nichendrix Veterano
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# mar/10
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Alvaro Henrique
Eu nunca achei que os compositores, no sentido mais tradicionais do termo, estivessem ameaçados. Só disse que a tecnologia abre espaço pra esse tipo de compositor que não tem o conhecimento formal da musica erudita, mas que tem idéias e consegue compor musica erudita com ajuda da tecnologia.
Eu também não acho que a única forma do cara aprender a compor ou a tocar seja ir para um conservatório ou um faculdade de musica. Pelo contrário, a maioria dos musicos que eu admiro nunca chegaram perto de uma escola de musica, e são musicos incríveis. Pegue um Charlie Parker ou um Art Tatum, que era musicos quase semi-analfabetos, que nunca tiveram um estudo formal de musica e não devem em nada a nenhum instrumentista erudito. O Charlie Parker inclusive levou o saxofone por terrenos que a musica erudita nunca nem sonhou em ousar para o instrumento.
Todaviam até pelos professores que tive, eu tenha aprendido a respeitar o valor desse estudo na hora de tocar, muitas vezes eu mesmo uso conhecimento teórico para suplantar uma dificuldade técnica porque sei que outro elemento posso por alí que terá o mesmo efeito/valor... obvio eu não toco musica erudita, como disse minha praia sempre foi o jazz e o blues, que dão muito mais liberdade pra isso. Tanto no saxofone quanto na guitarra eu sempre achei esse conhecimento util.
Como disse, o que eu expus aqui foi uma situação vivenciada por um professor do curso de musica da universidade federal daqui, ele dá aula de matérias ligadas a composição, arranjo e orquestração. E algumas vezes já reclamou que alguns alunos dele usam a tecnologia para "poder fazer sem ter que aprender", como ele mesmo define.
O cara não tem interesse na matéria especificamente e usa a tecnologia para se dar bem na matéria, sem ter o esforço de estudá-la a fundo. O que de certa forma é um contra-senso já que ele foi pra faculdade de musica pra estudar aquilo.
Não é o caso de um Paul McCartney que usa a tecnologia pra dar vazão a uma idéia que ele já tem, mas não saberia expressar formalmente, é um cara que escolheu estudar formalmente que está usando o mesmo recurso pra não ter que estudar. ===============================================
Sobre as composições do Paul McCartney e do Roger Waters, eu também concordo que elas não podem "competir de igual para igual" com uma composição de alguém que estudou formalmente a vida inteira pra fazer esse tipo de composição.
Entretanto de I Wanna Hold Your Hand pra Liberpool Oratorio é um salto enorme de complexidade.
E nem acho que seja algo do tipo que só se toca só uma vez, é algo que especialmente na Inglaterra e nos USA tem sido usado para trazer público para as orquestras sinfonicas e filarmonicas, eles com frequência montam os espetaculos desses caras e em troca eles divulgam o trabalho das orquestras.
E assim tanto fica um canal aberto e constante para esse tipo de compositor que tem incursões pela musica erudita mesmo não vindo de um background erudito mostrar seu trabalho, quanto a orquestra se beneficia do público que eles trazem que mesmo que não permaneça tende a lotar as salas, e em geral com entradas sendo vendidas por um valor bem mais alto.
Alguns prêmios de musica erudita nesses dois paises também tem aberto categorias especiais pra esse tipo de compositor, especialmente se for famoso de alguma forma, como uma forma de divulgação e de aproximação com o público.
Um caso especial que eu vejo é Paul McCartney que é dono de um conservatório de musica em Liverpool, e patrocina algumas orquestras, premios e eventos de musica erudita mundo afora.
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nichendrix Veterano
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# mar/10 · Editado por: nichendrix
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Alvaro Henrique
Acho que isso entrou na conversa quando eu comentei que o Paul McCartney é fã do Stockhausen e de vários outros compositores do período e que é grande apreciador do movimento serialista, e inclusive incorporou em suas musicas referências de compositores contemporâneos e pós-modernos.
Outro ponto foi quando comentei que toda a idéia de compartimentação dos serialistas mais radicais como o Stockhausen que que usou muito o aleatorismo controlado (que assim como o aleatorismo e o indeterminismo são considerados vertentes de influência serialista), enfim toda a idéia de parametrização e compartimentalização da musica usada por esses caras é a base para o uso e a programação de sequencers e sintetizadores (não é a toa que muitos desses caras fizeram composições para sintetizadores, como o próprio Stockhausen).
Eu cheguei a comentar que uma maneira de entender a forma como os serialistas usavam esses controles, é entender a forma como se programa esse tipo de software. Já que partem de principios semelhantes e muito mais que uma partitura, eles podem mostrar como se pode comandar diversos parâmetros musicais de forma ultra precisa, e na falta de um termo melhor, quase matemática.
De certa forma, o tipo de matriz que vc usa pra fazer musica num sequencer, tem um bocado de semelhança com o tipo de matriz que foi usada pra fazer as Klavierstuck do Stockhausen.
Aí o makumbator comentou algo a respeito de hoje ser muito mais fácil compor por causa da tecnologia, e vc discordou pq o nível de controle sobre os elementos é muito grande e eu falei que pelo contrário a tecnologica hoje permite um nível de controle absurdo por meio de sintetizadores e senquenciadores. E de alguma forma entrou a picaretagem no meio e eu comentei do problema do professor cujos alunos tentam burlar o estudo através da tecnologia só pra poder passar na maciota pela matéria dele e bateu nisso daí.
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