Viver de música é a nova tendência no cenário?

    Autor Mensagem
    maggie
    Veterana
    # jun/04


    Em busca de um lugar

    João Bernardo Caldeira
    Em tempos de crise, bandas independentes de rock deixam de lado o sonho da fama e fortuna e querem apenas viver de música.

    A julgar pelo que toca nas rádios e nas TVs, muito pouco surgiu no pop-rock brasileiro nos últimos cinco anos. Nos principais festivais do país - Curitiba Pop Festival, Mada, Abril Pro Rock, Ruído, Humaitá Pra Peixe -, não se vêem mais, como no passado, representantes das grandes gravadoras. Estas, aliás, raramente lançam novas bandas de rock. Na Sony Music, por exemplo, o único projeto no gênero programado para 2004 é o Furto - que já vem escorado por ter como líder o ex-baterista e compositor do Rappa, Marcelo Yuka. Trata-se de uma realidade bem distinta dos anos 80, época em que o BRock invadiu o mainstream, ou mesmo na década seguinte, quando uma nova safra de talentos surgiu, como Skank, O Rappa, Nação Zumbi e Planet Hemp.

    Mas os novos talentos existem, e de forma independente, estão mudando o mercado fonográfico e a maneira de se consumir rock. Proliferam selos, festivais, redes de distribuição de obras, listas de discussão e contatos via internet. A maioria das novas bandas tem um sonho modesto: viver de música.

    Os novos talentos tem de contar com gente como o produtor Carlos Eduardo Miranda. Miranda, 42 anos, freqüenta os principais eventos de música do país e já comandou o selo Banguela, de propriedade dos Titãs, que, na década de 90, revelou bandas como Raimundos. Miranda hoje é diretor da Trama Virtual, site da gravadora paulista que reúne informações e mais de 6 mil músicas de 1.400 bandas (disponíveis no endereço www.tramavirtual.com.br).

    - Vivemos uma mudança no mercado e dois caminhos opostos estão surgindo. De um lado estão as gravadoras, que investem no entretenimento. A elas caberão fabricar nomes como Kelly Key e Rouge. Os novos artistas trilham outra estrada, querem fazer música. Não é uma guerra, é um afastamento - avalia Miranda.

    Poucos novos nomes conseguem passar do segmento independente para a seara das multinacionais do disco. A roqueira baiana Pitty e o grupo carioca Detonautas estão tentando se manter lá. O Los Hermanos, de carreira iniciada em 1997, é talvez a única banda que nos últimos anos conseguiu ingressar no mainstream depois de passar pelo circuito alternativo. Para Marcelo Camelo, vocalista dos Hermanos, uma mudança na atitude do mercado emperra a renovação.

    - Nos anos 80, as bandas podiam desenvolver uma carreira. Hoje, a indústria fonográfica pensa a curto prazo. É a lógica do mundo dos negócios. Eu me pergunto o que teria acontecido se não tivéssemos ido bem já no primeiro disco.

    Camelo reconhece que seu álbum Los Hermanos não teria vendido cerca de 350 mil cópias, puxado pelo hit Anna Júlia, se não tivesse sido promovido intensamente junto às rádios pela Abril Music. Um exemplo que mostra que, com a ajuda das rádio, uma banda independente pode estourar. Hoje quase não há emissoras tocando grupos independentes.

    Este é o principal fator da falta de renovação, diz Charles Gavin, baterista dos Titãs. Ele lembra que para o boom do rock dos anos 80 foi fundamental a existência da rádio Fluminense FM, emissora baseada em Niterói cuja programação abria espaço para as novas bandas.

    - A Fluminense não estava entre as rádios de maior audiência, mas nem por isso deixava de tocar bandas novas e faixas demo. Hoje isso é impossível, as rádios querem sempre mais anunciantes, o que faz com que as pessoas arrisquem menos.

    A rádio paulistana Brasil 2000 é uma espécie de Fluminense dos dias de hoje. A programação é comandada desde setembro por Kid Vinil, vocalista do grupo Magazine, sucesso nos anos 80. A rádio foi escolhida a melhor emissora pelos 300 jornalistas e produtores que votaram no Prêmio Dynamite de Música Independente 2003, entregue em São Paulo em 19 de maio. Kid levou o prêmio de personalidade do ano, justamente por mostrar no dial a cara da música underground.

    - Tudo de interessante rola na cena independente, nada está no mainstream, a não ser os Los Hermanos. E não são bandas chatas de ouvir. São músicas de apelo pop, maravilhosas. Estou provando que é possível tocar música independente, ter audiência e dar certo - avalia o radialista.

    Uma explicação para a resistência da indústria do disco a apostar em novos nomes é a queda de vendas na indústria. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Disco, o Brasil, que nos anos 90 chegou a ser sexto mercado mundial do disco, hoje está em 12º lugar. Para o baixista Liminha, 53 anos, que produziu as principais bandas dos país nos últimos 20 anos, a crise explica o marasmo.

    - Os primeiros meses deste ano foram o momento mais parada que já vi no Brasil. Mas o fato é que a crise dificulta. Quando estava na Sony Music como vice-presidente artístico, achei que poderia contratar vários artistas. Mas não foi assim, tudo é na ponta do lápis. Hoje, é muito caro promover um artista.

    Para Miranda, no entanto, o gargalo no caminho tradicional para a carreira pode indicar novas saídas.

    - Hoje a música está muito rica e o mainstream é muito pequeno para conter tudo. As mídias digitais estão abrindo novos campo. Há um esquema viciado na repetição, no mais fácil. Isso vai mudar.

    maggie
    Veterana
    # jun/04
    · votar


    Roqueiros com o pé no chão

    São raros os jovens roqueiros que ainda pensam em estourar nas rádios do Brasil inteiro, fazer shows para estádios lotados e aparecer em programas de TV. De um modo geral, a filosofia do pé no chão parece ter acometido todo o cenário independente. Carros de luxo e mansões passam longe da cabeça da nova geração de roqueiros.

    - Queremos apenas viver de música. Se não der certo, não vou ficar me lamentando, não posso pautar a minha vida por isso - diz Dudu de Carvalho, 24 anos, vocalista do grupo baiano Los Canos, destaque dos últimos festivais Mada e Ruído.

    O grupo pernambucano Mombojó, cujo disco, Nada de novo, foi lançado pela revista Outra Coisa, criada por Lobão, experimenta agora um agradável momento de exposição na imprensa. Eles tocaram no Abril Pro Rock e no Curitiba Pop Festival e ganharam visibilidade nacional. O vocalista Felipe Souza, de 21 anos, no entanto, vai com calma:

    - Temos planos, mas não gosto de ficar criando sonhos.

    Vanessa Krongold, 27 anos, é cantora da banda paulista Ludov, uma das atrações do Curitiba Pop Festival. O novo disco do grupo, Dois a rodar, poderia estar tocando em qualquer rádio-rock do país. Ela quer estourar, mas teme o sucesso efêmero:

    - Estourar é uma palavra que a gente não gosta, pois acontece de repente e ninguém sabe por quê. Mas queremos ser ouvidos. Não acredito em gente que faz arte para si mesma.

    Para ganhar exposição, o cantor pernambucano China se mudou para o Rio. Ele está promovendo seu primeiro disco, Um só, lançado pelo selo Cardume. Em janeiro, China fez show no festival Humaitá Pra Peixe, que comemorou seus dez anos com a criação do selo.

    maggie
    Veterana
    # jun/04
    · votar


    Divulgação é a maior dificuldade

    ''Se tudo der certo'', diz ele, no fim do ano o cantor vai trazer do Recife mulher e filhos.

    - A grande dificuldade para quem começa é tocar na rádio. Se houvesse espaço, tenho certeza de que as pessoas iriam gostar. Quero ser popular - almeja.

    Os pernambucanos do Suvaca di Prata também querem aparecer, mas não deixar a cidade para aparecer na mídia. A banda lançou no Abril Pro Rock o ótimo CD Corega check, com base no suingue do funk e do soul e referências ao rock e ao samba.

    - Dá para ter uma base em Recife e viajar quando preciso. Em setembro pretendemos fazer shows no Rio e em São Paulo. Mas antes estamos fechando com uma assessoria de imprensa. Não adianta lançar disco se ninguém ouviu falar da gente - planeja o vocalista Igor Gazatti.

    A divulgação é mesmo o maior problema enfrentado pelos novos artistas. Com o avanço tecnológico, gravar um disco já não é mais tão caro. A distribuição dos discos nas lojas do país também já pode ser feita através de parcerias com empresas do ramo. Tudo isso requer gastos, mas os valores são bem menores do que no passado.

    O grupo gaúcho Walverdes há 11 anos rala como independente e lançou três discos. O vocalista da banda, Gustavo Bittencourt, acredita que o quadro melhorou:

    - Hoje, com a internet, já existe uma articulação bem melhor do que há cinco anos. Todo mês viajamos para fazer algum show.

    O sonho de Bianca Jhordão, vocalista e guitarrista da banda carioca Leela, é ouvir a música Ver o que faço na programação das rádios do país. O grupo gravou seu primeiro disco, com lançamento previsto para agosto, sob as asas do selo Arsenal Music, distribuído pela major Sony Music. .

    - Nós adoramos tocar e por isso resistimos tanto tempo, apesar das dificuldades. Muitas vezes eu quase desisti. Tenho sete anos de underground e agora quero fazer sucesso.
    fonte: Jornal do Brasil

    LeandroP
    Moderador
    # jun/04
    · votar


    maggie

    Que legal. Não li tudo ainda, mas é interessante!

    gustavo macaco
    Veterano
    # jun/04
    · votar


    na boa essas bandinhas são muito chatas. eu volto todo dia do trampo escutando o happy hour da brasil 2000 e o alternativa da kiss. ouço a brasil mais por falta de opção, e o kid leva umas bandas lá que eu até tento gostar. mas po, esse ludov e mombojó aí que a matéria cita são chato pacaraio, puta sonzinho bunda, pior que pato fu.

    maggie
    Veterana
    # jun/04
    · votar


    gustavo macaco
    mas po, esse ludov e mombojó aí que a matéria cita são chato pacaraio, puta sonzinho bunda, pior que pato fu.


    Vou escutar então, eu gosto desse estilo. :)

    Psyco_Terapy
    Veterano
    # jun/04
    · votar


    Ludov é massa!

    inthelight
    Veterano
    # jun/04
    · votar


    essas bandas sao meio iguais mesmo, tem gente q gosta, tem gente q naum (eu por exemplo).

    mas isso naum eh importante, o importante divulgar essas novas bandas, criar canais pra elas mostrarem o som, seja bom ou seja uma bosta, mas pelo menos vc está dando a chance de uma banda decente aparecer.

    Hj em dia deveria ser mais facil, com a net, estudio digital e tudo mais, o foda mesmo é a pirataria q tem no Brasil, é logico q com 50% de CDs falsificados as gravadoras naum vaum querer investir aqui!!

    Digao
    Veterano
    # jun/04
    · votar


    O foda e os caras q se sentem "indie" e adoram tudo q aparece por ai... tem muita merda tb...

    Mariana Scarpa
    Veterano
    # set/06
    · votar


    essas bandas tão sobrevivendo sem nunca ir ao faustão, parece inacreditável.
    sem dúvida a internet, a oportunidade de colocar a sua música ao alcance do mundo todo ajuda na divulgação desses grupos, que viajam o brasil todo e tem fãs...

    Blue Jazz
    Veterano
    # set/06 · Editado por: Blue Jazz
    · votar


    Boa, Maggie, beleza de tópico.

    Tá acontecendo isso aí mesmo, e olha: se não tem QI então, melhor esquecer, porque até com isso tá difícil... depois de "Era dos Parentes" então, nem adianta mais trabalhar como sideman (o artista para o qual trabalho já teve Lulú Santos, Léo Gandelman e todo Roupa Nova gravando com ele, quando era apenas Lulú, Léo...) porque, hoje, é fato que antes de tudo e qualquer coisa, mesmo você tendo um bom trabalho, o cara (no meu caso muitíssimo gente boa aliás) vai defender o "dele" em primeiro lugar, seus filhos, etc - neste caso talentosos. A coisa começou com Sandy e Júnior e desgringolou até a filha do Gil e congêneres. Não reclamo: é isso aí, tudo certo. Quando o Toninho Horta trabalhou como sideman do Milton, da Elis, ele "abriu" suas portas. Esse caminho se tornou inviável hoje, e quase impossível: as gravadoras querem GRANA, não dão mais liberdade pra ninguém criar ou revolucionar e apostam nos "filhinhos de papai" que tem uma entrada mais fácil no mercado - alguns deles com certo talento, a maioria nem tanto. Então juntam-se os interesses e criam-se "clãs".

    Não tô reclamando. Tô apenas dizendo que a coisa não tá fácil apenas para as bandas, mas para os artistas em geral - até mesmo para os filhos de famosos ou quase-famosos e porraí vai. Ainda por cima tem de se manter. Veja, aquele guitarrista do Gil, Celso, não é? Pois é, o cara é bom, mas não tem apoio algum da mídia e só apareceu no vídeo show outro dia porque tinha uma pseudo cantora junto, que resolveu cantar sua música - e olha que tá na novela! Então pra esse cara não tá fácil, e ele está indo rumo à melhor saída pro músico brasileiro: o aeroporto.

    O Vander Lee é quase um exemplo da matéria que você postou: quando ele estava por aqui (BH) e ainda era Vanderly Natureza, tinha uma banda ótima, mas na hora H mudou tudo e gravou um CD de samba que não ficou nem no pop nem no samba e mesmo com apoio da Elza (a quem ele entregou um CD no camarim de um show - e onde teve seu "momento" de sorte, que definiu sua carreira, saindo do buteco pro show) a coisa meio que desgringolou um pouco, não se manteve... talvez volte, haja reação, mas a gravadora não quis arriscar no pop do cara e transformou em samba (na minha opinião ficoi pior). Então essa coisa já tá vindo de longe, digamos que a tendência se confirma, e que a cada dia que passa, desejo de sucesso é uma coisa que escapa à maturidade dos músicos; viver de música anonimamente já tomou o lugar do sonho anterior, pagando as contas tá bom demais.

    LeandroP
    Moderador
    # set/06
    · votar


    viva o underground

    Saitu
    Veterano
    # set/06
    · votar



    viva o underground(2)


    theax
    Veterano
    # set/06
    · votar


    E quanto ao exterior? Bom, eu não faço muita idéia, mas vejamos o que eu penso...

    Hoje, tá havendo um grande "copia e cola" de músicas internacionais nas rádios brasileiras. A mídia incentiva isso, as rádios botam no ar, as mesmas querem mais espaços publicitários para seus parceiros, etc. Hoje, aparecer no Faustão já não é sinônimo de sucesso não. E eu não sei se é só aqui no Brasil, mas quando alguma coisa aparece na TV, ninguém vai lá pra comprar o album, conferir a banda, etc.

    Bom, temos que saber também, que as bandas de hoje estão muito repetitivas, não há inovação, as mesmas letras que falam sempre da mesma coisa (isso já entrou na cabeça das pessoas de tal forma, que tanto faz banda). Quando eu digo inovação, digo Raul Seixas (gosto pra caramba, o único em português), digo Cazuza (não gosto, mas fez muito sucesso), etc.

    Gan
    Veterano
    # set/06
    · votar


    é triste admitir, mas o tempo do rock'n roll já passou

    Blue Jazz
    Veterano
    # set/06
    · votar


    O rock morreu no final dos anos 70... virou POP e heavy-metal, rock mesmo... morreu, kbô faz tempo.

    pedrunk
    Veterano
    # set/06
    · votar


    Digao

    mas c vc for ver tambpem as unicas bandas de rock novas q prestas sao do cenario indie, mas infelizmente essas bandas ngm conhece, nem vcs

    theax
    Veterano
    # set/06
    · votar


    pedrunk
    mas c vc for ver tambpem as unicas bandas de rock novas q prestas sao do cenario indie, mas infelizmente essas bandas ngm conhece, nem vcs

    Ops, generalização. Vc pode só gostar de indie e achar que ela é a única coisa que presta, mas há pessoas que gostam de outras coisas também.

    Julia Hardy
    Veterano
    # set/06
    · votar


    O rock morreu no final dos anos 70...

    e volta o cão arrependido...

    ServeTheServants
    Melhor arranjo
    Prêmio FCC violão 2008
    # set/06
    · votar


    O rock para mim morreu quando o Leonard Cohen passou a ser ouvindo somente por cachorros...

    theax
    Veterano
    # set/06 · Editado por: theax
    · votar


    ServeTheServants
    Blue Jazz

    Enquanto ouver pessoas curtindo rock, com seus cds, ele continuará VIVO. *E também, enquanto ouver a criação de bandas que querem tocar o estilo.

      Enviar sua resposta para este assunto
              Tablatura   
      Responder tópico na versão original
       

      Tópicos relacionados a Viver de música é a nova tendência no cenário?