Em defesa da música moderna

    Autor Mensagem
    Ata
    Veterano
    # fev/07 · Editado por: Ata


    Três considerações sobre usuários abundantes em opiniões e carentes de alguma instrução.


    1) Tive que ler em outro tópico a seguinte frase

    música erudita morreu com a palhaçada do Dodecafonismo na década de 30


    Gostaria de deixar claro a quem a proferiu, que antes de ofender um movimento tão rico, deveria ao menos saber exatamente do que se trata.

    Dodecafônica é a música que se liberta do centro tonal. Por isso o prefixo "dode", que significa doze. Ou seja, as doze notas tem o mesmo valor no contexto da música. Nenhuma é mais importante que outra (como tônica, dominante).

    O resultado é sem precedentes, porque cada composição segue por caminhos imprevisíveis, sendo impossível adivinhar o que vem a seguir, como se faz facilmente com Bach ou Mozart.

    Dessa forma, o poder expressivo da música é ampliado, porque a música deixa de seguir suas próprias necessidades de resolução ou cadência. adquiridas pelo uso.

    Escutando de mente aberta qualquer obra expressionista de Schoenberg, garanto que sentirá um prazer musical sem precedentes. A menos, claro, que teu ouvido só sirva para escutar a linha melódica mais aguda.


    2) Outro erro tolo que cometeram no mesmo tópico: misturaram dois movimentos. O movimento do Ligeti se trata do Minimalismo, que não tem necessáriamente nada a ver com o Atonalismo, Dodecafonismo ou Serialismo.


    3) Quanto ao uso de instrumentos e sonoridades alternativas na música, pontuo algumas coisas:

    - Liquidificador, secador, motores em geral. Produzem uma freqüência constante, ou seja, podem ser usados como um "drone" (nota sustendada longamente, como um pedal). Se disserem que não tem um som musical, lhes digo uma coisa: escutem. Tratem de aprender a escutar, pois eu já escutei máquina de cortar grama em B com o harmônico de F# perfeitamente afinado. Ou seja, qual a diferença entre isso e um instrumento? Gostaria que respondessem, realmente.

    - Ao uso percursivo de objetos. Produzem vibração irregular, como qualquer instrumento de percursão sem altura definida. Gostaria de saber qual a diferença factual entre o som de uma tampa de privada de uma caixa clara ou de um prato. Se souberem, se realmente souberem me dizer isso a nível de análise da ondulatória de ambos, por favor, contribuam com o conhecimento do pessoal aqui do fórum, inclusive eu. Porém, se não souberem, que tenham a fineza e o bom senso de se omitir ao invés de abundar opiniões baseadas em seus "ouvidos".

    fernando tecladista
    Veterano
    # fev/07
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    o que eu observo

    eu só acho um erro classificar essa "musica moderna" como erudita

    deveria ser um terceiro campo músical: musica popular, musica erudita e musica moderna
    o fato dela estar vinculada a musica erudita deixa a como o patinho feio na historia musical
    os outros periodos do erudito: barroco, cassicismo e romantismo tem sempre uma ligação de um com outro, os compostitores do periodo classico tem suas ultimas obras mais romanticas, pela fase de transição
    mas não se ve nenhum compositor que surgiu no final do romantismo acabar sua carreira enfiado em um laboratorio analisando spectros, envoltarias, senoides e liquidificadores

    os estudantes do periodo romantico se mataram de estudar os compositores do barroco e erudito, pra "música moderna" não tem esse vinculo, se hoje eu quero ser um compositor de musica moderna eu preciso conhecer todos esses conteporaneos mas não preciso nunca ter ouvido falar de bach

    tanto que o publico leigo aceita muito bem as composições de debussy, ravel e stravinsky dentro outros, que contem traços do periodo anterior... a música deles me passa a ideia da evolução natural do erudito

    a música moderna tem seu inicio ali no sec XX mas precisa desligar essa tomada com a musica erudita dita tradicional, senão sempre tera esse comentarios do tipo: a música dodecafonica soa cafonica (não fui eu quem disse) e sempre tera o comparativo "as antigas eram melhores"

    fã de mp3
    Veterano
    # fev/07
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    A música evolui mais rápido que as platéias, como já dizia o filósofo. Muitas pessoas têm medo do novo, e por isso muitos não levam a "música moderna" a sério ("música erudita", "música moderna", "música popular", rótulos, rótulos).

    Acho que há também uma certa "ideologia" na música. Como alguém preferir o período barroco, outros o período clássico, outros o período romântico, etc., e defendê-lo com unhas e dentes, em detrimento dos outros. Não sei se falei abobrinha, mas acho que é assim.

    Como nunca estudei música formalmente (em conservatório, etc.), não sei o quanto a música contemporânea e seus movimentos são estudados, e como são abordados (até gostaria que alguém o dissesse). Mas acho tão importante quanto estudar os períodos antigos, estudar os recentes, para aqueles que se adiantam no estudo da música.

    Já disseram que a língua é como um ser vivo. Se desenvolve e muda constantemente, mas sem abandonar as características primas. A música também deve ser assim.

    _Raulzito_
    Veterano
    # fev/07
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    Eu gosto de Mahler! \o/

    Ata
    Veterano
    # fev/07
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    fernando tecladista
    Mas a música dodecafônica é muito mais "para o lado da linha erudita do que para o experimentalismo, a música concreta, etc. É apenas outra linguagem musical. Assim como a música modal, que também tinha uma relação de tônica e dominante um pouco diferente da música tonal, a atonal simplesmente não tem. Nem por isso ela é uma aberração. E é executada com rigidez e formalidade, e muitas vezes é bonita, além de bem feita.

    Notem o poder expressivo da música. E vejam o final, com o coro, como acaba sem nada de polarização em uma nota, sem cadência. A parte do solo é canto-falado, escrito em partitura de uma só linha. Não gosto da interpretação desse solista, já escutei uma MUITO melhor. Mas vejam como a orquestra acompanha a narração.

    Arnold Schoenberg: A Survivor From Warsav

    http://www.youtube.com/watch?v=rGWai0SEpUQ

    Dogs2
    Veterano
    # fev/07
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    Poxa, pra mim a fase da música mais interessante, empolgante e filosófica foi justamente essa do começo do século XX
    Mas agora também estamos rumando a uma outra fase, graças à tecnologia mais avançada

    fã de mp3
    Veterano
    # fev/07
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    Dogs2
    filosófica
    ???

    Dogs2
    Veterano
    # fev/07
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    fã de mp3
    pelo menos a parte Cagiana e a música concreta surgiram de correntes filosóficas fortíssimas envolvendo a arte em geral.

    Ata
    Veterano
    # fev/07
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    Dogs2
    E a influencia do pensamento e musicalidades orientais \o/

    Tocas o que?

    fernando tecladista
    Veterano
    # fev/07
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    Ata

    Mas a música dodecafônica é muito mais "para o lado da linha erudita do que para o experimentalismo

    de certa forma sim, mas ela não tem vinculo com nada, surgiu de uma ideia mas matematica onde o cara não se inspirou em nada do que foi feito antes

    só acho que se o "rotulo" fosse outro ficaria mais aceitavel e sem preconceitos
    lembro quando estudei historia de musica erudita no conservatorio chegava o "pacotão" sobre a música erudita do sec xx e era um porre porque tudo o que você viu antes era quebrado pra dar inicio a musica do sec XX,
    se fosse abordado de forma independente teria muito mais aceitação

    Dogs2
    Veterano
    # fev/07
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    Ata
    Tocas o que?

    vários instrumentos, mas eu gosto mais é de fazer música!
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    Dogs2
    Veterano
    # fev/07 · Editado por: Dogs2
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    fernando tecladista
    Cara, eu acho que a música dodecafônica do Schönberg (Schoenberg) é erudita. Sim, não tem ligação nenhuma com o passado, mas tá bem mais pro lado erudito do que pro experimental.

    só acho que se o "rotulo" fosse outro ficaria mais aceitavel e sem preconceitos

    verdade...

    Kobberminer
    Veterano
    # fev/07
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    Quanta raiva... percebi agora que, pelo jeito, não podemos expor nosso opinião, POR MAIS POLÊMICA QUE ELA SEJA, sem ter alguém fazendo alarde... pois bem, não me incimodo, mas queria deixar apenas meu surpreso por aqui...

    Kobberminer
    Veterano
    # fev/07
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    Gostaria de deixar claro a quem a proferiu, que antes de ofender um movimento tão rico, deveria ao menos saber exatamente do que se trata.

    Dodecafônica é a música que se liberta do centro tonal. Por isso o prefixo "dode", que significa doze. Ou seja, as doze notas tem o mesmo valor no contexto da música. Nenhuma é mais importante que outra (como tônica, dominante).

    O resultado é sem precedentes, porque cada composição segue por caminhos imprevisíveis, sendo impossível adivinhar o que vem a seguir, como se faz facilmente com Bach ou Mozart.

    Dessa forma, o poder expressivo da música é ampliado, porque a música deixa de seguir suas próprias necessidades de resolução ou cadência. adquiridas pelo uso.

    Escutando de mente aberta qualquer obra expressionista de Schoenberg, garanto que sentirá um prazer musical sem precedentes. A menos, claro, que teu ouvido só sirva para escutar a linha melódica mais aguda.


    Não faço questionamentos baseados em boatos e sim em pesquisas... sei muito bem o que significa e o efeito do Dodecafonismo... apenas não me satisfaço com este estilo de composição e isto é uma opinião MINHA... não generalizo as obras de, como voce disse, de Schoenberg... caso tenha desagradado em algum ponto, aconselho ao invés de tentar gerar um debate que provavelmente não mudará a minha opinião, procure ser mais tolerante as minhas "carencias de alguma instrução. "...

    Ata
    Veterano
    # fev/07
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    Kobberminer
    Me referia ao "palhaçada" que você disse.

    Kobberminer
    Veterano
    # fev/07
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    Ata
    Se apenas um erro de escrita chula foi o problema... então considere como "renovação" e leia o resto...

    Ata
    Veterano
    # fev/07
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    fernando tecladista
    os outros periodos do erudito: barroco, cassicismo e romantismo tem sempre uma ligação de um com outro, os compostitores do periodo classico tem suas ultimas obras mais romanticas, pela fase de transição
    mas não se ve nenhum compositor que surgiu no final do romantismo acabar sua carreira enfiado em um laboratorio analisando spectros, envoltarias, senoides e liquidificadores


    de certa forma sim, mas ela não tem vinculo com nada, surgiu de uma ideia mas matematica onde o cara não se inspirou em nada do que foi feito antes



    Cara... não concordo com você nesse ponto. Veja bem, as primeiras obras de Schoenberg foram tonais, e mesmo obras da fase madura também foram. Ele foi o precursor do expressionismo, que não é algo tão absurdamente sem ligação com outros períodos. Antes de mais nada, ele se inspirou em si mesmo. E era um grande conhecedor das harmonias de Bach, Mozart, Wagner, Debussy (com sua habitual desconfiança), entre outros, e tinha amizade e apreço por Brahms e Mahler. Para mim, é óbvio ver a sua obra como um passo evolutivo. Até aqui, falei do atonalismo, que de matemático não tem nada.

    Agora, vamos ao serialismo, que pode acabar sendo considerado uma forma de composição um pouco matemática. Para mim, não é. O que acontece é que compor música atonal com sensibilidade e seriedade é algo extremamente difícil, pois há uma tendência incrustada na nossa mente, devido a toda música que conhecemos, de polarizar, de resoluções, cadências, etc. Na obra "Ode to Napoleon", do Schoenberg, que, à princípio é atonal, acontecem polarizações para Bb. E a música acaba com uma tríade perfeita de Eb. Schoenberg disse que não fez isso intencionalmente. Enfim, é algo enraizado na nossa educação musical.

    O Serialismo surgiu, na minha interpretação, como uma forma de evitar polarizações ou criações de centro tonal, evitando a preponderância de uma nota sobre as demais. Eu mesmo já fiz um tema serial que ficou muito gracioso, parecia mais Chopin que Schoenberg.

    Se você quer considerar isso como um processo matemático, muito mais matemáticas são as fugas de Bach. Ou a forma sonata. Que, aliás, são geralmente representados para os alunos por diagramas ou esquemas.

    Ata
    Veterano
    # fev/07 · Editado por: Ata
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    Kobberminer
    Aliás, por que a tão grande ofensa? Só exerci o meu livre direito de abrir um tópico por dia e postar minha opinião. Digo, é para isso que existe o fórum.

    Ken Himura
    Veterano
    # fev/07
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    Peraí, pelas revoltosas opiniões "contra" a música moderna, o que entendo é:

    Quer dizer que eu sou menos criativo porque meu opus 1 tem um berimbau como um dos solistas e pela música não ser tonal?

    Die Kunst der Fuge
    Veterano
    # set/11
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    Ae, finalmente estou ouvindo uns compositores modernos e gostando.


    ps:
    http://forum.cifraclub.com.br/forum/11/204560/p15#5845001

    Dr Nick
    Veterano
    # set/11
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    uma vez li num livro onde eduardo rincón que é compositor(serialista nao por acaso) e musicologo, admitiu que mesmo os compositores que se dizem dodecafonistas, atonais ou serialistas nunca quiseram realmente e nem conseguiram abandonar as formas tradicionais de se "fazer" musica, e que eles na verdade só conseguiram chegar a uma forma mais variada do proprio tonalismo.
    na minha opiniao o dodecafonismo, serialismo e atonalismo não podem ser considerados fases da musica erudita, como o como o barroco e o romantismo, entre outros, eles apenas foram movimentos ou mesmo tecnicas de composição que se encaixaram dentro destas fases, tanto que muitos compositores que seguiram ou seguem este movimento sempre foram encaixados dentro dos movimentos da musica erudita(shostakovich por exemplo), e que a musica e suas fases sempre conviveram com as outras formas de arte como a pintura e o teatro, ou o proprio cinema ( no inicio principalmente), o barroco existe nas artes plasticas, na musica e em muitas outras formas de arte quase ao mesmo tempo, assim como outros periodos da musica(exceção ao perido classico, quando outras artes ja estavam no neoclassico) mas nem por isso vemos um teatro atonalista ou dodecafonista, o que aconteceria caso isso fosse considerado um novo periodo da musica.

    Ken Himura
    Veterano
    # set/11
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    Dr Nick
    Pois é, penso por esse lado também. Não são estilos, são técnicas de composição.

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