O sentido a arte - Dawkins x Darwin

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Cavaleiro
Veterano
# set/10 · Editado por: Cavaleiro


"Para que diabos ela serve? A questão é das mais polêmicas entre neurocientistas. A exemplo do que se dá com a religião, os especialistas podem ser divididos no bloco dos que acreditam que a arte é uma adaptação humana obtida por seleção natural e o dos que pensam que ela é apenas um efeito colateral resultante da forma como nossos cérebros estão montados. No primeiro grupo encontram-se pesos-pesados do neodarwinismo, como o eterno Richard Dawkins, Stephen Jay Gould e Steven Pinker. No segundo, estão o próprio Charles Darwin (para ele, o senso estético era uma faculdade intelectual fruto da seleção), a antropóloga Ellen Dissanayake, o psicólogo Geoffrey Miller, e a dupla dinâmica da psicologia evolutiva, John Tooby e Leda Cosmides, que mudaram de lado, abandonando a tese da arte como subproduto para abraçar a teoria da adaptação. Mas prossigamos com um pouco mais de calma, pois essa é uma questão extremamente controversa e que envolve conceitos complicados.

Dawkins, Gould e Pinker relutam em aceitar a arte como adaptação porque isso teria implicações profundas sobre a biologia. Em primeiro lugar, mesmo que recuemos o comportamento artístico para uns 50 mil ou 100 mil anos atrás (e poucos ousam ir mais longe), esse ainda é um período curto demais para que a evolução tenha deixado marcas em nossos genes.

Outra objeção forte é que admitir o caráter adaptativo da arte abre um flanco para a noção de seleção de grupo, vista com grande desconfiança pela linha dura do darwinismo. A ideia, defendida principalmente por Dissanayake, é que a arte teria sido selecionada porque, ao reforçar a coesão do grupo através de cantos e danças comunais, por exemplo, ela o tornaria mais apto a enfrentar bandos rivais e sobreviver. O problema com a seleção de grupo é que ela não é lá muito estável, porque sempre valeria a pena para indivíduos egoístas pegar uma carona na coesão grupal sem dar sua justa contribuição. Eles teriam maior sucesso reprodutivo, espalhando genes menos colaborativos. Seria assim muito difícil fixar num "pool" genético qualquer características que favorecem o grupo.

É por essas e outras que Pinker classifica a arte como "cheesecake mental", algo sem valor adaptativo em si, mas que explora, como as comidas gordurosas e doces, os mecanismos biológicos que nos dão prazer. Uma outra analogia válida é com as drogas recreativas. Seria até ridículo imaginar que elas representam uma adaptação, mas é inegável que afetam, e muito, nossos cérebros, proporcionando prazer em doses tão cavalares que podem mobilizar toda nossa atenção neuronal, como no caso do vício.

A exemplo do neurocientista Michael Gazzaniga, autor de "Human: The Science Behind What Makes Your Brain Unique", acho mais prudente não tomar partido nessa polêmica, mas apenas expor o que me parecem ser os melhores argumentos de cada lado. E, por falar em argumento, Geoffrey Miller, tem um interessante. Para ele, a arte é o resultado da seleção sexual. Ela está para o gênero humano como a cauda do pavão está para a família dos fasianídeos: uma exuberância biologicamente custosa que só existe porque atribui a seu detentor inequívoco sucesso entre as fêmeas, o que se traduz em importante vantagem reprodutiva.

Curiosamente, a teoria de Miller acaba explicando um pouco da demografia da arte: considerados os grandes números, a maioria dos artistas são homens no pico da atividade sexual. São ideias que, se levadas muito a sério, tiram algo da transcendência da arte e nos aproximam dos canários. Mas quem disse que pássaros, ao cantar, não experimentam a versão aviária da transcendência?

Outro ponto interessante é o da ficção. Foi ele que fez com que Tooby e Cosmides mudassem de posição. OK, todo mundo está cansado de saber que a arte é um universal humano. Não há aldeia indígena, por mais remota que seja, que não faça alguma coisa pragmaticamente inútil com penas e sementes e não se reúna para cantar e dançar. Mas isso não é tudo. A ficção, isto é, histórias inventadas também são universais e, exceto por fundamentalistas religiosos, ninguém as toma por realidade. Já desde a mais tenra idade aprendemos a diferenciá-las. Para os dois pesquisadores, esse mecanismo de decupagem é um sinal de adaptação. Confundir fatos com ficções é, evidentemente, perigoso, como o provam os homens-bombas que imaginam ir para um paraíso repleto de virgens (Alcorão 44:54 e 55:70) e "mancebos eternamente jovens" (Idem 56:17). Se desenvolvemos um sistema para operar a distinção e aparentemente estamos todos dotados com a capacidade de extrair prazer de narrativas inventadas, isso implica que a experiência ficcional é benéfica. Ponto para a adaptação. "

Afiem suas espadas.

Na sua opinião a arte é uma adaptação humana ou um efeito colateral de nossos cérebros, um processo natural?

Dissertem, ou não.

Fonte

Cavaleiro
Veterano
# set/10 · Editado por: Cavaleiro
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Título FAIL, era o sentido da arte.

Headstock invertido
Veterano
# set/10
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Na sua opinião a arte é uma adaptação humana ou um efeito colateral de nossos cérebros, um processo natural?

Tenho arte como a expressão física dos sentimentos, seria algo natural (sentir) atribuído a algo cultural ou adaptativo (o que sentir) e algo que não sei se seria natural ou adaptativo (decisão de expressar).

-Dan
Veterano
# set/10
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To com aquela sensação de Vale a Pena Ver de Novo.

Konrad
Veterano
# set/10
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Cavaleiro

Recomendo a leitura (se já não o fez) do capítulo que trata sobre o assunto na seguinte obra: The Blank Slate, The Modern Denial of Human Nature, Steven Pinker.

Quanto a mim, acho que artistas em geral procuram expressar-se, como dizem, mas no fundo só querem ganhar vantagem na corrida evolucionária.

Konrad
Veterano
# set/10
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Cavaleiro

Aliás, essa autor ( o do artigo) escreve mal e leu tanto Gould quanto Pinker (se é que leu) muito mal.

brunohardrocker
Veterano
# set/10
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Dawkins x Darwin
"Para que diabos ela serve? A questão é das mais polêmicas entre neurocientistas. A exemplo do que se dá com a religião,

BUUUUM!!!

brunohardrocker
Veterano
# set/10
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Interessante a matéria, mas fiquei meio dividido entre uma coisa e outra, como não tenho certeza prefiro não opinar.

Mas o autor assassinou o texto no final, pegando no pé dos muçulmanos.

Codinome Jones
Veterano
# set/10
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entro na discussão assim que descambar para as trincheiras religiosas..

Cavaleiro
Veterano
# set/10
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Codinome Jones

Acho que não vai rolar, não tem "Moisés" no título.

E tem o nome de dois cientistas, o pessoal logofobista passa longe.

Codinome Jones
Veterano
# set/10
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Cavaleiro
calma, ainda há esperança

Cavaleiro
Veterano
# set/10
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Konrad

Obrigado pela indicação, não li esse livro.

Aliás dos nomes acima só li com alguma frequencia Darwin e Dawkins mesmo.

Os demais conheço por nome, tenho que me aprofundar no assunto.

Vale a pena ler os livros do Pinker?

Konrad
Veterano
# set/10
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Cavaleiro
Vale a pena ler os livros do Pinker?

Em vista da mediocridade acadêmica brasileira na área de Literatura e Linguística vale muito. É esse meu caso...

No geral, a obra que indiquei sai um pouco, mas não totalmente da área de estudos do Pinker. É um livro único, uma síntese de críticas muito bem estruturadas a qualquer assunto que seja relevante.... mesmo. Ele fez um livro ao mesmo tempo abrangente mas não raso.

Eu recomendo. Para mim é um clássico que desmancha muitos mito das ciências sociais, dos antigos aos pós-modernos.

Os outros livros eu recomendaria como leitura mais orientada para quem quer se especializar.....

Abç

J. S. Coltrane
Veterano
# set/10
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Não aceito o plano de debate proposto.

Eu acho que a arte só pode existir quando ela não serve para nada. Se ela está ligada a qualquer outra coisa, podemos simplesmente desqualificar ela e falar que não se trata de arte, mas de ritos religiosos, sociais, etc. Nesse sentido ela é bem recente, e não uma condição da espécie.

Cavaleiro
Veterano
# set/10
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J. S. Coltrane

Digno.

Dogs2
Veterano
# set/10
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Dalshim >>> Darwin >>> Dawkins

Codinome Jones
Veterano
# set/10
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Dalshim

Texas Blues Hat
Veterano
# set/10
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A arte e o progresso (inclua-se a ciência) são como dois inimigos mortais: ao se encontrarem, inevitavelmente um deve ceder o lugar para o ourtro passar.

Isso explica bons cientistas ou projetos de cientistas que são artistas medíocres e explica também o fracasso de cientistas ao se aventurarem com suas análises da arte.

Cavaleiro
Veterano
# set/10
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A arte e o progresso (inclua-se a ciência) são como dois inimigos mortais: ao se encontrarem, inevitavelmente um deve ceder o lugar para o ourtro passar.

Discorra, porque são inimigos mortais e a ciência não pode auferir sobre a arte?

Texas Blues Hat
Veterano
# set/10
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Faz um bom tempo que abandonei a ciência, não sou suficientemente cientista para discorrer de um ponto de vista neutro.


A citação é de Baudelaire (um grande cientista!! hehehe).


Achas que Einstein seria um grande violinista?

Dogs2
Veterano
# set/10 · Editado por: Dogs2
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Eu acredito que a arte possa ter definição e ser explicada, mas por alguém que, além de possuir conhecimentos em outras áreas, realmente seja um multi-artista. Algum Jesus Cristo que dedique sua vida só a explicar isso, pra ter tanto tempo, talento, conhecimento e empenho. Uma equipe talvez, mas não um filósofo, cientista ou artista qualquer falando e falando

brunohardrocker
Veterano
# set/10
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Dogs2

Dawkins não deveria sair do laboratório.

/agora o bicho pega!

Headstock invertido
Veterano
# set/10
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Complementando o que eu mesmo disse:

Tenho arte como a expressão física dos sentimentos, seria algo natural (sentir) atribuído a algo cultural ou adaptativo (o que sentir) e algo que não sei se seria natural ou adaptativo (decisão de expressar).

Outro fator seria a decisão de expor, esse totalmente evolutivo e cultural, creio eu. Mas não o coloquei na definição porque ao meu ver, a concepção da arte termina no momento em que o artista passou tudo o que queria para o plano físico e, portanto, a obra é finalizada.
Pra mim, a ação de mostrar/expor/divulgar/comercializar está fora do campo da arte. Acho que não deu pra entender bolhufas, mas tudo bem :D

Cavaleiro
Veterano
# set/10
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Texas Blues Hat

Achas que Einstein seria um grande violinista?

Nada o impediria que o fosse a não ser seus objetivos e prioridades em vida, isso é resultado maior parte do esforço do que um dom propriamente dito.

J. S. Coltrane
Veterano
# set/10
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acho muito engraçado o modo como as pessoas tentam biologizar o que é essencialmente social. Dawkins e cia pegam tudo fora de contexto, esvaziam os seus conteúdos e acham que é tudo a mesma coisa. Que se um homem de neanderthal pintava paredes ele fazia "arte".

makumbator
Moderador
# set/10
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Texas Blues Hat

Leonardo da Vinci era ao mesmo tempo cientista, inventor, engenheiro e artista(e em vários campos diferente da arte). E era uma gênio em todas essas áreas. Mas é verdade que ele é uma exceção(e deve ter sido o ser humano mais multi tarefa que já existiu).

Texas Blues Hat
Veterano
# set/10
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makumbator & Cavaleiro

Leonardo da Vinci era um romântico e obviamente foi um gênio singular de sua época, a propósito época que denominava a ciência como filosofia natural.

Como todo espírito renascentista, buscou as luzes gregas por entre trevas do cristianismo.

Atualmente sua obra científica tem valor histórico enquanto que sua obra artística provoca a mesma perplexidade que provocava a mais de 500 anos atrás.

O ponto é que nos tempos atuais, com a especificação e o metodismo da ciência me parece impossível alguém focar suas energias na ciência e na arte. Não há romantismo algum na ciência atual e esse mesmo também é impossível. O metodismo científico acaba por tornar qualqer um artísticamente estéril. São processos completamente diferentes a criação artística e a pesquisa científica e ambos moldam o curso das percepções do indivíduo diferentemente. Por exemplo: por mais que Dawkins admire Beethoven, ele nunca criará algo proporcional à Nona Sinfonia. Dawkins pode opinar, classificar, analisar, teorizar e etc., afinal é tudo oque ele pode fazer.

Análises científicas a respeito da arte e seus processos são como padres discutindo Nietzsche. Eles podem opinar, classificar, analisar, teorizar, mas nunca de fato compreenderão Nietzsche, a menos que se tornem ateus.

Texas Blues Hat
Veterano
# set/10
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Análises científicas a respeito da arte e seus processos são como padres discutindo Nietzsche. Eles podem opinar, classificar, analisar, teorizar, mas nunca de fato compreenderão Nietzsche, a menos que se tornem ateus.

Essa é minha!

The Root Of All Evil
Veterano
# set/10
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Texas Blues Hat
Leonardo da Vinci era um romântico

WAT?

Leonardo Da Vinci, artista plástico, cientista e escritor italiano, nasceu em 15 de abril de 1452

Machine Gun Man
Veterano
# set/10
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The Root Of All Evil

É que ele curtia jantar à luz de velas.

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