Literatura Russa -- Discussao

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ZXC
Veterano
# ago/09
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guitar_nan
eu comprei esse livro num sebo !

Se for o Arquipélago de Gulag....o original tem 1800 pg., mas existem versões clandestinas editadas entre 1973 e 1989 com 608 /512 pgs que tiveram o aval do autor.
Já li as duas versões...original e clandestina e te digo que não difere em quase nada...o que foi reduzido não compromete seu teor.

Konrad
Veterano
# ago/09
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ZXC

Meu tempo de literatura russa passou mas voltou....

Estou a reler Pais e Filhos....

Também acha que os romances de Dosto tem partes bem descartáveis? Do ponto de vista estético e de enredo? O Bratia Karamazov e Crime e Castigo me pareceram arrastados por vezes....

O qua acha?

Konrad
Veterano
# ago/09
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ZXC
Arquipélago de Gulag

Soljenitsen morreu ano passado.... não? Sempre achei o Gulag deveria ser leitura obrigatória para os comunas do Brasil.....

Gostei demais do"Um Dia na vida de Ivan Denisovich"....

ZXC
Veterano
# ago/09
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brunoliam
O qua acha?
Não podemos esquecer que, Crime e Castigo é uma obra de 1866 e que em sua época foi considerado um romance policial exótico e revolucionário tanto pela forma quanto pelo conteúdo, mas que para os dias atuais não é mais tratado assim....

Acho que poucos escritores perscrutaram tão bem a alma humana como ele, com seus personagens fortes, multifacetados, inquietos, torturados, intensos e densos, sua escrita singular, tortuosa, atormentada, marginalizada, confusa e cheia de leitura nas entrelinhas. Por esse seu modo tão particular, ele não cativa qualquer leitor....a mim ele cativou. Sou compulsiva por Dosto.


Soljenitsen morreu ano passado.... não? Sempre achei o Gulag deveria ser leitura obrigatória para os comunas do Brasil.....

Não...morreu em agosto de 2008...
De verdade é só um relato cheio de emoção do autor para o mundo, sobre os campos de trabalhos forçados soviéticos, com suas fomes endêmicas e não uma deturpação da expressão "comunistas come criancinhas". ahahaha
Muitos não sabem que Gulag é a abreviatura de Glávnoie Upravliênie Láguerei (Administração Geral dos Campos).

guitar_nan
Veterano
# ago/09
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brunoliam
Pais e Filhos eh um dos livros mais brutos que ja li

ZXC
Que pena, estava mesmo desconfiado que essa era uma versao mini....mas vou ler mesmo assim, vai ser dificil eu arranjar a versao integral em portugues...


Voces estao comentando sobre Crime e Castigo....um livro que eu gostei muito : ).. mas as veses acho que o merito dado a ele eh um pouco exagerado...eu mesmo prefiro O Idiota...

Nao liguem...eh apenas birra minha...

NoAlarms
Veterano
# ago/09
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Tava nesse dilema se começava por Crime e Castigo ou Os Irmãos Karamazovi..

guitar_nan
Veterano
# ago/09
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NoAlarms
Irmas Karamazovi eh muito muito muito bom...
de qualquer jeito, eu acho q independente da sua escolha, vais estar bem servido :D

eu comecei por IK...e depois li Crime e Castigo

NoAlarms
Veterano
# ago/09
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guitar_nan
Vou seguir a dica então! :D

ZXC
Veterano
# ago/09
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guitar_nan
eu mesmo prefiro O Idiota...

Os personagens de Dostoiévski, são sempre seres peculiares, com individualidades únicas, inconfundíveis e suas linguagens, refletem sempre seus estados psicológicos. Notamos isso com muita profundidade em O idiota, marcado por uma forte oralidade, com as falas de sofreguidão de Michkin.

Como já falei antes (O Jogador), Dostoiéviski era um jogador inveterado...recebe um adiantamento para escrever o romance O Idiota e o perde nas roletas. Quase todas suas obras foram escritas sobre pressão de dividas com a roleta...

A verdade é que o autor já queria criar um personagem que encarnasse a perfeição, como o princípe Michkin dessa obra. Andou atrás da definição "do belo" para esse personagem, e para isso, faz um apanhado do que havia de melhor na literatura universal como referência. Só encontrando na figura de Cristo e de Dom Quixote, para a essência do belo procurado...com um toque de ironia que era peculiar ao gosto do autor.

Esboçou o livro muitas vezes, para dar ao protagonista um grau supremo de evolução...sem individualismo ou egoísmo. E na construção dessa imagem, predomina o tema da superação do egoísmo burguês, por ser vista pelo autor, como uma questão filosófica de importância transcendental. Para ele a falta da superação do egoísmo burguês, inviabiliza a vida do homem.

Dostoiévski observa a civilização ocidental e faz de Míchkin um defensor, uma espécie de porta-voz de uma Rússia genuína e original, onde até o Cristianismo é diferente do Ocidental. A organicidade do personagem epiléptico e humanista em conflito com o manicômio social chamado Petersburgo, está precisamente nesses elementos, atestando a riqueza de sua ideologia e crítica.

A vida humana como valor supremo, atravessa o romance do começo ao fim e se manifesta claramente no horror de Míchkin à violência e à morte. O tema da vida x morte é tão intenso ao longo do romance, que são muito freqüentes as citações e referências a O último dia de um condenado à morte, de Victor Hugo. As observações de Míchkin têm um tom autobiográfico, como em todos as obras, dado sua semelhança, à experiência de sua própria condenação à morte, por "conspiração política".

O dinheiro é um tema recorrente em todas as suas obras, por ser visto pelo autor, como um fator responsável para a reformulação, desintegração e destruição do psiquismo humano. Como a ele mesmo. De novo, falas presentes, de uma auto-biografia.

A obra soa como uma ironia à moralidade, aos costumes e valores, sobretudo, da alta sociedade russa. A primeira transcrição, um pouco longa, retrata a situação do próprio autor que foi condenado ao exílio na Sibéria em detrimento do fuzilamento, e como o protagonista, também epilético.

O autor nos mostra sua visão do homem, como um complexo de sentimentos e pensamentos a procura de sua identidade. Seus personagens são sempre cheios de questionamentos e inquietações interiores, que são de verdade o espelho da imagem do autor. Na minha opinião, o mundo superfluxo burguês, em que vive o protagonista, é que o vê como um idiota...pois sua humanidade, generosidade, sensibilidade etc...difere das posturas da sociedade inserida.

O autor coloca em suas páginas, a decepção que sente em relação a humanidade, através da hipocrisia aparente da sociedade em relação a sentimentos puros. A frieza com que tratam a tentativa de suicídio de Ipolit, é um exemplo vivo dessa afirmação.

Vejo essa obra, como sua analise mais profunda da alma humana....e sem dúvida, o seu livro mais auto-biográfico, onde expôs com clareza suas convicções e dúvidas mais íntimas, ainda que a crítica veja em "Os irmãos Karamázov" , tecnicamente como sua obra mais brilhante. O Idiota faz um testemunho do autor, as vicissitudes de uma vida sofrida, do pai, o confinamento na Sibéria, as dificuldades financeiras, a epilepsia, a tuberculose, as mortes da esposa e de dois filhos.

"Quanto mais gosto da humanidade em geral, menos aprecio as pessoas em particular, como indivíduos." (Dostoievski) E tenho ditoooooo!!!

guitar_nan
Veterano
# ago/09
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ZXC
eu acho que voce fui muito feliz na sua analise do livro : ) ..

"A obra soa como uma ironia à moralidade, aos costumes e valores, sobretudo, da alta sociedade russa."

Assim como outras obras de Dosto, ela mexe, quase q fisicamente, com o leitor.

A minha experiencia comecou logo com a capa do livro, uma pintura de rembrandt...

http://www.oceansbridge.com/paintings/museums/met-museum/small/Attribu ted-to-Rembrandt-XX-Head-of-Christ.jpg

Eu sempre imaginei Mishkin assim...

Uma das frases celebres do livro eh a famosa "A beleza salvara o mundo"

O que voce entendeu por isso? : )

Konrad
Veterano
# ago/09
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ZXC
Não podemos esquecer que, Crime e Castigo é uma obra de 1866 e que em sua época foi considerado um romance policial exótico e revolucionário tanto pela forma quanto pelo conteúdo, mas que para os dias atuais não é mais tratado assim....

A minha crítica de forma alguma nega a importáncia do autor para ahistória da literatura, quiça da psicanálise.... O qua acho é que a narrativa dele é muito tortuosa, e é possível ver que há episódios encaixados, quase que colados mesmo. Nem mesmo o confuso conceito de polifonia (qua os intelectualóides daqui adorma discutir sem entender) justifica os episódios.....

É um génio, sem dúvida.... Levou o romance a uma dimensão que dificilmente será ultrapassada (não me falem de Joyce... ehheheh), mas por vezes é chato gratuitamente.

ZXC
Veterano
# ago/09 · Editado por: ZXC
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guitar_nan

E logo em seguida é completado com a frase..."E não há e nem pode haver nada mais belo que o Cristo!"

Essa frase, como conota as bibliografias, tem uma ligação intensa com o maior dos direitos humanos... aquele que faz a criatura humana mais parecida com Deus. Mas ela pode se tornar o maior mal da humanidade, quando perverte, corrompe...aquela beleza que é usada para vender produtos por exemplo, é aquela que é usada para corromper o ser humano aos vícios, como fumar, beber...

A beleza não se encontra nas necessidades básicas do ser humana, como faz entender a mídia...que usam a beleza com esse propósito, com suas propagandas....mas na junção de corpo, alma e espírito = ser humano completo.

Ele fala de um sentido da beleza que se perdeu, aquele onde o desenvolvimento do ser humano não era diagnosticado só pelo seu belo corpo e sim pelo ser humano por completo. E que é possível vê-la em pequenas coisas, como num olhar, num silêncio...ela se encontra acima de qualquer relação de interesse, de corrupção e de maldade ou perversão.


brunoliam
O qua acho é que a narrativa dele é muito tortuosa,
Como eu mesmo disse acima, sua simguagem é mesmo tortuosa, e acho que as obras dele são para os leitores, ou 8% ou 80%, isso é, ou gostam ou não gostam.

Gosto de sua polifonia(e não sou intelectualóide viu), gosto da autonomia de seus personagens, gosto das visões individuais em que coloca seus personagens, como num monólogo com o leitor. Também gosto das entrelinhas e das parafrases que ele nos envolve ,com as visões pessoais dos personagens atormentados e sempre solitários...

guitar_nan
Veterano
# jan/10
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UP!

Estou lendo Lolita de Nabokov....só posso dizer q eh MUITO bruto

oiio
Veterano
# jan/10
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guitar_nan

apareceu das cinzas...

Necrophagist
Veterano
# jan/10
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Only Ash Remains

Guitar_Gafanhoto
Veterano
# jan/20
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Antes de tudo, sim, estou desenterrando o tópico dez anos depois!

Em 2019 iniciei minha longa jornada da leitura dos principais clássicos russos, iniciando-a a partir de ninguém menos que Nikolai Gógol em seu incomparável "Almas Mortas".

Após a leitura de algumas obras de Liev Tolstói - ou Leão Tolstói em bom português -, decidi que já era hora de ler todos os romances de Fiodor Dostoievski seguindo a ordem cronológica das publicações do autor. Encontro-me atualmente na leitura de Memórias do Subsolo.

A razão desse meu empreendimento foi sintetizada em um parágrafo do incomparável Nelson Rodrigues que transcreverei abaixo:

“Certa vez, um erudito resolveu fazer ironia comigo. Perguntou-me: ‘O que é que você leu?’. Respondi: ‘Dostoiévski’. Ele queria me atirar na cara os seus quarenta mil volumes. Insistiu: ‘Que mais?’. E eu: ‘Dostoiévski’. Teimou: ‘Só?’. Repeti: ‘Dostoiévski’. O sujeito, aturdido pelos seus quarenta mil volumes, não entendeu nada. Mas eis o que eu queria dizer: pode-se viver para um único livro de Dostoiévski. Ou uma única peça de Shakespeare. Ou um único poema não sei de quem. O mesmo livro é um na véspera e outro no dia seguinte. Pode haver um tédio na primeira leitura. Nada, porém, mais denso, mais fascinante, mais novo, mais abismal do que a releitura”

Black Fire
Gato OT 2011
# jan/20
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o legal é que o parágrafo não tem nada a ver com a razão do empreendimento.

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