Poemas e poesias :)

Autor Mensagem
Julia.
Veterano
# out/09
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PENSO, LOGO CAGO [1977] - Glauco Mattoso.

Eu não nasci,
pois não me lembro de isso ter acontecido.
Não morri,
pois também não me lembro que isso tenha acontecido.
E, se não nasci nem morri, das duas uma:
ou sou Deus ou não existo.
Ora, como nem tudo que eu quero acontece
e nem tudo que acontece eu quero,
não sou Deus.
Portanto, não existo.
Logo, não penso.
Então este raciocínio é falso,
e nesse caso eu não passo de um mero amnésico.
De qualquer maneira, nada tem importância:
se perco a memória,
tanto faz que tudo seja ou não verdade.
Basta dar a descarga
e passar pro papel.

ZakkWyldeEMG
Veterano
# out/09
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Nestas tardes tão lentas, tão mornas, de nada adianta uma rede social.

Sou mais o vai-e-vem da minha rede na varanda e a lembrança da sua bunda no meu pau.

Autor desconhecido (ou não)..

Igão
Veterano
# out/09
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Canto Para a Minha Morte

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...

Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Raul Seixas

ZXC
Veterano
# out/09
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De que Serve a Bondade

De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor;
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!

Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'

brunohardrocker
Veterano
# out/09
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A Cabritinha

Quim Barreiros
Composição: Amazan


Quando eu nasci a minha mãe não tinha leite
Fui criado como um bezerro enjeitado
Mamei em vacas em tudo que tinha leite
E assim deste jeito
Fiquei mal habituado

Hoje sou homem e arranjei uma cabritinha
E passo o dia a mamar
Nos peitinhos da Fofinha

Eu gosto de mamar
Nos peitos da Cabritinha

Eu gosto de mamar
Nos peitos da cabritinha

Eu gosto de mamar
Nos peitos da cabritinha

Mamo à hora que eu quero porque a cabrita é minha.

Eu gosto de mamar
Ai, nos peitos da cabritinha

Eu gosto de mamar
Ai, nos peitos da cabritinha

Eu gosto de mamar
Só nos peitos da cabritinha

Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha

A cabritinha gosta de boa comida, boa cama e boa vida
Adora luxo e bem-estar

Ela adivinha a hora que chego em casa
E vai logo preparar
Os peitinhos para eu mamar

Eu gosto de mamar
Nos peitos da cabritinha

Eu gosto de mamar
Nos peitos da cabritinha

Eu gosto de mamar
Nos peitos da cabritinha

Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha

ZXC
Veterano
# out/09 · Editado por: ZXC
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Apaga-me os olhos, ainda posso ver-te.
Tranca-me os ouvidos, ainda posso ouvir-te,
e sem pés posso ainda ir para ti,
e sem boca posso ainda invocar-te.
Quebra-me os ossos, e posso apertar-te com o coração como com a mão,
tapa-me o coração, e o cérebro baterá,
e se me deitares fogo ao cérebro,
hei-de continuar a trazer-te no sangue."

(Rainer Marie Rilke)

Chespirito
Veterano
# out/09
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Sândalo

No sangue na pele,
A dor da carne
Que envaidece.
E secreta a gota
Deslizando pelo corpo,
O suor tão doloroso
De hesitação.
Na face, um semblante
De condescendência.
Vejo solto meu sorriso
Que dos cortes,
Parece não responder.
Apenas desgaste
E desistência.
Um só corpo que sangra,
Sofre e deteriora-se
Em lágrimas,
Em pó e lâminas.
Tudo, simplesmente tudo
Por um possível amor.

(ana cris., usuária do FCC *---*)

ZXC
Veterano
# out/09
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Triste Despedida

Só pro meu prazer me fiz calada...
Deixo-te e saio fria ...
No silêncio de uma noite gélida...
Estou a caminhar sozinha...
Não me dói , nem me faz mal....
Acostumada a me ferir não sinto nada...
Deixo-te de presente ...
Um céu de lembranças...
De sereia perfumada...
Deixo-te beijos de lábios vermelhos...
Corpo ,copo cheio de paixão...
Saio cansada e te deixo calado...
Não me preocupo com o amanhã ....
Hoje só quero deixar-te....

tncv
Veterano
# nov/09
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POEMA Bonitinhu

Neste Brasil imenso
Quando chega o verão,
Não ha um ser humano
Que não fique com tesão.

É uma terra danada,
Um parai­so perdido.
Onde todo mundo fode,
Onde todo mundo é fodido.

Fodem moscas e mosquitos,
Fodem aranha e escorpião,
Fodem pulgas e carrapatos,
Fodem empregadas com patrão.

Os brancos fodem os negros
Com grande consentimento,
Os noivos fodem as noivas
Muito antes do casamento.

General fode Tenente,
Coronel fode Capitão.
E o presidente da Republica
Vive fodendo a nação.

Os freis fodem as freiras,
O padre fode o sacristão,
Até na igreja de crente
O pastor fode o irmão.

Todos fodem neste mundo
Num capricho derradeiro.
E o danado do Dentista
Fode a mulher do
Padeiro.

Parece que a natureza
Vem a todos nos dizer,
Que vivemos neste mundo
Somente para foder.
E você, meu nobre amigo
Que agora está ai a se entreter
Se ñ gostou da poesia
Levante-se e vai se fudê.

Lady_Twisted
Veterano
# nov/09 · Editado por: Lady_Twisted
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KyE (em Grego significa:conceba=Nascimento)

Cada vela que acendo
Nos momento de nossa paixão
Iluminam nosso caminho
E incendeiam meu coração

A cada gole de vinho
Que sorvo pensando em ti
Bendigo não estar sozinho
Desde que eu te conheci

Em cada beijo trocado
E ao acariciar tua mão
Me sinto enamorado
Me sinto sorrindo em vão

Teus olhos ateiam fogo
Em todo pensamento meu
Arfado, aos céus sempre rogo:
"Quero ser pra sempre teu!"

Procurei me todo o lugar
O amor com que sempre sonhei
E só encontrei no teu olhar
Quando por ti me apaixonei

A todo momento penso em ti
E sempre sonho com teu beijo
Tu és a consorte que escolhi
E a única mulher a quem desejo!

Que os anos passem pra mim
Estando sempre ao meu lado
Pois quando chegar meu fim
Saberei que fui sempre amado!



Com um poema desses quem não se sentiria feliz???
Acho que nunca mais alguém fara algo sequer parecido com isso pra mim!!!

=')

brunohardrocker
Veterano
# nov/09
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Joãozinho quebrou a perna
E derrubou a lanterna

Chespirito
Veterano
# nov/09
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Um Daqueles Dias Em Que Não Há Amanhã Para Se Esperar

As vozes cessam,
A tarde finda;
A noite tarda.
Nesse claustro
Tudo é luz,
A imensidão é meu ego.
A volúpia e a manhã
Me envolvem,
Tão de repente.
Do azul ao dourado,
Do perfume ao exagero.
Meus olhos se cansam,
E cochilam:
Num sono leve,
Um sonho breve.
Só não me deixas em paz.

(ana cris., usuária do FCC)

Luluzinha.pan
Veterano
# nov/09 · Editado por: Luluzinha.pan
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Apenas um poema


Se a brisa da manhã tocar o teu rosto e num gracejo fogoso fizer teus
cabelos brincar, saiba que é um carinho meu,
que sem querer dizer adeus, pedi ao vento para te entregar...

Se ao andar pelas matas sentir o cheiro da vida, de folhas secas e
molhadas, perfume de flores, pode ser jasmim ou qualquer coisa assim, é
ainda a minha mensagem que vai com o meu perfume, para você jamais esquecer
de mim...

Ao ouvir o barulho de água cristalina, limpa, pura, vai te lembrar minhas
loucuras tentando te conquistar.
Uma cachoeira encantada vai te lembrar
minha risada quando eu só existia para te amar...

E ao ouvir pássaros cantando, em alguns galhos namorando, recordará algumas
canções que a gente escutava baixinho, jogados em qualquer cantinho,
deixando a canção dizer o que havia em nossos corações...

Se uma gota de orvalho atrevida em tua face pingar e mais uma outra, ainda
insistente, cair, é apenas uma lágrima que escorregou, é essa imensa
saudade a me consumir...

E, ao cair da tarde, quando tudo for silêncio,
olhe para o horizonte , escuta quando a noite chegar.
A mesma estrela vai te dizer
que, mesmo que nunca mais te encontre, eu jamais vou te esquecer...

(Luluzinha.pan usuária FCC)


estou triste então resolvi escrever!!

Luluzinha.pan
Veterano
# nov/09 · Editado por: Luluzinha.pan
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Perdoa

Hoje eu queria falar para você...
que eu quero te pedir perdão...
Pois apesar de várias coisas, eu
te considero muito, na minha vida...
Sei que as vezes acontecem coisas,
que não queremos fazer, mas apesar
de não querermos, a gente certas vezes
sai do sério, e acabamos cometendo
erros que causam discussíµes e brigas...
Quero te pedir perdão...
pois eu cometi um erro magoando você...
me perdoa...
você aceita? ...
E aproveitando a oportunidade queria
ofertar algumas frases de amizade que
sinto por você:
Te considero muito...
você sempre demonstrou um grande ní­vel
de amizade, e perseverança...
eu gosto de você, e queria ter o seu
perdão pela mágoa que deixei em
seu coração...

me perdoa?...

(Luluzinha.pan usuária FCC)

Luluzinha.pan
Veterano
# nov/09
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Ventos

Os ventos que sopram
são iguais?

Ou são como o tempo que

É passageiro e não volta mais?

Os ventos que sopram

são iguais?

Ou são como as lembranças

que deixamos para trás.

E isso não dá para

Mudar, pois os nossos

Momentos são únicos

E assim como o vento passa

Só irão deixar lembranças

E nada mais...

(Luluzinha.pan usuária FCC)

Chespirito
Veterano
# nov/09
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Luluzinha.pan

Belos poemas, parabéns!!! *---*

Luluzinha.pan
Veterano
# nov/09
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Chespirito
Valew man

ZXC
Veterano
# nov/09 · Editado por: ZXC
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Poema à boca fechada - Saramago

Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

Black Fire
Gato OT 2011
# mar/10
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¡CIGARRA!
3 de agosto de 1918. (Fuente Vaqueros, Granada.)
A Maria Luisa.
¡Cigarra!
¡Dichosa tú!,
que sobre el lecho de tierra
mueres borracha de luz.
Tú sabes de las campiñas
el secreto de la vida,
y el cuento del hada vieja
que nacer hierba sentía
en ti quedóse guardado.
¡Cigarra!
¡Dichosa tú!,
pues mueres bajo la sangre
de un corazón todo azul.
La luz es Dios que desciende
y el sol
brecha por donde se filtra.
¡Cigarra!
¡Dichosa tú!,
pues sientes en la agonía
todo el peso del azul.
Todo lo vivo que pasa
por las puertas de la muerte
va con la cabeza baja
y un aire blanco durmiente.
Con habla de pensamiento.
Sin sonidos...
Tristemente,
cubierto con el silencio
que es el manto de la muerte
Mas tú, cigarra encantada,
derramando son te mueres
y quedas transfigurada
en sonido y luz celeste.
¡Cigarra!
¡Dichosa tú!,
pues te envuelve con su manto
el propio Espíritu Santo,
que es la luz.
¡Cigarra!
Estrella sonora
sobre los campos dormidos,
vieja amiga de las ranas
y de los oscuros grillos,
tienes sepulcros de oro
en los rayos tremolinos
del sol que dulce te hiere
en la fuerza del estío,
y el sol se lleva tu alma
para hacerla luz.
Sea mi corazón cigarra
sobre los campos divinos.
Que muera cantando lento
por el cielo azul herido
y cuando esté ya expirando
una mujer que adivino
lo derrame eon sus manos
por el polvo.
Y mi sangre sobre el campo
sea rosado y dulce limo
donde claven sus azadas
los cansados campesinos.
¡Cigarra!
¡Dichosa tú!,
pues te hieren las espadas invisibles
del azul
(Garcia Lorca)

kiki
Moderador
# mar/10
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juju
wtf?!

ZXC
Veterano
# abr/10
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O GOSTO DO NADA – Baudelaire

Espírito sombrio, outrora afeito à luta,
A Esperança, que um dia te instigou o ardor,
Não te cavalga mais! Deita-te sem pudor,
Cavalo que tropeça e cujo pé reluta.
Conforma-te, minha alma, ao sono que te enluta.
Espírito alquebrado! Ao velho salteador
Já não seduz o amor, nem tampouco a disputa;
Não mais o som da flauta ou do clarim se escuta!
Prazer, dá trégua a um coração desfeito em dor!
Perdeu a doce primavera o seu odor!
O Tempo dia a dia os ossos me desfruta,
Como a neve que um corpo enrija de torpor;
Contemplo do alto a terra esférica e sem cor,
E nem procuro mais o abrigo de uma gruta.
Vais levar-me avalanche, em tua queda abrupta?

Dogs2
Veterano
# abr/10 · Editado por: Dogs2
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Tem um tal de Chespirito
Que é um baita dum salame
Elogia-as com afinco
Pois não há ninguém que o ame

Sonha em um dia pegá-las
Para isso, tem três passos:
Elogio, MSN, webcam
Nenhum deles o tirará o cabaço

Ele então cairá em depressão
Quarenta anos com virgindade
Aos cinquenta, a percepção:
Pra trepar, seu pau não tem mais idade

Murchou como um girassol em tempos secos
Murchou como um saco de pão em dias úmidos
Assim foi a história de Chespirito
Um salame com um gênio imundo

Que faz "amigas" pra salamear
Depois conversa com o garçom do bar:
"Peguei 3 essa noite, a Laura, Vanessa e Irene...
as 3 só pelo MSN"

ZXC
Veterano
# abr/10
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Meus amigos são todos assim: metade loucura, metade santidade....odeio meio termo. ahahah

Loucos e Santos – Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Casper
Veterano
# abr/10
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Mozart


Italiana abraçada ao nobre da Baviera,
Cujo olhar glacial se entrega ao seu langor...
Ele afaga, nos frios jardins, com ardor,
Seus seios túrgidos, à sombra da quimera.


Entre suspiros de germânica ternura,
Ele degusta, enfim, a preguiça de amar,
Feliz de poder às frágeis mãos confiar
A esperança da mente imersa na lonjura.


Querubim, D. Juan, a lembrança mundana
Vagueia, e ele tanto pisoteou as flores
Que o vento se desfez, sem aplacar as dores
Do jardim andaluz, túmulos de Toscana.


E no parque alemão, onde o tédio se esfuma,
A italiana é de novo a rainha da bruma.
No ar, seu alento esparge um halo de mel
E a Flauta mágica destila, caprichosa,
À sombra morna de uma tarde langorosa,
O frescor dos regalos, dos beijos, do céu.

Marcel Proust

Tradução de Carlos Felipe Moisés

brunohardrocker
Veterano
# dez/10
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Para O ESTADÃO (1983) - Raul Seixas

Está na praça, já chegou
O dicionário do censor
Desde A até o Z
Tem o que você pode ou não dizer
Antes de pôr no papel
O que você pensou
Veja se na sua frase
Tem uma palavra que não pode
Você não queria assim... mas que jeito?
O dicionário do censor
É que decide , não o autor
Um exemplo pra você
Se na página do "P"
Não consta a palavra "povo"
É porque essa não pode
Vê se no "o" tem escrito "ovo"
Ovo pode...
Se o sentido não couber
Esqueça , risque tudo, compositor
Seu dever é decorar
As que pode musicar
No dicionário da censura
Nem botaram "dentadura"...

Dylan Thomas
Veterano
# dez/10
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deu.

Dylan Thomas
Veterano
# dez/10
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poesia abstrata

BokuWa
Veterano
# dez/10
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Se te Queres

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

mikia
Veterano
# dez/10
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nhá, que lindos, passarei o dia aqui lendo.

ZXC
Veterano
# dez/10 · Editado por: ZXC
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LIEDER AUF DER FLUCHT (VI)
Uniterrichtet in der Liebe
durch zehntausend Bücher,
belehrt durch die Weitergabe
wenig veränderbarer Gesten
und törichter Schwüre –

eingeweiht in die Liebe
aber erst hier –
als die Lava herabfuhr
und ihr Hauch uns traf
am Fuß des Berges,
als zuletzt der erschöpfte Krater
den Schlüssel preisgab
für diese verschlossenen Körper –

Wir traten ein in verwunchene Räume
und leuchteten das Dunkel aus
mit den Fingerspitzen.
(Ingeborg Bachman)

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