Como foi trabalhar com a Camisa de Vênus

    Autor Mensagem
    Ismah
    Veterano
    # jan/19


    Me apareceu a oportunidade de realizar um show da Camisa de Vênus, pela Good Music Produções, onde meu colega trabalha - e ele quem me indicou para este trabalho.
    Fica meu agradecimento a todos, principalmente ao Vini, que é um pai - hoje compreendo porque o Kako idolatra ele (é merecido).

    O show seria em Caxias do Sul, no salão de uma antiga sociedade local.
    Fomos recebidos por uma sonorização que se lembrar, deixo o nome abaixo.
    Haveria estrutura nos esperando, com parte do back line: bateria completa (salvo pratos e baquetas), 2 amplificadores Fender (não sei se era exigência) e um sistema de baixo.

    Fiquei escalado sozinho para roadie, o que me surpreendeu um bocado. Segue o modelo das bandas gringas, o que achei nunca ver por aqui.
    Sem saber meu amigo James Onzi, ficou escalado para as consoles - havíamos feito um show juntos algum tempo antes, pela banda que ele é parte desde sempre, e eu estou a completar 2 anos e mais de uma década de amizade. Trabalhar com o James, rendeu uma história que devo contar em breve também...

    Bem, disparada é uma das bandas mais profissionais que já lidei. O Juruna é um excelente produtor, me passou todo o briefing antecipadamente, explicou como a banda funcionava e tudo más. Nota-se que ele se importa com as coisas dando certo, e isso é importante para um produtor - mesmo que as vezes seja chato alguém pegando no teu pé, é um mal necessário.

    O combinado era para esperar a banda - aka Marcelo Nova (pai), Drake Nova (filho), Leandro Dalle, e Célio Glouster - e o Juruna no aeroporto Salgado Filho, pois estariam vindo de São Paulo...
    No aeroporto, estaria o Robério Santana, James, uma assessora de imprensa, o motorista e eu mesmo. Assim que chegassem - previsão acho que era 9 hs a previsão de chegada - deixaríamos Marcelo e Robério na RBS (filiada local Rede Globo) para fazerem TV e rádio à tarde. Nós demais, seguiríamos para a serra, onde seria o show.

    Forças maiores fizeram o vôo atrasar 3 horas (sic)... Acabaram cancelando a TV, e de uma forma resumida, atrasamos quase 6 horas, e chegamos só no café, em Caxias do Sul. Pra piorar, eu passei na frente de casa (literalmente), e acabei ficando por ali mesmo.

    Nesse tempo de espera, consegui conversar bastante. Talvez o fato mais curioso, seria que ele mesmo conta que saiu do Brasil um punk, e voltou dos EUA um baixista. Nos 7 anos lá, ele tocou baixo numa banda de reggae. Não lembro exatamente quantos, mas eram shows quase diários, segundo ele.
    Ele toca um baixo Giannini, signature dele mesmo na cor branca e uma caveira do Justiceiro (The Punisher) preta adesivada. Um escudo tortoise vermelho, com um grande "mid finger" adesivado.
    É um instrumento seguindo o modelo Jazz Bass da Fender. Possui modificações na parte elétrica - nada tão simples e barato, mas o circuito não é nada de outro mundo - em relação a um instrumento de linha.
    Talvez o mais curioso, é que os knobs são dados vermelhos, e o porta palhetas colado no corpo, logo acima do braço. Não tenho certeza, mas os dados pareceram adaptações de tampas de ventil - que faria todo o sentido, já que ele é baita fã de motos, motociclismo e afins.

    O Drake, toca uma Fender Tele com bigspy. Uma semi-acústica Epiphone se não me engano, fica como segunda guitarra. Este tem um set enxuto de pedais gringos. Infelizmente só lembro de um TC Eletronic Polytune, os demais não tenho nenhuma lembrança. Não tenho certeza, mas acho que ele ficou com um Fender Super Reverb de 4x10" AlNiCo.

    O Leandro, toca também uma Gibson Les Paul. E não tenho certeza qual que era a guitarra de back up. Curiosamente, ele tem um set híbrido, e um Behringer VT911 - Vintage Tube Monster. Havia também um Furhmann Tube Drive, e acho que mais um. Um delay Landscape, BBE Boosta Grande, um Ibanez Gemini Steve Vai signature, e um Wah não identificado. Acho que era um afinador Boss.
    Ele ficou com um Fender Frontman 212.

    O Célio é um típico baterista dos anos 80. Pratos bem altos e inclinados, caixa inclinada pra frente, facilitando o rim shot. Fiquei uma 2 horas afinando a bateria, e quando ele chegou trocou a afinação. Isso é importante, ele usa afinação em terças de um tambor para outro.
    Assim, quando se toca dois tambores, é como se tivéssemos duas vozes. Sonoramente, é algo muito marcante dos anos 80 - e ele abusa dessas viradas marcantes...
    O cara é um relógio, como músico é um dos melhores bateras e sidemans que já conheci.

    Todos fizeram questão de passar som. E foram bastante meticulosos.
    Marcelo na principal, Leandro e Drake nos backing vocals. No geral, a banda é old school, e toca bem alto no palco.

    Com o Juruna no comando, as coisas são bastante pontuais e dentro do programado, SEMPRE. E ele não tem medo de por a mão, o que me surpreendeu ainda mais. Deixou as coisas no lugar de cada músico, e acabou montando os dois sets de guitarra, enquanto montei e passei a bateria.

    Talvez como curiosidade, é que todos da banda bebem unicamente água no palco, salvo o Robério que bebe vinho. E claro, que apesar do show ser em Caxias do Sul, ficamos num hotel em Farroupilha. Questão de logística, já que é um bairro mais retirado, e geograficamente mais perto do centro de Farroupilha - possível que o fator do trânsito de Caxias ser muito mais complicado que de Farroupilha.

    Mauricio Luiz Bertola
    Veterano
    # jan/19
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    Ismah
    Bacana.
    Abç

    Mauricio Luiz Bertola
    Veterano
    # jan/19
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    Ismah
    Bacana.
    Abç

    Beto Guitar Player
    Veterano
    # jan/19
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    Ismah

    Apesar de não gostar de Camisa de Vênus, acho que uma experiência como essa agrega um puta conhecimento do mundo musical, já que os caras tem muito tempo de estrada. Sem contar que o Marcelo Nova cantou com o nosso querido Raulzito.
    Parabéns pelo trampo, coisas que mais da metade do pessoal daqui gostaria de fazer.

    fontes_rio
    Veterano
    # jan/19
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    Banda das antigas, da época que se produziam boas músicas.
    Lembro que na década de 80 estava aprendendo a tocar violão e gostava daquela música deles "É só o fim", além de outros sucessos como "Deus me dê grana". Ficava com a fita k7 preparada para quando a música tocasse no rádio, torcendo para que o locutor não falasse nada....kkkk

    Buja
    Veterano
    # jan/19
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    Ismah
    Sumiu, especularam sua morte, mas tu ta mais vivo do que nunca. É isso ae. Capacidade voce sempre demonstrou que teve. grandes trabalhos assim, é nada mais que esperado que voce alcance!

    Lelo Mig
    Membro
    # jan/19 · Editado por: Lelo Mig
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    Ismah

    Gostem ou não o Camisa faz parte da história do Rock Brazuca 80 e Marcelo Nova uma figura que sempre será lembrada.

    Não sei se você pegou ele de bom humor, ele é um cara bem legal, mas têm um gênio ruim do cão... rs, bastante temperamental. (Se bem que gênio ruim do cão mesmo, você vai conhecer o dia que fizer Kid Abelha).

    Bem legal ter Camisa de Vênus no Curriculum, fico feliz por você, de verdade.

    Sucesso!

    entamoeba
    Membro Novato
    # jan/19
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    Ismah
    Causo interessante!

    ele usa afinação em terças de um tambor para outro

    Como você costuma fazer?

    sandroguiraldo
    Veterano
    # jan/19
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    Lelo Mig
    (Se bem que gênio ruim do cão mesmo, você vai conhecer o dia que fizer Kid Abelha).

    Fale mais a respeito!

    Lelo Mig
    Membro
    # jan/19
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    sandroguiraldo

    "Fale mais a respeito!"

    Paula Toller, meu querido......É uma gostosa de primeira grandeza, bem melhor ao vivo que na TV. Mas... insuportável.

    Mas, não sei como esta hoje, pode ter mudado.

    Mauricio Luiz Bertola
    Veterano
    # jan/19
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    Lelo Mig
    Também posso atestar isso...
    Abç

    Ismah
    Veterano
    # jan/19 · Editado por: Ismah
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    Buja
    Sumiu, especularam sua morte, mas tu ta mais vivo do que nunca.

    O mundo não teria essa sorte... rs
    Mesmo que quisesse, profissionalmente o ano passado foi mais movimentado que nunca, então teria me afastado igualmente.
    São escolhas, o troço tá tomando proporções que eu mesmo já não teria expectado.

    Lelo Mig

    Gostem ou não o Camisa faz parte da história do Rock Brazuca 80 e Marcelo Nova uma figura que sempre será lembrada.

    E na verdade, é uma das poucas bandas que a galera cantou TODAS as músicas. Foi disparado um dos shows mais legais que trabalhei. Nota-se a diferença na hora, porque uma banda dessas fez sucesso. Há um algo a mais que te cativa.

    Não sei se você pegou ele de bom humor, ele é um cara bem legal, mas têm um gênio ruim do cão... rs, bastante temperamental. (Se bem que gênio ruim do cão mesmo, você vai conhecer o dia que fizer Kid Abelha).

    E ele nunca mediu palavras... Sempre disse o que pensou, com todas as letras. Não sei se felizmente, mas ele realmente é o oposto do Robério, e por isso é que deve dar certo.
    Aliás, eu fui descobrir no andar da carruagem, que o Robério teve uma banda de rockabilly com o James (ele é guitarrista)... Então acabou virando uma conversa de amigos, logo de cara.

    Como há um produtor, o meu contato com o artista de fato é menor.
    Mesmo assim, observei dois detalhes um tanto óbvios...
    O primeiro, é que ele é uma pessoa de quase 70 anos, e isso não ajuda tanto assim na estrada. A estrada cansa a mim que sou jovem, então é muito mais fácil aborrecê-lo... Junte todos os problemas que rolaram, e ele estar feliz, é que me surpreenderia.
    Segundo, ele está com seu filho mais novo, que tem metade da idade das filhas, então ele precisa fazer o papel de pai em tempo integral.

    Na prática, a pessoa que desembarcou no aeroporto, é uma. A que acordou no dia seguinte no hotel, é totalmente outra.
    Tudo isso é compreensível, e conviver com isso é parte do ofício.

    entamoeba
    Como você costuma fazer?

    O mais habitual, é em quartas ou quintas entre os tambores - mesmo que de ouvido, a tendência é essa. Afinar em terças, remonta o som das primeiras Simmons digitais, que marcaram os anos 80.
    Não lembro o intervalo que ele usou entre a batedeira e de resposta, acho que são quintas, o que trás tons que "cantam" mais.
    Isso é bom para ambientes grandes e pouco reflexivos, pois dá mais volume natural (o que diminui muito os vazamentos) e temos mais som do casco ressonando. Em ambientes muito reflexivos, vai trazer muita ambiência, aí se opta por afinações menos ressonantes entre batedeira e de resposta.
    Evidentemente não há regras, é apenas uma particularidade interessante afinar em terças maiores, já que não é tão usual intervalos tão pequenos.

    Ismah
    Veterano
    # jan/19 · Editado por: Ismah
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    Duplo

    ogner
    Veterano
    # jan/19
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    Ismah
    Bacana o relato!! Mas sem drogas, mulheres e loucura total???

    Hehehehe

    Brincadeira...

    Sandoval Quaresma
    Membro Novato
    # jan/19 · Editado por: Sandoval Quaresma
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    Camisa de vênus e uma das bandas de que mais gosto, mas sem o Gustavo Muller e Karl Franz Hummel fica meio estranho. Mas mesmo assim e uma grande honra trabalhar com uma banda destas, parabéns.

    Julia Hardy
    Veterano
    # jan/19
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    Fiquei uma 2 horas afinando a bateria, e quando ele chegou trocou a afinação.

    Nessa parte, fiquei pensando se você levou alguma bronca ou não. Tem gente que é bem temperamental.

    (Se bem que gênio ruim do cão mesmo, você vai conhecer o dia que fizer Kid Abelha)

    Não vai. O Kid Abelha non ecziste más. Mas, a Paula está em turnê solo, o que é quase a mesma coisa.

    lamas92
    Membro Novato
    # jan/19
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    Relato bacana, obrigado!
    Anos 80, pra mim, é o que há de som...

    Ismah
    Veterano
    # jan/19
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    Julia Hardy

    Não, a bateria era alugada. Tirando eu mesmo, a equipe de som e o produtor, acho que ninguém sabia que tinha afinado e passado bateria... Então tudo certo...
    Me pareceu que ele não trabalha com roadie de bateria na maioria dos projetos (ele é metido na MPB, samba, bossa etc...), então o que veio, já foi lucro... rsrs
    Mas também, o vivente é macaco velho, e carregou, afinou e passou mais bateria que a maioria de nós um dia vai fazer.
    Ninguém que é "temperamental" sobrevive na estrada, não como sideman. Pode ver, quem fez bico ao longo da história, sempre foi "o artista", e não o cara de apoio...

    E o Célio é um sideman, que faz jus. Seria um dos últimos que ia reclamar de qualquer coisa. Antes disso, ele é tão gente boa, que se tirar o surdo durante o show, é capaz de se virar com o que sobrou.

    ogner
    Mas sem drogas, mulheres e loucura total???

    Qual é...

    Ismah
    Veterano
    # jan/19 · Editado por: Ismah
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    Acabei achando por mero acaso... É um retrato bem claro de quem é o Marcelo Nova hoje, que em parte responde ao ogner...




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