"Causos" estranhos ou engraçados de cantores ou instrumentistas

Autor Mensagem
Tipo 8
Membro Novato
# fev/20 · Editado por: Tipo 8


Para inaugurar a postagem, vou contar uma situação que aconteceu quando fui prestar o vestibular para o superior de canto.
Fiz a prova. A parte de canto foi ótima e na parte de solfejo principalmente dei uma derrapada pelo nervosismo, mas já era esperado. Havia uma menina fazendo a prova que não sabia nenhuma das duas coisas. Não solfejava nada e cantava menos ainda (na verdade era risível) MAS tinha grana e estudava com a coordenadora do curso.
Depois da prova a universidade se esvaziou e eu fiquei matando tempo. Comprei um sanduíche e sentei numa escada que ficava meio escondida. De repente vejo a coordenadora vindo rápido. Bateu numa porta e as duas professoras de solfejo apareceram. Então a mulher perguntou:
- E aí como ela foi?
- Péssima. Ela não sabe nada.
- Tá mas foi tão mal assim?
- Foi, ela não tem a menor condição de acompanhar.
- Bom, não importa, eu quero que ela passe.
- Mas Neyde, ela nunca vai conseguir acompanhar.
- Não importa, se vocês tiverem que dar nota 10, que seja. Eu quero que ela passe e fim de conversa.

Resultado:
- Eu não passei.
- A menina passou e logo depois abandonou o curso.
- Ficaram vagas sobrando.

sandroguiraldo
Veterano
# fev/20
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É verdade, eu estava lá, eu era a porta.

acabaramosnicks
Membro Novato
# fev/20
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depois a mesma pessoa vai reclamar da corrupção da polícia, dos políticos, etc
é de cagar mesmo

Lelo Mig
Membro
# fev/20
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Tipo 8

Infelizmente não tem nada de estranho, muito menos de engraçado, lamentavelmente, é padrão no Brasil.

Pior que têm uns que não abandonam o curso, vão levando aos trancos e barrancos e sendo favorecidos. Depois seus "pistolões" ainda os encaixam como professor, coordenador, secretário e etc, em algum orgão público, e você ainda paga o salário dele.

Tipo 8
Membro Novato
# fev/20
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Lelo Mig

E o problema é que o nível cai absurdamente.

acabaramosnicks
Membro Novato
# fev/20
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Tipo 8
cai nada
o importante é o dinheiro passar pelas mãos certas
ningue´m liga pra arte mesmo

Siruiz
Membro Novato
# fev/20
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Nunca simpatizei com provas em que se vê quem é o candidato... Poderiam para provas assim apenas "habilitar" as pessoas por prova presencial, a classificação sendo por conta de prova escrita...

Gansinho
Veterano
# fev/20
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Siruiz
a classificação sendo por conta de prova escrita

Prova escrita pra canto? haha

Lelo Mig
Membro
# fev/20
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Siruiz

"Nunca simpatizei com provas em que se vê quem é o candidato... "

Tenho um amigo que é perito criminal, da polícia científica. Ser perito sempre foi sonho dele, desde cedo, acho que influenciado por CSI, estas paradas.

Pois bem, o concurso da polícia civil em São Paulo, durante muitos anos, consistia em:
- Prova Teórica multidisciplinar.
- Prova Física.
- Prova Oral.
- Aprovação no curso da Acadepol.

Aí, neguinho arrebentava nas duas primeiras, chegava na oral, a bancada perguntava prá você: "Disserte sobre o livro "Dos delitos e das Penas" e explique a importância da teoria de Cesare Beccaria para os estudos criminalísticos modernos".

Aí, chegava a filha de um delegado, que já tava no esquema e a bancada perguntava: "Quanto é dois mais dois".

Foda.

Pelo menos Alckimin baixou um decreto acabando com a avaliação oral há alguns anos.

Siruiz
Membro Novato
# fev/20
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Sim,

a) fígaro, fígaro fiiiiigaro
b) fiiiiigaro, fiiiiiiiigaro, fiiiiiiiigaro
c) nda

Nada demais, diz a retórica que em qualquer atividade o conhecimento teórico pode ser fundamental - na maior parte das vezes a prova escrita tem a real função de tornar a prova neutra, o que já é muita coisa, e vale também para o canto.

Gansinho
Veterano
# fev/20
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Siruiz
Sim, mas uma prova escrita no canto não avaliaria nada.

Lelo Mig
Membro
# fev/20
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Gansinho

"mas uma prova escrita no canto não avaliaria nada."

Sim. Não só no canto, mas em qualquer instrumento, equipamento, ferramenta, veículo, desenho... ou seja uma prova escrita pode avaliar o que você sabe mas não o que você é capaz de fazer.

Nestes casos a prova prática é essencial.

Tipo 8
Membro Novato
# fev/20 · Editado por: Tipo 8
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Causo 2:

Certa vez fui cantar no Teatro Guaíra. O acompanhamento era de violões e cajon. Já tínhamos ensaiado previamente e tudo estava correto, andamento principalmente. Cantor vive tendo que se cuidar, não pode isso, não pode aquilo, mas...Quase na hora de entrar e os músicos sumiram. Procurei, procurei e os encontrei num camarim, digamos, enevoado e que jorrava um rio de uísque, isso meia hora antes da apresentação.
Chegou na hora de cantar, fiquei no lugar mais à frente e começamos, tudo foi bem até a metade da música, quando o pessoal começou a sair fora do tom, do ritmo, e eu não sabia nem mais que música eles estavam tocando. Era uma confusão de sons e instrumentos e você no desespero, olhando pra trás fazendo sinal e os caras lá, curtindo a composição feita na hora. Olhava, fazia sinal e os caras nada de entrarem na música. Bom, esperei um tempo de entrada e voltei cantando. Aí deu um estalo e os caras voltaram pra música e eu não sei como conseguiram, porque quando entraram no palco já estavam pra lá de doidões. No final das contas deu pra terminar a música e ninguém percebeu nada. Só o compositor deve ter se revirado no túmulo.

Ismah
Veterano
# fev/20
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acabaramosnicks
ningue´m liga pra arte mesmo

Realmente, pra arte, não é tão relevante. O cerne é que pra tudo é assim. Tem fiscal ambiental, que não diferencia uma figueira de um pé de tomate... Quiçá um pinheiro-do-paraná / araucária (protegido por lei), de um pinus elliotii (plantado e cortado a rodo, para quase tudo que leva madeira).

sandroguiraldo
Veterano
# fev/20 · Editado por: sandroguiraldo
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quando entraram no palco já estavam pra lá de doidões

Pra mim, isso é coisa de gente amadora, que não respeita seu público.
Ou de gente muito, muito grande e famosa.

Edit:

Lembro que alguns anos atrás o The Calling, daquela única música, tocou no programa no Mion... os caras tavam tão chapados, que se não fosse o playback, não tinha saído nada. Ficaram pulando de um lado pro outro, quebraram a bateria... coisa que não condizia em nada com o estilo deles...

Beto Guitar Player
Veterano
# fev/20
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A única coisa esquisita que aconteceu comigo (nem foi tão esquisita na verdade) foi uma vez que tinha um copo de cerveja em cima de uma caixa de som e eu estava do lado da caixa.
Daí passou um irmão do outro guitarrista bebaço, deu uma baita trombada na caixa e me deu literalmente um banho de cerveja.
De uma outra vez, veio um outro maluco bebaço e sentou na bateria e começou a "tocar". Fiquei puto da vida (eu nem era baterista e muito menos dono da bateria, o baterista não estava nem aí, pra falar a verdade), mas fiquei puto mesmo assim. Ameacei o cara e ele me chamou pra porrada. Não rolou briga porque todo mundo foi "separar" a briga.

Final das contas, nunca mais toquei em boteco, aliás, nunca mais toquei em banda.

K2_Loureiro
Veterano
# fev/20
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Tem duas histórias que meu professor de violão contava:
1- Aqui na cidade tem um guitarrista fera pra caramba. Formado no IG&T e tudo. Um dia a banda dele estava fazendo um show aberto e estavam detonando no palco. Daqui a pouco, chega um cara bebaço e pergunta: viu, será que eles sabem tocar aquela música "A praça"? Hauahaua a música tem duas notas kkkkk

K2_Loureiro
Veterano
# fev/20 · Editado por: K2_Loureiro
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Vou sair, depois conto a outra kkkkk

Lelo Mig
Membro
# fev/20 · Editado por: Lelo Mig
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Toquei anos em bar... uns 15 anos. Se eu contar todas histórias que vivi com música... dá um livro.

Vou aproveitar o tópico e ir contando algumas... têm umas bem engraçadas.

Outras, se for pensar bem, são tristes.

O pai de um saxofonista que tocava comigo tinha um studio que gravava basicamente sertanejo e brega. O studio, instalações, tecnicamente e tecnologicamente, era bastante bom, ms o serviço era triste. Basicamente o Zé Ninguém ia lá, gravava, pagava uma grana e, depois de um tempo, saia com 100 cópias de vinil embaixo do braço para "distribuir aos amigos e família", iludido de que seria o novo Roberto Carlos.

Pois bem, um dia um produtor do studio apareceu no ensaio da minha banda (já conhecíamos o cara), assistiu o ensaio e ao final fez uma proposta a cada membro da banda: Você não quer ser músico de apoio do stúdio? Quando precisar de um guitarrista, te chamo, você arranja, grava e eu pago X por música gravada. A proposta era boa, muito boa, além da paga ser boa, me daria uma sonhada experiência em stúdio. Aceitei na hora.

Não deu nem 10 dias ele ligou: Tenho 4 sujeitos pra gravar este final de semana, 2 músicas de cada. Começamos sábado as 18 hs e vai até quando acabar, madrugada a dentro se for o caso. (depois vim a saber que os caras tavam gravando "picado" e se encaixando em horários vagos por conta de baratear custo). Cara! 8 gravações num findi? Vou encher o rabo de $$$.

Cheguei ao stúdio, meio ansioso, galera prá lá e prá cá. O produtor atarefado me cumprimentou e disse: O primeiro é aquele lá, se quiser ir adiantando alguma coisa... O cara tava com um violãozinho, me passou a harmonia, era muito simples, tirei, anotei, e ainda tive tempo prá dar uma arranjada, colocar uns acordes mais bonitos e um arpegio mais sofisticado. O tecladista chegou, com um "Cássiozinho" portátil (só prá arranjar, prá gravar usou um teclado profissa) deu umas incrementadas melhores ainda e a coisa ficou "bunitcha". (Era uma música brega, feia prá caralho, um lixo)... mas, o tecladista era bom, fizemos um arranjo Jovem Guarda e a coisa ficou boa pro padrão... neste meio tempo arranjamos a outra e deu até prá criar um solinho simples (não era rock, não pedia solo de guitarra no meio da música, mas sabe aqueles solinhos de chamada? solinho introdutório que se repete depois 2 ou 3 vezes ao longo da canção?), ficou show!!

O produtor entrou, nos chamou... Tocamos meia boca uma guia tipo "ao vivo" (o baixista já tava no esquema) só para gravar a bateria prá valer, e depois, com bateria gravada, cada um gravava sua parte, isoladamente, usando a bateria definitiva. O esquema da gravação era bem profissa.

Então ficou assim: Gravou o batera, gravou o baixo, gravou minha guitarra base, gravou o tecladista (que fazia parte da base, uns ornamentos e preenchia espaços), por último gravei os solinhos.

Aí entrou o infeliz prá gravar o vocal... pense num nego ruim, pensou? Era muito pior. Como cantor, tirando que ele desafinava, errava o tempo, tinha um timbre horrível e tinha uma péssima dicção, ele sabia a letra (afinal ele era o compositor).

3 ou 4 Takes, ficou uma bosta, produtor impaciente, próximo!

O tempo para arranjar e criar algo para o segundo, já era menor e percebi que a cada um, eu teria menos tempo. O produtor me chamou para gravar a guia.
Eu falei prá ele: Peraí, só criando um solinho.

Ele me chamou num canto e disse, criando solinho?
Eu disse, é!
Ele falou: Faz o mesmo solo do outro. O cara já foi embora.
Eu disse: Porra, mas... é chato, e se....
Ele me olhou nos olhos e disse: Sabe quando algum destes caras vai fazer sucesso? Tocar na rádio? Ir no Chacrinha? Nunca!
Faz o mesmo solo!

Eu fiz... e com muito poucas mudanças toquei as mesmas coisas na canção do segundo, do terceiro, do quarto...

K2_Loureiro
Veterano
# fev/20
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Lelo Mig
E ai? Ganhou a grana?

Tipo 8
Membro Novato
# fev/20
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Teatro Guaíra novamente. Época de uma novela italiana de sucesso na tv. Teatro lotado e neste dia um cantor bem conhecido do público iria cantar um sucesso da novela e eu em seguida cantaria uma canção napolitana. Esperava no local reservado com meu microfone sem fio e me chega o tal, de terno branco e pára por ali. Eu como educado que sou me virei para cumprimentá-lo, afinal estávamos ali os dois esperando nossa hora de entrar. Então o sujeito vendo que fiz um movimento para cumprimentá-lo, com aquela cara de tia velha, simplesmente se vira de costas fazendo cara de esnobe (como se eu ligasse para a "famosidade" de quem quer que seja).
Pensei: Que feladaputa...

Mesmo assim tinha que ficar ali esperando. Chega então a hora do cara cantar e eu estava curioso para saber como era a voz ao vivo. Aí, o cara entra no palco e manda um playback daqueles. Putz, no Guairão fazer uma dessa. Ficou feio e vi que não ia conhecer a voz do tal.

Porém, ele, infelizmente tomado pela emoção e o teatro lotado, fala com o público e diz que em agradecimento a todos ele iria cantar uma Ave Maria (A capella), e começou. Meu amigo...Que desgraça. Pegou uns 3 tons abaixo e foi indo. A voz de cachorro velho balançava igual bambu em ventania. Pegava tudo por baixo, sem brilho, enfim, minutos de castigo. Ao final o público meio que em choque, aplaudiu. Depois entrei, e cantei a minha parte sem nenhuma ocorrência.
Quando acabou, havia um amigo meu na platéia que tinha uma certa noção de canto, mas gostava do cantor em questão. Mesmo assim perguntei o que ele tinha achado da Ave Maria do fulano, e ele:

- Boa. Mas fiquei rezando para que acabasse logo.

K2_Loureiro
Veterano
# fev/20
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Tipo 8
Kkkkkk VOZ DE CACHORRO VELHO!

K2_Loureiro
Veterano
# fev/20
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Continuando
2 - O mesmo guitarrista da história anterior foi com sua banda tocar em um antigo bar de pagode que foi reinaugurado. O problema é que o dono não avisou e foi lá o mesmo público de antes.
Na hora do solo, o cara com a guitarra, detonando, quase tirando fogo da guita, aparece um tiozinho fazendo gesto de pandeiro com a mão e pergunta: Não vai rolar um pagodinho não?
Kkkkkk

Lelo Mig
Membro
# fev/20 · Editado por: Lelo Mig
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K2_Loureiro

"E ai? Ganhou a grana?"

Sim! O esquema era profissa, "fast food musical"...kkk, toquei muitas vezes lá depois dessa, sempre deixando o "lado artista" da porta prá fora. Se levasse prá dentro ficava com dó dos caras e ia acabar arrumando encrenca.

Tipo 8
Membro Novato
# fev/20
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K2_Loureiro

Nossa, kkk

Tipo 8
Membro Novato
# fev/20 · Editado por: Tipo 8
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O FRANGO

Eu cantei um tempo num restaurante no bairro de Santa Felicidade em Curitiba (famoso reduto italiano). Cantávamos em 3 ou 4 pessoas, sem microfone, próximos das mesas. Piano e voz. Era um caos barulhento mas divertido.

Porém não era raro ter algum idiota dando uma de bobo com os cantores. Numa noite veio um grupo de caras e ficou numa mesa bem na minha frente. E eles atrapalhavam muito, gritavam, tiravam sarro, etc. O sangue vai subindo, mas vc está trabalhando e essas coisas acontecem.
O problema é que em determinado momento, eu cantando uma canção difícil e um dos carinhas invocou comigo e ficou provocando, até a hora que ele teve a feliz ideia de pegar uma coxa de frango e jogar nos meus pés e gritar que era pagamento.
Eu que sou quase um monge budista, no mesmo embalo que aquele frango caiu na minha frente, dei uma bicuda na penosa em direção ao cara. Pegou na perna dele e caiu bem ao lado do pé. Aí tem aquela pausa dramática. O sujeito me olhando com cara de espanto. Pensei: Acabou a música e vai voar cadeira. Fique olhando para o cara esperando o que ele ia fazer.
Bom, contrariando qualquer previsão, o cara fez o inacreditável. Ao invés de levantar e chamar para a briga, o sujeito pegou aquela coxa de frango do chão, deu uma mordida e colocou de novo no prato e os amigos dele metade caiu na gargalhada e metade quase vomitou.
Puta nojo desgraçado.

BrotherCrow
Membro Novato
# fev/20
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Tipo 8
Madalosso?

Ningen
Veterano
# fev/20
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Tipo 8

O FRANGO

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Lelo Mig
Membro
# fev/20 · Editado por: Lelo Mig
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Uma "Night" com o Elvis!

Um amigo baterista perguntou se eu podia/queria acompanhar um cara que cantava Elvis, que tinha uns três shows marcados e um cachezinho bom por cabeça. Fiquei de ir ao ensaio, conferir.
Chegando no dia e local combinado conheci o tal “Elvis”. Era um loirinho do cabelo liso, cara toda pintada... Manja o Alfred E. Newman símbolo da revista MAD? Pois é, era o sujeito, só que baixinho e obeso.

Achei meio esquisita figura, mas após três ou quatro canções o gordinho me ganhou. Voz potente, poderosa, aveludada, super afinado... Cantor convincente, bom ouvido, corrigia passagens instrumentais e dava pitacos com propriedade. Educado e simpático. To dentro! O figura, era organizado, me deu a lista de canções que tinha no repertório, umas fitas K7 com as canções e as datas e horários de ensaios. Assinalou uma meia dúzia que ele “exigia” que eu trouxesse tinindo para o próximo ensaio e o resto eu podia ir tirando devagar. Fiquei seguro e tranquilo, havia tempo de sobra, bastantes ensaios até os shows e tudo organizado, a começar pelo local, que era a garagem da casa dele, mas tudo ajeitado, com espaço, um pequeno P.A bem legal, muito bom.
A banda era ótima, os músicos super legais. Me passaram cifras e partituras do que tinham (não leio partitura a ponto de tocar por elas, mas consigo extrair delas o suficiente para me orientar harmonicamente), e fui para casa, animado, ouvindo a fita, tirando as canções, transcrevendo minha cifragem e anotações e etc. (importante: isso foi final dos 70, começo dos 80. Não tinha Internet e muita coisa você não conseguia, não tinha onde pegar cifras. Tablaturas “não existiam” e books de partituras eram importados e caros. Você tinha que fazer sua própria escrita).

Bom, os ensaios eram ótimos. Bons músicos, galera séria e comprometida. Traziam tudo na “ponta da língua” e era tudo uma questão de pequenos ajustes e criar aquela química de banda. Era eu na guitarra, um batera, um baixista que também fazia bons backings vocals e o Elvis que além de cantar, claro, fazia violão ou guitarra base em algumas canções (tocava bem o gorducho). E um a cada três ensaios, vinha uma guria backing vocal e um saxofonista e um trompetista fazer os naipes. Nem precisa falar: os metais eram músicos de orquestra, vinham com partitura e já saiam tocando tudo redondo, geralmente quando “eles erravam” a gente descobria que era eu ou o baixista que tinha errado na verdade... rs. A backing cantava prá caramba e prá ajudar era uma gostosa top de linha.

Bom, o Elvis, geralmente cantava sentado, ficava em pé quando tocava, mas não fazia “performance”, usava roupas normais, ele era simpático, mas bem sério... Não era um “Elvis cover”.

Tempo passa banda redonda, sonzaço, eu tava empolgado e me envolvendo na onda Scotty Moore (prá quem não sabe guitarrista lendário da banda do Elvis).
Para o show ele apenas pediu para irmos de calças pretas e camisas brancas, a vocalista podia ir com um vestido de festa a sua escolha, sabia que ninguém na banda usava drogas, apenas disse que não era proibido beber, mas não toleraria bêbado e se alguém tivesse alterado não pagava cachê. Tranquilo, achei justo, de boa.

No primeiro show, aquela tradicional “abertura” que a banda do Elvis fazia (See See Rider) e ele entrava depois...

Foi aí que a coisa fedeu!

Ele entrou de peruca e costeletas do Elvis, de macacão branco, apertado, enfiado naquele rabão gordo e dando aqueles “golpes de karatê” costumeiros do Elvis original.

Eu na beira do palco primeira coisa que escuto é um: “Que porra é essa?” de um cara na primeira mesa. Eu comecei a rir e o segurar o riso foi ficando insuportável. Olhei prá banda e a situação era igual com todos. Até os metais, que eram super sérios, pareciam o Patati Patatá. Pior, você não podia olhar um pro outro que a gargalhada tomava conta, não dava prá segurar e você fica naquela situação constrangedora de quem esta zoando o cara que te deu emprego e vai pagar o seu cachê.

Apresentação engessada, cheia de erros grotescos, sem expressão, sem suingue, notavelmente desconfortável. Aí o que acontece? O público que já tinha achado o Elvis bizarro, ainda acha (com razão) que a banda é ruim prá caralho.
Depois que passa a vontade de rir, perdeu a graça, fica pior... Só sobra o lado ruim, desconforto, vontade de sair correndo e largar a banda lá e foda-se. Este primeiro show era prá ser curto... uns 40 minutos. O Elvis (pelo menos tinha bom senso) reduziu prá uns 25. Mas prá mim e para os músicos durou uns 4 meses. Foi foda!
Entre vaias, “que bosta!”, “vaza gordo!” e demais demonstrações de carinho da plateia o pesadelo acabou.

Não falamos nada, mas ele mesmo se tocou. Não tocou no assunto e no dia do outro ensaio nos disse que “tinha cometido um engano e que não se repetiria” e “se podia contar conosco”. Todos da banda dissemos que sim.
No próximo show ele entrou com um belo terno e gravata, no melhor estilo cantor romântico chique, o show rolou perfeito e ele (e nós) fomos super aplaudidos e os gritos foram pedidos “toca mais uma!”.

Vou confessar uma coisa à vocês: Sempre tive prá mim (coisa que nunca procurei confirmar) que ele não recebeu o cachê deste primeiro show. Mas ele nos pagou o combinado.


Obs: Prá quem não conhece a abertura com See See Rider:




Tipo 8
Membro Novato
# fev/20
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BrotherCrow

Lá mesmo.

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