Artistas são números? - A industria da música em série

Autor Mensagem
ErickDutraLemos
Veterano
# set/20


Beleza galera?

Essa semana fiz um vídeo no meu canal trocando uma ideia de como cada vez o mercado da música virou números.

E antes que alguem diga, eu sei que sempre foi assim a industria . Mas a vida de todos nós parece que virou número.

As músicas são feitas em série (uma atrás da outra buscando um mesmo padrão).

(Alias o serial que eu digo não tem nada haver com a técnica de serialismo só pra ficar claro)



Eu não vejo problema nenhum na existência de todos esses números e deles serem usados como métrica para algumas coisas, o problema na minha opinião é quando se torna sua missão, seu estilo de vida.

E vocês o que acham desse mercado dos números?


Lelo Mig
Membro
# set/20 · Editado por: Lelo Mig
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ErickDutraLemos

"antes que alguém diga, eu sei que sempre foi assim a industria..."

O que vou dizer é complicado porque fica parecendo aquele papo chato de "no meu tempo era melhor"... mas não é nesse sentido, ainda que de certa forma, realmente antes era melhor... mas melhor por que?

Os números, vendas, top ten, grana, número de álbuns vendidos, sempre existiram. E tocar bem, cantar bem e etc, nunca foi sinônimo de fazer música boa, isso é uma ilusão, uma bobagem.

Acontece que (peguemos por exemplo início dos anos 70), um jovem músico tinha acesso e ouvia muitos estilos variados. Havia as varias vertentes de rock do Hard ao Progressivo, a Black Music com os Funks, Souls, R´n´B e etc. O jazz, o fusion, o blues. O folk e o country. No brasil ouvíamos também a MPB tradicional, a nova MPB do pessoal do NE (Zé Ramalho, Fagner, Belchior e etc), a MPB dos mineiros do clube da esquina (Beto Guedes, Lo Borges, Milton Nascimento e etc), o rock Brasuca de Rita Lee, Mutantes, Terço... o Pop de qualidade de Guilherme Arantes a Tim Maia... ufa! Havia ainda espaço para a música clássica, experimentalismos, e até mesmo os bregas românticos e trilha de novela. Havia muita coisa ruim e muita coisa boa, mas o que presava era a variedade.

E essa variedade, com muita porcaria e muita coisa boa, dava ao ouvinte/artista muito estofo, muitas possibilidades criativas.

Assim, como um escritor só é bom escritor se ler muito, independente de seu domínio da gramatica, um músico só faz música boa se ouvir muita música e muita coisa diferente. Ter técnica, tocar bem, não serve prá nada sem estofo para criar. E criação não se dá pelo quanto alguém toca bem e sim pelo quanto você tem cultura.

Por isso hoje em dia tem tanto músico tecnicamente bom fazendo música ruim. Os caras não possuem cultura musical, só tem imbecil.

Se fulano não procurar, não fuçar, não correr atrás, se depender de listas de prontas e indicações como spotify, esta condenado a ouvir a mesma coisa e ser um limitado. E a grande maioria se limitou, não conhece nada, não sabe nada.

Na boa, a música feita no mainstream hoje é o suficiente prá gente burra.

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Lelo Mig
Por isso hoje em dia tem tanto músico tecnicamente bom fazendo música ruim. Os caras não possuem cultura musical, só tem imbecil.

Isso eu concordo demais

. Na boa, a música feita no mainstream hoje é o suficiente prá gente burra.

Eu vejo que as bandas que tentam "inovar" ou não ficam fazendo o mesmo sempre são meio que criticados pela galera que ouve só mainstream. é complicado isso.

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Lelo Mig

E realmente nos tínhamos uma galera boa de música antigamente, isso não da pra negar.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# set/20
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Lelo Mig
Mesmo entre as pessoas do meu meio profissional (via de regra com Mestrado e/ou Doutorado), e que são "millenials", o gosto musical, o conhecimento musical é muito pequeno. Eles foram submetidos à um processo de massificação intensivo, de uma Indústria Cultural decadente.
As pessoas com menos de 40 anos que hoje tem um gosto musical mais amplo são exceções, e não a regra.
Abç

Del-Rei
Veterano
# set/20
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Antigamente ter uma banda e gravar uma demo era coisa difícil. Hoje em dia qualquer um grava um som com infinitamente mais qualidade técnica do que há 20 anos atrás, e sem precisar sequer encostar num instrumento. A consequência disso é que há muito mais oferta no mercado e, naturalmente, muita coisa ruim. Até o excesso de auto-tune virou moda... Mas ainda acho que sabendo filtrar você encontra coisas interessantes - pro seu gosto.


o problema na minha opinião é quando se torna sua missão, seu estilo de vida.

E assim o Instagram enganou todo mundo quando ocultou a quantidade de curtidas das postagens dizendo que estavam preocupados com a sanidade das pessoas... Estavam é pensando no próprio bolso, claro.


Um aceno de longe!!!

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Del-Rei
E assim o Instagram enganou todo mundo quando ocultou a quantidade de curtidas das postagens dizendo que estavam preocupados com a sanidade das pessoas... Estavam é pensando no próprio bolso, claro.

Com certeza, tio Mark é o cara das cifras.

ClausSilva
Membro Novato
# set/20 · Editado por: ClausSilva
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Lelo Mig
Assim, como um escritor só é bom escritor se ler muito, independente de seu domínio da gramatica, um músico só faz música boa se ouvir muita música e muita coisa diferente. Ter técnica, tocar bem, não serve prá nada sem estofo para criar. E criação não se dá pelo quanto alguém toca bem e sim pelo quanto você tem cultura.

Verdade, ouvir muito é importantissímo no processo de aprendizado e de amadurecimento músical, até porque ninguem nasce sabendo, mas convenhamos, só isso tambem não é suficiente, existem outras variáveis tão importantes quanto, como talento/dom, inspiração, muito esforço e dedicação, além de uma boa dose de auto-crítica.

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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ClausSilva
boa dose de auto-crítica.

Essa parte é mais difícil

Ismah
Veterano
# set/20 · Editado por: Ismah
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Dá para acrescentar que a massificação, meio que leva para um único rumo. Não é novidade, mas havia mais rumos possíveis, se voltar uma década no tempo.

Dentro da mesma panela, havia boas diferenças. CPM22, CBJr e Raimundos, meio surgem de maneira contemporânea, e mesmo tudo sendo rock e com pontos em comum como o reggae, é bem diferente uma da outra.

E meio que grana, era uma preocupação secundária. De todas as biografias que li, todas tem em comum que a música existia na vida das pessoas, mas existia também um ofício. Queriam tocar, se expressar. O retorno financeiro era consequência.
A ambição sempre existiu, mas era mais relevante ser divertido, fazer um som, e curtir, do que ficar milionário. E hoje isso segue, mas não com os holofotes da mídia.

É isso que leva as pessoas a apostar no que elas gostam, e não no que agrada ao maior número de pessoas. Ainda cabe pontuar que não é mais reduzido a música. Conhecidamente, o Pablo Vittar é mais aclamado pelo que ele representa, do que pelo que ele produz como artista. Cadê a imagem do artista, do cara que inspira outras pessoas?

É chato, mas a indústria tem apostado muito pouco em coisas digamos "alternativas". Aqui ficou associado o termo alternativo, com a ideia de mal feito, mas não é bem assim. E faz isso pelo motivo óbvio: é mais provável emplacar com mais um artista sertanejo, do que revolucionar o mercado.

O consumidor brasileiro, em geral é bem desinteressado em tudo. Ando bem envolvido com engenharia mecânica, e isso me deu uma nova perspectiva, mas que leva a uma mesma conclusão: nos falta cultura, nos falta brio. Não há um interesse em fundamentar escolhas, ou critérios técnicos. Precisa ser bonito, barato e de preferência chamar a atenção.

Artistas viram números, porque não é relevante quem, mas QUANTO trás para o caixa dos envolvidos. Sei de uns 15 caras que tocam sertanejo, e tem trabalhos no mesmo pé do Mike Love tem no reggae. Ninguém aposta neles, nem eles mesmos, porque as chances de perder grana são boas.

ClausSilva
Membro Novato
# set/20 · Editado por: ClausSilva
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ErickDutraLemos
Essa parte é mais difícil

Pois é, e tem de haver um equilíbrio se não vira auto-sabotagem né? É não ser auto-indulgente, mas tbm reconhecer os próprios limites e capacidade, se meu teto é um, não vou ficar me martirizando porque o de fulano é bem mais alto, vou fazer o máximo que posso com o que tenho e isso é suficiente.

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Ismah
Artistas viram números, porque não é relevante quem, mas QUANTO trás para o caixa dos envolvidos. Sei de uns 15 caras que tocam sertanejo, e tem trabalhos no mesmo pé do Mike Love tem no reggae. Ninguém aposta neles, nem eles mesmos, porque as chances de perder grana são boas.

Falou tudo, e concordo demais com a parte do artista atual ser mais aclamado pelo que ele representa, a música não é mais o fator principal.

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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ClausSilva
Pois é, e tem de haver um equilíbrio se não vira auto-sabotagem né?.

Vira mesmo, eu seguido faço isso, tanto que até fiz um vídeo sobre autocrítica, na faculdade de música mesmo tem uma galera que confunde sabotagem com critica. Dai rola uma frustração

Lelo Mig
Membro
# set/20
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Essa música despretensiosa feita somente para chacoalhar bundas, não é arte.

Esses Zé Ruelas atuais, nem sabem o que é arte, quanto mais fazer.

Música deixou de ser arte há muito tempo, hoje é apenas objeto de diversão e entretenimento.

A música é uma arte morta.

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Lelo Mig
A música é uma arte morta.


Puxa pesado isso.

Alias Lelo esses dias pesquisei forum cifra club no Youtube por que eu queria fazer um vídeo e tal, e ai a primeira coisa que eu olho é que já existe.

Ai cliquei no primeiro vídeo que aparentemente era um vídeo pra zoar o forum e não é que aparece tanto meu nome como o seu nuns tópicos, eu já ia ficar puto mas no fim o cara não zuou o forum EUIAHEUIHEUI

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Enfim digitei tudo errado mas acho que deu pra entender. euaheuihauie

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# set/20
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Lelo Mig
A música é uma arte morta.
Exagero...
Mas é uma arte secundária - aliás, nos dias de hoje...
Todas são...
Abç

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Mauricio Luiz Bertola
Todas são...

Verdade

TendTudo
Membro Novato
# set/20
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Na minha opinião a única motivação para fazer música hoje é o cash e não há ninguém que faça algo que vale alguma coisa além do entretenimento.
Não existem laços afetivos com nenhum mais artista.
Só existe entre os músicos aqui do fórum estes laços afetivos

TendTudo
Membro Novato
# set/20
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Não importa se o Bertola é marrento ou se o Lelo é entediado
Os amo

Lelo Mig
Membro
# set/20 · Editado por: Lelo Mig
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ErickDutraLemos

Você lembra que vídeo foi? Fiquei curioso...rs

TendTudo

"Os amo"

All "we" need is love, love, Love is all "we" need

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Lelo Mig

Coloquei o momento que ele fala seu nome

https://youtu.be/lCOtNCeU670?t=154

Eu tomei um susto quando vi que eu estava no vídeo heaiuheuiahe mas no fim ninguem foi zoado EUIAHUEIHUIEH

Lelo Mig
Membro
# set/20 · Editado por: Lelo Mig
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ErickDutraLemos

Legal cara! Valeu!

ErickDutraLemos
Mauricio Luiz Bertola


Quando eu falei que a música é uma arte morta, não é pela música em si, mas pela falta de cultura (informação não é cultura), pela burrice generalizada, de quem faz e de quem ouve música.

Aconteceu um episódio recente, agora nesse mês de agosto de 2020, na live do Caetano Veloso em comemoração de seus 78 anos. No final, Moreno Veloso aparece tocando um prato e uma faca, e críticos da Rolling Stones e da Folha de São Paulo caíram de pau, dizendo que era desleixo e improviso por falta de instrumento adequado, sem terem o mínimo conhecimento (e sem se informarem antes de escrever merda) que "prato e faca" é instrumento raíz básico do samba de roda brasileiro tocado até hoje no recôncavo Baiano e nos sambas de roda do Rio de Janeiro. (assim como a caixa de fósforo no samba paulista).

Ou seja, burros, mal informados, "informando", um público igualmente burro.

Independente do reducionismo "gosto vs não gosto"... vejam o que Caetano disse à respeito:



Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# set/20
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Lelo Mig
Ví esse vídeo (aliás, ví muitas coisas do Caetano nos últimos tempos...), e concordo integralmente com ele.
Abç

ErickDutraLemos
Veterano
# set/20
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Lelo Mig
Ou seja, burros, mal informados, "informando", um público igualmente burro.

Realmente nesse sentido tem toda a razão, as pessoas não entendem mais o contexto de nada.

Exemplo disso é que compartilham noticia vendo só imagem e lendo o titulo. Imagina entender o contexto das coisas.

gpeddino
Veterano
# set/20
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Como hoje em dia ficou ridiculamente fácil fazer e distribuir "música", o formato banalizou. Criar música hoje tem muito menos a ver com expressão (e portanto, arte) e mais com a possibilidade de reconhecimento e validação no mundo digital. Por isso, hoje em dia quem faz música com um propósito artístico dificilmente chega aos ouvidos das massas (sim, estou generalizando).

Ismah
Veterano
# set/20
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Lelo Mig
Música deixou de ser arte há muito tempo, hoje é apenas objeto de diversão e entretenimento
Mauricio Luiz Bertola
é uma arte secundária - aliás, nos dias de hoje...
Todas são...


Meio ensinando o Padre a rezar a missa, mas nos últimos 400 anos, nunca a arte como um todo, foi tão viável. O Renascentismo ou Renascença, foi um movimento viável porque existiu dinheiro - leia-se viabilidade financeira. Mesmo assim, desde tempos remotos... Ou o intérprete-compositor atendia demandas, com encomendas de composições, com a arte em segundo plano... Ou ele virava um hippie, meio bardo, indo de aldeia em aldeia, fazendo canções, etc...

Lelo Mig
Membro
# set/20 · Editado por: Lelo Mig
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Ismah

"Ou o intérprete-compositor atendia demandas, com encomendas de composições, com a arte em segundo plano... "

Isso é uma meia verdade. O fato de alguém "vender seu trabalho" não faz com que ele deixe de ser artista ou ter objetivos artísticos.

Todo mundo precisa comer e pagar para se manter vivo, sempre foi assim, e concessões e tudo mais sempre existiram.

Meu ponto não é do artista que vende sua arte ou mesmo se vende para sobreviver. E sim de uma galera que faz música e nem sabe o que é arte, que não é nem nunca teve preocupações ou pretensões artísticas. É uma outra questão...

Ismah
Veterano
# set/20
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Lembre que numa transação comercial, quem tem que se agradar é quem compra. Não me parece que há grande interesse de um "comunitário carioca" em vestir um fato, e admirar Schoenberg.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# set/20
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Ismah
Não me parece que há grande interesse de um "comunitário carioca" em vestir um fato, e admirar Schoenberg.
Óbvio... Isso não lhe é oferecido ou lhe está acessível...
Acompanhei apresentações na OSB em favelas aqui do RJ e ví pessoas semi-analfabetas arrebatadas pela emoção do que estavam ouvindo. Aqui mesmo em Nikity City há a orquestra da favela da Grota, que toca de vez em quando por aí e tem fama na região.
Se a pessoa acostumou-se à comer carne podre por toda a vida, quando lhe oferecem carne bem preparada ela estranha o gosto...
Abç

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