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Labonnis Membro Novato |
# 20/fev/25 07:50
Olá.
Queria saber se alguém também acha muito estranha essa habilidade de transpor a música instantaneamente, sem pensar a respeito. É uma coisa que deriva do "ouvido absoluto"? Ou vem naturalmente igual mudar a marcha para quem sabe dirigir com? Eu, particularmente, não pro nem leigo, ainda acho meio bizarro.
Algumas vezes acontece de conseguir fazer de primeira e até me assusto... Mas, já vi várias pessoas que conseguem fazer instantaneamente, principalmente em instrumentos de teclas. Em outros instrumentos também ocorre isso de fazer no automático?
Opiniões? Causos? hehe
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Beto Guitar Player Veterano |
# 20/fev/25 15:55
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A minha opinião (sem nenhum conhecimento técnico/científico/biológico) é que é basicamente memória. Uma pessoa com ouvido absoluto, pra mim é mais uma pessoa que tem uma boa memória. Ela decorou na mente dela todas as notas e quando ouve, já sabe imediatamente que nota está tocando, daí juntando isso com conhecimento sobre algum instrumento, consegue reproduzir aquilo que ouviu sem nenhum problema.
Diz-se que quem não tem ouvido absoluto, tem ouvido relativo, que basicamente é a capacidade de "achar" a nota no instrumento após ouvir. Pra mim, esse cara é um cara que não tem a memória tão aguçada quanto o primeiro caso.
De resto, o que manda é treino e prática mesmo.
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LeandroP Moderador |
# 20/fev/25 18:42
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Labonnis
Uma forma muito prática de fazer este tipo de transposição é enxergar a harmonia da música (os acordes) por graus ( Iª, IIª, IIIª, IVª, Vª etc.). Onde a tônica representa o Iª grau, e os demais acordes conforme a sua posição dentro do campo harmônico. Acordes de empréstimo modal ou dominantes secundários também podem ser representado em graus, como Vª do IIª ou Vª do VIIº.
Pra comprender este assunto eu recomendo que pesquise sobre "harmonia funcional".
Ajuda pacas!
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Christhian Moderador
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# 20/fev/25 20:18
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E só pensar na harmonia por graus em vez de "nome de acorde". Não é difícil de acostumar.
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Lelo Mig Membro
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# 21/fev/25 12:06 · Editado por: Lelo Mig
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Labonnis
Imagine uma sequência de acordes como blocos fixos um ao outro, como vagões de um trem. Se você empurra ou puxa o primeiro vagão, todos os demais avançarão ou irão recuar na mesma proporção. E idem tudo que estiver entre eles. Somente o ritmo, que seria o "trilho" onde estes blocos se sustentam, permanece inalterado.
Têm muito a ver com prática, quando você toca muito, têm repertório grande de coisas variadas, seu cérebro identifica facilmente estes padrões. Não têm nada a ver com com ouvido absoluto (eu não tenho), e fazia transposições na hora quando tocava em bar e cada hora acompanhava um cantor cantando a mesma canção em tons diferentes.
Também não têm nada a ver com conhecimento musical, conheço músico que não sabe o que é um dó maior e faz transposição. Mas, é claro que, quem têm conhecimento musical (estudo) terá muito mais facilidade, inegavelmente.
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LeandroP Moderador |
# 22/fev/25 10:19
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Lelo Mig
Legal a sua analogia dos vagões de trem.
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Lelo Mig Membro
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# 22/fev/25 20:02
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LeandroP
"Legal a sua analogia dos vagões de trem."
Posso ser um mau guitarrista, mas piloto trem pacaraio...kkkk
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LeandroP Moderador |
# 23/fev/25 12:38
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Lelo Mig
kkkkkkkk
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Ken Himura Veterano |
# 28/mai/25 17:32
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Labonnis É uma coisa que deriva do "ouvido absoluto"? Pelo contrário. Ouvido absoluto - independente da habilidade que seja nomeada por isso - costuma atrapalhar transposição, arranjo, trocar de tom em cima da hora pra acompanhar alguém etc.
Transposição instantânea A pré-condição é ter familiaridade em qualquer tonalidade, seja maior ou menor. Isso soa óbvio, mas acho que não consigo contar nas duas mãos os músicos que conheço que tocam com facilidade em tonalidades com 5 sustenidos ou 6 bemóis, lendo ou não. E digo conhecer, ter a intuição funcionando dentro da sonoridade única de cada tonalidade, não só tocando fluente a escala que nomeia. Nisso, o estudo da harmonia e do contraponto ajudam muito. Pela intuição harmônica, você já mata quase 100% da tarefa.
Existem uns macetes técnicos que muito pianista acompanhador e solistas de estilos de improviso forte com base em escrita usam pra ajudar em transposições rápidas, como trocar a clave da pauta por outra ou mudando a linha da clave atual, mantendo as notas no mesmo lugar. Exemplo: trocando a clave de sol pra dó na terceira linha, vai subir 1 tom ou um passo na escala da tonalidade, a depender de como usar os acidentes (que é outro macete dos caras).
Tecnicamente, na "letra fria da lei", trocando de sol pra dó na 3a linha, você desce para oitava inferior (o dó que dá nome à clave no uso regular é sempre o dó central), mas como é uma troca imaginária, o registro fica na mesma oitava.
É assim que alguns maestros também "decoram" as notas de instrumentos transpositores, fixando uma clave que transpõe na direção contrária do instrumento: trompa soa 5a justa abaixo (7 semitons, toca dó e soa fá abaixo), então imagina uma clave (e acidentes) que joguem as notas pra altura real - trocar a clave de sol pra clave de dó na 2a linha. Tem conjuntos que você vai ter vários instrumentos transpositores no bolo e cada um em um sistema diferente de transposição; só assim pra conseguir entender e visualizar a harmonia, além de imaginar o som correto pra poder extrair do músico a interpretação desejada.
Claro que tem umas complexidades nisso - armaduras de clave e acidentes livres, mas pra tudo tem jeito. Note que apesar de ser um macete rápido de leitura, já exige um conhecimento forte anterior, então não é indicado pra começar por isso aí exatamente.
Pra quem tiver alguma curiosidade sobre, o Derek Remes (um organista razoavelmente famoso na cena da interpretação historicamente informada) tem um livreto grátis sobre isso no site dele, só buscar no Google.
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