IgorSp3 Veterano |
# abr/05
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Eu escrevi este texto alguns anos atrás para explicar o que era de fato o movimento skinhead para um cara que não sabia direito. Mandei para ele por e-mail e me esqueci do assunto.
Não é que anos depois eu estou navegando na internet e me deparo com o meu texto (obviamente sem a minha assinatura) numa página? Ainda bem, pois me poupou o trabalho de escrever outro...
POR FAVOR: SE VOCÊ FOR COPIAR ESSE TEXTO, PELO MENOS ME AVISE
A história do Oi! e dos Skinheads
O movimento skinhead apareceu no final dos anos 60, na inglaterra. Eles surgiram como uma evolução de outro movimento, os mods. Os mods, abreviação de "modernists", eram uma galera que deu muito o que falar no início dos anos 60, que curtia lambretas, música negra norte americana (soul, r&b) e jamaicana (ska), roupas alinhadas (o visual deles era muito peculiar para a época, e, apesar de imitado, quase nunca é reproduzido com fidelidade hoje), etc... Os mods brigavam com os Rockers, que curtiam jaquetas de couro, motocicletas, rock anos 50 e topetes.
Mods após briga com rockers na praia, 1964
Essas brigas sempre davam muito o que falar na imprensa, mais ou menos como aconteceu uns meses atrás em SP, quando houve as tretas entre "skatistas" e "cybermanos"... Com o tempo, o Mod se dividiu entre o pessoal mais intelectual, refinado, "cool"; e o pessoal mais das ruas, mais proletário, briguento. Os mais "artistas", apelidados de "Mods de escola de arte", acabaram dando origem ao psicodelismo (membros de bandas como The Who e Pink Floyd eram mods antes de virarem "psicodélicos"). Os mais "rueiros" (chamados "hard mods"), exageraram o visual simples do mod original, deixando o cabelo cada vez mais curto e adotando as botas e suspensórios como uniforme, enfatizando sua condição de classe trabalhadora.
Além disso, o ska, que ia aos poucos se transformando no reggae, passava a ser a trilha sonora desses "hard mods", frequentadores de bailes onde rolava música da jamaica. Em 1968, eles já eram muitos, e estavam causando muita confusão, brigando em estádios de futebol e nas ruas. A imprensa apelidou-os de "skinheads" (cabeças raspadas) e eles assumiram o nome.
O skinhead original não tinha nada a ver com política. O negócio deles era curtir som (reggae/ska), visual, tretas (no estádio de futebol ou contra hippies e gangues de motoqueiros), futebol, etc... Não havia racismo também, pois muitos skins eram negros, e mesmo os brancos ouviam apenas música negra e frequentavam os mesmos bailes dos jamaicanos. Isso durou até o começo dos anos 70, quando o movimento quase acabou.
Capa do clássico LP da banda jamaicana de reggae Symarip, de 1970 (esses aí eram apenas skins da rua, não eram os membros da banda)
O pessoal ou largou por ter ficado mais velho, ou mudaram de movimento (novos estilos surgiram a partir do skinhead - como o Suedehead, mais preocupado com a aparência e os bootboys, hooligans de futebol). Até que em 1977, aproximadamente, impulsionado pela explosão dos movimentos (punk, new wave, volta do mod e do rockabilly, etc), começaram a aparecer novos skins, e alguns antigos voltaram à cena. Alguns ainda eram fiéis ao "espírito de 69", enquanto outros eram influenciados pelo punk, misurando elementos punks ao visual skinhead tradicional.
Skins em Londres, 1970
Skins fãs do Sham 69, 1978
No final de 77, começo de 78, acontece um racha no punk, semelhante ao que houve no mod nos anos 60: parte do movimento segue um direcionamento mais "artístico" (originando o pós punk, new wave, gótico, etc), e outros pegam mais o lado agressivo, rueiro e suburbano (o "Street Punk", mais tarde apelidado de "Oi!"). Essa leva de punks mais "crus", têm como guia o Sham 69. Jimmy Pursey, vocal do Sham, era skin no começo dos anos 70, e a banda tinha um grande público skinhead. Desta forma, começa a se multiplicar uma nova geração de skins, influenciados pelo punk e ouvinte de punk rock, com um visual menos bem arrumado do que os skins originais. Os skins "tradicionais" diziam que estes eram apenas "punks carecas", pois não tinham noção alguma sobre as tradições do skinhead.
Eis que os skins voltam a ser uma visão comum nas ruas de Londres, e em shows punks. No final dos anos 70, surge o movimento 2 Tone. O 2 Tone ("2 tons", ou seja, branco e preto, anti-racismo) era o nome dado à nova geração de bandas de ska (Madness, Specials, Selecter, etc) e seus seguidores. As bandas 2 Tone eram influenciadas pelo som skinhead original (Ska e reggae antigo), inclusive tocando covers das favoritas dos bailes de 69. De qualquer maneira, o 2 Tone levou muitos skins de volta às origens musicais, visuais e multi-raciais do movimento.
The Specials, principal banda da 2-Tone Mas nem tudo eram flores, e enquanto a 2 Tone estava fazendo um ótimo trabalho combatendo o racismo e o fascismo através do ska, a extrema direita (em especial o "National Front") começava a se aproximar dos skinheads mais ignorantes. Enquanto o Sham 69 e outras bandas street punk com fãs skins tocavam em festivais chamados "Rock Against Racism" (rock contra o racismo), organizados por partidos de esquerda, o National Front cria sua própria organização, o "Rock Against Communism", para apoiar bandas de extrema direita.
Desta maneira, nasce o "Skinhead Nazista", tão conhecido pelo mundo todo. No entanto, a maioria dos skins continuava sem um direcionamento político definido, longe dos fascistas. Sabe-se que nesta mesma época (1979), havia uma banca de skins em Londres chamada "S.A.N."- "Skinheads Against Nazis", que queria eliminar a influencia dos neo-nazistas. Bandas de punk rock com membros skins, como os Angelic Upstarts, eram assumidamente esquerdistas e se opunham ao National Front com veemência.
Mas como é de costume, a mídia sensacionalista começa a chamar todo skinhead de nazista, e o que é pior, todo jovem nazi de "skinhead". Com isso, a extrema direita só conseguiu novos adeptos e os skins "White Power" aumentam em tamanho e importância. Mas mesmo assim estavam longe de ser maioria. Em 1980, o punk estava em baixa, tendo sido transformado em new wave e vendido em butiques. Mas nos subterrâneos, muitas bandas de "punk real" estavam na luta. A maioria delas era influenciada pelo Sham 69 e outras bandas street, e faltava um nome para uní-las.
Eis que o jornalista Garry Bushell, chama este novo movimento de "Oi!", por causa da música dos Cockney Rejects "Oi! Oi! Oi!". O Oi! tinha como ideal ser uma revitalização do punk agressivo, realista, das ruas, sem a comercialização e a suavização da new wave. Era a música que segundo Bushell, unia "punks, skins e toda a juventude sem futuro". Logo organizaram a primeira coletânea Oi!, com os Cockney Rejects, 4 Skins, Angelic Upstarts, Peter & the test Tube Babies, Exploited e outras bandas, formadas por punks, skins e "normais".
Foram feitas várias outras coletâneas Oi! a partir daí, e muitas bandas apareceram. Então, apesar de no Brasil as pessoas pensarem que Oi é "som de careca", ou que bandas Oi devem ser de direita, isto não passa de preconceito. O Oi! nada mais é do que um estilo de punk rock de volta às raízes, mais ligado à rua, ao realismo social. Nada a ver com a extrema direita. A maior prova disso é a adesão original de bandas como os U.K. Subs ao Oi!, e o fato do Business (uma das maiores bandas Oi), tocar um cover do Crass. Enfim, a grande maioria das bandas ou era de esquerda ou era apolítica. Entre as bandas Oi originais, não havia nenhuma que fosse nazi.
Os nazis, como já disse, estavam envolvidos com o R.A.C., e se o som deles era semelhante ao Oi, as idéias certamente não eram. Com o tempo, a mídia passou a explorar cada vez mais o skinhead, e o Oi!, que já era a música oficial da maioria dos skins acabou sendo associado ao fascismo. Com isso, muitas bandas punks (com medo de terem o filme queimado) se distanciaram, deixando o termo Oi! principalmente na mão dos skinheads.
Mas de qualquer maneira é absurdo, como costumam fazer por aqui, usar a palavra Oi! querendo dizer skin, ou careca (tipo "fulano de tal é oi!"), e boicotar determinadas bandas apenas por serem Oi. Oi! é um estilo de música baseado na união e na temática direta e agressiva, não uma ideologia política. Apesar de haver muitas bandas Oi! nacionalistas e formadas apenas por skinheads, uma banda pode ser Oi! sendo 100% punk sem ter nada a ver com nacionalismo, extrema direita ou nada disso, basta acreditar nos ideias originais da coisa.
Iron Cross, a primeira banda Oi! americana, 1982
Resumindo, Oi! é apenas mais um nome para o punk, ou melhor, para o "street punk", não devendo ser confundido com uma ou outra postura política. Nos Estados Unidos, muitas bandas de hardcore foram influenciadas pelo Oi! e tinham membros skinheads (não nazis), como era o caso do Agnostic Front, Cro-Mags, Iron Cross, Warzone, etc...Daí o motivo de muita gente (especialmente até alguns anos atrás) chamar essas bandas de nazistas, injustamente. Algumas delas eram patriotas, mas não eram racistas, nazistas ou nada do tipo.
Hoje em dia, há pelo menos 3 tipos de skinhead pelo mundo afora (no Brasil a cena é um pouco diferente).
1-A maioria deles são os chamados "tradicionais", que acreditam nos valores originais do skinhead. Muitos são o que se chama de "Espírito de 69", ou seja, procuram reproduzir exatamente os skins dos anos 60 e ouvem apenas reggae e ska. Outros são mais ligados ao Oi, e a maioria gosta tanto de Oi!, quanto de punk 77, reggae, ska, soul, etc... A política fica em segundo plano, e todos são contrários ao racismo.
2-Há também os skins engajados mais à esquerda, que podem ser "Sharp" (muitos
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