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pianoid Veterano |
# ago/15
Adler3x3 em outro tópico sugeriu este. Alguém em ainda outro tópico sugeriu que ouvir música (qualquer uma) é acessível para qualquer um, pois música não carece de análise, atenção aos detalhes nem nada para ser sentida: você sabe que a música, por mais simplista ou ignóbil que seja, te atingiu em cheio se os pêlos do cu arrepiaram. Fascinante.
Eu vejo da seguinte forma: farinha e água alimentam tanto quanto o mais refinado prato francês - enchem o bucho, pra continuar na linha vulgar. E lá dentro tudo será quebrado em proteínas e glicose, de qualquer maneira. Então, não há diferença entre apreciar uma farofa de ovo no boteco e um prato sofisticado num restaurante francês?
E aí, concordam que uma pessoa deve se preparar, se educar para apreciar música clássica? Ou simplesmente é possível ir casualmente lá no concerto, empanturrar o bucho com todas aquelas notas, acordes e instrumentos sinfônicos sem nem ao menos parar para saborear antes de chupar os dedos e palitar os dentes para enfim arrotar aplausos e correr para o banheiro?
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entamoeba Membro Novato |
# ago/15
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pianoid Quantos pais se irritam com filhos que não sabem apreciar uma boa comida e se empanturram de porcarias? Noto, ao longo dos anos, que meu paladar evoluiu. Quis me desafiar, experimentar outras coisas, sair da mesmice e não me arrependi. Sinto ter subido de patamar, sinto ter me tornado mais exigente. Ainda gosto de um fast food, mas algumas tranqueiras que as crianças se acabam me dão náuseas.
Acho que isso tem a ver com nosso impulso por conhecimento. É um jeito de explorar o mundo, de vivenciar experiências mais elaboradas. Com a música não é diferente! Primeiro só reconhecemos as nuances mais simples e depois vamos nos tornando exigentes e atentos às sutilezas.
Não consigo imaginar alguém que vá se preparar para ouvir música erudita sem tê-la ouvido antes. Partimos de uma audição superficial e, com o tempo, vamos desenvolvendo a necessidade de mergulhar de cabeça no contexto que nos revelará a sua real dimensão.
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BrotherCrow Membro Novato |
# ago/15
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pianoid Primeira coisa que me veio à cabeça ao ver esse tópico: https://wagnerebeethoven.wordpress.com/2013/03/02/direito-de-resposta- 4-2/ Ok, claro que é brincadeira. Falando sério agora, acho que qualquer obra de arte mais elevada pode ser apreciada em níveis diferentes. Dá pra chegar lá, abrir os ouvidos e simplesmente achar bonito; ou dá pra criar um ambiente que favorece a absorção da obra, somando isso a um conhecimento prévio que permite entender melhor o que está acontecendo ali.
Se a arte parte de um determinado senso estético, é de se esperar que possa ser apreciada sem um preparo anterior (mesmo que não seja uma unanimidade). Alguém pode ouvir, sem preparo e sem clima, e achar bonito mesmo assim, porque essa é a princípio uma das funções da arte: ser esteticamente agradável. Mas claro que o entendimento melhora a percepção; a compreensão revela novos níveis na obra, e aí simplesmente há mais coisa pra se apreciar.
Um exemplo de fora da música: você pode ler o Ulysses do James Joyce como se fosse um romance normal, descrevendo um dia em Dublin. Só por aí já dá pra enxergar muita beleza. Ou você pode entender a relação do Ulysses do Joyce com dezenas de outras obras que influenciaram o autor, principalmente a Odisseia do Homero (sem falar no fundo histórico, com toda a questão irlandesa). Provavelmente aí você vai curtir muito mais.
Certas obras de arte são mais herméticas, às vezes até por escolha do artista. Nessas, a beleza pode ser menos evidente e "degustar" essas obras exige mais preparo. Sei lá. Estou falando de arte em geral, até porque não entendo muito de música clássica.
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pianoid Veterano |
# ago/15
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BrotherCrow esse blog é bom, já conhecia kkkk
essa é a princípio uma das funções da arte: ser esteticamente agradável
deveria ser, exceto para rebeldes modernistas desconstrutores rs
ainda não cheguei a me aprofundar em Joyce, mas li Ao Farol, de Virginia Woolf, uma escrita labirintítica, ambígua e vacilante, mas extremamente recompensadora, apesar da história em si banal. A mídia e substância da própria escrita é elevada ao status de arte, como em boa poesia, não necessariamente o objeto que ela retrata...
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Ismah Veterano |
# ago/15
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Penso que com o tempo, o paladar se refina. Passamos a sentir os detalhes...
É nessas horas que percebe-se a diferença entre uma Leffe e uma Antártica, além do preço.
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Adler3x3 Veterano |
# ago/15 · Editado por: Adler3x3
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No geral este tópico trata das formas de audição da música clássica, entretanto isto pode ser aplicado a música em geral, não importa o Gênero e o Estilo.
E agradeço ao Pianoid por abrir o tópico
Audições:
No nosso dia a dia ouvimos música, seja como pano de fundo, em festas e comemorações, por simples diversão etc...
Mas quem realmente se prepara para ouvir uma música em sua plenitude?
Não estou me referindo a audição normal, mas sim aquele tipo de audição em que buscamos algo mais. Exemplos: - Ouvir uma opera completa sem interrupções tendo em mãos os encartes da obra (review, textos e imagens e partituras); - Ouvir uma música junto com a partitura, não importa o estilo; Para perceber e entender como foi concebida. - Ouvir uma música para tirar de ouvido; - Análise da estrutura da música e mais... - Ouvir uma música de referência para tentar melhorar a nossa música, observando até o formato da ondas sonoras; - Ouvir nos formatos de áudio, em cd e dvd; - a facilidade de acesso nos dias de hoje pode banalizar a audição? - biografia dos compositores e músicos, histórias e estorias, fatos pitorescos etc... - a pobreza de informações nas mídias atuais, muito embora o alto desenvolvimento tecnológico, que poderia ter muito mais informações sincronizadas; - Quando e como ouvir rádios; - Como saber ouvir para fazer uma boa mixagem e masterização? - Quando ouvir em caixas de som ou em fones de ouvido? - Como saber selecionar o que ouvir? - Como aprender a apreciar determinado estilo musical? - Como estudar música ouvindo música? - E assim por diante.
Um exemplo mais complicado e sofisticado é ouvir uma música num editor de partituras, com base em bons instrumentos virtuais, e aqui se percebe muitas nuances, ou numa DAW (ou ligada por rewire ao editor de partituras) e aqui se percebe uma outra beleza, no que eu chamo de ouvir por dentro (não sei se este termo é apropriado).
Então pessoal, vamos discutir isto mais a fundo, é um campo bem amplo, como fazer para ouvir melhor? desde a utilização de aparelhos, preparo, concentração e mais... Vamos trocar experiências e aprender mais.
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Adler3x3 Veterano |
# ago/15 · Editado por: Adler3x3
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Um outro ponto importante para uma boa audição.
As vezes ouvir uma música em DVD num bom aparelho de som é mais gratificante do que ouvir no cd. Pois o sample rate do DVD é de qualidade superior é de 24 bits e de 48 Khz, enquanto no cd é de 16 bits e 44,1 Khz. Se a música foi originalmente gravada na qualidade de DVD fica bem melhor de ouvir e se percebe mais detalhes.
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pianoid Veterano |
# ago/15
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tem um problema com DVD: as imagens. Eu poderia, é claro, desligar a TV pra não atrapalhar, mas pra isso teria que conectar o som direto a um aparelho reprodutor, etc
nada é tão prático quanto um CD, infelizmente raramente encontro hoje um CD player. Meu PS4 não roda CDs! Meu laptop nem tem disco! A grande preocupação na época era se a mídia duraria, nem passou pela cabeça que ela duraria mais que seus reprodutores kkkk devíamos ter aprendido a lição já com um século de obsolescência programada de vitrolas e formatos...
bem, enfim, tenho ouvido com um chromecast conectado à TV. Tô assinando o Google Play Music e tem um acervo bem imenso com busca. É só escolher no celular que toca na TV via wifi... a TV conectada a um modesto subwoofer e caixinhas de PC, gera um volume com qualidade bem razoável. Não sou audiófilo, sou musicófilo, então boa parte do tempo tá ok pra mim ouvir com earbuds direto do celular...
na adolescência cheguei a ir com meu pai a uns concertos da sinfônica brasileira no municipal do RJ. Nada se compara realmente à música ao vivo, tô esperando a oportunidade pra levar minha filha...
quanto a se preparar, ela não acordou pra música ainda, apesar de já ter 12 anos. Não sei se os genes da mãe vão permitir, mas tenho feito minha parte e geralmente acordo ou estudo com ela ao som de Mozart ou Bach...
se preparar é aprender a ouvir as diferentes partes em separado que soam juntas numa obra musical... enquanto não aprender, vai ser só uma massaroca indistinta, um "uníssono emocional", digamos assim. Que é como leigos ouvem...
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makumbator Moderador
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# ago/15 · Editado por: makumbator
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pianoid
infelizmente raramente encontro hoje um CD player.
O meu CD player atual comprei usado. É bem barato em lojas que consertam eletrônicos. Tem modelos bons de alguns anos atrás que ninguém quer. Esse meu (um Philips de 5 discos) está comigo há uns 6 anos. E antes disso o primeiro dono o comprou em 2005 ou 2006 (não lembro direito).
tem um problema com DVD: as imagens. Eu poderia, é claro, desligar a TV pra não atrapalhar, mas pra isso teria que conectar o som direto a um aparelho reprodutor, etc
Compartilho da mesma opinião. Tenho poucos DVDs de música por conta disso. Acho uma distração ter as imagens...hahaha! Claro que é legal ver a execução (principalmente se não for um mero over com o som, e sim a execução real), mas pra mim também atrapalha.
na adolescência cheguei a ir com meu pai a uns concertos da sinfônica brasileira no municipal do RJ. Nada se compara realmente à música ao vivo, tô esperando a oportunidade pra levar minha filha...
Você mora em Taguatinga não é? Até pouco tempo atrás tinha sempre concerto grátis semanal da orquestra do teatro nacional de Brasília, e as vezes com repertório meio que introdutório para pessoas não muito acostumadas com música erudita (temas de filmes, de muscais, etc...). Meio longe pra ir sempre, mas vale a pena pra mostrar para uma criança. A violinista que tocava comigo em casamentos (e se mudou pra Brasília há cerca de um ano) vai sempre, e eu também já fui.
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Adler3x3 Veterano |
# ago/15 · Editado por: Adler3x3
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Eu também uso pouco o DVD. Mas as vezes escuto nele, mesmo com o fone de ouvido. O som fica bem melhor. Mas não é uma audição normal, aquela que fazemos diariamente. Uso mais para assistir alguns filmes, e algumas poucas operas que tenho em DVD.
E no vinil os antigos lps, mas isto esta cada vez mais raro.
Realmente ficou obsoleto, blueray ainda não experimentei Bem que o Neil Young confessou que quase não estava mais escutando música devido as limitações dos players atuais, e desenvolveu e lançou um novo player a meses atrás. Atualmente para o meu gosto pessoal a melhor forma de ouvir é numa DAW.
http://jovempanfm.bol.uol.com.br/fique-por-dentro/neil-young-lanca-nov o-aparelho-de-musica-na-semana-que-vem.html
Mas não é saudade não, ouvir num bom sistema de som esta ficando raro. Os aparelhos de som atuais são horríveis e muito caros.
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pianoid Veterano |
# ago/15
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makumbator Até pouco tempo atrás tinha sempre concerto grátis semanal da orquestra do teatro nacional de Brasília
pois é, eu trabalho no plano, mas meu horário não bate, geralmente terças às 8:30 ainda tô trabalhando rs
além disso, é muito raro ver divulgação dessa programação. No correio braziliense, nada, nas suas revistas culturais, nada. só tem MC mirim e outras vagabundices
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Lelo Mig Membro
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# ago/15 · Editado por: Lelo Mig
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pianoid
Ouço música desde antes de andar ou falar.
Incluindo música erudita.
Meu falecido pai, manuseava um disco de vinil, com paciência, colocava-o na vitrola, sentava em uma poltrona em frente e a certa distância das caixas, acendia um cigarro, relaxava... e ouvia!
Ouvia como quem "assiste a um filme" ou "lê um livro"........ouvir, assistir, ler.... verbos diferentes mas de ação semelhantes.
Eu, no tapete da sala, brincando com um carrinho ou soldadinhos, em silêncio, porque sabia que era o momento para tal, ouvia... Beethoven, Bach, Rachmaninoff, Liszt, Mozart, Haendel, Stravinsky, Schubert, Debussy... e tudo e todos do barroco ao moderno.
Fui assim educado... certo ou errado, adquiri o hábito.
Raramente música é trilha sonora de fundo para eu fazer "alguma coisa"... na maioria das vezes, quando quero ouvir... paro, sento, relaxo e ouço.
E concordo com a comparação de qualidade musical e sabores... De boa, quem acha que um Big Mac é a mesma coisa que uma truta ao molho de Amêndoas, ou já perdeu o paladar ou nunca teve.
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pianoid Veterano |
# ago/15
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Lelo Mig Ouvia como quem "assiste a um filme" ou "lê um livro"........ouvir, assistir, ler.... verbos diferentes mas de ação semelhantes.
exato
mas pra maioria das pessoas é só pano de fundo mesmo, justamente porque falta um mínimo de educação musical nem para compreender, mas para notar que há algo ali além de letras, dançarinos, jogo de luzes e cachimbos da paz
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Ismah Veterano |
# ago/15
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pianoid tem um problema com DVD: as imagens. Eu poderia, é claro, desligar a TV pra não atrapalhar, mas pra isso teria que conectar o som direto a um aparelho reprodutor, etc
Ou desconectar os cabos, mas ... PUTZ ouvir um disco de alta fidelidade, em som de TV... Cara, pra fazer um rito desses, esperava no mínimo um receiver ¬¬'
Meu PS4 não roda CDs! Meu laptop nem tem disco!
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-678463092-gravador-e-leitor-de- dvdcd-externo-branco-lg-ultra-portatil-_JM
justamente porque falta um mínimo de educação musical nem para compreender, mas para notar que há algo ali além de letras, dançarinos, jogo de luzes e cachimbos da paz
Na prática eu parto do princípio de fumar, e enlouquecer ao som de Fleetwood Mac, por exemplo, no meu receiver 4.1 e tudo más. Faz bem.
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nichendrix Veterano
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# set/15
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pianoid
Eu ainda não li o tópico, só devo ter tempo em casa ou no fim de semana.
Mas se preparar pra ouvir música clássica é bobagem, não é necessário, conexões emocionais não se formam por nenhum processo racional.
Dito isso, também acho que pode-se ter prazeres a mais além de ouvir e se emocionar. O conhecimento e o entendimento do que está rolando podem legar a outros tipos diferentes de prazer, além do simples ouvir.
Eu vejo isso até mesmo na apreciação do instrumento, antes eu não via muita diferença entre um instrumento xing ling e o de um luthier ultra top renomado que custa o preço duma casa ou de um carro de luxo. Mas depois de quase 30 anos tocando, e conhecendo esses instrumentos e conhecendo as pessoas que os fazem e aprendendo com ela sobre isso, hoje tiro muito mais prazer quando tenho oportunidade de tocar em algo desses luthiers, existe uma vasta gama de novas e excitantes descobertas.
O mesmo acontece no ouvir, você ouve Jesus Alegria dos Homens, as 4 Estações ou a 9ª Sinfonia e se emociona, é algo acessível, mas se você começa a conhecer mais sobre os compositores, sua vida, sua obra, o período histórico, sobre o lado técnico, de como esses compositores acrescentaram algo novo ao mundo em que viviam e ao seu ofício, como eles se diferenciavam. Você começa a ter esses prazeres a mais.
Só que no fim esse conhecimento é inócuo sem o primeiro passou, que é ouvir e apreciar e gostar.
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makumbator Moderador
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# set/15 · Editado por: makumbator
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nichendrix Mas se preparar pra ouvir música clássica é bobagem, não é necessário
Também não considero isso essencial. Mas pra quem gosta de ter um ritual pra ouvir música pode ser algo importante.
Eu, assim como o Lelo, não costumo colocar música como pano de fundo para outras atividades (como é muito comum hoje), mas não vejo problema em quem faz isso.
É preciso ter em mente que essa sacralidade excessiva da música erudita é algo pós sec XIX, e contrário à tradição anterior dela mesma.
Antes do culto ao maestro (que foi um dos fatores a levar essa sacralidade não apenas para as salas de concerto, mas também até sala de estar de quem escuta música) as pessoas também usavam a música erudita como pano de fundo. Todo esse ritual de nunca aplaudir entre movimentos de uma peça musical, fazer silêncio absoluto, prestar atenção religiosa, estar vestido de determinada maneira, e etc é fruto desse fenômeno para mim nefasto.
E não apenas leigos faziam esse uso "social" da música. Mozart por exemplo volta e meia organizava reuniões com amigos em que havia música de fundo (ao vivo, obviamente). Talvez uma herança de sua infância, em que ele praticamente exigia que nas suas brincadeiras houvesse música tocando ao fundo. Nessas reuniões a ideia não era prestar atenção na música, e sim tê-la como acompanhamento para as conversas, flertes, comida e bebida. Obviamente isso era muito comum entre músicos e não músicos.
A música tinha a importância social até maior do que tem hoje, e já comentei aqui que a prática e o ambiente em concertos até meados do sec XIX era mais próximo a um estádio de futebol que de uma igreja fria como hoje. As pessoas vaiavam, aplaudiam, conversavam, entravam e saiam a todo instante, namoravam, jogavam cartas, comiam, vendiam terrenos...hahah! Faziam de tudo nos concertos (inclusive escutar a música).
Ironicamente, esse uso de música como fundo para outras atividades retornou hoje. Espero que a etiqueta de comportamento dos concertos também seja aos poucos flexibilizada, e se não voltarmos ao clima de estádio de futebol, pelo menos fiquemos em um meio termo, longe de um comportamento frio e elitizado.
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Mauricio Luiz Bertola Veterano
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# set/15
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Ouvir, apreciar e gostar... Infelizmente vivemos em um tempo no qual tais coisas foram substituídas pelo consumo fácil, imediato e alienante, pois esses são os objetivos do capitalismo: reduzir tudo à mercadoria e consumo. Não creio que seja possível ou factível "preparar-se" para ouvir música erudita como algo forçado, imediatista ou "ritualístico", mas sim que isso seja parte da formação, da educação (em todos os níveis) do indivíduo, sem "forçações de barra" como observou o makumbator. Abçs
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pianoid Veterano |
# set/15 · Editado por: pianoid
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nichendrix você ouve Jesus Alegria dos Homens, as 4 Estações ou a 9ª Sinfonia e se emociona, é algo acessível, mas se você começa a conhecer mais sobre os compositores, sua vida, sua obra, o período histórico, sobre o lado técnico, de como esses compositores acrescentaram algo novo ao mundo em que viviam e ao seu ofício, como eles se diferenciavam. Você começa a ter esses prazeres a mais.
não, não estava falando sobre biografia, período histórico, influência, quantidade de Grammys ganhos nem outras bobagens que não a linguagem musical
e, ao menos de minha parte, por se preparar para ouvir música, não quero dizer preparar uma seleção pra tocar enquanto aprecio um uísque. Por preparação entendo se educar. Não é possível a um analfabeto apreciar Tolstói e igualmente não é possível a um funkeiro apreciar Bach, tirando aquelas já batidas melodias, uma de várias simultâneas que passam batidas. É preciso se educar para perceber as frases, os temas e a intenção do autor. E isso não é possível para um analfabeto funcional que só saber ler placa de ônibus e nome da farofa no mercado.
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nichendrix Veterano
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# set/15
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makumbator Acho que o que ferra também é essa visão de que musica erudita é inerentemente superior. Afasta muita gente esse lado ritualístico e intelectualóide. Quando são coisas bem simples de ouvir, na boa, acho que na música erudita só começa a se necessitar de um "entendimento" para se ouvir quando chega em movimentos modernos e pós-modernos, do serialismo em diante, onde a estética da música está muito mais ligada a uma intenção ou um objetivo do autor do que numa tentativa de soar agradável e onde se você não entende o contexto que gerou aquela música, muitas vezes pode torná-la sem sentido.
Eu não nego que pra mim música é algo tão presente que ela serve tanto como pano de fundo como como ritual, em um mundo cheio de ruído, pra mim a música é uma forma de conter meus pensamentos e filtrar distrações. Só que também é uma forma de arte que apela pra mim de outras formas e por isso tem que ser saboreada com calma e atenção, como uma boa comida ou uma boa bebida.
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pianoid Veterano |
# set/15
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makumbator Espero que a etiqueta de comportamento dos concertos também seja aos poucos flexibilizada, e se não voltarmos ao clima de estádio de futebol, pelo menos fiquemos em um meio termo, longe de um comportamento frio e elitizado.
com isso concordo. Não faz sentido aqueles camaradas todos da orquestra de terninho. Até entre executivos um traje pseudo-informal como o do Steve Jobs pegou. Desde que o público não comece a fazer mais barulho que a música...
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nichendrix Veterano
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# set/15 · Editado por: nichendrix
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pianoid Não é possível a um analfabeto apreciar Tolstói e igualmente não é possível a um funkeiro apreciar Bach, tirando aquelas já batidas melodias, uma de várias simultâneas que passam batidas [...] É preciso se educar para perceber as frases, os temas e a intenção do autor. E isso não é possível para um analfabeto funcional que só saber ler placa de ônibus e nome da farofa no mercado.
Eu concordo e discordo disso. Como falei conhecer mais sobre a música traz outros prazeres que não o apenas ouvir uma composição "bonita". Só que eu discordo radicalmente dessa idéia de que não é possível pra um funkeiro apreciar Bach e falo porque tenho experiências concretas do contrário.
Eu tenho uma grande amiga, que hoje é professora de violino e toca em 2 orquestras (sinfônica e de câmara), mas que pouco mais de 10 anos atrás, no meio da adolescência só conhecia as músicas da comunidade que ela morava, que era funk, pagode, sertanejo e axé. Era disso que ela gostava. Um dia ela ganhou através da escola um ingresso para ver a Orquestra Filarmônica de Minas Genais e que coincidentemente tocaram Bach e Beethoven, e aquilo mexeu com ela de um modo que ela foi atrás dum projeto social para aprender a tocar violino.
De lá pra cá ela se formou em música e letras, é professora de violino e de literatura e os temas das pesquisas dela na graduação eram justamente as influências de Bach na música contemporânea e em letras a relação entre literatura e música, hoje ela faz mestrado em educação o tema da dissertação dela é justamente no uso do ensino de música erudita como instrumento de mudança social.
Pode-se dizer que a música mudou completamente a vida dela, ela mesma admite isso, que se não fosse a música ela jamais teria aprendido a disciplina necessária que permitiram ela passar em universidade pública, mesmo vindo de escolas pública. Sem a música ela jamais teria pensado ser possível mudar tanto a realidade dela e ela sempre diz que se ela não tivesse ido aquele concerto, ela provavelmente teria engravidado na adolescência e estaria trabalhando por um salário mínimo em algum emprego de baixo valor agregado.
Com certeza ela é a exceção porque provavelmente a maioria teria parado para achar a música bonitinha, mas se fosse impossível a pessoa que só ouve Funk apreciar Bach, pessoas como ela não existiriam.
Ela não é a única pessoa em situação similar que eu conheço, pelo contrário a OSESP tem um programa social só pra ajudar na formação de pessoas em situação similar e eu conheço pelo menos mais meia dúzias de orquestras no Brasil que tem um projeto social parecido, inclusive mandando esses adolescentes para estudar fora do Brasil, como é o caso do projeto social da Orquestra Sinfônica de Teresina, onde todos os anos manda alguns dos alunos para estudar música na Itália, na Holanda ou na França.
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pianoid Veterano |
# set/15
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nichendrix o que ferra também é essa visão de que musica erudita é inerentemente superior. Afasta muita gente esse lado ritualístico e intelectualóide.
mas é
se intelectualóide significa o cara que se educou e sabe porque é, só lamento
é só reflexo de quanto a música regrediu ao longo de todo o último século: não só a audiência mas também os músicos se analfabetizaram
podem me crucificar
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pianoid Veterano |
# set/15
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nichendrix uma grande amiga, que hoje é professora de violino
resumindo: ela se educou
parabéns a ela
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nichendrix Veterano
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# set/15
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pianoid resumindo: ela se educou
Só que o desejo por se educar, surgiu porque ela foi capaz de apreciar a música antes mesmo de sequer imaginar o que aquilo realmente significava.
Quando ela entrou na primeira orquestra e foi fazer o primeiro concerto eu viajei uns 2000km, porque para ela, era o dia mais especial da vida dela, era a realização de algo muito importante poder vestir a melhor roupa que tinha, pegar o instrumento e sentar junto com a orquestra, com todos em silêncio para apreciar a música que a orquestra tocava.
Ela hoje vê como missão instigar essa apreciação em pessoas como ela, que vem de um contexto de vulnerabilidade social, que nem tem a educação e nem os meios de ter contato com esse tipo de música, mas que ela sabe por experiência própria que pode ser transformadora.
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Ismah Veterano |
# set/15
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pianoid mas é
se intelectualóide significa o cara que se educou e sabe porque é, só lamento
é só reflexo de quanto a música regrediu ao longo de todo o último século: não só a audiência mas também os músicos se analfabetizaram
podem me crucificar
Se por entende por superior, complexo, vamos ter de concordar.
Mas voltaria sua pergunta para o popular - e pouco retratado - através dos tempos. A música profana do tempo de Bach é bem pouco mencionada, imagine a profana popular, tocada com um alaúde!
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pianoid Veterano |
# set/15
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Ismah Bach é um deus da música e criou bastante música litúrgica, mas também profana em bastante quantidade: ele era diretor musical de um estabelecimento que era basicamente um Café e lá apresentava seus concertos. O alaúde é o nome que damos ao estrangeiro lute? Bach não tinha proficiência nesse ancestral do violão, mas tinha em casa um cravo feito sob medida com cordas de lute que ele gostava muito. e alguns de seus prelúdios parecem ter sido feitos para ele.
Música popular, ou melhor, do povo, da época não era digno de registro, ao que parece, ou os funkeiros analfabetos da época não tinham capacidade pra registrar, que bom (pra nosso azar, registro hoje é com um botão). Assim, sumiu, ou somente subsistiu em melodias folclóricas ou como base de trabalhos dos compositores da época. A própria palavra compositor lembra algo mais relacionado à composição gráfica da partitura do que à performance e não tenho dúvida de que em algum momento inicial lá no fim da idade média, o compositor realmente era um personagem à parte do criador e do músico durante a performance. Resumindo: registrar é sempre importante e o compositor foi ganhando mais e mais prestígio até enfim se reencontrar na figura do criador.
mas sobre o que falávamos mesmo?
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entamoeba Membro Novato |
# set/15 · Editado por: entamoeba
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nichendrix conexões emocionais não se formam por nenhum processo racional.
Emoção, razão...
Processos racionais nunca são puramente racionais. A validação da razão é um processo estético! Ademais, a razão operacionaliza a maneira com a qual sentimos. Não dá pra separar essas duas aí!
pianoid é só reflexo de quanto a música regrediu ao longo de todo o último século
A música descobriu outras nuances que a música clássica não dava conta. Nossos timbres hoje não se resumem aos arranjos de pencas de instrumentos que soam iguais. Hoje conseguimos produzir tudo quanto é timbre e explorar a relação entre eles com muito mais liberdade. A regrinha da música erudita se tornou muito pequena diante das possibilidades que temos hoje!
Não há grafia que descreva isso! Isso não cabe num pentagrama ou em doze notas. Nos tornamos analfabetos sim, mas foi porque nos tornamos capazes de produzir sons que não podem ser escritos! De que serve uma escrita que não diz o que queremos dizer?
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pianoid Veterano |
# set/15
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bem, ainda prefiro tensões tonais com uma só cor instrumental que ouvir um timbre eletrônico se fundindo com outros e se fundendo
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Ismah Veterano |
# set/15
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pianoid Música popular, ou melhor, do povo, da época não era digno de registro, ao que parece, ou os funkeiros analfabetos da época não tinham capacidade pra registrar
Partindo desse presuposto, tanto eu como você somos indignos de ouvir música, já que era destinado só aos nobres (nível Chiquinho Escarpa).
É ilusão pensar que tudo era de forma ideal que se deu hoje. Estudei boa parte da história dos órgãos e corais católicos, e não era anormal FALTAREM músicos para cobrir as vozes.
Bach fazia o arranjo a quatro vozes, o Bispo/Rei, fornecia 1 ou 2. Alguns afirmam que poucos arranjos foram executados como compostos, enquanto Bach (e N outros, com suas respectivas composições), estivera em vida.
ele era diretor musical de um estabelecimento que era basicamente um Café e lá apresentava seus concertos
Resumo da novela, ele tinha um puteiro, onde executava suas obras ao cravo... Mais ou menos no nível de tecladista de churrascaria...
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pianoid Veterano |
# set/15
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kkkkkk exagerou na cachaça, hein fi?
quem afirma isso? O rei/bispo não ofereciam "vozes", se ofereciam algo era um tema melódico, variado e trabalhado por Bach polifonicamente...
Tirando suas imensas cantatas para coro de igreja, os grupos instrumentais para os quais compunha eram os da época, de música de câmera, não orquestra sinfônica. Estavam pelo menos em termos de instrumentação dentro do esperado, embora aí pelo fim de sua vida, com uma nova estética na moda - o simplista estilo galante - não haviam muitos músicos tecnicamente capazes à altura de sua música, principalmente trabalhos solo como a Oferenda Musical. Parece que seu próprio filho mais velho, Wilhelm, o superava no teclado e é possível que seus trabalhos mais difíceis tenham sido uma tentativa de estabelecer a reputação dele como virtuose de teclado. Quando o pai morreu, ele meio que perdeu o rumo... (acho que era autista)
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