ª foto da "time line", da época da Guerra Civil, curiosamente, os percussionistas são brancos, o negro toca tuba!
Uma estrutura fixa, que acoplava tambores e pratos só foi surgir no final do século XIX, e só se popularizou no século XX. O "chimbal" só surgiu na década de 40 do século XX...
Abç

JJJ
Veterano
# nov/15 · Editado por: JJJ
· votar


Mauricio Luiz Bertola

Engraçado que no rock, nossas maiores referências na bateria são brancos: John Bonham, Ian Paice, Keith Moon, Charlie Watts, Ringo Starr, Ginger Baker, Carl Palmer, Neil Peart, etc, etc, etc...

E, ao mesmo tempo, duas das maiores referências na guitarra rock são negros: Chuck Berry e Jimi Hendrix.

BrotherCrow
Membro Novato
# nov/15
· votar


Sempre achei que a Cynara tem o costume de falar muita besteira e ser super maniqueísta (claro que intencionalmente), mas achei esse texto bem completo e o tema é interessante pra caramba. Inclusive quando li os trechos que o Casper colocou, a primeira coisa que me passou a cabeça foi "mas peraí, tem os tambores de vudu", e o texto aponta essa exceção.

Engraçado como com o tempo a percussão achou o seu caminho. Por exemplo, na música apalachiana do começo do século 20, que tem até uns polirritmos "savant". E o próprio violão tomou um caminho meio percussivo em muitas dessas músicas e no "folk revival" derivado delas. E se não me engano a música havaiana manteve sua percussão mesmo depois de os europeus trazerem seus instrumentos típicos.

Tem que levar em conta que o texto não despreza a música americana pela falta de percussão.

Agora para as ramificações sociopolíticas: será que o colonizador luso/ibérico era menos FDP do que o britânico nesse aspecto? Ou era só mais preguiçoso? Ou foi pela maneira completamente diferente como a escravidão se estabeleceu por aqui?

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


JJJ
Isso porque a bateria não é um instrumento que se preste a que o músico "apareça", cante, etc. Ademais, vc está citando o rock, mas no jazz e no blues, que vem antes, as referências são de bateristas negros, como "Baby" Doods, Art Blakey, Max Roach, Tony Williams, etc...
Gene Kruppa, que era branco, e era um gênio, ganhou notoriedade até por ser branco...
Abç

EduJazz
Veterano
# nov/15
· votar


Acho que o texto não está muito bem diagramado, assim como algumas interpretações.

O ponto a ser abordado, ao menos em minha opinião, não reside na presença ou não de instrumentos de percussão. E sim na presença mais ou menos forte da música de matiz africana (eminentemente percussiva) na música produzida nos Estados Unidos. É importante lembrar que o blues é, inegavelmente, um estilo de matiz africana. Todavia, esta característica foi, aos poucos, sendo suplantada com os crossovers que tiveram lugar, com os "cruzamentos musicais" que tanto gostamos.

Não descarto a importância histórica da lei mencionada no texto, assim como não destaco a força da repressão que teve lugar nos EUA no século 19. Todavia, acho um pouco forçado direcionar o discurso para algo como "a música negra americana é mais "embranquecida"". O sangue que correu no rio Mississippi e as maravilhas musicais que dali saíram dizem o contrário.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


BrotherCrow
Ou foi pela maneira completamente diferente como a escravidão se estabeleceu por aqui?
Sim, os aspectos da escravidão aqui e nos EUA diferem bastante apesar da questão fundamental.
Os portugueses, que foram quem iniciaram o tráfico atlântico (e depois os brasileiros - Sim, nós mesmos!) e o dominaram por 3 séculos, eram menos "segregacionistas" que os europeus do norte. Ademais, de uma forma geral, ao longo da vigência do escravismo, o preço comparativo do escravo na América portuguesa era mais baixo que na América espanhola ou anglo-saxônica. Isso fez da escravidão um Sistema Eoconômico-Social generalizado por aqui, enquanto nos outros "espaços coloniais" ele era "localizado".
Abç

JJJ
Veterano
# nov/15
· votar


Mauricio Luiz Bertola

Você está insinuando que roqueiro só quer aparecer? hehehe

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15 · Editado por: Mauricio Luiz Bertola
· votar


EduJazz
Mas isso é um fato cara: A música negra norte-americana foi "embranquecida" sim, foi tornada uma Mercadoria, que gerava lucros e servia como "produto de exportação". Esse processo foi menos evidente e historicamente posterior aqui.
O fato do blues ( e seus "filhos") serem uma música de "Matriz Africana" não exclui o fato de que ele tornou-se isso mesmo (não estou dizendo que não presta ou coisa assim - isso seria tolice de minha parte, e tolo, eu não sou...).
Como eu disse acima, examine bem a enorme diversidade dos ritmos percurssivos da América Latina e compare-os com a bem menor variedade da América do Norte. Até pelo fato de que tais ritmos lá tornaram-se Mercadoría, isso "massificou", "simplificou" tal diversidade (o que não era "vendável" acabou por desaparecer, ou quase...).
Abç

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


JJJ
KKKK.... Também...
Mas, convenhamos: É mais fácil "vender" um cantor ou um instrumentista que "aparece", que um baterista, não é? As excessões (Gene Kruppa é uma delas), só confirmam a regra...
Abç

BrotherCrow
Membro Novato
# nov/15
· votar


Mauricio Luiz Bertola
Tem a visão "Casa Grande e Senzala" de que os portugueses eram, na verdade, numericamente poucos pra uma área tão grande, e por isso o jeito era se misturar e miscigenar. Esse olhar romantizado da escravidão já está ultrapassado mas ajuda a explicar muita coisa.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


BrotherCrow
Exatamente... Gilberto Freire, acertou algumas questões; mas errou em muitas. A escravidão no Brasil nunca foi "branda" e "democracia racial" nunca existiu aqui. Apenas a forma como o preconceito e a própria escravidão se exerceram foi um tanto diferente da dos EUA ou alhures...
Abç

MMI
Veterano
# nov/15
· votar


Mauricio Luiz Bertola

Estamos falando algo parecido, só que o texto, muito mal escrito por sinal, fala bobagens sem tamanho.

O texto escreve sim que não se usa tambores na música dos EUA:

Não é curioso que os Estados Unidos não usem tambores em sua música

Segue uma lista de astros da música daquele país que não tocavam tambores. Ok, mas todos sem exceção tocaram seus sucessos acompanhados de tambores.

Por que? Por causa da proibição também. Mas não só, já que alguns deles estão vivos até hoje quando não há mais proibição. Aliás, o texto explica a falta de tambores na música dos EUA se referindo unicamente a artistas do séc XX. Mais ainda, o texto que aparentemente você não leu, aponta os primórdios do "drum kit" para 1840. Ou seja, tem muito mais além disso que um texto mal escrito diz. Posso estar equivocado, mas desculpe, você também equivocou-se.

Abç

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


MMI
Cara, que o texto é superficial, é. Que é escrito de forma pouco criteriosa, também.
Mas de modo algum ele fala "bobagens" como vc diz. Ele aponta para uma questão.
Outra coisa: Tanto lí o têxto que fui crítico à ele quanto a certas afirmações (os "drum kits" NÃO aparecem em 1840, mas só no fim do século XIX), o que não quer dizer que ele diga "bobagens sem tamanho" como vc diz.
Abç

Casper
Veterano
# nov/15 · Editado por: Casper
· votar


Eu achei que o texto tem um certo sentido.
Longe de ser um primor ou ter muitos dados exatos,
aponta para um fato que parece relacionado
com a realidade. Não coloquei aqui para causar
polêmica.

Calime
Veterano
# nov/15
· votar


Legal o texto, apesar de achar algumas inconsistências no mesmo. Já tinha pensado a respeito das diferenças musicais entre os que vieram para America Latina e os dos EUA, mas nunca tinha parado pra pesquisar a respeito.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


Casper
Seu tópico é útil e interessante.
Abç

EduJazz
Veterano
# nov/15
· votar


Desvirtuando o tópico com uma brincadeira.

O negro americano pode não tocar samba. Mas o branco toca.



Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# nov/15
· votar


EduJazz
Legal! O cara é bom mesmo!
Aliás, esse negócio de negro ou branco... é bobagem....
Abçs

Enviar sua resposta para este assunto
        Tablatura   
Responder tópico na versão original
 

Tópicos relacionados a Porque o negro americano não toca samba?