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# ago/05 · Editado por: HeavyMetalMan
reportagem tirada da cover guitarra - por regis tadeu
Protagonista de inúmeras confusões em sua recente passagem pelo Brasil, YNGWIE MALMSTEEN passa por um momento difícil em sua carreira. Com exclusividade, Regis Tadeu traz toda a verdade do que aconteceu nos bastidores dessa turnê que quase se transformou num desastre.
Quem ainda não viu, está marcando bobeira. É altamente recomendável que você assista ao filme Spinal Tap. Para quem não sabe, é o relato sensacionalmente ácido sobre a carreira do fictício trio de heavy metal, mostrando todo o ridículo da vida de seus integrantes, rotina na estrada, bastidores, etc.
Resolvi começar esta matéria dando o exemplo cinematográfico de algo que acontece realmente com inúmeros artistas e bandas com uma frequência que chega a ser assustadora. Ser um rockstar, muitas vezes, significa ser um personagem patético dentro de uma realidade ainda mais patética, da qual muita gente não consegue sair – ou você acha que os caras bebem e se drogam só para não assistir a um show da Família Lima?
Infelizmente, um dos maiores guitarristas de todos os tempos acabou transformando-se num Spinal Tap ambulante, de carne, banha e ossos. Hoje, ninguém mais do que Yngwie Malmsteen personifica todos os estereótipos alienantes e megalomaníacos dos quais aprendemos a tirar sarro quando visto em outros grandes astros do cancioneiro mundial – comparado ao guitarrista sueco, Axl Rose é um vendedor de apólices de seguro – e protagonista de histórias bizarras, como aquelas que falam de seu saudável costume de distribuir catarradas pelo chão de sua própria casa e de seus passeios pelos shopping centers de Miami (onde mora), acompanhado de esposa e filho, este vestindo uma roupinha de couro preto (!) e embalado num carrinho muito parecido com o Cupê Mal-Assombrado (quem assiste ao desenho A Corrida Maluca sabe do que estou falando).
Aquarela do Brasil
Antes da chegada do rotundo guitarrista ao aeroporto de Cumbica (São Paulo) numa segunda-feira (1/10), a equipe de produção dos shows brasileiros – que haviam sido adiados por conta dos problemas causados pelos terroristas malucos em Nova York - já esperava por alguma confusão na turnê, pois tinha sido alertada pelo pessoal do Savatage e por Vander Taffo, que já havia lidado com Malmsteen durante um tumultuado workshop realizado há dois anos. Estava previsto para esse dia uma entrevista coletiva e algumas individuais (dentre as quais uma para COVER GUITARRA).
Às seis da manhã, o gigante sueco finalmente desembarcou em terras brasileiras. Terrivelmente mal-humorado por ter viajado na classe executiva – segundo ele, uma verdadeira ofensa para quem merece sempre poltronas de primeira classe – e por ter discutido com a comissária de bordo, que se negou a colocá-lo numa poltrona próxima à cabine do piloto, como ele queria, Malmsteen apareceu no saguão do aeroporto sem carregar nenhuma bagagem de mão, bêbado, inchado como um baiacu, totalmente detonado. Ao ser informado de que teria de permanecer por lá até a chegada do restante da banda e dos 750 kg de equipamentos, o guitarrista ficou ainda mais irritado.
Bebendo uma lata de cerveja atrás da outra, ele não acreditou quando viu que iria para o hotel a bordo de uma van alugada pela produção. “Onde está minha limusine?”, começou a gritar a plenos pulmões no saguão, chamando a atenção de todos que por ali passavam.
Finalmente convencido a entrar no veículo – depois da promessa de que iria sozinho nela, sem a presença da banda e dos roadies – Malmsteen percorreu todo o trajeto reclamando do calor, do ar-condicionado, do trânsito, da distância do aeroporto, da agenda de entrevistas e da música do Pearl Jam que tocava no rádio (ele se referiu aos dois guitarristas do grupo como “imbecis que nem sabem afinar o instrumento”). Isso tudo sem parar de beber latas e latas de cerveja...
Ao chegar ao hotel cinco estrelas reservado para ele e sua comitiva, surtou. Aos gritos, xingou toda a equipe de produção do Brasil e os funcionários do hotel, alegando que merecia coisa melhor por se tratar de um verdadeiro rockstar. “Vocês pensam que sou alguém do Labyrynth ou do Rhapsody para me tratarem assim? Eu sou um astro, sou um rei! Sou como Mozart! Estou pouco me fudendo com a minha banda! Sou uma estrela e exijo ser tratado como tal”. Todo mundo ao redor ficou atônito e apavorado, incluindo sua produtora pessoal (que vim a saber depois que era sua cunhada, uma tal de Denise Love) e a própria banda. Ordenou que todas as sessões de fotos e entrevistas – incluindo as com os integrantes do grupo - fossem canceladas, chegando até a ameaçar pegar um táxi, voltar ao aeroporto e embarcar de volta para Miami. Isso sem falar na quase tentativa de agressão que um dos integrantes da produção sofreu por parte do guitarrista. Uma cena lamentável... À tarde, numa reunião com outros membros da produção brasileira, exigiu que as bandas inicialmente escaladas para a abertura dos shows (Santarem em São Paulo e Hybria em Porto Alegre) fossem “limadas” da empreitada, que os concertos começassem mais cedo (às 21 h) e que providenciassem efeitos pirotécnicos (fogos e explosões), coisas que não estavam no contrato previamente assinado. Mas as bizarrices não pararam por aí...
Durante o jantar, numa tradicional churrascaria, Malmsteen voltou a manifestar uma inacreditável indignação na hora de servir-se do buffet de saladas. “Sou um cara que nasceu para ser servido. Me recuso terminantemente a ir até lá e servir a mim mesmo. Algum de vocês vai até lá e me traga alguma coisa interessante”. Ao mesmo tempo, a tal Denise Love (que raio de nome é esse?) já havia avisado a equipe brasileira que ninguém deveria, em hipótese alguma, aproximar-se dele para pedir autógrafos. “Ele detesta isso e chega até a ser muito grosso com a molecada”, recomendou. Enquanto isso, Malmsteen e seus amiguinhos se dedicavam à saudavel atividade de arrotar em volumes estratosféricos dentro do recinto. Aquela coisa de quem foi educado na Suíça, sabe?
No dia seguinte, terça-feira, Malmsteen e seu exército de Brancaleone mambembe embarcaram para Porto Alegre. Lá chegando, o guitarrista – para variar, em pleno aeroporto – se envolveu em tremendo bate-boca com Carlos Oñono (um promotor colombiano que comprou todas as datas da turnê sul-americana e revendeu-as para diversos promotores de outros países, incluindo o Brasil) simplesmente porque o avião teve de fazer uma escala em Campinas (SP) e – novamente – pelo fato de a comissária de bordo não transferi-lo para uma poltrona mais adequada. Mas isso não foi nada comparado ao que veio a seguir...
O dia em que Bin Laden virou herói brasileiro
Durante o show na capital gaúcha, Malmsteen, num determinado momento, começou a tocar “Star Spangled Banner”, o hino nacional americano, que acabou imortalizado na versão de Jimi Hendrix. Algumas pessoas na platéia procederam a gritos do tipo “Brasil! Brasil”. Até aí, nada demais. O caldo passou a entornar quando Malmsteen, inexplicavelmente, voltou inúmeras vezes a citar trechos do hino em outras músicas, o que levou as mesmas pessoas (não mais que uma dúzia delas) a gritarem “Bin Laden! Bin Laden!”. Tudo bem, nada poderia ser mais politicamente incorreto do que isso - embora tal atitude possa ser explicada mais pelo jeito galhofeiro com que o brasileiro lida com as tragédias (quem não se lembra das piadas surgidas a respeito da morte de Ayrton Senna um dia depois do ocorrido?) -, mas foi o suficiente para que Malmsteen, irritadíssimo, fosse ao microfone e mandasse a platéia inteira se foder. O que se seguiu foi um grito uníssono vindo das 1.500 pessoas presentes ao Bar Opinião: “Bin Laden! Bin Laden!”. O show tinha ido por água abaixo... Para piorar, o tecladista Derek Sherinian (o único americano da banda), colérico com tal atitude do público, resolveu colocar uma mensagem em seu site, manifestando seu repúdio por tal situação e dizendo que “não fazia a menor questão de voltar a tocar numa terra de Terceiro Mundo infestada de caipiras”. Desnecessário dizer como a noite terminou em termos de astral...
No dia seguinte, o pânico era geral. Sherinian começou a receber e-mails de todas as partes do mundo (incluindo de alguns colegas músicos) criticando abertamente a mensagem por ele colocada em sua home page. Com o passar das horas, começaram a surgir boatos de que a notícia havia se espalhado como pólvora e que a banda encontraria no próximo show (em Curitiba) uma platéia mais hostil que o Taleban. Apavorado com a repercussão da coisa, Sherinian arregou e pediu que uma entrevista coletiva fosse marcada tanto em Curitiba quanto em São Paulo, para que ele se desculpasse publicamente pelo ocorrido, não sem antes comprar uma camisa da seleção brasileira (que usou nas apresentações subsequentes) e um CD com o hino nacional do Brasil (que aprendeu a tocar e apresentou-o tanto em Curitiba como em São Paulo).
O show em Curitiba foi considerado como o melhor dos três que Malmsteen realizou no país, embora não livre de problemas. O guitarrista atrasou na sua passagem de som e as portas do local foram abertas enquanto o sueco ainda estava envolvido na tarefa. Possesso, ele obrigou a produção a esvaziar totalmente o recinto (200 pessoas já haviam adentrado o local), causando um tremendo mal-estar, tanto no público quanto no pessoal da casa. Já a apresentação em São Paulo – antecedida por um festival de esporros e broncas nos roadies e na equpie técnica - foi considerada onga e cansativa, com Malmsteen, após o “espetáculo”, reclamando muito nos camarins por conta da frieza da platéia, calculada em apenas 2.500 pessoas – bem longe dos quase 6 mil presentes ao show do Hellowwen, por exemplo.
Considerações Finais
Bem, meus amigos, o saldo final dessa rocambolesca turnê não poderia ser diferente. Infelizmente, o outrora fabuloso guitarrista sueco é hoje um ser em total decadência – tanto física quanto mental – e sem um pingo do carisma de outrora. Bebe como um gambá, trata todos à sua volta como se fossem seus lacaios, passa longe de um chuveiro (durante sua estada no Brasil, não trocou de roupa uma uma única vez, optando pelo uso de uma água de colônia, cujo odor resulta num coquetel de bala
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