silvG8 Veterano |
# set/15 · Editado por: silvG8
Pela primeira vez, vou fazer um review que será complementado com o tempo. O Nord Electro 4 (NE4), é um instrumento bem básico, mas com inúmeras funções escondidas, que tornam o trabalho de um review completo muito difícil. Comecemos então pelo mais simples e com o tempo adicionar detalhes extras ao review.
Alguns devem estranhar eu ter comprado o instrumento, que é muito diferente do que preguei por um bom tempo aqui no fórum, mas estou num momento em que simplificar as coisas será benéfico pra mim. A ideia era comprar um NE5, pelos splits é tudo mais, mas o preço estava impraticável, chegando a 20 mil reais, incompatível com a realidade.
Vamos dividir então por partes.
Parte 1 - Construção, teclas e visão geral A proposta do instrumento é ofertar sons básicos para o tecladista - pianos acústicos e elétricos, órgãos e clavinete - com boa qualidade em um pacote portátil. Realmente, pesando 9 kg, a versão 73 SW, além de leve, possui medidas que facilitam o transporte.
A carcaça do NE4 possui uma boa qualidade, sendo de metal com laterais em madeira, com visual singular da marca. As entradas e saídas traseiras estão bem encaixadas, botões são bem fixos e fáceis de acionar, knobs firmes, LEDs funcionando perfeitamente é muito bem posicionados - quem montou o instrumento teve um carinho especial. São coisas que parecem simples, mas é nítida a diferença em relação a instrumentos do "eixo KRY".
As teclas waterfall são semi-pesadas e apresentam um visual diferente, sendo levemente arredondada nas bordas e de cor creme. Boas de tocar piano, perfeitas para órgãos, fiquei satisfeito. A versão HP seria uma escolha melhor para pianos, mas o instrumento engorda uns 3 quilos.
Uma falha, que na verdade é característica do instrumento (fornecer sons de instrumentos de teclas), é a omissão de pitch bend, modulation wheel e aftertouch. Embora compreensível, torna o NE4 um controlador limitado. Outro pequeno deslize foi fazer uma entrada de som P2 e não P10... seria legal ouvir outros instrumentos através do NE4, bem como usar seus efeitos.
Parte 2 - Funcionamento básico e biblioteca O instrumento é muito simples. Todas as funções estão facilmente acessíveis pelo toque de botões e acendimento de LEDs que indicam a função/opção escolhida. Um botão "shift" possibilita uma função secundaria aos demais botões. Algumas das configurações são feitas no pequeno display, com auxílio de uma lista no lado direito do painel.
Em geral, precisa de pensar muito pouco. Quero um piano, clico no botão "piano" e escolho a variação que me agrada mais. Se, nesse piano, que que funcione com ressonância entre as cordas, clico o botão dedicado. Isso funciona da mesma forma para praticamente tudo. Vale a pena ressaltar que o NE4 não permite splits e layers entre os diferentes sons, diferentemente do NE5.
Ainda nesse momento, acho que vale a pena comentar sobre a biblioteca disponível no site da Nord ( http://www.nordkeyboards.com ). Essa biblioteca conta com sons de pianos (incluindo acústicos, elétricos e sintetizados), bem como de outros instrumentos (sintetizadores, cordas, Mellotrons, etc.), que poderão ser adicionados à escolha do usuário.
Para organizar os sons da biblioteca dentro do NE4, existe um software específico, fácil de usar é que reconhece sempre que o instrumento é conectado a ocomputador através de USB. A capacidade de memória para pianos e samples, de 380 e 128 MB respectivamente (dobro da geração anterior), que é suficiente para o uso habitual. É possível então, escolher qual som te agrada mais e montar sua própria seleção, podendo inclusive excluir os sons originais de fábrica.
Parte 3 - Sons de fábrica, organização e categorização dos sons Originalmente, o NE4 vem com um número razoável de opções de pianos acústicos, elétricos, cordas, Mellotrons e até mesmo sintetizadores. Ainda assim, são sons que no geral são incompatíveis com o que se espera baseado em toda a especulação que existe sobre o instrumento.
Particularmente nos pianos, existe uma certa decepção, pois quando se foge da abrangência das 61 teclas centrais, existe uma perda na qualidade do som. O motivo é simples: de fábrica, são apenas pianos de tamanho pequeno e médio de amostragem, sem as parrudas versões G e XL, que melhoram consideravelmente em qualidade. Assim, não julgue os Electro pelo que se ouve em testes rápidos.
Os sons são divididos em algumas categorias. As duas grandes são órgãos e piano/sample. Os órgãos são divididos em B3, Vox e Farfisa, editados em uma seção específica à esquerda do painel. Em piano/sample existe uma categorização maior, com grand, upright, ep1 (Rhodes), ep2 (Wurlitzer), clav (Clavinet/cravo) e SMPL (sample, que inclui diversos instrumentos).
Ainda em relação aos sons, estes são organizados em grupos de 4 em 32 "sets". Em uso ao vivo, é possível perceber que a ideia era facilitar as coisas. No set 1, você pode armazenar um piano acústico, outro elétrico e dois órgãos diferentes por exemplo, com um total de 4 sons, que são acessíveis com o toque de botões numerados na parte central do display. O som é salvo como um todo, incluindo configurações "mais profundas".
Parte 4 - Órgãos Inicialmente, pretendo falar mais sobre o B3 do NE4. O Vox e o Farfisa são basicamente o que se vê por aí em vídeos demonstrativos, e sua edição é bem simples, respeitando o funcionamento dos instrumentos originais. É importante notar que o painel já indica que os órgãos são uma parte vital do NE.
O B3 original é completo e conta com todo o básico esperado. O som de base é bom e melhorou em relação aos modelos anteriores. Baseado no modelo C2D, houve uma boa melhora na Leslie, que agora tem um drive muito melhor. Ainda assim, a edição da velocidade da Leslie é limitada... ainda totalmente suficiente para mim.
O som do B3 é equivalente aos melhores disponíveis para computador, mas o que torna o Electro realmente especial é a acessibilidade aos parâmetros, que nenhum controlador MIDI vai fornecer. É a interação entre músico e instrumento, com tudo à mão de forma fácil.
O que achei muito bom em relação ao som foi o click e a percussão, que quando acionada funciona como nos Hammond de verdade. O click é originalmente um pouco mais alto do que o ideal, mas a relação entre este e o acionamento das teclas é perfeito - parece até que o click vem fisicamente do teclado (teclas).
É possível ainda dividir o teclado e usar configurações diferentes entre lower e upper, como esperado. O especial é que funciona exatamente como em um Hammond, com a percussão disponível apenas no upper, que some ao tocar legato e aparentemente possui pequenas alterações que tiram aquele aspecto estático de muitos simuladores.
Resumindo: o som é muito bom,bem como a interatividade, que torna a performance muito superior que com um computador. Não vou dizer que é superior a tudo, mas está mais que suficiente pro que uso.
Parte 5 - Pianos acústicos Como falei acima, os pianos originais de fábrica não são excelentes, graças ao pequeno tamanho das amostras. Eu diria que são compatíveis com a maioria dos ROMplers no mercado, mas ligeiramente mais bonitos em tonalidade. Tudo muda quando se escolhe sons de tamanho maior...
No final das contas, deixei apenas 3 pianos, 2 grand e 1 upright. Gosto de pianos com tonalidade mais suave, e o Grand Lady D, amostragem de Steinway D, é simplesmente perfeito. É melhor do que tudo que já toquei em teclados. A qualidade da amostra é muito boa, o som é bem limpo e suave, com uma boa dinâmica em relação ao toque. Outro que escolhi, mais brilhante, é o novo Silver Grand, provavelmente vindo de um Yamaha C7, muito bom para peças com uma pegada mais jazzística. O upright, ainda em fase de testes é o Mellow Upright, que possui o barulho do martelo atenuado, bem suave e bonito em solo.
Todos os pianos em tamanho G ou XL possui amostragem da ressonância ente as cordas e também release longo, acessíveis facilmente através de um único botão, que aciona as funções.
Um outro detalhe é que a polifonia não é muito alta, de 60 vozes se não me engano. É suficiente para peças populares, mas para eruditos fica um pouco mais complicado, principalmente peças do período romântico e contemporâneo. Debussy no Nord? Nem pensar!
A sessão de piano é belissimamente enriquecida pelo efeito de reverb, que possui um ajuste refinado que casa muito bem com todos os pianos que usei. O reverb Hall é muito bonito.
Parte 6 - Pianos elétricos Não sou um exímio examinador, mas é nítido que são muito bons! Os inclusos de fábrica já são perfeitos e capturam a essência dos reais de forma singular. Rhodes, Wurlitzer e FM estão bem representados, e possuem uma tonalidade que encaixa perfeitamente em banda. Ainda dentro dos elétricos, temos um belíssimo CP80.
Uma coisa que tornaria os sons ainda mais especiais seriam pequenas variações na afinação entre as teclas. Os pianos elétricos originalmente possuem uma afinação menos constante. É como se comparasse um VA com um analógico de verdade... o VA quase chega lá, mas falta alguma coisa. Aqui a conversa é a mesma. Falta um calor que não sabemos exatamente ele está.
Essa seção fica muito bem complementada por efeitos como tremolo, pan e phaser. Com esses efeitos, se aumenta, e muito, a variação de pianos elétricos do NE.
Parte 7 - Outros sons Aqui, fugindo do que eu uso, a Nord fornece diversos sons. Acho que pra concorrer com instrumentos mais comuns, fugiram um pouco da proposta original. Mesmo assim, são amostras muito boas que complementam, quando necessário, o leque sonoro do instrumento.
Vale a pena ressaltar alguns. Os clavinetes, cravos, e principalmente os Mellotrons, são lindíssimos. Além de bem amostrados, são geralmente muito pouco explorados nos instrumentos mis convencionais.
Além destes acima, é possível usar sons complementares como strings e pads, muito úteis para tecladistas em várias situações. Diria que funciona como uma forma de coringa, que caso necessário pode ser usado. A vantagem é que o sistema de compressão das amostras da Nord permite que esses sons ocupem pouco espaço da memória interna. Vale a pena conferir no site!
Ainda não testado, sei que o Nord possui ainda uma forma de criar multisamples no computador e importar esses sons para o NE4. Já vi alguns resultados legais na internet. Pode ser uma ferramenta interessante para conseguir sons complementares ou até mesmo criar splits de instrumentos diferentes.
Parte 8 - Efeitos e EQ Completando o pacote, o Nord conta com uma interessante seção de efeitos, sempre complementares aos outros sons e que não podem ser usadas com fontes externas de áudio, como já dito anteriormente.
Todos simples de usar, este limitados em edição, estão perfeitamente assentados para serem usados com os sons internos e com apenas um único knob oferecem variações suficientes para o som vital do instrumento.
Além de efeitos mais convencionais, temos ainda outros como wah-wah manual, que pode ser utilizado com uso do pedal de expressão. Ainda assim, é possível perceber que tudo foi pensado de forma a complementar os sons, mantendo o nível de qualidade compatível com o que se espera de um Nord.
Ainda assim, vale a pena lembrar que nenhum dos efeitos tem a qualidade de algo dedicado como um pedal. O reverb do Nord é lindo é fácil de editar para alcançar o resultado esperado com um piano por exemplo, mas nunca terá uma qualidade sonora superior a algo como um EHX Cathedral, pedal de reverb dedicado.
A inclusão de um EQ é a cereja do bolo. Pude perceber isso claramente quando tentei tocar com uma música simultaneamente. Você consegue equalizar certinho as frequencias ideias para que o som sobressaia dentro de um contexto musical mais completo, como uma banda ou gravação. Além disso, é possível mudar de forma dramática a sonoridade de um piano por exemplo. Tudo isso, sem resultados aberrantes.
Parte 9 - Conexões Além das tradicionais saídas de áudio, o NE4 possui entrada P2 para uso com iPod ou similar, permitindo praticar uma música. Entrada e saída MIDI funcionam como esperado, tornando o instrumento um controlador suficientemente bom para ser usado com módulos por exemplo (lembrando das omissões descritas lá no começo do review).
Entrada para pedal de expressão, sustain e switch para Leslie estão também presentes, compatíveis com diversos modelos no mercado, como os da Roland. Um grande ganho foi a entrada USB, que facilita a conexão com o computador.
Parte 10 - Considerações finais Como disse desde a outra vez que fiz uma rápida avaliação do Electro 3, o Nord Electro 4 SW é um excelente instrumento quando o assunto são teclas tradicionais. Não diria que ele é o melhor de todos individualmente, mas quando se considera o conjunto, nenhum outro faz o que ele faz. O órgão não é tão bom como no SK-1, o piano não é tão bom como no V-Piano, mas nenhum outro foi capaz de oferecer o que ele oferece como um todo.
Outra boa lembrança, em termos comparativos, é que algo como o Kronos, que possui multisample em um enorme SSD, pode ser muito pouco prático, já que precisa de muitos menus, operações e além de tudo é um trambolho para carregar pra cima e pra baixo. Acho que é para um público que visa portabilidade que a Korg se dá bem. Nisso o Electro é campeão!
A princípio, estou satisfeito. Estava precisando do que o instrumento oferece em uma embalagem portátil e com poucas conexões. Usar o Prophet 08 como controlador, além de ser um sacrilégio, era muito pouco prático. Diria que hoje, finalmente, tenho um setup completo e que não merece grande alterações. Moog Little Phatty, DSI Prophet 08, MI Ambika, MI Anushri, e agora o Nord Electro 4, complementando o que tinha com belíssimos órgãos e pianos.
Das falhas e omissões, não vejo muito além do que comentei. Todo o restante parece compensar muito. Além de poder escolher quais sons quero dentro do meu instrumento, tenho acesso a uma biblioteca sempre em expansão, com múltiplas opções, tornando mais árdua a tarefa de cansar do instrumento.
Espero que tenham gostado das impressões iniciais. Comprei o instrumento esse sábado e essa foi a impressão até o momento. Tenho certeza que tenho muito o que ver ainda, pois sei que tenho 4 diferentes tonalidades para o B3 que sequer pude testar. Em breve adiciono pequenos adendos a este review.
Pontos positivos: - Portabilidade, boa qualidade de som e acabamento. - Biblioteca ampla e em expansão, livre organização de sons. - Fácil acesso aos sons e efeitos.
Pontos negativos: - Falta pitch bend, modulation wheel e aftertouch. - Impossibilidade de criar splits e layers. - Ausência de entrada P10 externa e rotear através dos efeitos.
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silvG8 Veterano |
# set/15 · Editado por: silvG8
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Adendo - Nord Sample Editor Eu honestamente não tinha atentado para as possibilidades de uso do NE4 como samples, o que foi um erro grotesco. A Nord desenvolveu a mais fantástica ferramenta para samples que já usei. Logicamente, não funciona como no V-Synth, onde é possível manipular o som profundamente. Aqui é tudo simples.
A começar pela memória interna, pode-se dizer que o NE4 é relativamente limitado, tendo apenas 128MB para samples. Parece pouco, mas do que brinquei até agora, adianto que é possível fazer multisamples decentes com tamanho de arquivos que variam de 700KB a 10MB, dependendo do tipo de som. Sons curtos ficam bem comprimidos, enquanto pads longos ficam maiores. Tudo isso fazendo 5 oitavas em terças menores (as amostras no caso)... se for pra fazer 61-88 notas, deve aumentar consideravelmente no caso de sons longos como strings e pads.
O interessante da ferramenta é o quão prática ela é. Se gravar um arquivo único com as notas sendo tocadas gradualmente de grave para agudo, com a seleção da nota inicial é um ponto de corte em dB, se obtém rapidamente as amostras correspondentes às notas. Inicialmente não acreditei como era simples. É possível fazer o caminho mais complexo, assinalando um arquivo para cada nota, mas não vale a pena.
Além do procedimento acima, o grande vilão da edição de samples é muito bem contornado: criar loops. O programa possui um método especial de criar os pontos certos para o loop. Na maioria das vezes ele acerta de cara, mas se precisar ajustar você mesmo, é bem simples. Diferente do habitual, onde se tem um ponto fixo de início e fim do loop, a Nord criou uma área de crossover, que anula os pequenos estalados comumente encontrados durante o processo em outros instrumentos. É difícil explicar somente... só vendo pra entender. Resumidamente, é como se existisse uma área ideal para o loop, como tradicionalmente, mas ao redor dela, uma área menos definida, onde há uma junção mais suave do som. Essa forma de dividir, é o long loop. Existe um short loop, onde o programa congela a amostra como se fosse uma wavetable, cujo resultado é um pouco mais artificial.
Depois de feito o loop é tudo mais, é possível ainda selecionar se o multisample é sensível a velocity, se tem um envelope (decay e release) e algumas outras poucas coisas básicas. Depois de feito, basta salvar o projeto e gerar um arquivo para enviar pro NE4, que, caso conectado, já receberá o som automaticamente.
O mais mágico de tudo é que funciona bem. Demorei mais pra gravar as amostras do que pra editar, o que é inédito pra mim. Em cerca de 20 minutos editando as amostras, consegui 10 novos sons, todos vindos do Ambika. Acabei usando o Ambika por ser mais prático, já que fiz isso na casa da namorada.
O NE4 ganhou uma funcionalidade que não imaginava pra ele... vai ser meu método oficial para tocar meus Moog de forma polifônica. Prometo vídeos!
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