U2 - 30 Anos do álbum Joshua Tree

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    Luisfelp FR1
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    # mar/17


    Então 30 anos se passaram desde o lançamento deste que é considerado por muitos como um daqueles álbuns que marcaram os anos 80 e também visto como a obra prima do U2.
    Aproveitando o mês de aniversário do álbum eu venho aqui com intuito criar um espaço para a discussão sobre o que o álbum deixou como "legado" para a música, suas histórias e impressões de cada um sobre ele.

    E para iniciar o tópico...
    Bom, como eu tenho aqui alguns textos no Word da época do Orkut sobre o álbum e suas histórias, resolvi compartilhar com vocês.

    A Introdução a seguir e os textos sobre o processo de criação e contexto de cada uma das músicas do álbum são do livro “Into the heart” – The stories behind every U2 songs de Niall Stokes, Traduzido informalmente pela Rosa "It's a Musical Journey" da comunidade U2 (a que tinha maior número de participantes) no finado Orkut, que saudades daquela época!

    Para não ficar muito denso irei postar um post para cada história de música do álbum.

    AVISO:
    Outro ponto que vou adiantando: os textos são longos e precisam ser lidos com uma certa paciência para contextualizar coma época de lançamento e tudo que estava ocorrendo naqueles anos.
    Portanto ai vai minha dica: Leia com calma, talvez adotando a leitura espaçada entre a história de algumas músicas. E se possível leia ouvindo o álbum no fundo, vale a pena ;)

    OBS: Para quem ficar perdido na parte do "quem é quem", eu sinceramente aconselho pesquisar sobre, mas ai vai um basicão: Bono - Vocalista, The Edge - Guitarrista, Adam Clayton - Baixista, Larry Mullen Jr - Baterista, Paul McGuiness - Empresário da Banda e Gavin Friday - Amigo pessoal da banda

    Então vamos lá ;)

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “The Joshua Tree”


    Produzido por Brian Eno e Daniel Lanois
    Gravado em Windmill Lane Studios,Dublin e STS,Dublin.
    Lançamento em Março de 1987.



    13 de julho,1985. Live Aid. Em frente a maior audiência de televisão jamais vista num evento ao vivo, U2 roubou o show. As vendas de The Unforgettable Fire subiram. De repente o U2 não era apenas uma grande banda. Eles eram uma das maiores do mundo.

    Foi dado a eles algum espaço pra respirar. The Edge escreveu a trilha sonora para o filme de Paul Mayerberg’s Captive. Bono ficou viajando, ouvindo blues. Fez ‘Silver and Gold’ para o álbum Sun City, projeto com Keith Richards e Ronnie Wood, gravou com Clannad. A banda completa fez duas faixas com Robbie Robertson.

    Em 86, eles apareceram aos poucos. Para a TV Gaga. A turnê The Conspiracy of Hope nos Estados Unidos. Self Aid na Irlanda. Uma banda diferente! Eles estavam sujos, barulhentos, fazendo ruidosas covers de Eddie Cochran e Bob Dylan. Eles tinham percorrido um longo, longo caminho desde de a cultivada atmosfera européia de The Unforgettable Fire.

    Bono estava ouvindo música de raiz, folk, o blues. Eles estava pensando sobre canções, lendo sobre o Deep South. The Edge tinha olhado para o leste com Captive. A banda se moveu para oeste com The Joshua tree, dentro dos braços da América. As composições de Bono tinham mais foco agora. Maior profundidade. Ele foi se arrastando até lá ao lado de Bob Dylan, Morrison, Lou Reed. “É o nosso disco mais letrado ainda”, ele disse. Que era um eufemismo. Ele foi direto para o número 1 nos Estados Unidos e no Reino Unido. Na América se tornou o álbum mais vendido de todos os tempos. E também lhes rendeu o primeiro disco de platina.

    No árido deserto de Nevada, a The Joshua Tree sobrevive apesar da sujeira da areia, osso seco e pedra, em que está inserida. Em algum lugar lá há água. Em algum lugar lá é a fonte da vida. Em algum lugar lá há esperança. O desafio é encontrá-la.

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    "Where the Streets have no name"

    Algumas vezes você pode ouvir em sua cabeça primeiro. Um processo lento, dramático, inchando o abatido teclado. Uma parte rítmica na guitarra estridente vindo sobre ele. Soa bem em sua cabeça. Sente como o começo de alguma coisa, uma intro. Mas agora você tem que buscá-la para a fita. Já há alguns deslizes. Os primeiros passos que você dá, parecem nunca captar toda a glória que você poderia ouvir, mas se você chegar perto de qualquer maneira, a dinâmica vai levar você pra frente.
    The Edge em sua casa em Monsktown, brincando em um estúdio caseiro de gravação de quatro pistas Tascam. Cravando o teclado por conta própria. Ouvindo de volta. Faz. Rebobina. Então a guitarra. O ritmo é bom. Tenta algumas variações no acorde. Pequenos retoques. Agora você pode ver a imagem maior novamente. Imagine um baixo. A bateria entrando. Faz sentir-se bem. O começo de uma canção...

    ‘Where the Streets Have No Name’ é uma daquelas que parecia que não queria nascer. “na nossa forma de escrever, às vezes sentimos que a canção foi escrita”, The Edge disse a John Waters, “A canção já está lá, se você puder apenas colocá-la em palavras, colocá-la em notas. Nós a temos, mas não é percebido ainda.

    “Se você nos visse trabalhando no estúdio algumas vezes, você estaria coçando a cabeça tentando descobrir o que estávamos fazendo, sobretudo, se tivermos a sensação de que estamos em algo bom. Nós eventualmente chegamos lá. E ‘Where the Streets Have No Name’ é um grande exemplo, que levou semanas de trabalho para acontecer.
    E ficou perto de deixar Brian Eno louco no processo. Quanto mais a banda trabalhava na canção, mais ele se ressentia. Chegou um momento que ele ficou tão frustrado com a quantidade de tempo dedicado para ‘Where the Streets Have No Name’ que ele queria apagar a multi faixas. “Está certo”, The Edge recorda. “Nós não estávamos no estúdio naquele momento e ele pediu ao engenheiro assistente para sair da sala. Ele realmente tinha decidido fazer isso. Mas o engenheiro assistente não saiu. Ele ficou na frente do gravador, dizendo, ‘Brian, você não pode fazer isso’. E ele não fez. Mas foi por pouco.” No final foi Steve Lillywhite ao invés de Eno quem mixou o produto final. “Demorou uma eternidade para chegar a essa faixa”, Daniel Lanois disse a Rolling Stone. “Tínhamos este quadro gigante com o arranjo escrito nele. Eu me sentia como um professor de ciências os conduzindo. Para obter a ascensão e queda, a dinâmica da música, levou um longo tempo”.

    Ascensão e queda? Faz parecer quase sexual – um pensamento que pode não estar muito longe da verdade. Bono certamente soa inquieto e agitado como se ele se lançasse em uma confissão: “I wanna run/I want to hide/I want to tear down the walls/that hold me inside/I want to reach out/And touch the flame/Where the streets have no name.”

    “Tem sido um tema todo o caminho através da música do grupo” ele diz, “Neste sentido, de querer correr, querendo dar o impulso. Eu sempre acho que há dois tipos-caçador e protetor. Ou pra mim existe de qualquer forma. Se eu me submeto a um, eu serei um animal. E se eu me submeto ao outro, eu serei completamente domesticado. Algum lugar entre os dois é onde eu vivo”.

    Todos nós sentimos o peso esmagador da domesticidade de uma forma ou outra em momentos diferentes. ‘Where the Streets Have No Name’ expressa o correspondente desejo de fugir. Mas também captura a necessidade desesperada de anonimato que alguém na posição de Bono freqüentemente sente: onde as ruas não tem nome, nem as estrelas. O título, sem dúvida, baseia-se no tempo que Bono e sua mulher Ali passaram na Etiópia em 1985. Eles foram para lá como voluntários, trabalhando com agências de ajuda humanitária, distribuindo comida e auxiliando com saúde e iniciativas educacionais. Bono voltou à Irlanda, para o mundo ocidental, com um profundo sentimento do vácuo no coração da vida contemporânea. “O espírito das pessoas que eu encontrei na Etiópia era muito forte”, Bono diz. “Não há dúvida de que, mesmo em situação de pobreza, eles tinham alguma coisa que nós não tínhamos. Quando voltei, percebi que as pessoas no Ocidente são como crianças mimadas”.
    Um dos pontos fortes da música é que nunca é muito clara, onde as ruas sem nome estão, ou precisamente o que a frase quer dizer. Ele poderia estar falando sobre o Céu. Talvez até mesmo oferecendo-nos um vislumbre de algum tipo de inferno particular. “Eu posso olhar para isso agora”, Bono diz, “e reconhecer que “Where the Streets Have No Name” tem uma das mais banais dísticos na história da música pop. Mas também contém algumas das melhores ideias. De um jeito curioso,que parece funcionar. Se você estiver de qualquer maneira um peso sobre essas coisas, você não se comunica. Mas se você esbravejar ou descartar isso, então você faz. Que é um dos paradoxos com que eu tive que entrar em acordo.”

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”

    Algumas coisas fixam na memória. The Edge realizou uma festa em sua casa recém-reconstruída em Monkstown no sul da costa de Dublin, no Ano Novo de 1986.Nessa época, a maior parte do trabalho no The Joshua Tree tinha terminado e a banda estava relaxando. Mas Bono não conseguia.
    Uma de suas maiores qualidades é o entusiasmo nu que ele mostra para a música da própria banda.
    E então ele me explicou que esse era um álbum de canções, que o U2 tinha finalmente aprendido o que a palavra significava, e que eles estavam convencidos que eles tinham feito, de longe o seu melhor álbum até à data, como resultado. “Há uma em particular”, ele explicou, “Isso é incrível” E então ele começou a cantar pra mim. “É assim: ‘I have climbed/the highest mountain/I have run/through the fields/only to be with you/only to be with you’ e ela tem esse refrão”, ele expandiu e cantou até que chegou a ele “But I still haven’t found what i’m looking for”.
    O bumbo da bateria de alguma música dançante batendo na porta o lado, e o burburinho de vozes reinando ao redor- e, ainda assim eu juro que eu poderia cantarolar a canção no próximo dia. Era o atrativo. Um perfeito pedaço de música pop, foi número um nos EUA quando foi lançada lá como single. Desde o início, Bono claramente sabia que ela era uma vencedora.

    A música veio ao mundo com um outro rótulo, ‘Under the Weather’.Também tinha uma melodia diferente. Mas uma vez que The Edge tinha vindo com o título e o tema da dúvida espiritual, isso se cristalizou na imaginação de Bono, então o ímpeto se tornou inevitável. Dermot Stokes,que estava escrevendo para a Hot Press na época, tinha dado a ele um tape de música gospel e blues, incluindo faixas de The Swan Silvertones,The Staple Singers e Blind Willie Johnson. Eno, que tinha ouvido muito gospel, estimulou seu entusiasmo. Agora Bono sabia que ‘I still haven’t found what i’m looking for’ tinha que ter suas raízes no gospel. Mas ele também percebeu que o tema era grande o suficiente para lhe permitir, escrever um hino.

    ‘I Still haven’t found what i’m looking for’ é lindamente escrita e elegantemente construída. A viagem da banda ao longo do ritmo que é um exemplo de retenção, com uma quebra de ritmo da guitarra acústica de The Edge, onde outros poderiam ter preferido um solo instrumental. Bono cantando com alma e coração. Ninguém cometeu nenhum erro.
    “Eu costumava achar que escrever palavras era antiquado”, Bono confessou. “Então eu esboçava. Eu escrevia palavras ao microfone. Para ‘The Joshua Tree’,eu sentia que tinha chegado a hora de escrever as palavras que significavam alguma coisa, fora da minha própria experiência”.

    Você podia senti-la imediatamente. ‘I still haven’t found what i’m looking for’ era uma coisa real-embora nem todos parecessem concordar com isso. Em 1991, Negativland, uma banda underground com base em San Francisco, lançou uma gravação intitulada ‘U2’,eles remixaram e remodelaram ‘I still haven’t found what i’m looking for’, intercalando com trechos de uma entrevista entre Bono e o Dj americano Casey Kasem. Era uma fraude, tanto da forma criativa quanto comercial, pelo fato de que o logo do U2 dominava a capa. Uma reação automática foi que seus fãs poderiam ser enganados comprando algo sob falsos pretextos.
    A Island Records entrou em cena e conseguiu uma liminar pra impedir a venda ou distribuição da gravação. Desde o início era uma situação sem saída para a organização do U2. Negativland alegou que não houve violação dos direitos autorais, porque ‘U2’ era uma paródia. E eles alegaram que o U2 estavam definindo-se como animais do rock corporativo, esmagando o que era essencialmente uma subversiva declaração artística. Que está tudo muito bem. Mas poderia U2-ou sua gravadora-arriscar dar a todo e qualquer fraude comercial carta branca para usar seu logotipo e suas gravações sob qualquer pretexto?

    “O que mais me assustava era que aquelas pessoas que nos criticavam realmente não ouvia nossas gravações”, Bono disse a David Fricke da Rolling Stone. “As gravações não eram de propagação de qualquer tipo de ‘men of stone'. The Joshua Tree é um registro muito incerto. ‘I still haven’t found what i’m looking for’ é um hino de dúvida mais do que de fé.”

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “With or without you”

    Antes da gravação de The Joshua tree, a banda decidiu ensaiar em Danesmote, um período numa casa em Rathfarham na periferia de Dublin.
    A sala que eles ocuparam era bonita, com janelas altas e luz natural penetrando. Os ensaios foram tão bem que eles decidiram fazer o álbum lá.
    “Nós tínhamos experimentado bastante fazendo “The Unforgettable fire”,The Edge relembra. ”Nós tínhamos feito coisas um tanto revolucionárias como ‘Elvis Presley and America’ e ‘4th of july’.Assim nós sentimos, entrando em The Joshua tree, que talvez várias opções não fossem uma coisa boa, que limitações podia ser positivo. E então nós decidimos trabalhar dentro das limitações da música como ponto de partida. Nós pensamos: vamos realmente escrever canções. Nós queríamos que o álbum fosse menos vago, aberto, atmosférico e impressionista. Para torná-lo mais simples, focado e conciso”.

    Você poderia dizer que há exemplos um pouco melhores em The Joshua tree que ‘With or without you’. Num certo nível, é uma coisa rara no repertório U2 -uma canção de amor- e funciona como tal, capturando uma emoção que a maioria das pessoas em relacionamentos sérios deve ter sentido em um momento ou outro, quando Bono canta,”I can’t live/with or without you”. Mas esta não é uma canção de amor do tipo que Bono despreza. Na verdade, quanto mais você se aprofunda, mais se torna consciente de que sob sua superfície encontra-se um emaranhado de ansiedades complexas. Concisa, que seja, mas ‘With or without you’ é qualquer coisa mais simples. Há, claro, uma dimensão espiritual para a música como o amor erótico e o amor ágape converge novamente para a mitologia pessoal de Bono, e ele volta com o tema de arrependimento próprio e perda do ego. Mas o que ele quer dizer quando ele confessa, “My hands are torn/my body bruised/She’s got me with/nothing left to win/and nothing left to lose”? E quem é “ela”?

    Bono não gosta de ser específico sobre canções pessoais desse tipo. Nunca é. “Em ‘With or whitout you’,quando se diz, ‘And you give yourself away/And you give yourself away’,todos do grupo sabem o que quer dizer”, ele explicou em 1987. É sobre como eu me sentia no U2 naquela época. Eu sabia que o grupo achava que eu estava exposto, e que o grupo sentia que eu estava afastado. Eu acho que se eu causar qualquer dano ao U2, é que eu também estou aberto. É por isso que eu não estou dando muitas entrevistas esse ano. Porque há um preço para minha vida pessoal, e um preço para o grupo também.”

    “And you give yourself away”: uma frase que volta e volta, e olha para todos os lados. Há muita ansiedade, dúvida e mesmo culpa embrulhadas nela.

    “O negócio é desafiar o rádio”, Adam disse a Rolling Stone. “Ficar com ‘With or without you’ no rádio é muito bom. Você não espera ouvi-la lá. Talvez numa igreja.”
    Além do mais, U2 foi nº1 nas paradas de singles. “Paul McGuinness não queria que ela fosse um single”, Gavin Friday revela. “Mas eu disse a Bono que ela era com certeza nº 1.
    Foi um dos maiores argumentos que jamais tive com Paul, e no final Bono ficou do meu lado. Em justiça para Paul, ele veio até mim depois e pediu desculpas. Ele disse ‘Você estava certo’. E claro que eu estava”.

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    # mar/17
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    “Bullet the blue sky”

    No ano sabático, durante 1985, Bono viajou extensivamente. Quase exclusivamente entre os astros de rock, teriam se irritado com ele por fazer o Live Aid, e não saber em primeira mão o que acontece na Etiópia. Então ele foi lá com Ali, como trabalhador voluntário.

    Sua parceira, uma verdadeira preocupação para os mais desfavorecidos, especialmente as pessoas nos países emergentes, marginalizados pelas maquinações daqueles que seguravam as rédeas da política, economia e poder militar no Oeste. E então eles também viajaram para a América Central, patrocinados pela Anistia Internacional, para observar e passar um tempo em El Salvador e Nicarágua. Era natural para um homem e uma mulher irlandeses se identificar com a experiência nicaraguense –naquele pequeno país lutando para estabelecer sua própria liberdade e identidade, sendo intimidado por um vizinho muito maior e mais poderoso. Nas ruas, Bono viu terrível miséria, um resultado direto do bloqueio econômico americano e os EUA dando apoio para a guerra civil travada pelos Contras. Mas ele também viu a dignidade com a qual as pessoas se mantinham em face as calamidades que os visitavam. Era uma visão sobre o lado negro da política externa dos EUA, que seria difícil de esquecer. Eles também chegaram suficientemente perto para a brutal campanha de assassinatos e opressão sendo travada com apoio dos EUA em El Salvador, para chegar a uma única conclusão.

    “O espírito do povo na Nicarágua está sendo abatido”, Bono disse na época. “Eles estão sem comida e sem suprimentos. Eu estava em um comício de Daniel Ortega, e você pode dizer a partir do olhar das pessoas que queriam muito acreditar em sua revolução. Mas as pessoas pensam com o bolso a maior parte do tempo e você não pode culpá-los por isso, mulheres tentando educar os filhos, e pais de família sem emprego. É apenas muito triste ver o estrangulamento da América sobre a América Central, na prática. Quando você vai a um restaurante e eles lhe dão o menu, há 15 itens no menu e eles não lhe dizem que na verdade só tem um. Você tem que pedir 14 vezes antes que eles lhe digam, não, nós só temos arroz”.

    Não teria sido da natureza de Bono permanecer em silêncio. Como Martin Luther King tinha emergido como o herói de The Unforgettable Fire, agora The Joshua Tree tornava-se uma prece pelos despossuídos e por vítimas da opressão militar. Os Estados Unidos tinham sido bons para o U2. Tinham abraçado-os, transformado-os num dos maiores sucessos e mais importantes grupo de sua era. Mas as coisas que estavam sendo feitas por americanos na América Central, ostensivamente em nome da liberdade e justiça, eram terríveis. Quando chegou a isso, o U2 estaria disposto a morder a mão que os alimentou.

    ‘Bullet the blue sky’ uiva com raiva e medo. Em El Salvador Bono tinha visto aviões caça do governo sobrevoando em uma missão. Ele ouviu o barulho de armas de fogo a distânica. Aquela era a realidade com que alguém acordava a cada dia. ‘Bullet the blue sky’ era uma tentativa de confrontar o próprio público do U2 num sentido do que isso podeira significar. Mas esse era apenas o ponto de partida, como a música volta atrás, buscando o coração da escuridão em que pessoas inocentes estavam sendo mergulhadas. Irangate, os detalhes do que havia surgido em 1986, expôs a ganância, duplicidade e corrupção a qual tinha retomado Washington durante a era Reagan. “As pessoas estavam tão atrasadas para tudo que Ronald Reagan representava”, The Edge refletiu na época de The Joshua Tree,”mas agora eu acho que quando nós voltarmos para a América nós veremos um país quebrado. Ou isso ou as pessoas param para olhar, que é uma perspectiva mais assustadora.”
    “Eu continuo acreditando nos americanos” Bono acrescentou. “Eu acho que eles são um povo muito aberto. É essa abertura que os leva a confiar num homem como Ronald Reagan. Eles querem acreditar que ele é um cara legal. Eles querem acreditar que ele está no calvário, vindo pra resgatar a reputação da América depois dos anos 70. Mas ele era somente um ator. Era somente um filme. ‘Bullet the blue sky’ fez uma outra conexão, ligando a desastrosa política externa americana de Reagan para seu próprio fundamentalismo religioso e dos cristãos tele-evangelistas que tinha florescido em sua versão da América.U2 reconheceu que o imperialismo é alimentado por uma justiça que nega a outros o seu próprio direito de crer, e manifestar suas crenças.

    “Eu diria que nenhuma das minhas crenças fundamentais mudaram”, The Edge disse durante 1986, “mas elas ampliaram e amadureceram e foram temperadas com uma vasta experiência de (a) o que é bom sobre o resto do mundo e (b) o que é ruim sobre religião em todas as partes. Eu basicamente assumo que cada grupo religioso, ou comunidade, tem um problema, é de alguma forma asneira. Eu não acredito que existe um único, caminho espiritual perfeito e, conforme vai percebendo , obviamente, você fica muito mais aberto”.

    A menção do pregador Jerry Falwell inspirou raiva, na fronteira com o desprezo. “Ele prega que Deus veste um terno de três peças de poliéster, é branco, fala com sotaque sulista, é anglo-saxão, tem esposa e filhos. E então você diz, como isso se relaciona a um camponês chinês? e você percebe que não se relaciona ,de qualquer forma”.
    Ou para um sulista negro? A canção contrasta a queima de cruzes do Ku Klux Klan com o som libertador do saxofone de John Coltrane respirando dentro da noite de New York. America: terra dos paradoxos. Tudo que é grande sobre o mundo, e tudo que é repulsivo sobre ele, enrolado em um. ‘Bullet the blue sky’ é sobre isso.

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “Running to stand still”

    Você não podia escapar das sombras da heroína em Dublin nos anos 80, nem do fantasma da dependência e da morte que arrastou na sua esteira. ‘Wire’ tinha lidado com esse tema. Então teve ‘Bad’ com maior efeito. Dirigida a um junkie conhecido da banda dos velhos tempos da Lypton Village, sua repercussão foi tão poderosa e sua emoção tão certa que ela havia se tornado um destaque da banda ao vivo durante a turnê de The Unforgettable Fire, um dos originais e duradouros hinos de apelo popular do U2.

    Agora U2 retornou para o tema, em uma canção que foi claramente inspirada pela arrebatadora ‘Walk on the Wild Side’ de Lou Reed, uma influência que refletiu a postura fresca sem julgamento de Bono e da banda para o problema da droga que era endêmica nas ruas, onde eles tinham crescido em Dublin.

    ‘Running to stand still’ é inescapavelmente localizada em terrenos que, inicialmente com referência lírica aos sete blocos de apartamentos, que institui a cicatriz na paisagem urbana ao norte de Dublin e distingue Ballymun, onde Bono cresceu, do resto da cidade, evocando uma imagem potente de desespero e decadência. “I see seven towers/but I see only one way out”, Bono canta, e você sabe o que ele quer dizer. “Eu não parto do ponto de vista de alguém que é completamente insensível aos usuários de drogas”, ele refletiu em uma entrevista a Hot Press em seguida ao lançamento de The Joshua tree. “Eu entendi então, quando eu era um adolescente, e eu entendia mais agora o porque de, por exemplo, estar no palco por duas horas e depois não conseguir dormir por seis ou sete ou oito horas”.

    Além disso, inúmeros amigos, conhecidos e colegas músicos na Irlanda se achavam no encalço da China girl. Christy Digman, cantora com Aslan – uma das uma das maiores esperanças entre a primeira onda de bandas pós-U2 em Dublin-tinha sofrido um flerte muito público com a droga. E então em janeiro de 1986,Philip Lynott de Thin Lizzy-uma legendária e inspiradora figura entre as bandas de rock irlandesas-morreu de insuficiência hepática causada por abuso e, especificamente, a dependência de heroína. Quando acontece perto de casa, você percebe que não há sentido em ser crítico.

    “Uma coisa que realmente me incomoda pessoalmente, é que por dois anos eu e Ali vivemos em Howth, na mesma rua que vítimas do vício de heroína. Em ‘Running to stand still’ Bono vai mais longe, a empatia com o personagem central que está disposto a colocar tudo em risco, a fim de transcender o esmagamento da monotonia e horizontes estreitos, que arruinou a vida de tantas pessoas em uma cidade de alto desemprego e miseráveis condições de vida.
    “Eu ouvi sobre um casal” Bono explicou sobre o gênesis da canção, “e ambos eram viciados, e tal era a sua dependência que eles não tinham dinheiro, nada para pagar o aluguel – então o cara arriscou tudo em uma corrida. Ele foi e contrabandeou para Dublin uma grande quantidade de heroína, presos ao seu corpo, de modo que, por um lado houve a prisão perpétua, por outro lado, as riquezas. Além da moralidade disso, o que me interessava era o que o colocou nessa posição. “You know I took the poison from the poison stream/and I floated out of here”. Porque para um monte de gente não há mais portas abertas .E então se você não pode mudar o mundo você está vivendo nele, vê-lo com outros olhos é a única alternativa. E heroína te dá olhos de heroína pra ver o mundo. A coisa sobre a heroína é que você acha que esse é o jeito que as coisas são, que o “velho” você que se preocupa com o pagamento do aluguel não é o verdadeiro você.”

    Musicalmente, ‘Running to stand still’ foi quase improvisada usando um tape de ‘Walk on the Wild Side’ e ‘Candle in the Wind’ de Elton John – a qual eles seguiram durante ‘Bad’ na pré turnê - como uma plataforma de lançamento, mas liricamente era finamente afiada. Tornou-se uma das canções mais importantes do The Joshua tree. Não somente porque surgiria como um hino de Dublin, mas talvez, por outras razões cruciais também. Na sua falta de certeza moral e sua recusa a julgar seus indivíduos duramente, olhar para a frente para a paisagem caótica que a banda descreveria – e adotaria- totalmente em Achtung baby e Zooropa, na qual a única certeza é a incerteza de si mesmo. O que fez dela uma das criações mais maduras e convincentes da banda até à data, um assombro, desafiando pedaço de poesia popular que ainda ressoa com a verdade lírica quase dez anos depois.

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “Red Hill Mining Town”

    Se os EUA estava gemendo sob o excesso escandaloso da era Reagan nos anos 80,as coisas na Grã Bretanha estavam um pouco melhores. A lógica da livre política econômica da Primeira Ministra Conservadora Margareth Thatcher levou a um aumento do número de desempregados, tendo a cifra no registro na casa de bem mais de três milhões. Entre as mais atingidas foram desastrosamente comunidades mineiras do norte da Inglaterra.

    Sob a direção de Tatcher ,e a presidência de Ian McGregor, o National Coal Board começou a implementar uma política de encerramento de que eram consideradas minas não rentáveis. Uma greve de mineiros se seguiu, com a National Union of Miners, liderada por Arthur Scargill, combatendo de perto com unhas e dentes. Estava destinado a ser uma das disputas mais amarga e prolongadas da história industrial recente da Grã-Bretanha, e a devastação causada foi enorme.

    Durante o verão de 1984, Bob Dylan tinha tocado em Slane Castle fora de Dublin, e cedo do dia Bono tinha entrevistado-o para Hot Press. Foi dado a Dylan a oportunidade de convidar o cantor do U2 no palco, para se juntar a um encore de ‘Blowin’ in the Wind’. Descartado um verso para ser cantado por Dylan, Bono percebeu que, embora houvesse o reconhecimento da música, ele não sabia a letra: ele foi obrigado a improvisar. De alguma forma com a colaboração ao vivo não planejada, vi o Bono cruzar o grande divisor em termos musicais. Mais que qualquer coisa, confirmou para ele o quanto ele ainda tinha que aprender sobre a grande tradição de composição, canto e musicalidade.

    Desenvolveu uma amizade que o fez mergulhar a fundo no catálogo de Dylan e refazendo as conexões entre os irlandeses e as tradições folk americana. Ele estava ouvindo Bruce Springsteen também, abrindo outra janela no mundo de colarinho azul das músicas de trabalho. Essa consciência crescente do poder da tradição popular se refletiu na participação da banda em uma homenagem do 25 º aniversário no Late Late Show, na televisão nacional na Irlanda, para os veteranos da cena folk The Dubliners. Para a ocasião U2 escolheu uma música de Peggy Seeger, que tinha sido originalmente cantada por Luke Kelly, e executada com impressionante apoio e autoridade. ‘Springhill Mining Disaster’,conta a história de como a ganância e a exploração de uma mina de carvão na Nova Escócia, terminou em catástrofe. Bono desenvolveu a canção com paixão e convicção, ganhando respeito no processo.
    Todas essas vertentes se uniram em ‘Red Hill Mining Town’. que foi criticada em algumas áreas por não ser politicamente bastante específica, mas há ausência de qualquer dúvida sobre as simpatias de Bono. “ Eu sei o que as pessoas estão pretendendo”, ele disse na época. “Red Hill Mining Town” é a canção sobre a greve dos mineiros e a única referência a Ian McGregor é ‘Through hand of steel and heart of stone/Our labour day is come and gone”. As pessoas me cobram por isso, mas o que eu estou interessado é ver nos jornais ou na televisão que mais mil pessoas perderam seus empregos.

    “Agora o que você não lê sobre isso é que aquelas pessoas que vão para casa e elas tem famílias e estão tentando criar seus filhos. E, em muitos casos, os relacionamentos acabam sob a pressão das greves dos mineiros. ‘The glass is cut,the bottle runs dry/Our love runs cold in the caverns in the night/We’re wounded by fear,injured in doubt/I can lose myself but I can’t live without/’Cos you keep me holding on’.Eu estou mais interessado nos relacionamentos nesse ponto porque eu sinto que outras pessoas são mais qualificadas pra comentar sobre a greve dos mineiros. Que me enfureceu, mas eu me sinto mais qualificada para escrever sobre relacionamentos, porque eu compreendo-os mais do que trabalhar em um poço”.

    O que a música conseguiu capturar eloquentemente foi a sensação de desgraça que rodeou a morte da pequenas comunidades mineiras. Ela foi considerada pela banda para ser lançada como single, e um vídeo foi gravado pelo diretor Neil Jordan, que tinha feito The Crying Game and Interview With the Vampire. A banda ficou descontente com o que Jordan produziu e o vídeo foi silenciosamente enterrado.
    O que pode explicar porque Red Hill Minign town nunca se tornou uma parte importante da set ao vivo do U2 .Ela merecia coisa melhor do que se tornar uma jóia perdida.

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “In God’s Country”

    Bono estava tentando achar uma maneira de comunicar seu crescente sentimento de mal-estar com os EUA. ‘Bullet the blue sky’ tinha vindo cuspindo um espírito de ira. ‘In God’s country’ era mais medida: tinha um ar de resignação. A imagem de um deserto estava no coração de The Joshua Tree. “Tinha um aspecto espiritual”, The Edge fundamentou, “que a gravação tem, e também uma grande dose de mistério, que eu gosto”.
    Adam foi mais longe: “foi extremamente inspirador para nós como uma imagem mental para esta gravação. A maioria das pessoas tomaria o deserto como algum tipo de lugar estéril, que, naturalmente, é verdade. Mas no frame direito da mente, é também uma imagem muito positiva, porque você pode na verdade fazer alguma coisa com uma tela em branco, que é efetivamente o que o deserto é”.

    Esse é o tipo de pensamento que remete ‘In god’s country’. Soa um pouco como U2 tocando U2 até The Edge soltar uma guitarra estilo Enio Morricone no intervalo. Bono, entretanto, está restringido.Vindo à ele em um sonho,os EUA está caracterizado como uma rosa do deserto, uma sereia cujo vestido está rasgado em tiras e laços. “We need new dreams tonight”,Bono canta. Ele está pensando sobre a escassez de novas ideias políticas. “Exceto na Nicaragua”, ele diz olhando pra trás. “Que é porque a revolução lá foi tão importante”.

    “Não é sua primeira razão para estar no palco, para efetuar a mudança no clima político de um país”, Bono disse na época.” Eu não sei qual é a primeira razão, mas não é a primeira razão. Mas eu gosto de pensar que o U2 já tem contribuído para uma reviravolta no pensamento”.
    Talvez ‘In God’s Country’ iria virar algumas cabeças ao redor. Então novamente talvez não. Você poderia argumentar que o refrão era muito “radio-friendly” para isso.

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “Trip through your wires”

    Após o Live Aid, havia menos pressão sobre o U2 para produzir um seguimento de The Unforgettable Fire. O natural período de duração da gravação tinha sido dado um enorme impulso com o desempenho catártico da banda na frente de uma audiência televisiva global. Eles não precisavam se apressar num novo álbum. E por isso passaram algum tempo fora. Eles deixaram de ser U2.Individualmente e às vezes coletivamente, eles iam em busca de novos estímulos. A aparência de Bono mudou enormemente. Ele estava procurando por novas raízes musicais, ouvindo folk, blues e country. E essa procura refletia não somente na forma que ele pensava mas no jeito que ele parecia também.

    Também relacionado com as mudanças musicais que a Irlanda estava passando em meados dos anos 80.Mike Scott havia se mudado para Dublin com o Waterboys e tinha se tornado obcecado não apenas com Bob Dylan e Van Morrison mas também pelo folk irlandês tradicional. The Hot House Flowers também estavam em ascensão, fazendo links semelhantes. Ambos tendiam a realizar sessões espontâneas nos mais estranho dos lugares, de modo que Dublin se tornou uma cidade de artistas de rua. Mantendo esse tipo de companhia, o vocalista com um dos grupos de maior sucesso no mundo poderia ter sido levado a pensar que ele devia ser capaz de se amarrar a um violão e cantar uma canção sem o back-up de um grupo de estrada de 30 pessoas e $ 1 milhão em PA. Era contra esse pano de fundo que ‘Trip through your Wire’ foi concebida.

    Um velho amigo, Billy Magra, começou a se envolver em um novo programa de televisão para jovens, TV Gaga, como produtor-diretor. Como um gesto de apoio, a acrescentar à credibilidade do programa – e esperançosamente sua avaliação – a banda concordou em aparecer no programa e divulgar duas novas músicas. O mundo veio abaixo: elas não soavam como nada que o U2 tivesse feito antes.

    Na noite, a banda surgiu parecendo figurantes de algum filme B, remake de Easy Rider.Eles tocaram ‘Womanfish’ uma canção que posteriormente desapareceu, aparentemente, sem deixar vestígios – e ‘Trip through your Wires’. E foi como tinha sido prometido. Não havia um efeito de eco à vista, nem nenhuma das brilhantes, limpas, guitarras melódica colorindo, o que tinha sido marca registrada do U2 até o momento. Em vez disso, assistimos The Edge descer 'n' sujo em um salão de bar brincando com o blues, uma canção bêbada que apresentou Bono lamentando grosseiramente sobre uma harmônica como Dylan. Nessa noite parecia e soava como uma obra em progresso. Claramente era. A versão de The Joshua tree é muito mais rigorosa e disciplinada, mas o espírito da caótica performance no TV Gaga é mantido.

    “Era um grande hootnanny (NT:festival folk),uma grande yahoo”, Bono disse a Carter Alan. “Nós meio que fizemos isso de momento e eu soprei a harmônica. A coisa com Dan Lanois e Brian Eno no estúdio é que eles são muito favoráveis à ideia de uma sessão. Dan vai estar lá com seu tamborim ao lado de Larry, olhando-o nos olhos e batendo um prato aqui e ali. Eles ficam muito entusiasmados com isso, e nos deixamos levar pelo entusiasmo deles. É apenas um ciclo vicioso no bom sentido da palavra.
    Yeah, ‘Trip Through Your Wires’ foi divertida”.
    Liricamente é relativamente descartável. Pode ser vista como um outro hino aos encantos contraditórios da América, personificada como uma mulher. Poderia ser sobre um encontro sexual não convencional e os sentimentos presentes de confusão e culpa. Ou pode ser lida como um exercício de criação de um mito, do tipo que Dylan inicia teria estado mais do que familiarizado com: o cantor discriminado pela devastação de viver a vida difícil, de ser posto para trás junto com o amor de uma boa mulher (ou mesmo uma má!)

    Sexo bebida e rock and roll? Poderia ter sido um tape do porão pessoal de Bono. Teve influência de Dylan escrita sobre ela toda, mas também faz sentido no contexto mais vasto da jornada musical e espiritual a ser realizada pela banda em The Joshua Tree.

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “One tree hill”

    Quando o U2 estava em turnê na Nova Zelândia em 1985 eles conheceram Greg Carroll. Um Maori, ele trabalhou promovendo as datas da banda Kiwi, começando em Auckland. “Há 5 ilhas vulcânicas que compõem Auckland,” Bono explicou, “e a mais alta é One Tree Hill. Greg me levou lá na minha primeira noite na Nova Zelândia”.

    Carroll haviam estado em torno da música e cenário da mídia por um tempo e quando o viram em ação, a equipe do U2 ficou impressionada. Ele era um feixe de energia, um fio vivo. “Paul McGuinness pensou: esse rapaz é tão esperto que não podemos deixá-lo aqui. Vamos levá-lo conosco para a Austrália”, Bono explicou. Dentro de um curto período de tempo, Greg Carroll tinha se tornado um membro valoroso da organização.
    Sua turnê mundial terminou, a banda retornou para Dublin. Greg Carroll veio também. Ele trabalhou como assistente de Bono e, nos poucos meses que passou em Dublin, foi como um irmão para o cantor. Ele era muito amado e muito respeitado por aqueles que o conheciam, tanto dentro como fora do campo U2.O que aconteceu foi horrível. Um pesadelo. Durante a preparação para a gravação de The Joshua Tree, ele pegou a Harley Davidson de Bono para fazer um favor ao cantor. Estava sombrio, noite chuvosa. As estradas abominavelmente molhadas e a visibilidade era ruim. Em uma das principais rotas do centro da cidade, um carro saiu em arrancada em frente a ele e Greg, indo em cheio de encontro a ele. Ele morreu instantaneamente. A experiência arrasou a todos do U2,mas Bono ficou particularmente pior.

    “Foi devastador” ,ele disse para David Breskin. “Ele estava me fazendo um favor. Ele estava levando minha moto para casa. Greg costumava cuidar de Ali. Eles costumavam sair para dançar juntos. Ele era seu melhor amigo. Eu já tinha passado por isso uma vez com minha mãe. Agora era a 2ª vez. A pior parte é o medo. Depois daquilo, quando o telefone tocava, meu coração parava todas as vezes. Agora quando eu parto em viagem, eu me pergunto se as pessoas estarão aqui quando eu voltar. Você começa a pensar nesses termos”.

    “Pra mim inspirou o conhecimento de que há coisas mais importantes do que o rock and roll". Adam Clayton refletiu. “Que sua família, seus amigos e de fato os outros membros da banda – você não sabe quanto tempo mais você estará com eles.”

    Mesmo 6 meses depois, Bono encontrava dificuldades para falar sobre o assunto, contendo as lágrimas em uma entrevista. “A ênfase, ele refletiu, entre familiares e amigos, quando tínhamos uma gravação n º 1 , e éramos uma grande banda estava no quanto você tinha- e não no quanto você perdia. O sentimento chegou em casa através da perda de Greg Carroll. Mas o sentimento de perda tem continuado – Eu sinto isso mais agora”.
    Foi o suficiente para inspirar uma das melhores composições de Bono. imagens evocando magnificamente a herança ancestral Maori de Carroll. Não somente isso, ‘One Tree Hill’ também produziu uma magnífica performance vocal, a qual apresentou o extraordinário desenvolvimento de Bono como um cantor. Uma façanha espiritual, ela é um cântico de louvor e celebração o qual descreve o tradicional enterro Maori de seu amigo em One Tree Hill e o liga poeticamente com temas de renovação e redenção, com o rio correndo, correndo para o mar.

    Quem ouviu ‘One Tree Hill’ seria igualmente afetado. Repleto com mudanças de corda inspiradas por Eno, doce guitarra com nuances africanas e um ritmo sensual cortesia de Adam e Larry, foi – e permanece – entre as grandes faixas do U2,um tributo apropriado para a partida de um dos fiéis da banda.

    “O funeral de Greg Carroll foi além da crença”, Bono disse. “Ele foi enterrado em seu lar tribal, como um Maori, pelos chefes e mais velhos, e foram três dias e três noites acordado e sua cabeça poderia estar dando voltas completamente. E a nossa estava ,de novo, e de novo”.

    Luisfelp FR1
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    # mar/17
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    “Exit”

    Bono tinha ido para o oeste em sua leitura. Ele estava interessado em Flannery O’Connor, Raymond Carver, Norman Mailer. Procurando por insights sobre o povo do lugar vasto que os tinham abraçado. Maneiras de compreender as ações ordinárias e então os forasteiros, madeiras flutuantes - aquelas à margem da terra prometida, cortadas do sonho americano. Ele leu The Executioner’s Song, de Norman Mailer, soberbo relato da vida de Gary Gilmore. ‘Exit’ não é sobre Gilmore. E não é sobre Charles Manson também. Mas redes de arrastão estão em um ou ambos.
    Musicalmente ‘Exit’ é como nada que o U2 tinha feito antes. A antítese de seu brilho, toque, otimismo inspirador. Ela era suja, irada, alta, discordante, repetitiva, barulhenta, negra. Se a intenção era chamar um sentimento mal pro exterior, então eles conseguiram, com a intensa bateria de Larry e o baixo de Adam despudorado, insistente criando uma poderosa sensação de estar dentro da pele de alguém, de sentir palpitações na sua rota para algum desenlace indizível.

    “Pode-se dizer que este é um terreno proibido para os U2, pois nós somos um ‘grupo otimista’, Bono confidenciou na época. “Mas ser um otimista não significa ser cego e surdo para o mundo ao seu redor. ‘Exit’-Eu não sei mesmo que ato está nessa canção. Alguns veem como uma assassinato, outros um suicídio-e eu não me importo. Mas o ritmo e a letra são quase tão importante na transmissão do estado de espírito.”

    Esse foi o ponto de ‘Exit’: transmitir o estado de espírito de alguém que foi levado, por qualquer impulso forte, à beira do desespero. A corrente de imagens religiosas reflete uma nova consciência sobre os perigos do fanatismo implícito na fé. Mas não havia nenhuma outra mensagem em ‘Exit’. Exceto que é assim que é lá fora: lidar com isso. E de certa forma, era um método de purgar os próprios demônios da banda, sua própria raiva e fúria com as vicissitudes que o destino tinha empurrado em cima deles. Era uma maneira de chegar a termos com a morte e dor. Foi um exorcismo.
    Como tal, não foi sem seus próprios custos psíquicos. Nos EUA, o homem acusado do assassinato de Rebecca Shaeffer, atriz de TV, alegou que foi inspirado pela audição de ‘Exit’. Pode ter sido não mais do que um advogado de defesa inteligente chegando com um apelo meio plausível de atenuação, mas não era o tipo de acusação que você queria que pairasse sobre você, mas então, houve toda uma lista de lições positivas a serem aprendidas com The Joshua tree também.

    Luisfelp FR1
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    "Mothers of the disappeared"

    Durante 1986, U2 tinha concordado em participar na tour de Conspiracy of Hope nos EUA com Sting, Lou Reed, Bryan Adams, Peter Gabriel e Joan Baez, entre outros. A turnê era para ambos, arrecadação de dinheiro e expedições de conscientização, em nome da Anistia Internacional.
    A banda tinha desenvolvido um forte relacionamento com a organização através de Jack Healey, um ex-padre irlandês-americano, que juntou a turnê Conspiracy. Ele tinha ajudado fazendo conexões para Bono na Nicarágua e El Salvador. Agora,em uma variedade de formas e disfarces, preocupações com Anistia estavam ressurgindo em The Joshua tree. Em particular, Bono tinha ouvido falar sobre esquadrões da morte que operam sob a junta militar argentina nos anos 70 e 80. Foram décadas desoladoras antes da Guerra das Malvinas ou a guerra nas Malvinas-precipitaram um retorno da democracia durante o qual milhares de estudantes oponentes ao regime militar tinham sido presos e nunca mais vistos, mortos ou vivos. Na Argentina eles se tornaram conhecidos como “os desaparecidos”, e uma organização chamada Mothers of the Disappeared tinha sido formada para fazer campanha para a divulgação completa do que tinha acontecido com aqueles que haviam se oposto. E para trabalhar para a detenção e julgamento dos policiais e militares que foram responsáveis por moldar e execução da política estadual de tortura e assassinato.

    ‘Mothers of the disappeared’ continua a tradição de ‘40’ e ‘MLK’-mas é menos uma celebração, menos uma canção de ninar, do que um lamento. Ela inicia com efeitos sonoros perturbadores cortesia de Eno, e nunca perde a sua sinistra, triste e qualidade. A guitarra de The Edge é arame farpado, e Bono soa como “homem Dylan” de tristeza constante, sua voz um som alto, solitária. A canção é um ato de testemunho, mas não há nenhuma nota otimista de confiança atingida para fechar o álbum. Muito mal no mundo. Algumas coisas não podem ser explicadas.
    Bono mesmo estava disposto a reconhecer agora.

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