Ismah Veterano |
# jul/20
Vão se lascar. Perdi as últimas 3 horas pra escrever isso, não vou abrir mão...
Lelo Mig
Ainda se vive dignamente, como em qualquer outro negócio, com os mesmos riscos de outro negócio. Essa visão, as pessoas perderam. Seja fazendo pão, ou tocando violão, o brasileiro médio não se toca da realidade. A coisa precisa começar devagar, e ir engrenando aos poucos, de forma natural. Mas, da minha geração o imediatismo é um problema sério. Nego compra um setup de 3 mil, e descobre que vai levar 5 anos para saber tocar, e desiste. Vejo isso nas motos, nas bikes, e na música.
Qualquer negócio funciona assim. Nunca quis ser técnico, ser roadie, ser nada... Mas as portas foram se abrindo, e eu fui aproveitando. Em 13 anos, saí do cara que estudava síntese sonora, pro cara que dirige um palco.
Fora isso, não dei certo em nenhuma outra coisa que tentei - incluindo relacionamentos, empregos... Da época quando cheguei como tecladista iniciante, só sobrou o Fernando. Detalhe: praticamente nunca usei NADA do que sei sobre teclas, em momento algum. Os cursos, mudaram minha forma de ver as coisas, mas de forma absoluta, serviram pouco.
Entre a "Cabelo Roadie" (como PJ) e o dia #1, tem muita coisa. E nunca forcei a barra. Nunca vi isso como trabalho. Se aconteceu, se entrou show, se apareceu agenda, eu abracei. Se nada disso aconteceu, eu continuava estudando, continuava brincando com os instrumentos, e me virando com bicos.
Os shows pararam, precisei me virar. Apliquei a mesma estratégia, e fui entregar lanche. Em possíveis 7~8 anos, disse não a primeira vez para um show, que seria possível de fazer. Talvez as partes não gostaram (eu junto), mas é uma situação excepcional, que exige uma decisão excepcional.
O acidente sim, é um fator que pesou muito. Ia complicar minha logística, envolver transporte público, refeições, hotel, e tudo mais. Com a pandemia, isso não parece uma ideia nada inteligente. Financeiramente não importa se seria rentável. Nunca esperaria que a volta a ativa da PJ, seria com base em lucros.
Agora, fica imaginando uma realidade paralela, onde o acidente não aconteceu. O que seria lógico de se fazer? Tem realmente outros dois shows marcados, mas tem ainda menos garantia de que eles saiam, devido a pandemia - e nossa região, está numa corda bamba. Parece porta de banheiro de boteco, de tanto abre e fecha. Então a pergunta seria: semana que vem, haveria show novamente Enquanto isso, as entregas de lanche seguiriam firme.
E essa decisão, é e será constante pra quem é PJ de qualquer ramo. Quem é empregado é que tá na rede. Dia 10 cai o faz me ri - ainda que parcial. Se for mandado embora tem pelo menos 6 meses de seguro desemprego.
A diferença é que quando o Eduardo "Dado" Gerdau decidiu abrir a Dado Bier, havia muito mais lenha disponível para queimar do que talvez qualquer outra pessoa no país. Logo, ele poderia arrancar com os dois pés na porta, investindo pesado. E ainda poderia dar errado de N formas, que ainda teria como arcar com o prejuízo.
Buja To falando dos menores, novos, e nao de bandas regionais reconhecidas, que ja tocam a 10 anos ou mais
Muito difícil que uma empresa dê certo antes disso. Existem, mas são exceções. A padaria da esquina, quando inaugura atrai clientes por curiosidade. Depois do 3º mês, flutua entre tempos bons e maus. Semanas que há o boom de clientes, e semanas que ninguém entra.
10 anos depois, já se tem colocação. Entrega 100 pães semanais para o boteco da esquina, uma torta para a solteirona gorda, 15 bolos pro restaurante do posto... E por aí vai...
Isso se o cara é ativo, porque se nao for, realmente ta vendendo o almoço pra comprar a janta, e tentando outros bicos que nao somente de musica.
Esse é o normal, até mesmo pro Dado Gerdau - que não precisaria.
Tocar o que gosta ou tocar o que pedem?
Essa é fácil. Toque o que pedem, mas não necessariamente isso é o que tu não gosta. Aqui no sul, a banda The Travelers, é uma banda cover de country rock. Eles dominam os encontros de moto, que em geral são no litoral - uma rota perfeita para quem quer bancar o motoquista outlaw. Por tabela, dominam os bares rock do litoral.
Esse nicho de mercado, é consumidor desse gênero. Agora, fora desse contexto... O argumento é sempre o mesmo: quem consome country rock?
Saindo das quatro paredes, tem que tocar o que ta no mercado, o que ta no gosto popular, o que da dinheiro...não tem jeito.
Não necessariamente isso significa o mainstream do mercado, como escrevi acima. Pessoalmente, acho mais complicado ser um artista sertanejo, pois tem mais pessoas brigando por um lugar ao sol nessa praia. E tem um agravante sério! O nível técnico de um show sertanejo é absurdamente alto. Ramones, sabendo segurar a guitarra e tendo uma noção básica de tempo dá pra se virar. Vai lá tocar um violão de sertanejo.
No financeiro... Digamos que o custo seja de 2 500 / show, onde o "artista" ganha o mesmo que o músico - algo comum. Ainda tem todo um trabalho pra vender e realizar o show, que muitas vezes é mal, ou nem é, remunerado. Se o artista dá errado, não cai a grana, o contratante dá um calote... O artista que se vire, pois o músico segue para outra.
nyurig3 E em um pub, mandar um the number of the beast ou BYOB por exmemplo e uma boa? ou so rola bon jovi e essas coisas mesmo?
Mesmo que repetitivo...
Tem lugar que se tocar Bon Jovi, as pessoas vão embora. Ainda tem lugar que os clássicos funcionam. Não seja o mala de tocar só clássicas, que todo mundo tá careca de ouvir, mas não seja o que toca só som desconhecido.
Mandar um "Sweet child'o mine", "Born to be wild" e "Smoke on the water", tem lugares, que é assinar a sentença pra nunca mais tocar. Essa sensibilidade é chave. Já vi banda boa que não se tocava que as pessoas estavam bocejando ao som de Hotel California. Entrando no palco, com uma e outra música pra cima, e só faltava subir nas mesas. E teve lugar que o contrário aconteceu, onde entramos no palco e os tiozeira bebendo sua champanhota, acompanhados com a amiga da neta, esperavam ouvir Eagles, Oasis, Beatles...
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