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Julia. Veterano |
# out/09
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PENSO, LOGO CAGO [1977] - Glauco Mattoso.
Eu não nasci, pois não me lembro de isso ter acontecido. Não morri, pois também não me lembro que isso tenha acontecido. E, se não nasci nem morri, das duas uma: ou sou Deus ou não existo. Ora, como nem tudo que eu quero acontece e nem tudo que acontece eu quero, não sou Deus. Portanto, não existo. Logo, não penso. Então este raciocínio é falso, e nesse caso eu não passo de um mero amnésico. De qualquer maneira, nada tem importância: se perco a memória, tanto faz que tudo seja ou não verdade. Basta dar a descarga e passar pro papel.
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ZakkWyldeEMG Veterano |
# out/09
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Nestas tardes tão lentas, tão mornas, de nada adianta uma rede social.
Sou mais o vai-e-vem da minha rede na varanda e a lembrança da sua bunda no meu pau.
Autor desconhecido (ou não)..
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Igão Veterano |
# out/09
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Canto Para a Minha Morte
Eu sei que determinada rua que eu já passei Não tornará a ouvir o som dos meus passos. Tem uma revista que eu guardo há muitos anos E que nunca mais eu vou abrir. Cada vez que eu me despeço de uma pessoa Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez A morte, surda, caminha ao meu lado E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer? Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque? Na música que eu deixei para compor amanhã? Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro? Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada, E que está em algum lugar me esperando Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar vestida de cetim, Pois em qualquer lugar esperas só por mim E no teu beijo provar o gosto estranho Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar Vem, mas demore a chegar. Eu te detesto e amo morte, morte, morte Que talvez seja o segredo desta vida Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte? Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida. Existem tantas... Um acidente de carro. O coração que se recusa abater no próximo minuto, A anestesia mal aplicada, A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe, Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...
Oh morte, tu que és tão forte, Que matas o gato, o rato e o homem. Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva E que a erva alimente outro homem como eu Porque eu continuarei neste homem, Nos meus filhos, na palavra rude Que eu disse para alguém que não gostava E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...
Vou te encontrar vestida de cetim, Pois em qualquer lugar esperas só por mim E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar Vem, mas demore a chegar. Eu te detesto e amo morte, morte, morte Que talvez seja o segredo desta vida Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Raul Seixas
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ZXC Veterano |
# out/09
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De que Serve a Bondade
De que serve a bondade Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos Aqueles para quem foram bondosos?
De que serve a liberdade Quando os livres têm que viver entre os não-livres?
De que serve a razão Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?
Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor; A faça supérflua!
Em vez de serdes só livres, esforçai-vos Por criar uma situação que a todos liberte E também o amor da liberdade Faça supérfluo!
Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos Um mau negócio!
Bertold Brecht, in 'Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e outros Poemas'
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brunohardrocker Veterano |
# out/09
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A Cabritinha
Quim Barreiros Composição: Amazan
Quando eu nasci a minha mãe não tinha leite Fui criado como um bezerro enjeitado Mamei em vacas em tudo que tinha leite E assim deste jeito Fiquei mal habituado
Hoje sou homem e arranjei uma cabritinha E passo o dia a mamar Nos peitinhos da Fofinha
Eu gosto de mamar Nos peitos da Cabritinha
Eu gosto de mamar Nos peitos da cabritinha
Eu gosto de mamar Nos peitos da cabritinha
Mamo à hora que eu quero porque a cabrita é minha.
Eu gosto de mamar Ai, nos peitos da cabritinha
Eu gosto de mamar Ai, nos peitos da cabritinha
Eu gosto de mamar Só nos peitos da cabritinha
Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha
A cabritinha gosta de boa comida, boa cama e boa vida Adora luxo e bem-estar
Ela adivinha a hora que chego em casa E vai logo preparar Os peitinhos para eu mamar
Eu gosto de mamar Nos peitos da cabritinha
Eu gosto de mamar Nos peitos da cabritinha
Eu gosto de mamar Nos peitos da cabritinha
Mamo a hora que eu quero porque a cabrita é minha
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ZXC Veterano |
# out/09 · Editado por: ZXC
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Apaga-me os olhos, ainda posso ver-te. Tranca-me os ouvidos, ainda posso ouvir-te, e sem pés posso ainda ir para ti, e sem boca posso ainda invocar-te. Quebra-me os ossos, e posso apertar-te com o coração como com a mão, tapa-me o coração, e o cérebro baterá, e se me deitares fogo ao cérebro, hei-de continuar a trazer-te no sangue."
(Rainer Marie Rilke)
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Chespirito Veterano |
# out/09
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Sândalo
No sangue na pele, A dor da carne Que envaidece. E secreta a gota Deslizando pelo corpo, O suor tão doloroso De hesitação. Na face, um semblante De condescendência. Vejo solto meu sorriso Que dos cortes, Parece não responder. Apenas desgaste E desistência. Um só corpo que sangra, Sofre e deteriora-se Em lágrimas, Em pó e lâminas. Tudo, simplesmente tudo Por um possível amor.
(ana cris., usuária do FCC *---*)
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ZXC Veterano |
# out/09
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Triste Despedida
Só pro meu prazer me fiz calada... Deixo-te e saio fria ... No silêncio de uma noite gélida... Estou a caminhar sozinha... Não me dói , nem me faz mal.... Acostumada a me ferir não sinto nada... Deixo-te de presente ... Um céu de lembranças... De sereia perfumada... Deixo-te beijos de lábios vermelhos... Corpo ,copo cheio de paixão... Saio cansada e te deixo calado... Não me preocupo com o amanhã .... Hoje só quero deixar-te....
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tncv Veterano |
# nov/09
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POEMA Bonitinhu
Neste Brasil imenso Quando chega o verão, Não ha um ser humano Que não fique com tesão.
É uma terra danada, Um paraiso perdido. Onde todo mundo fode, Onde todo mundo é fodido.
Fodem moscas e mosquitos, Fodem aranha e escorpião, Fodem pulgas e carrapatos, Fodem empregadas com patrão.
Os brancos fodem os negros Com grande consentimento, Os noivos fodem as noivas Muito antes do casamento.
General fode Tenente, Coronel fode Capitão. E o presidente da Republica Vive fodendo a nação.
Os freis fodem as freiras, O padre fode o sacristão, Até na igreja de crente O pastor fode o irmão.
Todos fodem neste mundo Num capricho derradeiro. E o danado do Dentista Fode a mulher do Padeiro.
Parece que a natureza Vem a todos nos dizer, Que vivemos neste mundo Somente para foder. E você, meu nobre amigo Que agora está ai a se entreter Se ñ gostou da poesia Levante-se e vai se fudê.
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Lady_Twisted Veterano |
# nov/09 · Editado por: Lady_Twisted
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KyE (em Grego significa:conceba=Nascimento)
Cada vela que acendo Nos momento de nossa paixão Iluminam nosso caminho E incendeiam meu coração
A cada gole de vinho Que sorvo pensando em ti Bendigo não estar sozinho Desde que eu te conheci
Em cada beijo trocado E ao acariciar tua mão Me sinto enamorado Me sinto sorrindo em vão
Teus olhos ateiam fogo Em todo pensamento meu Arfado, aos céus sempre rogo: "Quero ser pra sempre teu!"
Procurei me todo o lugar O amor com que sempre sonhei E só encontrei no teu olhar Quando por ti me apaixonei
A todo momento penso em ti E sempre sonho com teu beijo Tu és a consorte que escolhi E a única mulher a quem desejo!
Que os anos passem pra mim Estando sempre ao meu lado Pois quando chegar meu fim Saberei que fui sempre amado!
Com um poema desses quem não se sentiria feliz??? Acho que nunca mais alguém fara algo sequer parecido com isso pra mim!!!
=')
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brunohardrocker Veterano |
# nov/09
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Joãozinho quebrou a perna E derrubou a lanterna
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Chespirito Veterano |
# nov/09
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Um Daqueles Dias Em Que Não Há Amanhã Para Se Esperar
As vozes cessam, A tarde finda; A noite tarda. Nesse claustro Tudo é luz, A imensidão é meu ego. A volúpia e a manhã Me envolvem, Tão de repente. Do azul ao dourado, Do perfume ao exagero. Meus olhos se cansam, E cochilam: Num sono leve, Um sonho breve. Só não me deixas em paz.
(ana cris., usuária do FCC)
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Luluzinha.pan Veterano |
# nov/09 · Editado por: Luluzinha.pan
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Apenas um poema
Se a brisa da manhã tocar o teu rosto e num gracejo fogoso fizer teus cabelos brincar, saiba que é um carinho meu, que sem querer dizer adeus, pedi ao vento para te entregar...
Se ao andar pelas matas sentir o cheiro da vida, de folhas secas e molhadas, perfume de flores, pode ser jasmim ou qualquer coisa assim, é ainda a minha mensagem que vai com o meu perfume, para você jamais esquecer de mim...
Ao ouvir o barulho de água cristalina, limpa, pura, vai te lembrar minhas loucuras tentando te conquistar. Uma cachoeira encantada vai te lembrar minha risada quando eu só existia para te amar...
E ao ouvir pássaros cantando, em alguns galhos namorando, recordará algumas canções que a gente escutava baixinho, jogados em qualquer cantinho, deixando a canção dizer o que havia em nossos corações...
Se uma gota de orvalho atrevida em tua face pingar e mais uma outra, ainda insistente, cair, é apenas uma lágrima que escorregou, é essa imensa saudade a me consumir...
E, ao cair da tarde, quando tudo for silêncio, olhe para o horizonte , escuta quando a noite chegar. A mesma estrela vai te dizer que, mesmo que nunca mais te encontre, eu jamais vou te esquecer...
(Luluzinha.pan usuária FCC)
estou triste então resolvi escrever!!
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Luluzinha.pan Veterano |
# nov/09 · Editado por: Luluzinha.pan
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Perdoa
Hoje eu queria falar para você... que eu quero te pedir perdão... Pois apesar de várias coisas, eu te considero muito, na minha vida... Sei que as vezes acontecem coisas, que não queremos fazer, mas apesar de não querermos, a gente certas vezes sai do sério, e acabamos cometendo erros que causam discussíµes e brigas... Quero te pedir perdão... pois eu cometi um erro magoando você... me perdoa... você aceita? ... E aproveitando a oportunidade queria ofertar algumas frases de amizade que sinto por você: Te considero muito... você sempre demonstrou um grande nível de amizade, e perseverança... eu gosto de você, e queria ter o seu perdão pela mágoa que deixei em seu coração...
me perdoa?...
(Luluzinha.pan usuária FCC)
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Luluzinha.pan Veterano |
# nov/09
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Ventos
Os ventos que sopram são iguais?
Ou são como o tempo que
É passageiro e não volta mais?
Os ventos que sopram
são iguais?
Ou são como as lembranças
que deixamos para trás.
E isso não dá para
Mudar, pois os nossos
Momentos são únicos
E assim como o vento passa
Só irão deixar lembranças
E nada mais... (Luluzinha.pan usuária FCC)
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Chespirito Veterano |
# nov/09
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Luluzinha.pan
Belos poemas, parabéns!!! *---*
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Luluzinha.pan Veterano |
# nov/09
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Chespirito Valew man
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ZXC Veterano |
# nov/09 · Editado por: ZXC
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Poema à boca fechada - Saramago
Não direi: Que o silêncio me sufoca e amordaça. Calado estou, calado ficarei, Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam, Se represam, cisterna de águas mortas, Ácidas mágoas em limos transformadas, Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi: Que nem sequer o esforço de as dizer merecem, Palavras que não digam quanto sei Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas, Nem só animais bóiam, mortos, medos, Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi, Crispadamente recolhido e mudo, Que quem se cala quando me calei Não poderá morrer sem dizer tudo.
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Black Fire Gato OT 2011 |
# mar/10
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¡CIGARRA! 3 de agosto de 1918. (Fuente Vaqueros, Granada.) A Maria Luisa. ¡Cigarra! ¡Dichosa tú!, que sobre el lecho de tierra mueres borracha de luz. Tú sabes de las campiñas el secreto de la vida, y el cuento del hada vieja que nacer hierba sentía en ti quedóse guardado. ¡Cigarra! ¡Dichosa tú!, pues mueres bajo la sangre de un corazón todo azul. La luz es Dios que desciende y el sol brecha por donde se filtra. ¡Cigarra! ¡Dichosa tú!, pues sientes en la agonía todo el peso del azul. Todo lo vivo que pasa por las puertas de la muerte va con la cabeza baja y un aire blanco durmiente. Con habla de pensamiento. Sin sonidos... Tristemente, cubierto con el silencio que es el manto de la muerte Mas tú, cigarra encantada, derramando son te mueres y quedas transfigurada en sonido y luz celeste. ¡Cigarra! ¡Dichosa tú!, pues te envuelve con su manto el propio Espíritu Santo, que es la luz. ¡Cigarra! Estrella sonora sobre los campos dormidos, vieja amiga de las ranas y de los oscuros grillos, tienes sepulcros de oro en los rayos tremolinos del sol que dulce te hiere en la fuerza del estío, y el sol se lleva tu alma para hacerla luz. Sea mi corazón cigarra sobre los campos divinos. Que muera cantando lento por el cielo azul herido y cuando esté ya expirando una mujer que adivino lo derrame eon sus manos por el polvo. Y mi sangre sobre el campo sea rosado y dulce limo donde claven sus azadas los cansados campesinos. ¡Cigarra! ¡Dichosa tú!, pues te hieren las espadas invisibles del azul (Garcia Lorca)
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kiki Moderador |
# mar/10
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juju wtf?!
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ZXC Veterano |
# abr/10
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O GOSTO DO NADA – Baudelaire
Espírito sombrio, outrora afeito à luta, A Esperança, que um dia te instigou o ardor, Não te cavalga mais! Deita-te sem pudor, Cavalo que tropeça e cujo pé reluta. Conforma-te, minha alma, ao sono que te enluta. Espírito alquebrado! Ao velho salteador Já não seduz o amor, nem tampouco a disputa; Não mais o som da flauta ou do clarim se escuta! Prazer, dá trégua a um coração desfeito em dor! Perdeu a doce primavera o seu odor! O Tempo dia a dia os ossos me desfruta, Como a neve que um corpo enrija de torpor; Contemplo do alto a terra esférica e sem cor, E nem procuro mais o abrigo de uma gruta. Vais levar-me avalanche, em tua queda abrupta?
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Dogs2 Veterano |
# abr/10 · Editado por: Dogs2
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Tem um tal de Chespirito Que é um baita dum salame Elogia-as com afinco Pois não há ninguém que o ame
Sonha em um dia pegá-las Para isso, tem três passos: Elogio, MSN, webcam Nenhum deles o tirará o cabaço
Ele então cairá em depressão Quarenta anos com virgindade Aos cinquenta, a percepção: Pra trepar, seu pau não tem mais idade
Murchou como um girassol em tempos secos Murchou como um saco de pão em dias úmidos Assim foi a história de Chespirito Um salame com um gênio imundo
Que faz "amigas" pra salamear Depois conversa com o garçom do bar: "Peguei 3 essa noite, a Laura, Vanessa e Irene... as 3 só pelo MSN"
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ZXC Veterano |
# abr/10
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Meus amigos são todos assim: metade loucura, metade santidade....odeio meio termo. ahahah
Loucos e Santos – Oscar Wilde
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
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Casper Veterano
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# abr/10
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Mozart
Italiana abraçada ao nobre da Baviera, Cujo olhar glacial se entrega ao seu langor... Ele afaga, nos frios jardins, com ardor, Seus seios túrgidos, à sombra da quimera.
Entre suspiros de germânica ternura, Ele degusta, enfim, a preguiça de amar, Feliz de poder às frágeis mãos confiar A esperança da mente imersa na lonjura.
Querubim, D. Juan, a lembrança mundana Vagueia, e ele tanto pisoteou as flores Que o vento se desfez, sem aplacar as dores Do jardim andaluz, túmulos de Toscana.
E no parque alemão, onde o tédio se esfuma, A italiana é de novo a rainha da bruma. No ar, seu alento esparge um halo de mel E a Flauta mágica destila, caprichosa, À sombra morna de uma tarde langorosa, O frescor dos regalos, dos beijos, do céu.
Marcel Proust
Tradução de Carlos Felipe Moisés
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brunohardrocker Veterano |
# dez/10
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Para O ESTADÃO (1983) - Raul Seixas
Está na praça, já chegou O dicionário do censor Desde A até o Z Tem o que você pode ou não dizer Antes de pôr no papel O que você pensou Veja se na sua frase Tem uma palavra que não pode Você não queria assim... mas que jeito? O dicionário do censor É que decide , não o autor Um exemplo pra você Se na página do "P" Não consta a palavra "povo" É porque essa não pode Vê se no "o" tem escrito "ovo" Ovo pode... Se o sentido não couber Esqueça , risque tudo, compositor Seu dever é decorar As que pode musicar No dicionário da censura Nem botaram "dentadura"...
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Dylan Thomas Veterano |
# dez/10
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fu... deu.
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Dylan Thomas Veterano |
# dez/10
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^ ^ ^ poesia abstrata
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BokuWa Veterano |
# dez/10
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Se te Queres Se te queres matar, por que não te queres matar? Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida, Se ousasse matar-me, também me mataria... Ah, se ousares, ousa! De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas A que chamamos o mundo? A cinematografia das horas representadas Por atores de convenções e poses determinadas, O circo policromo do nosso dinamismo sem fím? De que te serve o teu mundo interior que desconheces? Talvez, matando-te, o conheças finalmente... Talvez, acabando, comeces... E, de qualquer forma, se te cansa seres, Ah, cansa-te nobremente, E não cantes, como eu, a vida por bebedeira, Não saúdes como eu a morte em literatura!
Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente! Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém... Sem ti correrá tudo sem ti. Talvez seja pior para outros existires que matares-te... Talvez peses mais durando, que deixando de durar...
A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado De que te chorem? Descansa: pouco te chorarão... O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco, Quando não são de coisas nossas, Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte, Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...
Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda Do mistério e da falta da tua vida falada... Depois o horror do caixão visível e material, E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali. Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas, Lamentando a pena de teres morrido, E tu mera causa ocasional daquela carpidação, Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas... Muito mais morto aqui que calculas, Mesmo que estejas muito mais vivo além... Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova, E depois o princípio da morte da tua memória. Há primeiro em todos um alívio Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido... Depois a conversa aligeira-se quotidianamente, E a vida de todos os dias retoma o seu dia...
Depois, lentamente esqueceste. Só és lembrado em duas datas, aniversariamente: Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste. Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada. Duas vezes no ano pensam em ti. Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram, E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.
Encara-te a frio, e encara a frio o que somos... Se queres matar-te, mata-te... Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ... Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?
Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?
Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida? Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem. Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?
És importante para ti, porque é a ti que te sentes. És tudo para ti, porque para ti és o universo, E o próprio universo e os outros Satélites da tua subjetividade objetiva. És importante para ti porque só tu és importante para ti. E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido? Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces, Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?
Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida? Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente, Torna-te parte carnal da terra e das coisas! Dispersa-te, sistema físico-químico De células noturnamente conscientes Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos, Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências, Pela relva e a erva da proliferação dos seres, Pela névoa atômica das coisas, Pelas paredes turbihonantes Do vácuo dinâmico do mundo...
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mikia Veterano |
# dez/10
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nhá, que lindos, passarei o dia aqui lendo.
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ZXC Veterano |
# dez/10 · Editado por: ZXC
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LIEDER AUF DER FLUCHT (VI) Uniterrichtet in der Liebe durch zehntausend Bücher, belehrt durch die Weitergabe wenig veränderbarer Gesten und törichter Schwüre –
eingeweiht in die Liebe aber erst hier – als die Lava herabfuhr und ihr Hauch uns traf am Fuß des Berges, als zuletzt der erschöpfte Krater den Schlüssel preisgab für diese verschlossenen Körper –
Wir traten ein in verwunchene Räume und leuchteten das Dunkel aus mit den Fingerspitzen. (Ingeborg Bachman)
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