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Doomanic Veterano |
# out/12
Geralmente quando pego uma musica para tocar tento tocar da forma mais exata possível, mas ultimamente tenho encontrado alguns videos onde os solistas fazem pequenas mudanças na musica. Aumentam o tempo de uma nota, excluem uma, diminuem o andamento da musica, e etc. Isso é normal? Digamos é permitido ao interprete fazer "ajustes" a musica quando achar que sera bom? http://www.youtube.com/watch?v=qnIB_BDPU_w&feature=related
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Ken Himura Veterano |
# out/12
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Doomanic É porque não existe a "forma mais exata possível". A partitura não tem como detalhar 100% dos aspectos de uma música - e muitos compositores famosos já morreram, daí a quantidade enorme de interpretações diferentes.
Então, isso aí é super comum de acontecer! Mas tudo tem uma razão de ser, geralmente cada gesto aumentado no ritmo é para enfatizar ou a passagem inteira ou o fim de frase. Daí o estudo enorme que a arte da interpretação demanda.
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Adler3x3 Veterano |
# out/12
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Bem. Acredito que não existam limitações. Como se diz é uma interpretação de uma peça. Lógico a gravação da música do link que você indicou não segue a risca a partitura original. A própria limitação do número de músicos impõe um arranjo diferente da peça original. Entretanto esta fora do original e para os mais puristas não é uma interpretação clássica. E tudo também depende da técnica, no caso do vídeo o músico da flauta esta improvisando dentro da sua maneira de tocar, que não é a mesma que era utilizada nos tempos do Vivaldi. Aquele movimento com as mãos na abertura da flauta é novidade para mim. Tem muitas peças para duetos de Violoncello e Cravo, em que o Violoncelista toca seguindo a partitura e o Cravista toca de improviso, com afirmou o Ken Himura: muitas vezes a partitura não tem como detalhar 100%. E para uma mesma música podem existir diversos arranjos diferentes., e com o passar do tempo novos arranjos são feitos, novas transposições de acordo com a tessitura dos instrumentos que se vai utilizar.
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McBonalds Veterano |
# out/12
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Bom, partindo do princípio que "interpretar" é sinônimo de "entender", eu penso que a interpretação pode sim ter uma forma "mais exata possível", sendo esta a que mais se aproxima da idéia original do compositor.
Um músico tem que ser, antes de tudo, um historiador. Tem que pesquisar a mentalidade e a visão musical que se tinha na época em que a música foi escrita e executar dentro das "regras" do estilo. Não é papel do músico (instrumentista) fazer composição, alterando a peça arbitrariamente, conforme os seus "instintos".
Claro, isso tudo sem considerar a música contemporânea. Nessa vale tudo.
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Doomanic Veterano |
# out/12
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Obrigado a todos! Entendo o ponto de vista de vocês, então isso varia de cada musico, alguns fazem mudanças sutis, outros tocam exatamente o que veem na partitura.
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Gabriel Schuck Veterano |
# out/12
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E por incrível que pareça hoje eu fui inventar de tentar interpretar a música da área da quarta corda de Bach, coloco o link abaixo pra quem quiser escutar.... Não sou "o compositor" já citado, mas pelo menos tentei chegar o mais original possível da música. Claro que dei uma "enfeitada" coloquei algumas notas pra variar um pouco o solo.... Fiz num teclado psrs710, mais difícil ainda porque o acorde da música está cheia de inverções e fazer com acompanhamento e solando ao mesmo tempo é meio chato, não é impossível, mas tem que ter atenção. https://dl.dropbox.com/u/7386661/%C3%81rea%20da%20quarta%20corda%20-%2 0By%20Gabriel%20Schuck%20PSRS710.mp3 abraços!
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Adler3x3 Veterano |
# out/12
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Doomanic
então isso varia de cada musico, alguns fazem mudanças sutis, outros tocam exatamente o que veem na partitura.
Sim o músico é livre. Mas por exemplo se alguém for apresentar algum concerto de músicas clássicas por exemplo, piano , o público é exigente e quer ouvir de acordo com a ideia original do compositor. Quando envolve mais instrumentos o(s) músico(s) tem que fazer um novo arranjo conforme se adiciona mais timbres. Mas não existe uma regra fixa, uma vez como já foi citado acima, as partituras originais muitas vezes não detalham tudo. No entanto cada músico tem uma interpretação diferente da mesma peça.
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Adler3x3 Veterano |
# out/12
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Gabriel Schuck
É um bom exemplo, usou um teclado arranjador e fez uma interpretação de acordo com o que tem de bom a disposição. Não é fiel ao original. Mas lembro que os próprios compositores clássicos de primeira grandeza, sempre fizeram variações das suas próprias músicas. Uma boa música não pode ficar limitada a somente uma versão.
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Ken Himura Veterano |
# out/12
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McBonalds Bom, partindo do princípio que "interpretar" é sinônimo de "entender", eu penso que a interpretação pode sim ter uma forma "mais exata possível", sendo esta a que mais se aproxima da idéia original do compositor.
Um músico tem que ser, antes de tudo, um historiador. Tem que pesquisar a mentalidade e a visão musical que se tinha na época em que a música foi escrita e executar dentro das "regras" do estilo. Isso é um mundo nebuloso. Antes da invenção da gravação, não existe 100% de certeza em como eram as coisas em qualquer época, mesmo no século XIX. Todos que viveram aquela época morreram sem deixar registros precisos, mesmo em livros. Há certas coisas que muitos pesquisadores aceitam como verdadeiro, mas tem outras partes que nós realmente não fazemos ideia do que era feito.
Na ópera mesmo, pra trazer pro seu universo hehehe, praticamente ninguém mais usa a técnica vocal usada na época de Verdi - descrita no "Hints on Singing" do Manuel Garcia II.
O mais próximo que a gente pode chegar da ideia original é pela análise (aí a Schenkeriana é muito boa pra isso), ver o que é ligado ao que e a estrutura toda da música. Daí, vem o trabalho de interpretação, deduzir onde o compositor queria que cada frase, por exemplo, fosse acentuada, a expressividade geral etc etc. Daí que cada vez que uma música é tocada, até pelo mesmo intérprete, ela sai diferente. E é assim que tem que ser.
Partitura é um treco bem tenso às vezes. Bach, por exemplo, nem o andamento das peças ele colocava. Tem muitas que nem as ligaduras tem, só as notas e o nome da música. E aí, o que fazer? hehehehe
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McBonalds Veterano |
# out/12 · Editado por: McBonalds
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Ken Himura Isso é um mundo nebuloso. Antes da invenção da gravação, não existe 100% de certeza em como eram as coisas em qualquer época, mesmo no século XIX. Todos que viveram aquela época morreram sem deixar registros precisos, mesmo em livros. Há certas coisas que muitos pesquisadores aceitam como verdadeiro, mas tem outras partes que nós realmente não fazemos ideia do que era feito.
A música é um reflexo da sociedade em que ela está inserida. Pra se ter idéia de como ela deve ser tocada, basta se estudar a sociedade em si (sociologia, antropologia, história, etc).
Tem também os tratados do Leopold Mozart, que explicam em detalhes como se tocava na época dele (esse fala mais de violino, mas pode se aplicar a todos os intrumentos, inclusive ao canto).
Na ópera mesmo, pra trazer pro seu universo hehehe, praticamente ninguém mais usa a técnica vocal usada na época de Verdi - descrita no "Hints on Singing" do Manuel Garcia II.
A técnica vocal pode não ser a mesma, mas a execução tem que ser de acordo com o estilo verista, no caso de Verdi. É uma questão de entender o mundo que cercava o compositor e tentar (aí sim) deduzir como ele queria que fizessem aquilo.
Bach, por exemplo, nem o andamento das peças ele colocava. Tem muitas que nem as ligaduras tem, só as notas e o nome da música. E aí, o que fazer? hehehehe
Ele não colocava porque essas eram coisas óbvias para eles naquela época, aí nem precisava colocar. O que se tem que fazer é estudar as obras onde ele colocou (Paixão Segundo São Mateus, ou São João, não me lembro agora) e entender a estrutura por ali.
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Ken Himura Veterano |
# out/12
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McBonalds A música é um reflexo da sociedade em que ela está inserida. Pra se ter idéia de como ela deve ser tocada, basta se estudar a sociedade em si (sociologia, antropologia, história, etc). Mas isso não garante confiabilidade ao que você vai tocar. Pode ser parecido com o que faziam à época, ou pode ser completamente diferente.
Por quê? Porque os indivíduos dessa cultura morreram há pelo menos 100 anos, deixando apenas descrições vagas e abstratas (partitura é uma delas, por sinal) sobre como era a execução.
Tem também os tratados do Leopold Mozart, que explicam em detalhes como se tocava na época dele (esse fala mais de violino, mas pode se aplicar a todos os intrumentos, inclusive ao canto). Mas não é suficiente, falar sobre o som é abstrato demais sem ter um exemplo gravado junto.
Entretanto, este tratado é ótimo. Este e os tratados de Geminiani (principalmente o The Art of Playing the Violin) foram usados para reconstruir a técnica antiga no chamado "movimento historicamente informado", que tenta replicar as condições originais pra cada música. Mas, não existe ninguém no mundo que possa chegar e falar "era assim naquele tempo" porque não temos como provar.
"too often historical authenticity can be used as a means of escape from any potentially disquieting observance of esthetic values, and from the assumption of any genuine artistic responsibility. The abdication of esthetic values and artistic responsibilities can confer a certain illusion of simplicity on what the passage of history has presented to us, bleached as white as bones on the sands of time." - Ralph Kirkpatrick
É uma questão de entender o mundo que cercava o compositor e tentar (aí sim) deduzir como ele queria que fizessem aquilo. Dedução, hipóteses... não há certeza.
Ele não colocava porque essas eram coisas óbvias para eles naquela época, aí nem precisava colocar Isso vai até Beethoven, ou talvez um pouco depois. Mas era o costume da época, todo músico sabia que, por exemplo, início de frase era levemente acentuado enquanto que final de frase havia um leve decrescendo - coisa que o Romantismo detonou. O mais próximo de nós e o que geralmente ouvimos como geralmente tocado por aí é ou música Romântica ou versão romântica de outros estilos.
O estudo de retórica, principalmente a antiga, vai ajudar muito em algumas destas questões porque nos mostra vários lugares-comuns de cada época. Mesmo assim é aproximar, não dá pra garantir que seria assim 100% igual à época.
E, pra falar a verdade, nem precisa ser. Somos de outros tempos; o importante é garantir uma execução boa e clara dentro da estética que alguém for escolher para interpretar.
Paixão Segundo São Mateus, ou São João, não me lembro agora) As duas são limpas também, só olhar o manuscrito. E chorar, porque a caligrafia de Bach era uma merda hahahah.
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McBonalds Veterano |
# out/12 · Editado por: McBonalds
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Ken Himura Mas isso não garante confiabilidade ao que você vai tocar. Pode ser parecido com o que faziam à época, ou pode ser completamente diferente.
Concordo que não tenha como chegar à exatidão. Mas a chance de você fazer alguma coisa mais próximo do que era é muito maior se você estudar todos aqueles elementos ali, não é mesmo? =)
Você há de convir comigo que há uma diferença bem grande entre interpretar dentro das regras conhecidas do estilo da época, e simplesmente inventar gracejos aleatoriamente numa música.
Se Mozart compunha para a corte, é natural que a sua música soe mais cortês, contida e "elegante" do que Beethoven, por exemplo. Aliás, não sei se é verdade, mas dizem que Mozart nunca rasurou nenhuma partitura, pois ele já sabia exatamente o que queria em cada compasso.
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Doomanic Veterano |
# out/12
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Uau! Muito bom, como não sou formado nem nada e sou novo no assunto sempre fico meio receioso em fazer mudanças pois não tenho conhecimento suficiente para isso, agora me da mais um pouco de tranquilidade rs. Também tinha vagas ideias sobre isso dos próprios músicos fazerem modificações nas peças. Agora como o tópico esta bem ativo por sinal quero perguntar também sobre os estilos... Hoje sabemos classificar cada compositor com um período (clássico, barroco, romântico e etc), mas na época eles próprios se designavam por exemplo barrocos ou isso veio mais tarde em convenção?
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