O que NÃO fazer em um improviso.

Autor Mensagem
starling_music
Veterano
# set/12


Vou emitir meu ponto de vista a respeito de coisas que podem prejudicar, travar ou até mesmo arruinar um improviso. O que vou escrever aqui é minha opinião, juntamente com a de outros grandes mestres que tive o prazer de trabalhar, tocar e aprender.

1- Essa aqui é do Joe Pass e eu nunca mais esqueci porque ele tinha toda razão. Numa vídeo-aula sobre acordes, uma hora ele diz que não usa determinados tipos de acordes porque são muito difíceis de fazer, precisam de muita abertura nos dedos e ele termina falando de forma humorada que da muito trabalho.

Para mim, o ensinamento se resume em algo que os americanos se referem como: “tocar algo que esta fora do seu orçamento”. Existem coisas que não vão ser confortáveis para você nunca, seja pelo tamanho de sua mão ou pelo tipo de pegada que você usa.

Joe Pass optou por tipos básicos de acordes, basicamente DROP2 e blocos de quartas, mas ele se tornou um mestre no acompanhamento porque pegou esses acordes, nem tão sofisticados, e levou a um nível de tocabilidade surpreendente que o fez ser uma referência no assunto.
Isso acontece com todos os elementos que usamos para improvisar, se algo é realmente desconfortável para você, então você precisa verificar se é uma questão de falta de dedicação ou se é realmente algo que não vai de encontro ao seu “temperamento musical”.

Miles Davis nunca tocou nem perto da velocidade de John Coltrane, mas com as poucas notas Miles Davis se tornou no nome mais importante da história do jazz.

Talvez seja o momento de você desencanar de alcançar aquela velocidade que nunca chega e buscar caminhos mais pessoais e com menos notas.

2- Como já dizia o mestre Hemerto Pascoal: “Improvisar é improvisar mesmo”.

Muitos se referem ao improviso como uma composição espontânea, desenvolvimento de ideias e motivos, uma história fresca e etc. Eu adoro esses conceitos.

Algo que o improviso nunca poderá ser é um solo que já foi antecipadamente ensaiado. Não me entenda mal, você pode ser o cara mais feliz do mundo criando e praticando o seu solo horas a fio, mas você nunca vai poder dizer que isso é um improviso.

Não vou entrar no mérito do que é 100% espontânea ou não, pois não é o propósito do texto, mas particularmente sempre que tentei tocar licks pré-fabricado eu sentia uma certa pressão em executa-lo o que prejudicava o andamento do meu improviso.

Portanto, eu acredito ser mais lucrativo pagar um preço para desenvolver os elementos da improvisação, para que no momento ela possa surgir como uma história fresca, do que o contrário.

3- Um grande inimigo do improvisador é o nervosismo, ansiedade e a falta de segurança.

Eu sofri muito nos meus primeiros semestres da Berklee. Toda vez que ia me apresentar sentia uma pressão enorme de tocar para outros alunos e para os professores, para mim aquela era a pior plateia que poderia existir, parecia que eu precisa provar algo a eles todas as vezes que eu subia ali.

O pianista kenny Werner escreveu um livro chamado “effortless mastery” que fala exatamente do processo de tocar sem o peso da cobrança de ter que agradar a plateia. Claro que a plateia merece seu respeito e um repertorio querente com a ocasião, mas a questão é que colocamos sobre nós uma pressão que não vai ajudar em nada no resultado final da sua apresentação.

Ninguém nunca se esforçará para tocar pior, a questão é poder subir num palco relaxado e confiante ao ponto de que a sua segurança transparecerá como algo positivo para a plateia, pois você vai tocar com mais liberdade e entusiasmo.

Quando voltar da expomusic espero continuar a listagem....

Deus abençoe a todos.
Mateus Starling

OBS: O fato acima é a minha visão sobre o assunto, portanto, é algo subjetivo com margem para uma imensa discussão. Se você não concorda comigo não tem problema nenhum, eu não tenho a apalavra final sobre música. Espero apenas poder estar sendo útil para alguns.

Will Bejar
Veterano
# set/12
· votar


Belo texto!!!
Parabéns!!!

Markrovit
Veterano
# set/12
· votar


Muito bom, continue porfavor :)

starling_music
Veterano
# set/12
· votar


Will Bejar Markrovit Obrigado colegas pelos comentarios. Vou continuar sim. Fiquem com Deus.

Lelo Mig
Membro
# set/12 · Editado por: Lelo Mig
· votar


Concordo com “Improvisar é improvisar mesmo”.

Se utilizar de temas ensaiados, enfiar duas ou três notas à mais e chamar de improviso é picaretagem.

Na hora do improviso é que se vê quem é artista e quem é músico. O artista, vai além do músico. Conheci excelentes músicos, com muito estudo e que improvisam mal prá caramba. Não tocam fora do tom, não "saem" da música, mas enfiam um emaranhado de notas certas porém sem sentido algum. Ficam sempre no "quase".

E assim, como no futebol, "quase gol" não faz resultado.

clebergf
Veterano
# set/12 · Editado por: clebergf
· votar


starling_music

Excelente!!!
Essa dica do Joe Pass é ótima, tem no youtube essa vídeo aula dele?

ALF is back
Veterano
# set/12
· votar


starling_music
muito bom texto cara! a dica nº1 é muito interessante...as vezes estou improvisando e começo a pensar em algum desenho mirabolantemente complexo, q tenha uma abertura grotescamente enorme e q possa soar extremamente original, isso tudo tocando rapido...até chegar nesse desenho q julgo ideal, fico fazendo licks sem pensar, simples e desconexos da harmonia um tempão...ai quando finalmente sai aquela grande mescla de desenhos, vejo q é tudo a mesma nota em cordas diferentes, por exemplo...algo totalmente estetico e sem musicalidade...venho tentando me livrar dessa prisão de desenhos de escalas q o metal joga na nossa cabeça, e essa dica é muito importante pra isso!

Rednef2
Veterano
# set/12
· votar


Texto bom demais cara, é engraçado que eu também sinto um pouco dessa pressão quando penso antecipadamente em tocar um lick em determinada hora do solo, na maioria das vezes eu acabo errando e estragando tudo hehehehe

Will Bejar
Veterano
# set/12 · Editado por: Will Bejar
· votar


Tem vezes que vou improvisar, que os caras não percebem que eu já gastei toda minha munição... aí eu começo tocar notas longas usando o feedback pra prolongar a nota o máximo possível... aí eu vou fazendo bends com tempos diferentes... heehehehehe... aí eles percebem e voltam ao tema (ou acabam a música logo!!!)

Johnny_Awake
Veterano
# set/12
· votar


Curti,

Muito interessante!!!

JJJ
Veterano
# set/12
· votar


Legal

carlcarl
Veterano
# set/12
· votar


starling_music
meus parabens e muito obrigado,
acrescento que um outro grande inimigo do improvisador é que na maioria das vezes o improviso sai dos dedos e não da cabeça.
é importante ter dominio do instrumento,saber onde estão e como soam as notas no instrumento.
cante o solo no ouvido interno e jogue estas idéias para o instrumento.
como foi dito,não tente fazer coisas que estão além de suas capacidades.
pessoalmente,nem sempre os meus improvisos me agradam mas na hora do improviso so penso no som.
abç
Carl

rafael_paiva_r
Veterano
# set/12
· votar


Muito bom o texto
Parabens

Jinkxs
Veterano
# set/12
· votar


starling_music

Bom... eu não sou músico nem nunca estudei música. Tenho algum conhecimento autodidata, mas não tenho tempo pra me debruçar em estudo e treino, como manda o figurino. Mas gosto de tocar guitarra.

Tenho alguns desenhos na cabeça e conheço o braço da guitarra. Sei onde está a nota que quero. Não sei o nome das notas, mas conheco os sons. Não sei os nomes das escalas, nem os modos, nem as progressões.... mas sei o que soa bom e o que soa mal.

Quando desenvolvo um improviso vou usando os desenhos que estão gravados no subconsciente, repetindo-os e as vezes variando o padrões, em posições diferentes da escala.

Um músico (de verdade) vai perceber que tenho um vocabulário limitado e que minhas variações sobre o tema são poucas, apesar de não soarem repetitivas, pois uso de artifícios (andamento, pausas, etc...) que disfarçam esse problema. Mas para um ouvinte comum não deixa nada a desejar.

O ponto é que, por mais desdobramentos teóricos que o assunto propicia, o bom improviso é aquele que fica bonito. Que de alguma maneira toca a platéia.

Claro que estudar em Berklee (por exemplo) e donimar a teoria é extremamente positivo, e necessário sim, para ter um carreira de músico, mas não é condicionante nem impedidtivo para se realizar um bom improviso. Nessa hora, o que manda é a capacidade de cada um se expressar atravéz do seu instrumento. Quem pensa o improviso, na realidade não está realmente improvisando.... está compondo (expontâneamente, mas está compondo). O improviso, de verdade, tem que fluir.... como um beijo. Você não pensa o que fazer num beijo.... simplesmente beija!!!!

GabeMateus
Veterano
# set/12
· votar


Excelente texto, brother.

Johnny Favorite
Veterano
# set/12
· votar


Jinkxs
definiu bem a minha relação com a música.

carlcarl
Veterano
# set/12 · Editado por: carlcarl
· votar


Jinkxs
por favor se for possivel disponibiliza uns improvisos teus pra gente.
valeu
abç
Carl

Lelo Mig
Membro
# set/12 · Editado por: Lelo Mig
· votar


Jinkxs

Absolutamente correto.

Um goleiro, treina a semana toda para desenvolver seus "reflexos", por que é pelo reflexo que ele irá fazer suas defesas. Se ele tiver de pensar "vou pular meia altura à esquerda", nem iniciou o raciocínio e já tomou gol.

Em música, não é diferente. Quem tem muito estudo e pratica, tem mais chances de desenvolver seus "reflexos", mas na hora do improviso, se ficar pensando em "que escala usar, que nota colocar"... Toma gol!!

Por isso, escrevi e repito: Com ou sem estudo, o bom improviso é intuitivo.

Ele diferencia o músico do artista.

Bigtransa
Veterano
# set/12 · Editado por: Bigtransa
· votar


Sempre que entro nos tópicos do Matheus, vejo que muitos dos comentários giram sobre o quanto o músico pode ser bom sem estudar, ou o quanto é desnecessário ler partituras ou conhecer os modos gregos. Quem comenta tem todo o direito de pensar assim, mas qual o intuito de se iniciar sempre essa discussão? Todos sabem Matheus é um músico que estudou muito e extremamente dedicado ao ensino do instrumento. Quando um cara com essa bagagem escreve, é natural que se dirija a quem tenha interesse em estudar e aprender... Se existem pessoas que nasceram sabendo e tocam pra caramba, ótimo pra elas! Mas pra que vir "cornetar" aqui?

Bigtransa
Veterano
# set/12
· votar


Só pra não causar confusão.... Deixo claro aqui que não estou me referindo aos comentários do Jinkxs ou do Lelo Mig... Os 2 sempre comentam em alto nível e não se encaixam no que descrevi acima.... Acredito qualquer um que acompanhe os tópicos do starling_music tenha entendido o que quis dizer....

Alan_Domingues
Veterano
# set/12
· votar


carlcarl

Usa a busca que o camarada já postou altos sons ai para o pessoal.
Bobeira o seu pedido.

Jinkxs

Bom texto. Também vejo assim.

starling_music

Muito legal o texto. É bom expor mesmo as opinião. São muito válidas, assim como o companheiro Jinkxs.

Bigtransa

Que isso bicho. Não vi discussão. A galera postou bem.

Alan_Domingues
Veterano
# set/12
· votar


Bigtransa

Relaxa. É só a galera ignorar!

Bigtransa
Veterano
# set/12
· votar


Alan_Domingues
Não vi discussão. A galera postou bem.
É verdade... me precipitei... mas quis postar antes que descambasse pra mais um "técnica x feeling"

d.u.n.h.a.
Veterano
# set/12
· votar


Texto bem legal man, principalmente a parte dos acordes do Joe Pass, tem no youtube essa vídeo aula cara?

Bigtransa
E o teu comentário se faz tão desnecessário quanto o dos que dizem "já nascer saber tocando".

Bigtransa
Veterano
# set/12
· votar


d.u.n.h.a.
Já disse bem o Alan_Domingues....
Relaxa. É só a galera ignorar!

abç

vintagentleman
Veterano
# set/12
· votar


Pessoal,

Concordo com todo mundo que acredita que improviso é uma coisa para ser feita e não pensada...

Abraços

Bigtransa
Veterano
# set/12
· votar


d.u.n.h.a.
Não tenho certeza pois vi há muito tempo, mas acho que o Joe Pass fala isso numa vídeo aula chamada "Jazz chords and comping"... procurei no youtube mas não achei...

Jinkxs
Veterano
# set/12
· votar


Lelo Mig

É isso mesmo.... reflexos condicionados. Treino é fundamental. Se você complementa com o domínio da teoria, goooolll pro teu time!!!!

carlcarl

Poxa amigo.... no momento fico te devendo..... estou sem placa de audio (a maldita queimou). Nem estou participando das Jams.....
Tenho algumas coisas gravadas no 4shared...... mas não são improvisos, pois foram gravadas em mais de um take, e por isso não contam.


Bigtransa

Obrigado pela consideração....

Já caí nessa tentação outras vezes, por outros motivos, mas vamos aprendendo, certo??

Nesse caso, o que motivou meu comentário foi o assunto escolhido.... Improviso. O improviso tem sempre uma certa dose de liberdade, e nele o artista pode tocar com o sentimento verdadeiro, livre das amarras que muitas vezes a teoria e a técnica impõem.

Fazendo um paralelo com a dança...

É nítida a diferença entre uma bailarina do Bolshoi e uma mulata da Mangueira. Ambas expressam sua arte de forma distinta. A Bailarina, exibe formalismo e a perfeição em cada movimento. Tudo é controlado, pensado, ensaiado, e o resultado é um espetáculo extremamente técnico..... e magnifico!!!! Já a mulata é pura intuição, ginga, ritmo.... é tudo cognitivo. O resultado é igualmente magnífico, porém muito distinto.

O starling_music é um tremendo músico, um professor. Os textos deles são voltados para os estudantes de música, e são exelentes mesmo para os não músicos. Seria claro, muita pretensão minha (e de 99% do FCC) questionar suas colocações, ou querer transformar o tópico num debate. Mas como estamos num forum..... é sempre bom agregar outras visões dentro do tema, mesmo que seja só pra complementar o raciocínio.

clebergf
Veterano
# set/12
· votar


O improviso é uma composição espontânea, pelo menos é assim que eu vejo. Mesmo se a pessoa improvisar sem fazer a mínima ideia de que está usando arpejos, modos, pentas etc, no final ela estará usando essas ferramentas. Algumas poucas, bem poucas pessoas tem a capacidade de tocar assim, intuitivamente, mas isso não significa que o cara não estudou, até o Jimi Hendrix, que até hoje se tem a mística de que nunca estudou, ralou para chegar onde ele chegou, ou todo mundo acha que a primeira vez que ele pegou na guita ele saiu solando com o dente? xD

Eu já ouvi sons do Jinkxs aqui no fórum e curti, porém eu não tenho a capacidade musical de tocar sem saber o que estou tocando, logo tenho que estudar, internalizar os conceitos e ai sim começar a fazer a parada intuitivamente, por exemplo, eu tenho o som da penta na minha cabeça e consigo improvisar com ela razoavelmente já, porém comecei recentemente a estudar arpejos dominantes e não tenho metade da fluência que tenho nas pentas, exatamente pq tenho que pensar muito nas notas, ai a parada não flui naturalmente. Então tenho que treinar os arpejos até eles ficarem na minha mente da mesma forma que as pentas, e continuo estudando pentas, pois a minha fluência, pegada e técnica está longe de onde quero chegar... xD

d.u.n.h.a.
Veterano
# set/12
· votar


Bigtransa
Eu também man, procurei no youtube mas nao achei nada.

Enviar sua resposta para este assunto
        Tablatura   
Responder tópico na versão original
 

Tópicos relacionados a O que NÃO fazer em um improviso.