Minha teoria sobre grupos.

Autor Mensagem
adnz
Veterano
# dez/09


Um grupo de pessoas é uma pessoa.

Todos estamos sozinhos no mundo. Eu sou eu e você é você. Do mesmo modo que eu possuo pensamentos presos à minha mente, você também os tem.
Nesses universos que existem em cada um de nós só existem verdades, algumas convenientes e outras inconvenientes. Convenientemente, as verdades convenientes são aceitas e são tomadas como partes boas da nossa identidade, são tratadas como verdades que dificilmente vão mudar ou que pelo menos vão lutar quando for necessário mudá-las. As verdades inconvenientes são simplesmente ignoradas ou distorcidas a ponto de que não sejam consideradas como verdades, ou por serem ruins demais ou por não serem convenientes o bastante.
Quando nós achamos alguém com verdades parecidas temos uma maior facilidade de lidar com essa pessoa, pois ocorrem menos conflitos entre idéias. Por qual motivo existe essa facilidade? Acho que isso ocorre pois, como na nossa mente, não precisamos lidar com idéias conflitantes e assim podemos fortalecer as nossas verdades convenientes baseando na opinião de um ser estranho. Ou seja, ao interagir com tal pessoa as verdades que tomamos como verdades saem intactas e inabaladas.
Agora o mindfuck: grupos nada mais são do que projeções das verdades individuais em uma verdade maior. Começa com uma pessoa que "se dá" com outra (por causa da compatibilidade de verdades), depois uma outra pessoa "se dá" com as outras duas iniciais e assim vai indo. Há uma troca de verdades convenientes entre todos os participantes do grupo de maneira que cada um fortalece a verdade do outro. Assim um grupo funciona da mesma maneira que uma mente que rejeita as verdades inconvenientes (um novo membro não é aceito no grupo se ele não tem idéias parecidas).
No universo de cada pessoa, é bem melhor manter as verdades convenientes do que inserir verdades conflitantes e ter que escolher ou raciocinar entre as duas. É menos perigoso assim!
Então, um grupo é como uma pessoa. Porém, as verdades desse grupo (pessoa) são um conjunto de verdades "parecidas" que não entram em conflito. Então, novamente, grupos são projeções das pequenas mentes de cada pessoa nessa idéia gigante que forma um grupo. Do mesmo jeito funciona a relação entre as pessoas: pode-se definir uma "mente" como se fosse cada relação entre x e y de modo que essa "mente" possui verdades convenientes e inconvenientes. Quanto mais verdades convenientes, mais as duas pessoas "se dão", quando mais verdades inconvenientes (conflitantes), menos as pessoas "se dão".
Mas grupos e relações conflitantes também existem e algumas funcionam. Como? Bom, do mesmo modo que a mente, idéias conflitantes podem coexistir em um grupo desde que elas sejam ignoradas ou que não se faça uma escolha por uma ou outra.
(x é ateu e y é religioso, porém x e y se dão bem. x e y simplesmente podem decidir aceitar essa diferença entre eles e seguir em frente!)
Assim, uma pessoa pode aceitar duas idéias conflitantes e achar um ponto de equilíbrio entre elas.

Agora fazendo uso dessa teoria: seres humanos criaram grupos que foram aumentando de acordo com certas regras, leis, whatever. Quando um grupo (tribo, sociedade) tinha verdades em comum com algum outro grupo, há uma relação harmoniosa, caso contrário, há uma relação (geralmente) desarmoniosa, de guerra. Essa idéia foi aumentando até chegarmos em uma nação, um grupo de pessoas que possuem idéias em comum (ética, moral, regras, leis...) e também possuem algumas idéias diferentes, porém sabem lidar com isso.
Uma nação (grupo, mente) está em equilíbrio quando idéias conflitantes existem, mas todos os componentes sabem como lidar com tal situação de uma maneira não perigosa. De tribos, conjuntos de tribos, estados, nações... Será que algum dia haverá um "grupo mundial"? Ou seja, olhando sem muitos detalhes para a evolução da humanidade, é claro que os grupos foram ficando maiores de acordo com essa relação entre idéias. Então a pergunta é: será que essas idéias algum dia serão totalmente mundiais de modo que todos saberão lidar com elas de maneiras não perigosas?
Eu não consigo parar de pensar na Internet como um bom meio para o começo disso, afinal, temos acesso à (quase) todas as nações do mundo e podemos ver isso como uma preparação para a aceitação de diferentes raças e culturas. (A partir daqui, GRANDE suposição, já que não estudei história muito) Por qual motivo será que impérios gigantescos em anos anteriores não funcionaram TANTO? Talvez por causa da diferença entre raças, afinal, vinha um exército gigante na tua tribo e simplesmente matava alguns e depois tu tinhas que aceitar eles como superiores... Digamos que hoje isso também ocorre, mas é de uma maneira levemente diferente (não digo que é pior ou melhor). De qualquer maneira, há uma melhor preparação para a troca entre culturas e tudo aponta para um mundo que seja uma grande pessoa. Afinal, alguns já dizem que a Internet é assim.

tl;dr Um grupo de pessoas é uma pessoa. Cada pessoa projeta suas verdades no grupo e como o grupo aceita essas verdades a pessoa alimenta suas verdades e reluta à mudá-las, assim como o grupo, pois ele rejeita pessoas com verdades diferentes. O mundo vai se tornar uma pessoa (grupo) gigante com verdades que todos possuem e idéias conflitantes que entrarão em equilíbrio de maneira não perigosa.

Resolvi postar isso aqui pois eu fiquei lendo os tópicos do tal do AndyCatSp ou alguma coisa assim e fiquei pensando em certas coisas... E essa teoria é uma que já tava na minha cabeça faz tempo, então resolvi dividir com vocês.

-Toolbar-
Veterano
# dez/09
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Cara, na boa, já é mais da meia noite. Num tem como fazer um breve resumo não?

adnz
Veterano
# dez/09 · Editado por: adnz
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-Toolbar-
tl;dr

Literally, "Too long; didn't read"

Said whenever a nerd makes a post that is too long to bother reading.
"omg you postwench. i can only say one thing in response - tl;dr"
"tl;dr...why dont you give up on your unabridged edition of War and Peace or at least stop posting it here?"

Ainda coloquei em negrito... Fail!

Guto EADG
Veterano
# dez/09
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que topicuzão

-Toolbar-
Veterano
# dez/09
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adnz
Eu li!!! \o/

Legal.

Leblues
Veterano
# dez/09
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Li 3 linhas do texto e não aguentei ler o resto........

CheshireCat
Veterano
# dez/09
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adnz
Muito sono pra tentar entender. @_@
Prometo que amanhã eu leio e comento. =*

Dogs2
Veterano
# dez/09
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eu li por alto o começo e me lembrou sobre a teoria do ponto de vista que a filosofia já tinha feito já séculos
lê algo sobre a Monadologia, do Leibniz
"Princípios de Filosofia ou Monadologia", tem um livro com esse nome
É muito pequeno mas é um saco de entender.
é metafísica, e talvez vc ache traços de teologia, mas é foda. Acho que vc vai se identificar

remitheguy
Veterano
# dez/09
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Li 3 linhas do texto e não aguentei ler o resto........[2]

remitheguy
Veterano
# dez/09
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tópico no estilo teacher Rosélio :]~

guschard
Veterano
# dez/09
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adnz
Interessante essa teoria. Mas vo tentar dar uma outra idéia.
Existe uma tendência de unificação dos grupos, como foi citado, mas essa tendência é em direção à um grupo que se da relativamente bem, ou a poucos grupos que não se dão de jeito nenhum??
Por exemplo: vamos supor que haja a unificação dos grupos. Qual seria o destino final, uma nação equilibrada ou duas nações com idéias extremamente divergentes??

Supondo 4 grupos iniciais: A,B,C,D e as seguintes premissas
A e B se dão muito bem entre si, assim como C e D
B se dá bem com C e D, mas não tão bem quanto se dá com A
C se dá bem com A e B, mas não tão bem quanto se dá com D
A e D não se suportam

Seguindo a lógica dessa teoria, A se juntaria com B e C se juntaria com D. Entretanto, a junção entre AB e CD dificilmente ocorreria, já que os membros de A não suportam os membros de D e vice-versa. Ou seja, a unificação se daria em dois pólos, ao invés de apenas um.

Meu filho ouvirá Classic Rock
Veterano
# dez/09
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adnz

vc é professor de sociologia? oO

Headstock invertido
Veterano
# dez/09
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paragrafos

adnz
Veterano
# dez/09
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guschard
Sim, a junção AB e CD dificilmente ocorreria pois A e D não se suportam. Porém, existiriam duas possíveis junções A-BC-D (ABC e BCD). Supondo que esses dois grupos existam, será que eles não se dariam de jeito nenhum, como você supos?

ABC possui verdades que, em maior parte, AB concordam completamente e C também concorda, mas não tanto. O mesmo pro outro grupo. Logo, B e C agem como pontos de equilíbrio entre os dois grupos, ou seja, as idéias do grupo ABC e do grupo BCD não vão ser TÃO diferentes assim. Talvez a relação direta (idéias similares) entre A e D não exista, mas existe uma indireta, querendo ou não.

Tu podes inicialmente pensar que seriam duas nações com idéias extremamente divergentes, mas usando os grupos da tua suposição dá pra criar uma semi-relação entre eles.

Vamos supor grupos "piores" A, B, C, D e as seguintes premissas:
1. A e B se dão muito bem entre si, assim como C e D.
2. A não se dá bem com C nem com D, e vice-versa.
3. B não se dá bem com C nem com D, e vice-versa.

Agora existem duas junções AB e CD, mas não tem como existir a ABC nem BCD ou algo parecido. Aqui realmente existirão dois grupos com idéias extremamente divergentes e, como a história mostra, a única solução pra isso é guerra. O grupo que tiver maior "poder" sobre o outro vai prevalecer e vai poder espalhar as suas idéias. A humanidade ainda não passou dessa fase, mas os conflitos entre grupos são bem menores que antigamente. Pensa em tribos rivais existentes por todo o mundo como grupos... Existiriam inúmeros grupos que não se suportavam, porém, hoje existem algumas nações que não se suportam. O número de grupos vai diminuindo de uma maneira ou de outra.

Por isso que eu coloquei em algumas partes a expressão "de uma maneira não perigosa"... O ideal seria que sempre pudesse haver uma junção entre AB e CD, mesmo que eles não se suportem, que aprendessem a ignorar isso, que é o pode acontecer na mente de uma pessoa (possuindo verdades contrárias uma a outra, mas optando ou por achar um ponto de equilíbrio entre elas ou por simplesmente viver com as duas).

Muito boa a tua colocação!

adnz
Veterano
# dez/09
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Meu filho ouvirá Classic Rock
Não. Estudante de Ciência da Computação.

Meu filho ouvirá Classic Rock
Veterano
# dez/09
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adnz

isso me lembru sociologia. quase peguei recuperação naquela porra ._. passei de raspão. vc me fez lembrar da minha escola /õ\

guschard
Veterano
# dez/09
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Porém, existiriam duas possíveis junções A-BC-D (ABC e BCD). Supondo que esses dois grupos existam, será que eles não se dariam de jeito nenhum, como você supos?

Essa forma de união que eu propus foi só uma das possíveis formas, não que necessariamente ela fosse acontecer.

O grupo que tiver maior "poder" sobre o outro vai prevalecer e vai poder espalhar as suas idéias. A humanidade ainda não passou dessa fase, mas os conflitos entre grupos são bem menores que antigamente. Pensa em tribos rivais existentes por todo o mundo como grupos... Existiriam inúmeros grupos que não se suportavam, porém, hoje existem algumas nações que não se suportam. O número de grupos vai diminuindo de uma maneira ou de outra.


Esse é um ponto que eu não levei em consideração. Acho difícil que duas nações com idéias contrárias aprendam a conviver por livre e espontânea vontade, mas a unificação pode ser feita de forma não pacífica. Se o grupo AB fosse mais poderoso e ganhasse a guerra contra o grupo BC, o primeiro teria suas idéias impostas sobre o segundo, que passaria a conviver com essas idéias, o que poderia levar a uma unificação de todos os grupos.

adnz
Veterano
# dez/09 · Editado por: adnz
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guschard
O único problema é que a forma não pacífica pode resultar em problemas pra grupos não envolvidos diretamente na unificação. O fator que aumenta essa probabilidade é a tecnologia. Quanto mais avançada a tecnologia, maiores os perigos que uma junção entre A e B resulte em danos para grupos C, D, ....

Mas isso é "acima" demais: suponha duas pessoas que não se suportam por algum motivo. Elas podem escolher uma vida de indiferença entre uma e outra. Isso é fácil de fazer: só evitar encontrar a pessoa, quando encontrar, não engajar no assunto que fazem os dois se odiar tanto. Subindo um nível: suponha dois grupos de amigos que não se suportam por algum motivo. Esses grupos podem escolher a indiferença, porém é muito mais difícil, pois as chances de algum indivíduo de um ou de outro grupo conflitar com o do outro grupo é maior do que se fosse uma pessoa só. Então, quando um grupo possui indivíduos com verdades muito fortes (dificilmente mutáveis), assim como quando uma pessoa possui verdades muito fortes, conflitos são inevitáveis. A solução pra isso é o ponto de equilíbrio: possuir verdades conflitantes, mas saber fazer a junção de uma maneira racional e pacífica.

Como regra: quanto maior o número de grupos (pessoas), mais difícil evitar conflitos negativos. Quanto maior a força das verdades de um grupo (pessoa), maior a possibilidade de conflitos negativos.

[edit: acho que dá pra definir conflitos negativos como aqueles onde há a tentativa de unificação, porém de forma não pacífica. Pensamento análogo para conflitos positivos.]

Machine Gun Man
Veterano
# dez/09
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algum marxista on? haha

Machine Gun Man
Veterano
# dez/09
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adnz

Eu tive algumas dúvidas sobre o texto. Principalmente sobre o conceito de "grupo". Às vezes soa como um cabeção que paira sobre todos.
Primeiro fala sobre a gênese disso, diz que uma pessoa que "se dá" com outra (por causa da compatibilidade de verdades), depois uma outra pessoa "se dá" com as outras duas iniciais e assim vai indo. E até aí, pensei em coisas bem "locais", tipo um grupo de amigos. Mas depois chama tribos e sociedades de grupos, e aí me confundi todo. Então, a formação de tribos e sociedades também se daria por pessoas que "se dão"?

adnz
Veterano
# dez/09
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Machine Gun Man
A relação pra definição do grupo pode ser qualquer coisa que junte pessoas. Não precisa ser "gostar de outra pessoa pois possui verdades semelhantes". No caso de tribos, são pessoas que dividem o mesmo lugar, possuem as mesmas idéias (rituais, tradições, deuses), fazem coisas parecidas para sobreviver e/ou experienciam situações parecidas por causa das relações anteriores.

E eu usei grupo várias vezes só que me referindo a coisas diferentes. A idéia principal é que um grupo é uma pessoa, pois eu quero reduzir as idéias de um grupo como se fosse a mente de uma pessoa, ou seja, cada pessoa do grupo "representa" uma idéia dentro da cabeça de um ser. Quando eu falo de grupo em relação a um grupo de amigos, eu quero dizer que as idéias que juntam esses amigos podem ser consideradas as mesmas idéias que uma pessoa teria, ou seja:

(-> indica passagem de idéias x, y, z : G indica grupo)
amigo1, amigo2, amigo3 -> G(amigo1,amigo2,amigo3)
amigo4, amigo5, amigo6 -> G(amigo4,amigo5,amigo6)
Ou seja, amigo1-2-3 formam um grupo com suas idéias x, y e z e amigo4-5-6 formam um grupo com suas idéias x, y e z.

Suponha H = G(amigo1,amigo2,amigo3) e I = G(amigo4,amigo5,amigo6).
H, I -> G(H, I)
Ou seja, H e I formam um grupo com suas idéias x, y e z (talvez outras). Como H e I são grupos, mas nessa segunda parte se comportam como amigo1-6 se comportaram antes (formando um novo grupo), em algum aspecto é possível dizer que H e I são pessoas que possuem idéias x, y e z e podem passar elas adiante para outros grupos (que também podem ser pessoas).

Acho que não ficou claro... :P

Machine Gun Man
Veterano
# dez/09
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adnz
Acho que não ficou claro... :P

Ficou. Bem mais claro. ;)
Mas me parece que os diferentes usos da palavra "grupo", no texto, têm pouca relação entre si. O que vale pra um caso, não vale pra outro.

Vou tentar me expressar sem ser confuso, mas é pouco provável que consiga. haha

Excelion
Veterano
# dez/09 · Editado por: Excelion
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Quando estiver sob os efeitos da erva sagrada de Jah, posto minhas considerações sobre o assunto.

brunohardrocker
Veterano
# dez/09
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Alma coletiva

r2s2
Veterano
# dez/09
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Flamengo é hexa.

Aced
Veterano
# dez/09
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adnz

Minha opinião:

A humanidade já tem diferenças demais para um dia se unir por completo. Aliás, o conceito de nação pode ser aplicado justamente como um grupo de pessoas de interesses diferentes, mas com um problema em comum, não um pensamento conveniente, do contrário não haveria esse conceito, apenas um conjunto de gigantescas propriedades privadas, e, por mais que pareça absurdo, a globalização vem acelerando esse processo.

Quanto à internet, eu não sei quão benéfico o contato com outras culturas pode ser. A internet não é um mundo mágico onde todas as pessoas são iguais e por isso não há lei entre elas. A internet é um mundo dentro de outro mundo( caralho que nerd), aliás é um mundo dentro de um pequeno mundo, um lugar onde poucos têm acesso e por isso ela parece ser igualitária, não que não haja segregação. A internet e os meios rápidos de comunicação em geral aceleram esse processo de disparidades sociais, na medida em que poucos tem acesso à uma grande quantidade de informação.

Konrad
Veterano
# dez/09
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adnz

No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less...any man's death diminishes me, because I am involved in mankind...

Aced
Veterano
# dez/09
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adnz

Visão até meio corporativista a tua hein, mas é interesante.


Aguardo o Majorkenga me chamar de comunista.

Machine Gun Man
Veterano
# dez/09 · Editado por: Machine Gun Man
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adnz

A pessoa está para as idéias como o grupo-sociedade está para quê? Para seus membros ou para as idéias mais gerais, que eu chamaria de estruturas (ética, leis e etc.)?

A idéia principal é que um grupo é uma pessoa, pois eu quero reduzir as idéias de um grupo como se fosse a mente de uma pessoa, ou seja, cada pessoa do grupo "representa" uma idéia dentro da cabeça de um ser.

Vou considerar que está falando sobre os membros do grupo, e não sobre as estruturas que o regulam, ok?

A idéia de grupo (quando você o compara com pessoa) supõe uma liberdade e autonomia das partes que o formam (membros) que eu não consigo enxergar em estruturas grandes como a que você citou (nação e mundo). Ou melhor, um grau de independência e influência no resultado final (grupo - nesse caso, nação ou mundo) que não me parece real.

As idéias, os valores, os preconceitos e etc. têm importância na formação do caráter, da personalidade, ou simplesmente na "pessoa". Em um grupo de amigos ou no clube da peteca, é claro que faz sentido a relação entre a afinidade de idéias e a participação no grupo (ainda que isso não seja regra pra formação de um grupo de amigos), e esse grupo é definido pela forma pela qual seus componentes atuam. Até aqui tudo bem.

Mas quando você fala de estruturas maiores, fica meio abstrato. Só vou citar alguns pontos e termos que eu levaria em consideração...

1. Nos agrupamentos mais "oficiais", digamos assim, a incorporação de um membro é uma questão puramente espacial. Eu sou brasileiro por ter nascido no território que corresponde à República Federativa do Brasil.

2. O conceito de nação, pela Wikipédia: "Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando, assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional.

Mas, a rigor, os elementos território, língua, religião, costumes e tradição, por si sós, não constituem o caráter da nação. São requisitos secundários, que se integram na sua formação. O elemento dominante, que se mostra condição subjetiva para a evidência de uma nação assenta no vínculo que une estes indivíduos, determinando entre eles a convicção de um querer viver coletivo. É, assim, a consciência de sua nacionalidade, em virtude da qual se sentem constituindo um organismo ou um agrupamento, distinto de qualquer outro, com vida própria, interesses especiais e necessidades peculiares."


Isso tudo, pra mim, tem a ver com aquilo que você disse sobre as tribos: "mesmas idéias (rituais, tradições, deuses), fazem coisas parecidas para sobreviver e/ou experienciam situações parecidas por causa das relações anteriores" - mas em uma versão moderna e desenvolvida. haha
É claro que esse conjunto de valores e tudo mais (posso chamar de cultura, ou já estão de saco cheio?) não é algo estático e imutável, mas, em grande parte, é definido pelo passado.

3. Outra categoria, diferente de Nação, seria o Estado e a sociedade civil. Acho que chamando assim, dá pra abordar tudo o que eu quero dizer: política, economia, jurisprudência e etc. Esse "grupo" não é homogêneo, e seria o resultado da dinâmica entre os diversos subgrupos que existem nele. Esses próprios subgrupos têm suas subdivisões e suas diferenças, e influem com mais ou menos intensidade no resultado final. E nem sempre esse "grupão" é uma representação da maioria, da totalidade de seus membros. É bem mais comum que seja controlado por uma minoria e defenda os interesses desta. O que eu quero dizer sobre o Estado e sociedade civil é que este difere do conceito de Nação, é heterogêneo e não é simplesmente a representação dos membros que o formam (nem da maioria deles).

4. Eu disse que sou brasileiro por ter nascido nesse território, mas eu tenho a liberdade de não compartilhar dos valores mais característicos da nação e a possibilidade de ter contato com outro tipo deles. Isto porque moro no Brasil (pra ir mais longe: porque moro no Sudeste, no estado de São Paulo, no século XXI, por ter nascido em uma família de classe média, com acesso a um certo tipo de informação e não a outro; e por outras tantas influências). Em alguns lugares, é possível não estar de acordo com os valores locais, mas não se pode expor a discordância (repressão). Já em outros, a possibilidade de discordar dos valores nem passa pela cabeça dos membros do grupo; talvez nem exista a idéia de que isso é uma questão de escolha, ou que existam outros valores que não aqueles.
Aqui, o que você chamou de idéia é algo anterior e imposto aos membros, mas não deixa de ser algo que os une de algum modo, como você disse.

4. Sobre um grupo mundial. Pensando "grupo" como você definiu: conjunto de membros ligados por algo (idéias), mesmo com a presença de outras idéias diferentes (sabem lidar com isso). Levando ao pé da letra, acho que já faz sentido pensar no mundo como um grupo, mas de Estados e sociedades civis (aquele termo que se aprende em geografia do ensino médio, "aldeia global"): entre eles, há relações de todos os tipos (econômicas, políticas e etc.), que supõe um certo acordo sobre leis, regras e etc. (idéias), além da própria comunicação entre quaisquer lugares do mundo. -> isso tudo poderia ser algo que os une. E essas relações, a diplomacia, parecem funcionar muito bem, tirando um ou outro conflito incorrigível (que nem sempre são de ordem política ou econômica). É claro que as leis e regras não são as mesmas dentro dos diversos Estados, mas quando estes se relacionam entre si, são regulados por regras comum. Vide as várias instituições internacionais que regulam as relações entre os países.

Já vendo o mundo como um conjunto de nações, há mais diferenças do que qualquer coisa; é daí que vêm os maiores conflitos. Eu acho que esses aspectos culturais dificilmente são superados (e nem penso que devam ser), mas com a globalização e o consequente aumento do contato entre as diversas nações, é claro que alguma coisa muda. Penso que uma nação reinterpreta e assimila, particularizando do seu modo o que vem de fora (e, se eu não fosse prolixo, essa seria minha resposta ao tópico.. haha). É difícil pensar em um mundo todo homogêneo, e não sei qual é o grau de homogeinedade com o qual você definiria um grupo mundial, já que diz que diferenças são aceitas e isso deixa as coisas meio vagas, pouco precisas.

adnz
Veterano
# dez/09
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Aced

A humanidade já tem diferenças demais para um dia se unir por completo. Aliás, o conceito de nação pode ser aplicado justamente como um grupo de pessoas de interesses diferentes, mas com um problema em comum, não um pensamento conveniente, do contrário não haveria esse conceito, apenas um conjunto de gigantescas propriedades privadas, e, por mais que pareça absurdo, a globalização vem acelerando esse processo.

Como eu falei em algum lugar aí, qualquer situação que junte os grupos por algum motivo é válido. No caso das corporações, imagino que o objetivo final de todas elas é ganhar dinheiro e certas nações proporcionam, teoricamente, um campo igual de possibilidades para qualquer corporação ganhar dinheiro.

Mas faz mais sentido mesmo olhar pelo lado do grupo de pessoas com interesses diferentes, mas com um problema em comum. Interessante!

Quanto à internet, eu não sei quão benéfico o contato com outras culturas pode ser. A internet não é um mundo mágico onde todas as pessoas são iguais e por isso não há lei entre elas. A internet é um mundo dentro de outro mundo( caralho que nerd), aliás é um mundo dentro de um pequeno mundo, um lugar onde poucos têm acesso e por isso ela parece ser igualitária, não que não haja segregação. A internet e os meios rápidos de comunicação em geral aceleram esse processo de disparidades sociais, na medida em que poucos tem acesso à uma grande quantidade de informação.

É verdade. Acho que o exemplo da Internet foi falho, já que na minha cabeça todas as pessoas do mundo possuem Internet... :P



Machine Gun Man

A pessoa está para as idéias como o grupo-sociedade está para quê? Para seus membros ou para as idéias mais gerais, que eu chamaria de estruturas (ética, leis e etc.)?

As idéias estão NA pessoa assim como a pessoa está NA sociedade (grupo). Acho que as estruturas reguladoras (ética, leis e etc.) são simplesmente mais uma idéia que define o grupo. Alguns grupos dizem que é bom ser livre. A maioria das pessoas que participa desse grupo deve achar que é bom ser livre, caso contrário, procurariam outro grupo. Outros grupos não acham que é bom ser tão livre assim... E por aí vai.

Concordo com você quando você fala que quanto maior o tamanho do grupo, mais abstrata vai ficando essa idéia. De fato, quando eu tento reduzir um grupo de amigos pra um conjunto de idéias, é fácil: eu tenho as idéias de cada um que mantém a relação, sejam elas conflitantes. Só que quando eu tento reduzir vários grupos de um grupo de um grupo de um grupo... de amigos, fica mais difícil, pois a cada nível que passa o número de verdades convenientes diminui e o número de verdades inconvenientes aumenta. Pra lidar com isso, acho que há a necessidade da criação de estruturas reguladores. Mas eu entendo o problema que você aponta e concordo com ele. Não há como reduzir exatamente como eu proponho um grupo muito grande, como uma nação.

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