Eric Clapton Veterano |
# out/11
Review do Show do Eric Clapton – São Paulo, 12 de Outubro de 2011 – Estádio do Morumbi.
Pré Show
Vou tentar ser o mais honesto possível, deu muito trabalho fazer esse review interativo com acesso a todos os links para os vídeos do show e apesar de ser um dia histórico que marcou minha vida, vou expor todos os detalhes que minha memória permitir, tanto pelo lado positivo quanto negativo. Peço desculpas de antemão, pois aviso que o texto será extenso hehehe.
Eu sonhei com este momento desde os 11 anos de idade, pensei que jamais aconteceria. E aconteceu e sou um homem realizado hoje rs.
Bom minha saga começa no dia anterior (terça, 11/10), após sair do trabalho, apenas passei em casa, tomei um bom banho, coloquei meu uniforme (calça jeans, um tênis confortável e minha camiseta do Slowhand) estava preparado para aquele que seria o dia mais feliz da minha vida até então.
Eu já participo do Fórum Cifra Club há muitos anos, acho que desde o início de 2005 e durante todo esse tempo sempre fui mais participativo nos fóruns de música, depois fui para o Off Topic onde posto regularmente e por isso criei um vinculo muito forte com a galera de lá e sempre marcamos encontros, festas, viagens, etc.
Neste dia, teria um encontro pré show do Clapton, em um bar pulguento da Rua Augusta. Nem todo mundo foi ao show, mas muitos dos membros e ex membros do OT apenas para interagir. A Dressaaa, que é de Santa Catarina, e a Carla Andréa, da Bahia., foram comigo ao show, onde lá no estádio encontraríamos o nichendrix e o Meu Filho Ouvirá Classic Rock, outros membros do Fórum Cifra Club. Bebi muito nesse dia devido ao nervosismo, sou uma pessoa muito ansiosa e tomo até remédio para tratar isso. Resolvi beber ali, pois sabia que no dia seguinte eu não poderia beber uma gota de álcool, pois queria estar em plena consciência do que estaria acontecendo.
No dia seguinte, partimos rumo ao Estádio do Morumbi. A cidade estava aparentemente calma e sem trânsito. Eu estava muito nervoso, temia em chegar atrasado e conseguir um lugar ruim na arquibancada, queria ir bem cedo, mas as meninas me advertiram que era melhor sairmos mais tarde que daria tempo. Saímos às 16h e chegamos próximo ao Shopping Butantã por volta das 17h. O caminho daquele ponto até o Estádio era curto. Mas parecia uma eternidade. Eu estava diferente, segundo minhas amigas. Eu estava sem expressão na face, literalmente um pokerface hauehau. Fumei um cigarro atrás do outro até chegar ao Estádio e temi em beber algo alcoólico, queria estar 100% em condições de apreciar o espetáculo.
Chegando ao Estádio
Enfim, chegamos ao Morumbi, havia muitas pessoas nas ruas, nos bares, a maioria com a camiseta do Clapton (uma mais linda do que a outra) e era um pessoal bem eclético, outros com camisetas do Sepultura, Rush, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Pink Floyd... O local estava movimentado, mas não tumultuado, foi muito tranqüilo chegar lá.
Meu ingresso era para a arquibancada especial, entrada pelo portão 15. Então nos dirigimos para lá e na medida em que eu me aproximava do portão mais nervoso eu ficava. Após a revista e passar pela catraca e a validação do ticket, eu senti um alivio tremendo, foi como se um fardo de feno fosse retirado das minhas costas. Tiramos algumas fotos e entramos no clima, aquilo tudo cheirava música boa, rock e já escutávamos o som ambiente provindo do interior do estádio.
Mesmo eu estando um pouco mais calmo por estar no estádio, algo me chama a atenção e a tensão volta a tomar conta de mim. O tempo. Apesar de não estar muito frio, o vento às vezes soprava de forma forte e gélida e algumas nuvens escuras começaram a se aproximar.
De qualquer forma eu tinha prometido para eu mesmo que nada atrapalharia aquele momento. Direcionei-me para a arquibancada, e apesar de estar longe do palco, procuramos um local que ao menos a acústica e o som estivessem bons e encontramos. Ficamos posicionados próximos a uma P.A. gigantesca em formato de torre, e de certa forma tinha uma boa visualização do palco. Achei perfeito e como minha preocupação era mais som do que imagem decidiu-se que o melhor era ficar por ali mesmo. Encontramos o membro do fórum Meu Filho Ouvirá Classic Rock e seu pai, e nos juntamos a eles.
O tempo estava mudando radicalmente e eu rezava baixinho para ao menos não chover e atrapalhar o show. O estádio estava vazio e fiquei muito aliviado de ter encontrado um bom lugar. Porém, a cada vez que eu me aliviava de alguma tensão e ficava mais tranqüilo, automaticamente vinha outra coisa para me atormentar. Dessa vez era uma reflexão de todo o comentário e repercussão da vinda do mestre para o Brasil e as divisões de opiniões que rolavam aqui no Fórum e na Internet a cerca da postura fria e seca dele e sobre a qualidade do som para os ambientes externos. Senti um frio na barriga, pois até então Clapton estava em um pedestal para mim, intocável. Mas ele é humano. Será que eu iria-me frustrar e me decepcionar, pois, de fato, ele não é nada daquilo que eu imaginava e lia nos livros, via nos vídeos e etc.? Será que eu iria me arrepender e virar fã do Slash? (ahuehaue Brinks). A única coisa que me aliviou, foi o fato do nichendrix ter me mandado uma mensagem pelo celular dizendo que tinha conseguido um lugar no setor Ourocard e que estava de frente para o palco. Filhodaputa, uhaheu, fiquei muito feliz na hora e disse pra ele ir me informado sobre tudo que estaria acontecendo por lá caso eu não conseguisse visualizar de onde eu me encontrava. E o mais legal e que ficamos mandando mensagem durante o show e a cada musica a gente se comunicava e ele me deixava por dentro de todos os detalhes do que estava acontecendo ali no palco. Foi mágico.
Show de Abertura
Nunca tinha ouvido falar de Gary Clark Jr. Sabia que ele era um músico novo do Texas e que tinha participado do último Crossroads Guitar Festival. Também sabia que a mídia americana estava classificando o cara como "salvador do blues" e isso fez com que eu me empolgasse e ficasse na expectativa de sua apresentação. Mas como eu já estava com um pé atrás com Clapton, fiquei com um pé atrás e meio com ele também. A mídia americana é pior que a brasileira. Exagera muito.
O estádio estava começando a "tomar forma" e as arquibancadas estavam ficando cheias, apesar da pista ainda estar relativamente vazia. Eu sabia que na pista, todos os ingressos estavam esgotados e que de alguma maneira aquilo tudo estaria preenchido.
Uma garoinha tomou conta o lugar e eu via um certo movimento no palco, roadies para lá e para cá. "Pensei comigo mesmo, daqui a pouco começa!"
Dito e feito. As luzes do estádio se apagaram, o povo gritou e aplaudiu, as luzes do palco se acenderam e entra Gary Clark Jr no palco com sua semi acústica amarela no palco. Neste momento eu pensei novamente "ahhh esse cara vai tocar aqueles blues lentos, vai ser legal"
Ao passear olhos das arquibancadas e pistas quase cheias, notei que a infraestrutura do show era muito simples e básica. Com exceção das enormes torres de P.A., tudo era simples, os telões, o palco, a iluminação, os instrumentos no palco. Dava a impressão que aquilo tudo não daria suporte para uma apresentação em estádio. Ledo engano.
As primeiras notas de "When My Train Pulls In", foi um baque, o som das P.A.'s batendo com força nos ouvidos, aquele timbre sujo de fuzz, a banda fodasticamente entrosada, o baterista marretando a bateria e o desconhecido Gary Clark não perdôo. Veio com tudo. Ele foi visceral. Mandou uma improvisação quente, que lembrava uma mistura de Cream com Jimi Hendrix Experience, mais Hendrix, com aquela pegada de Fuzz que ele tinha. A galera foi ao delírio, e naquele exato momento, esqueci que era um show de Eric Clapton. Ele tinha um leve toque de Freddie King, um boogie no estilo dele para o blues, a forma com que palhetava e dedilhava. Era uma verdadeira apresentação de blues/rock puro.
Fiquei extasiado. O estádio ficou extasiado. Até que ele começa a cantar e todo mundo pára para prestar atenção. O negão canta muito. Tem um timbre de voz muito parecido com o do Paul Rodgers do Free, Bad Company e Queen. Ai chega o solo e todo mundo olhava um para a cara do outro meio que pasmos. O nich me mandou uma mensagem mais ou menos assim "o som ta tão foda, forte e alto que chega a empurrar pra trás". Senti inveja dele naquele momento. No momento dos solos dele, não tinha como não ligá-lo ao grande Jimi Hendrix. Aliás, não só eu. Esse era o comentário na arquibancada: "PQP! A REENCARNAÇÃO DE JIMI HENDRIX!" Pode parecer um exagero, as vezes, talvez estivéssemos muito empolgados com tudo aquilo ali, era um esquenta para o Clapton. Mas ele lembrava muito Hendrix sim, só que um pouco mais contido, sem muita exibição no palco. Ele tocava certinho, digamos que seria um Hendrix com mais elegancia e refino. Um pouco mais contido.
Tocou um set list bem bom, inclusive um ótimo cover de B.B. King. O show foi tão bom que passou rapidinho. Ele fechou com a bela "Bright Lights" que incendiou a galera. O cara foi embora ovacionado e com todo mundo em pé aplaudindo. O cara deve ter saído feliz da vida. Como eu fiquei feliz em descobrir Gary Clark. Foi como se eu descobrisse que a música em si ainda tinha salvação e personalidade. Ali estava um jovem de 27 anos abrindo o show de um dos maiores e mais lendários músicos do planeta e foi com tudo! Cheio de personalidade, músicas próprias! Mostrou a força do blues, sem picaretagens, sem exibicionismos baratos, apenas com talento e música. Aposto que todos ali da platéia ficaram satisfeitos. Sem heresias. Só aquilo ali pra mim, já veleu o ingresso. Mas eu queria mais....
Momentos antes do show do Slowhand
Após a surpreendente apresentação de Gary Clark, é hora de ir ao banheiro para depois não arredar o pé do meu lugar.
Após ir ao banheiro notei que o estádio estava quase lotado, porém ainda tinham cadeiras em outros setores, mas na arquibancada especial onde eu me encontrava, estava abarrotada, gente nos corredores e nas escadas, demorei aproximadamente 10 minutos para percorrer uma distância de 100 metros. Mas ao chegar à minha cadeira, falei para eu mesmo: "Daqui eu não saio".
O mais interessante é que quando se espera algo assim, desse nível, a ansiedade só aumenta. Mas ainda bem que o estádio estava cheio. No inicio, quando soube que o show seria em um estádio, eu meio que torci o nariz, pois queria que fosse em um ambiente mais exclusivo, tipo Via Funchal ou Credicard Hall. Mas me enganei pela segunda vez. Era bonito olhar para a platéia e ver aquela mistura de gerações, homens, mulheres, idosos, adultos, adolescentes, todos ali, prestes a presenciar a apresentação de uma das maiores lendas da história da música mundial. Tudo misturado! Talvez essa diferença de idade e essa mistura que tenha contribuído para a civilização do show. A maioria das pessoas eram educadas e não percebi nenhuma briga ali. O ponto alto de interação de todos ocorreu meia hora antes do show do Clapton, quando um setor da arquibancada começou a agitar, o nosso também e nisso ocorreu um efeito cascata. Algo que não tinha presenciado em um show. Fizeram uma "OLA" gigantesca que ia e voltava por toda a arquibancada do estádio. 50 mil pessoas ali levantando, pulando e gritando quando chegava sua vez, todo mundo, os mais velhos e os mais novos. E no fim era uma chuva de aplausos com o pessoal da pista aplaudindo de pé. Foi algo que jamais esquecerei. Emocionante. Foram uns 15 minutos só de festa e fizeram mais "OLA". Histórico.
O Show
Minhas mãos transpiravam. A Carla Andréa achou que eu iria ter um ataque cardíaco ali. Minha expressão pokerface estava mais nítida, todas as fotos tiradas ficaram horríveis comigo, a minha expressão era a mesma, chegava a ser assustador rs.
O movimento dos roadies no palco estava a todo vapor, o nichendrix me deixava por dentro de tudo o que acontecia ali que meus olhos não conseguiam perceber: "porra, tem duas strato azul calcinha, uma branca, tem uma Gibson também", "estão prendendo o set list nos instrumentos, já colocaram na do Steve Gadd", "caralho, tem um bassman e twin 57", "a Leslie vai ser empurrada com o tweed, ela não era empurrada com o JCM800?" hehe. Se eu, que estava lá na puta que o pariu já estava tendo um treco, imagino-o na segunda fila cheirando o chulé do Clapton.
Faltavam dois minutos para as 21h, as luzes do estádio se apagaram, a do palco se acendeu, de forma bem leve, o barulho era ensurdecedor. Expectativa. Meu coração estava quase na boca. A sensação era a da expectativa de um jogador do Brasil prestes a bater um pênalti em final de Copa do Mundo. Incrivelmente, às 21h em pontualidade britânica, como de costume, eis que surge aquele que teve o nome pichado de "Deus" nos muros de Londres nos anos 60, Sir Eric Clapton. O estádio veio abaixo, ele entrou calmamente, empunhando uma Fender Stratocaster de sua linha customizada, estava de jeans surrado, aparentemente com um sapato surrado também e uma jaqueta jeans e barba por fazer. Usava óculos de armação grossa moderna, cabelo bem cortado (ele tem mais cabelo do que eu) até que ele caminha levemente pelo palco, da uma olhada ao redor pra ver se todos estão ali no palco, caminha até o microfone para uma "Boa Noite", ao que é devolvido em coro. Ele volta, anda mais um pouquinho, da uma olhada no chão para seus pedais, olha rapidamente para trás fitando seu amplificador e retorna ao microfone para dizer em inglês: "Dedico esse show para Felipe Massa". Foi estranho, para não dizer bizarro. Mas depois eu soube que o Clapton é uma espécie de "padrinho" da Ferrari, ele sempre é convidado a assistir as corridas de Fórmula 1 de dentro dos boxes da Ferrari e é o cliente número 1 deles, tendo uma vasta coleção de Ferrari e sendo um dos primeiros a ter todos os lançamentos da marca antes de ir para o mercado. Ele chegou a dar uma Guitarra autografada para o Felipe Massa quando o mesmo se acidentou.
Voltando ao show, a competente, experiente e super elogiada banda de Clapton consistia em Chris Stainton, o lendário tecladista de Joe Cocker e parceiro inseparável de Clapton desde a metade dos anos 70 até hoje, virtuose no piano, daria um belo duelo com Rick Wakeman ou Keith Emerson no piano. Tim Carmon no Hammond e teclados, digamos que ele seria o "guitarrista" sideman de Clapton, dividindo os solos com ele, onde ele consegue fazer de tudo com teclado, até imitar guitarra. Depois que eu escutei ele tocando, eu entendi pq o Clapton não precisou de guitarrista de apoio. O cara é um animal. Willie Weeks no baixo. Particularmente eu achei ele o mais "morno" da trupe, é talentoso, mas eu que sempre vi Clapton tocando com Nathan East, senti que ele daria um ar mais rick'n roll ao show, Steve Gadd na bateria, sem comentários. Um dos mais consagrados bateristas de estúdio da história. Lenda viva da música. Se Clapton é o Deus da Guitarra, Gadd é o capeta da bateria, mas sabe ser sutil com pegada mais jazz e por fim dupla de vocalistas Michelle John e Sharon White, que casam bem com o afinado vocal de Eric.
"Key To The Highway"
O mestre começa com aqueles acordes da faixa de um dos álbuns mais importantes da história do rock,"Layla and The Other Assorted Love Songs" de 1970.
"Key To The Highway" o grande clássico do blues de Big Bill Broonzy que sempre está presente nos set lists de seus shows. A Galera cantou junto com ele! Foi lindo! Um blues gostoso, com solinhos de piano e orgão, na vez de clapton, o "primeiro bend" da noite que puxou a galera de novo. Analisando, é engraçado, pode parecer exagero se fosse apenas minha opnião, mas o que se escutava do publico que entendiam um pouco de guitarra era isso, os bends do cara batiam no peito.
"Tell The Truth"
Existiam bancos, tanto para a pista quanto para a arquibanada. Mas o pessoal não queria sentar não. "Tell The Truth" fez com que todos permanecessem em pé. Outro grande clássico do álbum "Layla and The Other Assorted Love Songs". Diferente do anterior, que era nada mais nada menos que uma mistura de blues/rock, "Tell The Truth" era o rock em essência ali. Clapton parecia um moleque de 20 anos dando seus pequenos pulinhos, as backing vocals deixaram a Carla Andrea em choque rs. Destaque para Steve Gadd, com sua pancadaria na batera. É dificil acreditar quando você vê esses sexagenários dando o melhor si no palco. Gadd as vezes se empolga tanto e faz umas caretas que parece que vai ter um infarto rs.
"Hoochie Coochie Man"
As vezes eu penso que só um riff clássico de rock pode levar o público ao delírio, riff de guitarra como "Smoke On The Water", "Iron Man" e "Satisfaction" tem esse poder. Isso não acontece muito no blues. Mas Willi Dixon "reprovaria meu post" rs, o lendário bluesman que compôs "Hoochie Coochie Man" que foi imortalizado por outro não menos lendário Mr. Muddy Waters estava ali sendo recriado por um velho britânico branco que regravou esta pérola do blues em sua bela homenagem aos grandes bluesmans de todos os tempos no álbum "From Te Cradle" de 1994 e ao que todos cantavam o riff, sim o riff de "Hoochie Coochie Man". Algo semelhante ocorreu no show do Buddy Guy que eu fui, todo mundo cantando esse riff de blues, a única diferença era que Buddy estava com a guitarra nas costas, mas o som era o mesmo hehehe! Clapton nasceu para o blues, ele pode tocar o que quiser, no estilo que quiser, mas "ele é um bluesman", frase proferida por B.B. King. Como disse o nichendrix por mensgem nessa hora, o som era tão tesudo que dava vontade de entrar no palco e pegar a Backing Vocal e levá-la para atrás do palco ahuehuaehue, que novamente, deram um show intercalando o refrão. Sempre achei massa backing vocal feminino em show de blues e rock. Da um ar mais bonito e contrastante com o vocal masculino.
"Old Love"
"Old Love", balada do maravilhoso álbum "Journeyman" de 1989, para muitos o ponto alto do show em termos de guitarra. Que solo foi aquele? Sempre notei que em certas músicas algum tipo de espírito baixa em Clapton fazendo ele ir além de suas limitações na guitarra, e isso sempre acontece quando ele toca ao vivo "Have You Ever Loved a Woman", "I Shot he Sheriff", "Voodoo Chile" e "Old Love". Lembro perfeitamente antes de começar a música, Clapton foi até seu ampli, fez alguns ajustes e pensei ma hora: "É Old Love, certeza", Já me preprarei para porrada que viria, pois vasculhei o Youtube por registros de tudo que e Clapton fez em seus shows no Brasil para essa tour, e percebi que "Old Love" era a mais longa de todas as músicas. Ele fez um improviso inicial e senti que o timbre de sua strato estava mais forte, com mais ataque, era o lendário timbre "Woman Tone", só que um pouco mais moderno, mais limpo. Até escutar o riff de "Old Love" eu senti uma coisa muito bizarra. Era como se eu não estivesse ali e não acreditava no som que eu estava escutando, era perfeito demais. Era como se meu sonho de muitos anos, desde os 11 para ser exato, começasse a ser realizado naquele exato momento. Ele estava ali tocando sua guitarra em alto e bom som. Naquele momento, tudo que eu li a respeito do Clapton nos outros shows do Brasil, os comentários, as matérias, as reportagens, as críticas, as decepções, enfim, tudo o que eu li, até mesmo aqui no forum que me fez ficar um pouco descontente e desanimado pois eu pensava comigo mesmo "será que vou me decepcionar? Será que todos esses anos almejando com isso e tudo o que eu lia e ouvia sobre ele era uma fraude?", isso tudo desapareceu e como em uma fração de segundo, tudo de negativo em relação a minha perspectiva sobre sua apresentação sumiu. Agora só eram pensamentos bons a coisa real estava toda ali era de verdade, não era lenda. A banda era fantástica, a voz dele estava absurdamente boa, o timbre impecável e o som que saiam das PA's estava muito forte! Durante o longo solo, a impressão de uma viagem que não ia acabar e ninguem queria que acabasse, é diferente quando você escuta uma música assim no mp3 ou vê um video no Youtube. Ao vivo é mais impressionante, principalmente pq você escutava gritos de "É Deus mesmo!", "Não acredito no que eu estou ouvindo" essas coisas. após o fantástico e longo solo, Eric Clapton foi ovacionado em pé por todos aos berros e gritos. Ai que entra o segundo solo feito por Tim Carmon no teclado. Ele faz um lance sintetizado imitando o som de uma guitarra com wah wah! Muito genial. Outro show a parte. Ao fim da música ainda se ouvia: "Já valeu o ingresso"
"Tearing Us Apart"
"Tearing Us Apart" é um grande clássico de Eric Clapton dos anos 80 do álbum "August" de 1986 com a participação de Tina Turner. É um som mais pop e dançante possui um riff e solos legais, e ele tocou do jeito que deve ser tocado, ele mesmo tinha uma tímida dancinha com o corpo enquanto cantava (para quem os jornais o chamavam de" frio" até que ele estava se divertindo) e a Michelle John cantou muito bem a parte da Tina Turner. Gostei do som, dancei um pouquinho, mas fiquei muito triste nessa hora, uma das músicas que eu mais torci pra ele tocar, "I Shot The Sheriff" foi substituída por "Tearing Us Apart", ele ficava alternando entre essas duas em seu set list nos shows e como citado anteriormente, "I Shot The Sheriff" faz esse velho rabugento entrar no clima e solar enfurecidamente. Sem contar que iria fazer o estádio tremer. De certa forma foi até bom ele não ter tocado, pois devia ter umas cinco pessoas fumando maconha próximo a nós, e se ele a tocasse era capaz de tirarem uma árvore de cannabis do bolso. Nada contra quem fuma, mas achei só uma falta de respeito com o pessoal que estava do lado tentando curtir o som e com o próprio artista, tendo em vista a dura batalha que ele teve com as drogas. Pior que isso, só os alcoolatras consumados no show que ficaram gritando e chamando atenção, até alguém ameaçar a jogarem eles da arquibancada, ai eles pararam. Espero que eles não se lembrem de nada do show, só para se arrependerem de quererem atrapalhar o show dos outros.
"Driftin' Blues"
Hora de baixar a frequência, Clapton deixa sua linda Fender Stratocaster Azul calcinha no suporte, toma seu belo violão Martin e manda uma versão crua e pura de para "Driftin' Blues" acompanhado por milhares de palmas sincronizadas. Mesmo para um lance de Blues, a platéia agia conforme a música, e foi bom, pois eu não botava fé que o pessoal fosse apreciar e curtir um lance de blues acústico. Outro clássico lenda do blues que está presente no álbum "From The Cradlle".
"Nobody Knows You When You're Down and Out"
Outra sessão acústica, desta vez com o clássico "Nobody Knows You When You're Down and Out" canta em coro. Me estranhou também que o público conhecesse essa música, mas depois me lembrei que ela estava no álbum "Unplugged" de 1992. Outra bela canção muito bem cantada e tocada e acompanhada de palmas.
"Lay Down Sally"
Outro clássico, só que desta vez o country do álbum "Slowhand" de 1977. É interessante ver essa parte eclética do Clapton, o cara toca rock, pop, blues, jazz, country, reggae, mas nada sem ser vulgar. Para essa versão ele pegou ama Strato que não consigo idenficar. Parece que é uma Strato sem escudo pintada com uma faixa azul e branco e parece que tem mais alguma coisa ao lado da ponte. Country legal, cantado em massa, apesar de estar sentado e sem muito agito.
"When Somebody Thinks You're Wonderful"
Clapton é um músico de fases, em seus quase 50 anos de guitarra, ele já passeou por vários estilos e últimamente ele está enfeitiçado pelo Jazz de New Orleans, como prova seu mais recente álbum "Clapton" de 2010. É um belo álbum de jazz e "When Somebody Thinks You're Wonderful" foi a única desse álbum que ele tocou no show. Tocou e encantou. Escutei um piá, deveria ter um 15 anos dizendo para o pai que queria o novo álbum dele pq ele gostou muito desse estilo. Eu também gostei, mas gostei mais do ao vivo com o Wynton Marsalis, principalmente na versão de "Layla" que é a próxima...
"Layla"
Uns repiques na bateria ecoam por todo o Morumbi, pensei que seria mais uma música estilo jazz de New Orleans, e foi, só que dessa vez um dos riffs de guitarra mais conhecidos do planeta é substituido por aqueles belos acordes da versão acústica de "Layla". Versão simples, porém carregada de emoção onde o próprio dono da música deixou o refrão em alguns momentos por conta da platéia extasiada. Se o público não gostou desse arranjo mais simples, não demosntraram, muito pelo contrário, para muitos esse sim foi o ponto alto do show. Belíssima versão, onde mais uma vez é demonstrada a capacidade e criativaidade dos arranjos do Clapton em que ele pode tocar a música que ele quiser no estilo que ele quiser com competência.
"Badge"
Essa á música! "Badge"! Foi lindo todo mundo cantando e pulando com esse grande clássico do Cream do álbum "Goodbye Cream" de 1969, que originalmente teve a presença de George Harrison. Essa sim eu posso dizer que levantou todo mundo. Foi mito legal ver os mais velhos dando aqueles pulinhos acompanhado dos mais novos hueheauaehu. Solo de guitarra perfeito. Timbre perfeito. Aquele som das caixas Lesliecom falantes giratórios me deixam de pau duro! Ah, o som explodindo de alto! Acho que era isso que todo mundo queria. Sem contar no final, o solo de Tim Carmon e a bateria esmagadora de Steve Gadd. Aos 1:50 do video dessa música, você percebe que Clapton olha timidamente para a platéia alucinada, olha para baixo rindo (ainda timidamente) e vai ao microfone sorrindo. Ali eu percebi que cada músico tem um jeito de curtir o seu trabalho. Na própria autobiografia dele é reforçado isso de sua timidez. Ele mesmo disse várias vezes que quando faz uma Jam Session ou está em palco com outros artistas ele fica muito tímido e recluso e ele mesmo acaba decepcionando por ficar em segundo plano por vontade própria. Mas ali no Morumbi o show era dele. E diversas vezes eu vi que ele tinha o mesmo modo tímido de encarar o público, talvez ele estivesse espantado com 50 mil pessoas de todas as idades que falam um idioma diferente do dele cantar um clássico de mais de 40 anos. Na minha opinião, "Badge" foi a melhor música do show. Não sei se foi pelo clima, pela agitação, pelo solo de guitarra, pela alegria do cara ou pq era um som do Cream. Mas aquela imagem e sensação ficaram na minha mente.
"Wonderful Tonight"
A mais romântica da noite. Não há de negar que essa música é linda e foi a hora de quem estava acompanhado ficarem abraçadinhos. TODOS os casais se agarraram nessa hora, se beijaram. Foi bem romântico mesmo. Foi a hora de todos tirarem os celulares dos bolsos e deixarem ligados e balançarem as mãos fazendo um espetáculo a parte. Antigamente eram com isqueiros, hoje o risco de queimar a mão é menor. Outro detalhe que me deixou mais admirado e surpreso foi a voz dele. Ele nunca foi um excepcional cantor, seria talento demais para uma pessoa só, humilhar na guitarra e ainda cantar de forma magistral. Mas para o tipo de som que ele faz está ótimo. Ele consegue alcançar notas altas dentro de seu padrão de cantar facilmente e sem esforço e muito afinado. Ele é um homem de 66 anos, e depois de tanto abuso, tanta droga e alcool ele poderia estar com a voz toda detonada ao tentar imitar a si mesmo como alguns vocalistas de rock com a metade da idade dele que não possuem profissionalismo, chegam atrasados duas horas para o show e ainda fingem que cantam com aquele fiapo de voz. Não vou dizer quem é, mas estou olhando agora para aquele microfone do Gugu e aquele shortinho de "mamãe quero ser biba" e aquele pano de prato na cabeça. Enfim...
"Before You Accuse Me"
"...Before You Accuse Me...Take You Look At Yourself..." Refrão pegajoso esse hahahaha...Cantado uníssono por todos lá, Eric usou um timbre sujo e meio rasgado. Perfeito para a canção que foi um hit do grande Bo Diddley e foi regravado por Clapton em 1989 para o álbum "Journeyman". Foi muito "tru", porém eu já senti que o fim do show já estava chegando, mais umas duas ou três músícas e "THE END". Mas quis aproveitar cada segundo. Destaque para o solo virtuoso no piano de Chris Stainton.
"Little Queen of Spades"
O super blues da noite, Mr. Robert Johnson sorri (no céu ou no inferno), seu pupilo estava mostrando para quem ainda tinha dúvidas que ele era um autêntico músico de blues, apesar da carreira eclética. Blues longo, cheio de solos de teclado, de órgão, de guitarra, de tudo que tinha direito. As mensagens do nichendrix eram as mais engraçadas do tipo "gozei", "morri e fui para o céu e Deus está tocando" a mais original foi "Agora eu senti o que o cara que pichou o muro com Clapton is God sentiu" auheuahua. Que inveja dele. Mas estava super feliz no meu cantinho lá em cima da arquibancada. E eu achei ótimo para aqueles que conhecem pouco do extenso material musical do Clapton ou só conhecem os clássicos do rock, essa foi uma excelente oportunidade de conhecer um blues improvisado de quase 14 minutos com dois solos lindos de Hammond e teclado. Não sei como, se ele usou pedal ou outra coisa, mas Tim Carmons se empolgou tanto em seu solo que em um determinado momento ele fez o Hammond sutentar uma nota e ele levantou os braços como se estivesse dizendo "Olha o que eu faço sem as mãos" auehueahuea FODA!
"Cocaine"
Eu sabia que essa seria a próxima. Um dos riffs mais importantes da história do rock. Ao primeiro som, sim, o estádio veio abaixo. Legal foi assistir lá de cima os "cadeirados" se rebelarem se levantarem e avançarem para o palco e aquele monte de seguranças tentando conter os doidos. Foi massa. O show estava no fim. Essa versão estava um pouco mais "slow" mas mesmo assim agitada. Dancei e pulei muito. Eu não né. O estádio inteiro, ainda mais quando o Clapton deixava o refrão: "Cocaine" para nós. Após os solo de guitarra, de hammond e teclado e o último refrão cantado por todos ali presente. Clapton tira sua guitarra, diz "Thank You" faz um leve cumprimento de agradecimento, dá um tchauzinho e sai a caminho do backstage. As luzes do palco se apagaram, mas eu sabia que o show não tinha terminado e que ainda tinha o bis...
"Crossroads"
Após alguns minutos as luzes do palco se acenderam, uns cabeças de prego já estavam até deixando a pista quando viram o mago das 6 cordas voltar ao palco. E não voltou sozinho. Gary Clark voltou junto com ele e mandaram uma versão mais calma do grande clássico do Cream, "Crossroads", gravado ao vivo no Filmore East Auditorium em San Francisco em 1967 que foi adicionada ao álbum "Wheels of Fire" de 1968 e que sua versão original pertence mais uma vez a Robert Johnson, sua mais pura e principal influência. Se eu pudesse fazer um resumo de fortes influências de guitarristas, do mais antigo para o mais novo eu resumiria basicamente assim: " Robert Johnson >>>>>>>Eric Clapton >>>>>>> Eddie Van Halen". Inclusive O Van Halen toca "Crossroads" na versão do Cream em todos os seus shows recentes, chegando a ponto de EVH dizer em entrevista que sua única e principal influência foi exatamente o Eric Clapton (tudo bem que é um pouco de exagero da parte de EVH). Essa versão do show ficou bacana, sem aquele peso da original pelo Cream. Gary Clark até "atropelou" Clapton enquanto eles fizeram um pequeno duelinho de guitarra no final da música mas acobou em risada por ambos. Fim da música. Clapton tira sua guitarra, chama a todos, inclusive a Gary Clarky, fazem uma fila e agradecem a todos se curvando três vezes. Acena mais uma vez com a mão e sai do palco rindo. Sim rindo muito.
Considerações Finais.
Show tecnicamente perfeito. Banda de apoio fabulosa. O palco era muito simples, muitos equipamentos e instrumentos vintages. Achei os telões pequenos demais, porém foram compensados pelo som das P.A's que estavam estourando. Não estavam altos demais a ponto de enrolar o som, mas estava alto de forma que que conseguia escutar todos os intrumentos e vocais perfeitamente. A prefeitura disponibilizou ônibus do estádio para o centro da cidade, o que foi ótimo, pois saímos depois das 23h e os taxis em São Paulo são uma fortuna. Cheguei em casa as 4 da manhã, mas feliz da vida. Meu corpo estava quebrado. Mas minha mente fluia e tentava assimilar tudo o que tinha acontecido naquela noite histórica para mim e que ficou sem dúvida marcada para o resto da minha vida e passei a adimirar e a gosta mais ainda do meu ídolo. As pessoas podem falar o que quiserem, mas desta vez eu vi e ouvi e percebi que ele era real, que a lenda era verdadeira, o som era verdadeiro e que pra mim e para as pessoas que presenciaram sua performance naquele estádio ele era o Deus da Guitarra mais do que nunca. Era legal no fim do show a pivetada pedindo uma guitarra para os pais ou os mais experiente querendo abandoná-las! No mais, como eu já disse, tenho a consciência de que sempre fui feliz e nunca levei uma vida medíocre, mas esse dia foi um divisor de águas em minha vida. O dia mais feliz até então.
Clapton is God!
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