O processo de amadurecimento musical

    Autor Mensagem
    erico.ascencao
    Veterano
    # ago/09


    Em várias conversas sobre música com amigos meus eu comecei a reparar que sou um pouco "do contra": com relação a bandas que têm fases distintas, gosto mais das fases recentes, as quais geralmente são mais criticadas por serem mais "pop". Parando pra pensar a respeito, comecei a elaborar uma "tese" a respeito do amadurecimento musical. E é sobre ela que eu vou teorizar um pouco nesta postagem.

    Eu acredito que todos os músicos passam por um processo de amadurecimento musical. Veja bem, isto não significa que o músico muda de estilo ou melhora/piora em termos de qualidade, simplesmente mudam a abordagem da sua obra. Este amadurecimento pode ser observado claramente na obra do músico, porém dificilmente esta mudança de abordagem é interpretada como um amadurecimento. De maneira geral, este amadurecimento musical gera críticas principalmente dos fãs, pois estes sempre esperam que o seu ídolo continuem "falando a mesma língua" deles, através da música. A mudança não ocorre só para o músico, o fã também tem que se adaptar à nova abordagem de seu ídolo para entender a mensagem que ele quer transmitir.

    Existem infindáveis exemplos de bandas que sofreram este processo. Eu vou falar um pouco sobre Rush (é claro...), Metallica, Pink Floyd e Yes.

    Começando com o Metallica, que é um dos casos mais famosos. O Metallica surgiu no começo dos anos 80 como banda de Heavy Metal (ou Speed Metal, como costumam especificar os metaleiros), lançando os furiosos álbuns Kill 'em All (1983), Ride the Lightning (1984) e Master of Pupets (1986), sendo este último considerado uma obra-prima da banda. Depois do lançamento de Master of Pupets, o baixista David Burton morreu num acidente com o ônibus da banda durante a turnê, então Jason Newsted o substiuiu. Já com Jason comandando as cordas graves, a banda lançou o álbum And Justice for All... (1988), que marcou o início do amadurecimento musical da banda. Os arranjos mais melódicos se contrapunham à velocidade do som da banda nos últimos álbuns, mas a qualidade continuou a mesma. A música One foi o grande hit do álbum, tendo até merecido um clip que por muitas vezes passou na MTV. Mas a grande virada na carreira da banda viria com o homônimo Metallica (1991), mais conhecido como Black Album. Músicas como Nothing Else Matters e The Unforgiven mostram uma mudança drástica no som da banda, que passou a adotar um andamento mais cadenciado de modo geral. A partir deste álbum, o som da banda passou a seguir esta linha menos Speed Metal.

    Sobre a história do Yes eu não conheço muito para dar detalhes, mas sei que foi a banda mais bem sucedida do Rock Progressivo. O Yes seguia a linha do Rock Progressivo notória por suas músicas longas e épicas, como Close to the Edge. Depois de a banda ter acabado nos anos 80, em 1983 eles voltaram com o álbum 90125, trazendo o grande hit da banda, Owner of a Lonely Heart. A partir desta época, o Yes passou a explorar mais este lado "pop" - alguns exemplos são as músicas Love Will Find a Way e Walls. Mesmo fazendo músicas mais curtas e com formatos mais convencionais, os arranjos continuaram contando com os sintetizadores complexos e outros instrumentos diversos.

    O Pink Floyd foi o que foi graças às maluquices de Syd Barret nos anos 60 e de Roger Waters nos anos 70. Após a saída de Syd Barret da banda, o Pink Floyd lançou vários clássicos como The Dark Side of the Moon (1973), Wish You Were Here (1975), Animals (1977) e The Wall (1979); todos eles com fortes cargas conceituais (as agústias humanas, o tributo a Syd Barret, as metáforas homem-animal e a autobiografia de Roger Waters; respectivamente) e contando cada vez mais com a exclusividade de Roger Waters nas composições. Após o fracasso de The Final Cut (1983) e das brigas internas, Roger Waters saiu da banda (ou foi expulso, sabe-se lá...) e David Gilmour assumiu boa parte das composições do Pink Floyd em A Momentary Lapse of Reason (1987), o que torna este álbum quase como um trabalho solo do guitarrista. Tanto este álbum quanto o álbum The Division Bell (1994) mostram um Pink Floyd (ou um David Gilmour, tanto faz) mais ameno e menos "cabeçudo" do que o Pink Floyd dos anos 60 e 70. Músicas como On the Turning Away, Learning to Fly, Take it Back e Coming Back to Life mostram um lirismo dificulmente encontrado nos anos cerebrais do Pink Floyd.

    O caso do Rush eu deixei por último devido à sua complexidade. A carreira da banda passou por pelo menos 4 fases distintas, sempre acompanhando os movimentos musicais de sua época. E estas diferentes fases levaram a mais de um processo de amadurecimento por parte da banda. O amadurecimento incial ocorreu por volta de 1976/1977, quando a banda começou a deixar o Hard Rock dos álbuns Fly by Night (1975), Caress of Steel (1975) e 2112 (1976) para começar a desvendar o mundo do Rock Progressivo em A Farewell to Kings (1977). Uma segunda mudança veio com o disco Permanent Waves (1980), trazendo músicas menores e com conceitos mais simples, além da introdução dos sintetizadores. Por fim, um "terceiro amadurecimento" veio no fim dos anos 80, com o álbum Presto (1989) trazendo de volta as guitarras ao lugar que havia sido tomado pelos sintetizadores. Os fãs da banda sempre questionam os integrantes do Rush sobre a possibilidade de um álbum conceitual ou da volta dos sintetizadores, mas esta realidade é cada vez mais distante.

    No fim das contas, o amadurecimento musical se deve bastante pela idade de seus integrantes. As bandas que eu citei como exemplo surgiram quando seus membros tinham menos de 30 anos em média. Depois de passar a barreira dos 30 ou 35 anos, vários conceitos mudam na cabeça de uma pessoa. Toda aquela energia da juventude já foi drenada para as obras feitas na época que eram jovens e com o passar da idade a experiência vai trazendo a verdade: o grande lance da música é despertar sentimentos nas pessoas. E para despertar sentimentos e emoções, muitas vezes músicas simples já são suficientes. Quando um músico consegue sensibilizar as pessoas, - seja com músicas de 23 ou de 3 minutos, seja com arranjos orquestrais ou com voz e violão, seja explorando o modo grego mixolídio ou simplesmente a escala maior de dó - então pode-se dizer que trata-se de um músico maduro.


    Fonte: Álbuns de Cabeceira

    Dissertem...

    erico.ascencao
    Veterano
    # ago/09
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    PS.: Moderador, por favor, mude o título para O processo de amadurecimento musical

    erico.ascencao
    Veterano
    # ago/09
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    Up aí (inclusive pros moderadores mudarem o título como eu pedi).

    nyurig3
    Veterano
    # ago/09
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    erico.ascencao
    eu percebo esse amadurecimento musical ate em mim mesmo, o tempo vai passando, vc vai adquirindo conhecimento e exigencias e perdendo algumas coisas euforicas a principio, mas que se torna cansativo depois.

    porem certos tipos de amadurecimento se torna estranho mesmo, bandas que tocavam de forma unica e que hoje fazem algo mais comercial, isso ja nao acho interessante.

    KAEL METAL
    Veterano
    # ago/09
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    Pra mim esse é um processo natural da vida, não tem que esquentar a cabeça.

    Falando de música, amadurecimento é você se dedicar mais a música do que ao "movimento cultural" que ela possa ter.

    É você encarara a música como ela deve ser: ARTE

    O que as vezes acontece é que muitas bandas mudam "seus estilos" devido a projetos comerciais. No caso do Metallica, é claro que não foi maturidade e sim angariar um público mais pop e assim aumentar sua renda.

    Também não podemos confundir maturidade com diminuição do peso ou velocidade das músicas, alíás não existem regras da maturidade pra definir essas coisas.

    Maturidade é você ter personalidade em suas músicas, prezar pela arte, e não se preocupar 100% com clichês. É fazer o que você realmente quer fazer e fazer bem feito na dose certa, técnica é excelente mas é apenas uma ferramenta de auxílio, ninguém, realmente, escuta música pra ouvir técnica, escuta pra ouvir MÚSICA.

    Maturidade é você ouvir seus instintos, seu coração e a sua razão.
    Dinheiro é necessário e tem que ter projeto mesmo visando lucro mas não pode ser como é em muitos casos hoje em dia:

    O cara visa lucro e cria músicas em cima disso, quando, na minha opinião, o cara deveria fazer a música e depois um projeto pra lucro em cima dela. A arte nunca pode ser desprezada, o cara pode ter dinheiro a vontade mas se ele não faz a música que realmente quer, uma hora esse vazio vai devorar ele, como já vimos muito, o cara tem overdose, fica louco, abandona tudo, cai na bebedeira. Isso não é só por vazio em suas vidas mas acontece muito devido a isso.

    Abraços

    Alan Souza
    Veterano
    # ago/09
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    KAEL METAL

    Pela sua última observação, é algo pra se refletir profundamente... mas, o prejuízo na auto-estima do indivíduo pode ser tão grande assim?

    Se puder cite exemplos, por favor. E saiba que não discordo, apenas me despertou curiosidade sobre esse tipo de ocorrência.

    erico.ascencao
    Veterano
    # ago/09
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    Na minha opinião, a imaturidade dos músicos está em querer demonstrar tudo o que sabe de maneira descontrolada. O cara acaba compondo uma música mais para mostrar que é bom do que propriamente para fazer arte. Isso tem muito a ver com a necessidade de se auto-afirmar ou de querer chamar atenção, coisas típicas de pessoas imaturas.

    No caso do Metallica, não creio que eles "se tornaram mais comerciais" (netre aspas mesmo) só pra atrair mais público. Este tipo de máscara cai muito fácil, e eles estão aí até hoje. O Death Magnetic pode até ter mostrado uma tentativa de retorno às origens, mas de uma maneira mais moderna.

    KAEL METAL
    Veterano
    # ago/09 · Editado por: KAEL METAL
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    Alan Souza
    No caso de abandonar tudo, posso citar eu ! Parei por 10 anos por desilusão e não fazer o que eu realmente queria. Mas Graças a Deus, me encontrei novamente e estou na luta.

    Quanto a bebedeira, drogas, etc, tem muitos exemplos em todos os estilos mas os mais conhecidos posso citar a Britney Spears (acho que é assim que se escreve) tem dinheiro, tem bens materiais mas não tem o mais importante: Conteúdo ! Se embebedou, drogou, cortou o cabelo e ficou careca, etc...caso típico de vazio na alma.

    Casos assim também invadem o mundo do rock, pop, sertanejo, etc, um provável caso é o Hudson da dupla sertaneja mas no caso dele não foi pra "bebedeira" simplesmente decidiu parar o que tava fazendo e ir em busca do que realmente quer fazer, inclusive já fez até um CD solo com participação do Andreas Kisser no estilo metal.

    Os prejuizos na auto-estima do indivíduo é muito maior do que prejuizo financeiro. Sem dinheiro você ainda tem a sua essência para ir a luta, mas sem a sua essência você (nós) não é(somos) nada !


    Abraços

    Alan Souza
    Veterano
    # ago/09
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    KAEL METAL

    Poxa, valeu mesmo cara. Vou te adicionar como amigo aqui, aceita?

    KAEL METAL
    Veterano
    # ago/09 · Editado por: KAEL METAL
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    Alan Souza

    Claro, aceito., com prazer !

    erico.ascencao
    Veterano
    # ago/09
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    KAEL METAL
    O Hudosn Cadorini é um cara que eu acho que vai começar a amadurecer. Ele ainda tem muito daquele espírito jovem no seu estilo - usa trocentas guitarras, abusa demais de técnicas mais avançadas como sweep e harmônicos com alavancadas, etc. O próximo trabalho dele promete (de acordo com o próprio) ser um Rock n' Roll comercial de qualidade. O fato de ser comercial geralmente implica em músicas mais "grudentas", e eu acho que é aí que o cara mostra o seu feeling de compositor.

    KAEL METAL
    Veterano
    # ago/09
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    erico.ascencao

    Espero que as músicas do Hudson também sejam boas, mesmo sendo comercial a música pode ser boa, desde que não seja aqueles clichês, letras (se tiver), que já estão saturadas do tipo:

    Ela me deixou...
    Eu te amo...
    vem minha cachorra...

    Gosto é gosto, mas essas "histórinhas" já encheram

    Um exemplo de feeling e exagero é a For the love of God do Vai, tem um feeling muito bom mas quando vai se aproximando final tem todos aqueles exageros de alvancada e tal. Tem quem gosta e eu respeito mas ali já não é "tão" música e sim demonstração de técnica e "poder", na dose certa até gosto , mas na dose certa.

    Não estou criticando o Vai, quem sou eu pra isso, apenas a minha opinião.

    Lucas Copin
    Veterano
    # ago/09
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    erico.ascencao

    Na minha opinião, a imaturidade dos músicos está em querer demonstrar tudo o que sabe de maneira descontrolada. O cara acaba compondo uma música mais para mostrar que é bom do que propriamente para fazer arte. Isso tem muito a ver com a necessidade de se auto-afirmar ou de querer chamar atenção, coisas típicas de pessoas imaturas.


    Isso que você disse, infelizmente eu me identifico muitas vezes. Quando tô com minha banda fazendo um jamzinho só por diversão, as vezes olho na janela e tem alguém passando, e eu vou e tento fazer "o" solo sinistro só pra impressionar...Depois percebo o merda que eu eu sou por ainda fazer esse tipo de palhaçada...
    Quando você faz alguma coisa guiada pelo ego, por mais elaborada que esteja, só vai atingir ego. Quando você faz guiado pela alma, pode ser simples, mas vai atingir alma.

    Música pelo simples prazer da arte, é um belo conceito.

    MauricioBahia
    Moderador
    # ago/09
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    erico.ascencao
    Pra mudar o título aconselho você entrar na central de ajuda se solicite por lá:
    http://forum.cifraclub.com.br/?action=ajuda
    Abs

    leo gunner
    Veterano
    # ago/09 · Editado por: leo gunner
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    isso é exatamente o que aconteceu comigo.Eu era viciado em Guns N Roses ( Como voces podem ver no meu nick =D) mas o "Guns N Roses " novo axo um lixo. Eles nunca vao ser o que eles eram na época do Appetite for Destruction e dos Use Your Illusion I e II . Essa mudança (pra pior) do Guns comessou com a saida dos integrantes ( Slash , Duff e cia) depois disso o Guns N Roses nunca mais foi o mesmo , e nunca mais vai ser se Axl , Slash , Duff nao voltarem aos palcos juntos. Chinese Democracy é um album lamentavel , completamente fora do estilo do velho e bom Guns N Roses.

    LucaSlash
    Veterano
    # ago/09
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    Guns N Roses nunca mais foi o mesmo , e nunca mais vai ser se Axl , Slash , Duff nao voltarem aos palcos juntos

    Eu nunca tive esperança de que isso acontecesse...

    erico.ascencao
    Veterano
    # ago/09
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    KAEL METAL
    Um exemplo de feeling e exagero é a For the love of God do Vai, tem um feeling muito bom mas quando vai se aproximando final tem todos aqueles exageros de alvancada e tal. Tem quem gosta e eu respeito mas ali já não é "tão" música e sim demonstração de técnica e "poder", na dose certa até gosto , mas na dose certa.

    Essas firulas eu valorizava há um tempo atrás, mas hoje não valorizo tanto assim. Summer Song, do Satriani, parece aquelas BT que qualquer um usa pra estudar improvisação, saca? Hoje em dia, o limite de firulagem pra mim é o EVH.

    Lucas Copin
    Eu também me sinto um pouco imaturo, mas pelo lado de usar trocentas coisas no set. Eu não abro mão da parafernália (por enquanto), mas tento colocar na cabeça que tenho que melhorar pra fazer jus a isso tudo. Pode ser que quando eu tiver uns 10 ou 15 anos de guitarra eu tenda a simplificar o set (como o edalko fez).

    Prof. Grosélio
    Veterano
    # ago/09
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    erico.ascencao
    No fim das contas, o amadurecimento musical se deve bastante pela idade de seus integrantes.


    Isto é diretamente proporcional. É uma lógica.

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