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fã de mp3 Veterano |
# jan/08
Até quanto o meio influencia na aprendizagem e no gosto musical? Será que uma pessoa que viveu a infância e a adolescência num meio pobre culturalmente pode se tornar realmente um apreciador das artes em geral?
Estatisticamente poucas pessoas que não tiveram o privilégio de viver num meio rico em cultura (como ter pais e educadores músicos ou, ao menos, apreciadores de arte e críticos do meio onde vivem) conseguem se desvinciliar dessas "amarras", se é que posso chamar assim.
O que realmente impediria alguém fruto desse contexto de não ir a um concerto ou uma exposição de arte?
Realmente não espero muita coisa do que escrevi, pois é um assunto meio vago.
[Obs.: postei isso no "Música Erudita" e não no, talvez, "Música em Geral", pois é um assunto um pouco mais sério e que ficaria melhor onde está. Ou não.]
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Jabijirous Veterano |
# jan/08
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olha, eu nao sou rico, mas tb nao sou pobre, e quando eu era criança o q eu menos fazia era estar envolvido com a arte! infelizmente a midia tem muita coisa ruim, mas tb tem muita coisa boa!! é claro que a escola tb ajuda nesse sentido, e nossas escolas, tanto publica quanto particular, nao ensinam cultura, ensinam voce a entrar no mercado de trabalho, só isso, o ser humano esta cada vez mais abitolado, é por isso que eu digo eu sou sortudo de viver da música! voltando para o assunto hehe, eu acredito sim que uma pessoa de baixa renda pode sim apreciar e ser artista!! mas do jeito que as coisas estão, os politicos agradecem, pois a massa ainda é burra pois confunde arte com entreterimento!
alias, vou deixar essa pergunta no ar, O que é arte, e o que é entreterimento? arte é entreterimento?
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fã de mp3 Veterano |
# jan/08 · Editado por: fã de mp3
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Jabijirous, quando me referi à pobreza ou riqueza, estava falando de pobreza e riqueza cultural. É meio complexo isso, pois de certa forma uma coisa puxa a outra, mas não é determinante.
Veja meu caso: passei a infância e a adolescência (e ainda passo de certa forma, mas é questão de tempo) por uma privação cultural muito grande, diria quase total. Por quê? Minha família (as duas gerações anteriores com que tive contato) foi aquela típica de origem nordestina, pouco estudo e acesso à cultura em geral, nenhum gosto ou opinião formados, etc.
Diria que quase "do nada" desenvolvi um gosto pela música e pelas artes em geral que de certa forma me distanciaram de todo esse meio (até da escola pública, que não me despertou para isso). Mesmo assim me sinto até hoje um pouco deslocado do meio onde vivo e acho que eu até poderia ser, hoje, um melhor apreciador das artes, ou mesmo um músico realmente profissional. A pressão é muito grande.
Quantos músicos você conhece que não são filhos de músicos? Quantos não vieram de um contexto rico culturalmente (independente de ser da favela ou de um apartamento de classe média)?
O que é arte, e o que é entreterimento? arte é entreterimento?
Arte é muito mais do que entretenimento. Diria que é como comparar o viver e o sobreviver.
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Jabijirous Veterano |
# jan/08
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isso é verdade!!
é algo meio que nao da pra explicar, minha familia nao é chegado a artes, se botar um quadro no meio só vai achar impressionante, nao vai saber detalhar mistura das cores etc etc!! assim como uma musica, falar sobre timbres, isso pra mim é saber de arte! e isso voce nao aprende na escola! tem que pagar!
arte pra mim é comunicação, é uma forma de expressão que poucas pessoas entendem, quantas pessoas ligam o radio pra escutar uma sinfonia do camargo guarnieri, quantas pessoas conhecem camargo guarnieri? meu pai outro dia me falou o seguinte" esses beatles sabiam muito de música, é um troço muito complexo o q eles fizeram" eu simplesmente RI, ai eu falei, se eu te emprestar minha guitarra e voce tocar 5 acordes TODOS OS DIAS durante 1 mes, voce vai saber tocar metade do repertorio deles e da musica popular em geral! agora, eu peço para voce fazer uma simples peça de 2 minutos para orquestra, voce vai saber fazer??? escrever para um coro a 8 vozes polifonicamente, voce vai fazer? são coisas da arte que só se aprende pagando! tem gente que sabe desenhar, pintar quadro sem ter feito curso, isso é arte?? aquele cara que ta tocando violao na esquina, o q ele ta fazendo é arte?? uma coisa é voce entreter, outra coisa é voce se comunicar através da arte! e talvez seja por isso que pouquissima gente escuta musica de qualidade, e nao digo só erudita, eu digo de qualidade em geral, um simples rock pode ser de qualidade! assim como a maioria é só pra entreter!
acho que to viajando demais :P
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Ken Himura Veterano |
# jan/08
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Eu acho que é possível sim, já que arte é um paradigma mental. Tem gente que do nada se sente deslocado e começa a buscar novas formas de se conhecer.
Foi assim que eu virei instrumentista, por exemplo. Comecei aos 8 num coral da escola, mas abandonei aos 9 ou 10 pra assistir Cavaleiros do Zodíaco. Alguns anos mais tarde, depois d'eu ter descoberto o rock (e ser um apaixonado por Led Zeppelin e Pink Floyd), achei alguns cds que meus pais têm, daquela coleção antiga "Os Grandes Clássicos", das Edições DelPrado, e pronto. Minha vida nunca mais foi a mesma. E desde muito criança, eu dizia que queria tocar piano e violino. No Zelda Ocarina of Time, do Nintendo64, teve uma época que eu passei mais tempo tocando a ocarina do jogo do que jogando o roteiro propriamente.
Foi mais ou menos a mesma coisa que aconteceu com o rapaz do classicos.hpg.com.br , ele foi pegando um e outro cd, começou a comprar junto com os de rock... daqui a pouco só tava comprando cd de música clássica.
E, para exacerbar mesmo meu sentimento, no segundo grau tive um contato muito intenso com a arte da poesia e da literatura, nas aulas de Literatura. O professor (um senhor bem idoso, já - inclusive era ele quem dava o resto de Português também) disse logo na primeira aula, no primeiro ano: "Literatura é uma arte. Logo, esta aula será focada totalmente na parte artística". Olha que eu fazia o técnico de informática essa época... a partir dali eu soube que se eu não fosse músico de orquestra não seria uma pessoa completa.
Muita gente já saiu de condições extremas e se tornaram gigantes, principalmente esses refugiados de guerra.
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fã de mp3 Veterano |
# jan/08
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Jabijirous arte pra mim é comunicação
Mussorgsky disse que "a arte é um meio de comunicação com as pessoas, e não um objetivo em si mesmo". Também não creio na "arte pela arte"; a vejo como algo mais dinâmico, não algo estático para ser apenas contemplado, mas também compreendido.
esses beatles sabiam muito de música, é um troço muito complexo o q eles fizeram" eu simplesmente RI, ai eu falei, se eu te emprestar minha guitarra e voce tocar 5 acordes TODOS OS DIAS durante 1 mes, voce vai saber tocar metade do repertorio deles e da musica popular em geral
Nada contra Beatles, é claro. Um erro muito comum das pessoas leigas é usar parâmetros falhos para julgar tecnicamente uma música ou então associar complexidade com qualidade artística. Ora, qualidade é definida pela forma, e não pela complexidade.
é claro que a escola tb ajuda nesse sentido, e nossas escolas, tanto publica quanto particular, nao ensinam cultura, ensinam voce a entrar no mercado de trabalho, só isso, o ser humano esta cada vez mais abitolado [post anterior]
Pois é, penso que (sempre ou agora) vivemos numa grande alienação. Me lembra o conto "Coisas" de Saramago, onde os objetos são "humanizados" e as pessoas, "coisificadas". Acho que a questão é que as escolas não tratam a cultura artística como deveriam porque não há incentivo e um contexto para isso. Como ensinar algo tido como "supérfluo" para pessoas miseráveis que vêem a arte como algo supérfluo?
Ken Himura Tem gente que do nada se sente deslocado e começa a buscar novas formas de se conhecer.
Os incompreendidos :-) Seja através das artes, da filosofia, da religião ou das ciências.
Nossa geração é de certa forma privilegiada, pois temos algo fantástico e que na minha opinião ainda não sabemos usá-la a contento: a internet. Em 1 ano aprendi e conheci muitas coisas que levei (e levaria) anos para aprender/conhecer. Usando essa mídia de forma correta (às vezes nem sempre). Talvez a inconformidade com o statu quo fez atiçar minha curiosidade por novas formas, mas isso não veio do nada: quando criança, tive contato com a música através da orquestra da igreja. Não demorou muito para, aos 10 anos, começar a aprender violino. Então acho que não sou tão exceção à regra assim.
Muita gente já saiu de condições extremas e se tornaram gigantes, principalmente esses refugiados de guerra.
Talvez porque viveram num contexto opressor e tiveram que compensar isso de alguma forma.
OFF: No Zelda Ocarina of Time, do Nintendo64, teve uma época que eu passei mais tempo tocando a ocarina do jogo do que jogando o roteiro propriamente.
Sabia que o Koji Kondo plagiou a abertura desse jogo da peça para piano Gymnopédie nº 1 de Erik Satie?
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J. S. Coltrane Veterano |
# jan/08 · Editado por: J. S. Coltrane
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fã de mp3
O projeto de arte erudita é mesmo elitista. Requer educação, falar mais de um idioma, conhecer literatura. Por isso que eu digo que o verdadeiro talento é nascer em uma familia rica que patrocine os seu estudos.
Pois é, penso que (sempre ou agora) vivemos numa grande alienação. Me lembra o conto "Coisas" de Saramago, onde os objetos são "humanizados" e as pessoas, "coisificadas".
Nesse sentido que eu criei o post "A música erudita morreu?" http://forum.cifraclub.com.br/forum/13/176394/p1
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Ken Himura Veterano |
# jan/08
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Sabia que o Koji Kondo plagiou a abertura desse jogo da peça para piano Gymnopédie nº 1 de Erik Satie? Hahahaha nunca tinha percebido!
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Ricnach Veterano |
# fev/08
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É o seguinte, um sociologo Frances chamado Pierre Bourdieu cunhou um conceito chamado "capital cultural". Capital cultural é o conhecimento passado dentro de uma determinada classe social, por isto é pertinente este tópico, pois sim, existe diferenças culturais entre as classes sociais, pois cada classe social produz seu capital cultural. KEN HIMURA mostrou seu caminho par a musica, desde os 8 anos ele teve acesso a um coral, discos em casa e etc. O capital cultural são os valores passados de pai para filho, e o conhecimento passado de pai para filho. Desde pequeno sei que depois do céu azul que vejo há um universo, estou em um colégio desde meus 2 anos de idade. O conhecimento é um valor na minha familia, por isto estudei. Quando falamos de uma familia sem dinheiro e sem capital cultural, seus conhecimentos são destinados ao trabalho, e ao ganho monetário imediato, a permanencia no colegio não é um valor, seus conhecimentos portanto acabam vindo da igreja, assim, depois do céu azul há somente deus e santos... entendem a barreira cultural que pessoas que possuem baixo capital cultural tem que passar para se igualar a aqueles que possuem capital cultural! A pessoa que possui capital cultural exclui aquelas que não possuem, da mesma forma como ricos excluem pobres. É muito comum gozações sobre erros de ortografia, pequenos erros sobre história entre outras coisas, este tipo de humilhação é feita para que as classes baixas não ganhem capital cultural suficiente para rivalizar com a camada social que a detém, notoriamente, a classe média. Obviamente um individuo, quando estimulado, e possuindo vontade suficiente escala todas estas barreiras, mas é dificil quando vemos netos, bisnetod de musicos que já tem aula desde os 5 anos de idade, claro que estamos para trás. Porém, a barreira técnica pode ser superada com treino, mas a maturidade musical não é igual ao tempo de estudo formal, assim, nada garante que anos de estudo formarão um grande musica, mas talvez apenas um grande co-repetidor!
Vi uma vez uma entrevista num jornal local, um menino nascido em uma favela que acabava de se formar em contra-baixo. Ele disse que assistia um jorna televisivo (de baixa qualidade) chamado Aqui e Agora, nas materias policias, no fundo, soava um som muito misterios que ele adorava, quando surgiu um projeto na sua comunidade, ele foi sondando com os professores o que era aquele som, de onde vinha, assim ele chegou ao Contrabaixo...
Ser musico erudito é ter percepção musical vinda de sua propria vontade associado a uma educação musical especifica ou seja, ao capital cultural necessário a esta arte, como seu titulo diz, requer certa erudição, cultura, conhecimento...
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Ken Himura Veterano |
# fev/08
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Ricnach Exatamente! Essa noção de Capital Cultural é muito verdadeira.
Pra diminuir esta lacuna, que existem projetos de inclusão social pela música em muitas comunidades carentes. Claro que ainda não é o suficiente, mas já são alguns passos.
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Ricnach Veterano |
# fev/08
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SIm, mas a questão agora entra em outro tópico. Sobre a cultura divulgada pelas midias e a divulgação da musica erudita. Uma é contraria a outra. O discursso atual é contrario à erudição musical, há espaço apenas para bandas ou projetos que "flertam" com o erudito, ou seja, este espaço não tem perspectiva de crescimento, apenas de se manter como está, ou seja... filhos de musicos ainda terão a maior parcela dos ensinamentos de musica, a classe média ainda vai ter mais acesso ao ensino formal de musica, a classe mais baixa nas grandes cidades está praticamente excluida do processo e no interior existe o acesso atraves das bandas e dos conservatorios, o que aqui em MG está funcionando, existe muitas pessoas do interior na UFMG, UEMG. Mas crescimento na área me parece dificil. Parte da culpa é também do governo que não "arma" nossas faculdades... a biblioteca da UFMG é uma vergonha, é risível.. não é coisa de uma faculdade. Cadê as partituras? cadê os livros? os musicos tem que tocar... E em muitos casos o dinheiro chega mas a direção das faculdades não toma providência... fica como está, vc que ainda estão na faculdade tem que reclamar da biblioteca, do programa da faculdade, obrigar a ter repertório mais atual e etc.
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_music_4_ever_ Veterano |
# mar/08 · Editado por: _music_4_ever_
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eu fui criada com música tradicional açoriana, com música infantil, litúrgica e com o ke nos davam para ouvir na rádio e na tv.
Aos 9 anos entrei para o conservatório. Mt poucos na minha família apreciam música erudita (os meus pais e irmão acham isso um saco! rsrs). No entanto, hoje considero-me uma melómana, sou completamente apaixonada por música. (principalmente erudita) :)
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