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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
O Tom Original é Si Menor
http://m.cifraclub.com.br/chico-buarque/atras-da-porta/
Em7. E/D. C#m7(b5) Quando olhastes nos olhos meus
F#7(b5). F#7. G7M(#11) e teu olhar era de adeus
G7(#11). F#7(4)(9) F#7(b9) Juro que não acreditei, eu te estranhei
B7(4)(9)(13). B7(#5)(#9). Em7M(9) Me debrucei sobre o teu corpo e duvidei
Gostaria que alguém pudesse me explicar pelo menos esse inicio, eu tenho um médio conhecimento sobre harmonia, mas essa música é bastante complexa.
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Daniel_tecladista15 Membro Novato |
# fev/15 · Editado por: Daniel_tecladista15
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gabrielbragah Há uma possibilidade desta música está em Bm ou Em (que é um tom vizinho homônimo da subdominante de B). Teríamos que analisar com calma para ter certeza.
Mas, considerando que ela esteja em Bm, então o Em7 realmente seria a IVm7 do CH de Bm natural. Neste caso, não existe um "critério", uma regra pra isso. Vai do bom gosto, da sensibilidade musical do compositor. Temos que lembrar que a música não é uma ciência exata, não deve-se seguir a regra ao pé-da-letra.
Neste caso, um acorde de função harmônica subdominante (Em7) estaria começando a música. Depois indo para o mesmo acorde apenas invertido (Em7/D), mas que já diminui a "força" da função subdominante. Depois segue para outro acorde subdominante mais fraco ainda (C#m7(b5) que é o IIm7).
Até alcançar a sequência de F#7 (V7 do CH menor harmônico) que é a função dominante já preparando para a resolução no G7M que é o VIm7 representando uma função tônica mais fraca.
Obs. se você observar, está ocorrendo um movimento descendente no baixo.
Resumidamente, a análise da cadência deste trecho da música ficou algo assim:
IV II V VI
Esta é a chamada cadência deceptiva/interrompida/engano onde a resolução ocorre em VI (normalmente) e não em I.
Podíamos fazer o mesmo exercício supondo que a tonalidade seja Em e ver o que apareceria.
Se você ainda está no início do seu estudo de Harmonia, recomendo tentar analisar músicas mais fáceis. Também estou no início do estudo deste assunto e percebo que é pedreira analisar algumas músicas!!! hehehehehe
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Lelo Mig Membro
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# fev/15 · Editado por: Lelo Mig
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Daniel_tecladista15
" Temos que lembrar que a música não é uma ciência exata, não deve-se seguir a regra ao pé-da-letra. "
Exatamente!
A avaliação que você fez é pertinente e garanto que nem Chico Buarque sabe, ou sabia na época que compôs a música, sobre cadência deceptiva. É uma composição "intuitiva". Chico Buarque é um violonista autodidata, aprendeu a tocar violão de ouvido, depois aprendeu acordes com amigos de escola e roda de bares. Não possui conhecimento teórico para compor "baseado em regras e/ou teorias harmônicas".
A harmonia é complexa mas é uma progressão, até que comum, em Música Popular Brasileira desde os violões da Velha Guarda.
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Daniel_tecladista15 Membro Novato |
# fev/15
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Lelo Mig
É uma composição "intuitiva".
Concordo plenamente! Muitos compositores sabem quase nada ou nada mesmo de harmonia, mas mesmo assim compõem coisas belíssimas. É o tal da intuição, do sentimento, do feeling, do talento, do dom, da experiência, do ouvido e por aí vai.
Certa vez assisti a uma reportagem de um compositor que disse que viu uma música sua ser analisada. O pessoal discutia o porque de determinado acorde na música. Uns diziam que era uma modulação, outros que era um acorde auxiliar, acorde de empréstimo modal do lídiob7, cromatismo, etc. etc...
Quando na verdade, ele disse que só colocou aquele acorde ali porque achou bonito!! Simples assim!!
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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
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Não creio que seja uma composição intuitiva, Chico Buarque é meu compositor favorito tenha feito essa música por pura intuição, nos primeiros discos o mesmo disse que não tinha conhecimento sobre harmonia, e isso é perceptivel, mas depois Tom Jobim foi ensinando à ele Harmonia, reharmonizando algumas de suas musicas que estavam erradas, e daí em diante ele tomou conhecimento do assunto.
E essa música está no livro Vol.2 de Almir Chediak e a musica tem um nexo harmônico, por isso creio que não tenha sido criada intuitivamente.
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Jabijirous Veterano |
# fev/15 · Editado por: Jabijirous
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No songbook do Chico ela está na tonalidade de Fm. Pela frase e pela cadência, a tonalidade do seu exemplo, está em Em (pelo menos esse trecho).
Im7 Im7 IIm7(b5) Em7. Em/D. C#m7(b5) Quando olhastes nos olhos meus
V7/V % bIII F#7(b5). F#7. G7M(#11) e teu olhar era de adeus
SubV7/IIm* V/V % G7(#11). F#7(4)(9) F#7(b9) Juro que não acreditei, eu te estranhei
V7 Im7M B7(4)(9)(13). B7(#5)(#9). Em7M(9) Me debrucei sobre o teu corpo e duvidei
*A análise do acorde G7(#11) é feito de acordo com o acorde de resolução diatônico (F#m). Ficaria muito esquisito colocar SubV7/V7/V7 (sub cinco do quinto do quinto?!?!?!?) Alguns livros colocam apenas a seta, eu prefiro colocar o grau diatônico que vai ser resolvido.
O editor de texto do fórum colocou os graus em alguns acordes errados hehehe
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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
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Amigo, obrigado, mas eu sei quais os graus, eu queria saber a "lógica" de tal seleção.
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Jabijirous Veterano |
# fev/15
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gabrielbragah
Simples. a música tonal é voltada em tônica, subdominante e dominante. Essa primeira frase é dividida em dois membros de frase um na tônica e outra na dominante. Nota que ele prepara a dominante mais não resolve na dominante, faz a cadência interrompida ou deceptiva (cadência de engano). É uma cadência típica onde a conclusão não é definitiva, é como algo que não terminou e vai ter mais um trecho de continuação até concluir a frase. Depois ele prepara da dominante, resolve na dominante e, aí sim, resolve na tônica concluindo a primeira frase!
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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
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Mas a adição dessas notas a mais tem um proposito.
Não entendo por exemplo o pulo do dominante F#m7(b5) pra F#7 pra G7M(#11) e logo depois esse G7(#11)
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Jabijirous Veterano |
# fev/15
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gabrielbragah
Isso é questão de voz, ou voicing!
Experimenta tocar F#7 (13) F#7(b13) B7(9) B7(b9)...
Olha a jogada de voz que tem ali 13 do F# é o D#, b13 = D. 9 de B = C# e b9 = C.
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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
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Não é, por exemplo, os Acordes de Sétima e Quarta ( F#4(7)(9) e B7(4)(9)(13) ) são usados pra adiantar o baixo dos seus respectvos dominantes a partir da inversão dos II cadenciais com o baixo do dominante que o transforma em um de 4 e 7.
mas ao decorrer da frase, eu não sei de onde veio os criterios para a utilização dos demais acordes
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Cres Membro Novato |
# fev/15
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Vou tentar analisar a música com o pouco conhecimento sobre harmonia que tenho e que venho tentando aprimorar ultimamente.
Daniel_tecladista15 gabrielbragah Há uma possibilidade desta música está em Bm ou Em (que é um tom vizinho homônimo da subdominante de B). Teríamos que analisar com calma para ter certeza. Olha, eu não conheço a música, mas acho muito provável que ela esteja em Em. Ela começa em Em, e algumas seções da música termina em Em, o que implica que o centro tonal dela esteja em Em. Acredito que seja isso.
Em7. Em/D. C#m7(b5) Quando olhastes nos olhos meus
- Aqui temos o primeiro grau(Em7), seguido do mesmo acorde com a sétima no baixo. Depois, no acorde C#m7(b5) temos o que eu acredito ser o começo de uma cadência II - V - I de Bm, o qual é o quinto grau do campo harmônico de Em.
F#7(b5). F#7. G7M(#11) e teu olhar era de adeus
- Aqui temos, então, dois acordes(F#7(b5) e F#7) que representam o V/V, continuando então a cadência II-V-I. Só que essa cadência não finaliza no B, e sim no G7M(#11). Acho que podemos chamar isso de resolução deceptiva, ja que se espera a resolução no B, mas isso não acontece. O G7M(#11) é o terceiro grau do campo harmônico de Em.
G7(#11). F#7(4)(9) F#7(b9) Juro que não acreditei, eu te estranhei
- A partir de agora, temos uma sequência de dominantes que no final vai resolver em Em. Primeiro, vem o acorde de G7(#11), que é o SubV7 do acorde que vem a seguir, o F#7(4)(9). Aqui entra uma dúvida minha: eu não sei um acorde com quarta suspensa e sétima menor como esse tem função de dominante. Eu acho que não tem, pois como não tem a terça maior, não existe o trítono. Então, acho que ele só está aí pra dar uma colorida na música. Depois, então, vem o F#7(b9), esse sim contendo o trítono e sendo, portanto, dominante do próximo acorde...
B7(4)(9)(13). B7(#5)(#9). Em7M(9) Me debrucei sobre o teu corpo e duvidei
... O B7(4)(9)(13). Acontece aqui uma coisa parecida do último caso. Temos um acorde com sétima e quarta, depois um dominante(B7(#5)(#9)), que resolve no Em7M(9), o primeiro grau. Não sei exatamente o porquê dessa sétima maior no último acorde, mas acredito eu que seja pela qualidade desse tipo de acorde mesmo, que tem um som "misterioso".
Bom pessoal, é isso. No mais, essa música tem muitos acordes com notas de tensão um pouco incomuns, como no F#7(b5), que eu não sei explicar porque, mas novamente, acredito que seja ais uma questão de qualidade sonora mesmo do que de função harmônica.
Enfim, espero ter ajudado alguém, não sei se está 100% certo, e espero que tenham mais tópicos assim no fórum e que a galera participe, pois acho que a gente pode aprender muito com a colaboração da galera.
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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
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Cres
Esclareceu tudo, MUITO OBRIGADO mesmo ;)
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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
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Mas uma só duvida, esse V7/V -> bIII é possivel por qual motivo?
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Cres Membro Novato |
# fev/15
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gabrielbragah Cara, em poucas palavras, temos uma cadência II-V-I que, ao invés de resolver no I(nesse caso, o V de Em, ou B), resolve no terceiro grau do campo harmônico, cuja tétrade é um G7M. Como eu escrevi no outro post e como ja disseram nesse tópico antes de mim, esse clichê é chamado de resolução deceptiva. Não é nada de muito "exótico", é bem comum até.
Respondi a sua pergunta?
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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
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Mas não é errôneo seguir um dominante com um bIII?
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Cres Membro Novato |
# fev/15
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gabrielbragah Cara, errado nada é. Podemos dizer que é de certa forma incomum e não é a primeira coisa que esperamos, mas acontece bastante. Acho que pode-se dizer que é uma alternativa pra quebrar o fluxo da música. E nem é nada tão complicado porque o acorde que vem depois do dominante ta dentro da tonalidade de Em(tirando o #11, que é um C#, mas a gente releva). Tem casos em que o compositor viaja mais e põe um acorde não-diatônico(que não faz parte do campo harmônico), entre outras coisas.
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LeandroP Moderador |
# fev/15
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Jabijirous O editor de texto do fórum colocou os graus em alguns acordes errados hehehe
Quando eu quero escrever de forma alinhada eu utilizo o botão TAB e depois apago as linhas da tablatura. Escrevo entre as tags e o texto sai alinhado.
Por exemplo:
1 2 3 4 5 6 7 A - B - C - D - E - F - G
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Jabijirous Veterano |
# fev/15
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LeandroP
Boa, mestre! Não tinha pensado nisso! kkkk
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LeandroP Moderador |
# fev/15
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Jabijirous
;)
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Lelo Mig Membro
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# fev/15
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gabrielbragah
"Não creio que seja uma composição intuitiva, Chico Buarque é meu compositor favorito tenha feito essa música por pura intuição..."
Cara, o fato de Chico ser seu compositor favorito (e um dos meus também), não impede que ele componha algo por intuição...hehehe.
Mas vamos aos fatos! Esta música é a primeira parceria de Chico Buarque com Francis Hime no início dos 70. E ficou inacabada por um longo tempo até que foi descoberta por Elis, que gravou a parte que já estava feita para pressionar Chico a acabar a letra. Ato este que funcionou.
Ok, Francis, manja de teoria para construir "pensando teoricamente", mas não é o caso, os acordes foram entrando sobre uma melodia já pronta e sobre a letra, seus versos e sílabas, ou seja, a harmonia obedeceu o que a melodia cantada exigia.
Ainda que seja uma harmonia sofisticada, repito, é uma progressão comum na MPB, você encontrará diversas outras canções, posteriores e anteriores se utilizando da mesma lógica de acordes de "tensão".
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Cres Membro Novato |
# fev/15
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Lelo Mig Só adicionando: mesmo que o cara tenha feito a música sem pensar em teoria e tal, ainda podemos analisá-la. Ainda há a chance de ter vários clichês harmônicos estudados na harmonia funcional. A grande questão é que a chance de encontrarmos algo mais inesperado e "sem explicação" é, sem dúvidas, maior.
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Lelo Mig Membro
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# fev/15
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Cres
Sim, sim.... não sou contra analisar as músicas não! Muito pelo contrário.
Só quis frisar, que é importante não se aprisionar a regras de forma radical, principalmente se o intuito for compor músicas próprias no futuro. Sem bom senso, algumas regras aprisionam mais do que libertam.
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Cres Membro Novato |
# fev/15
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Lelo Mig Sim, concordo!
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gabrielbragah Membro Novato |
# fev/15
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Não sei marcar as pessoas ainda no Forum mas, mas eu escrevi errado, eu queria ligar o fato de ele ser meu compositor favorito com o fato de eu ter um conhecimento acima do individuo, desculpa ;)
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LeandroP Moderador |
# fev/15
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gabrielbragah
É só clicar sobre o nickname do usuário que o nome dele aparece na "caixa de diálogo" entre as tags de negrito [b][/b].
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Jabijirous Veterano |
# fev/15
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Eu sou totalmente a favor do conhecimento teórico. A inspiração bate e depois some, e aí? Hoje eu faço música muito mais rápido por causa da harmonia! Cada estilo tem um clichê, e se quiser sair do convencional, tb é um clichê. Não quer usar II V? É clichê! Quer usar modalismo? Clichê!
De nada adianta ter facilidade pra música se não souber direito o que está fazendo. É como um poeta que não sabe escrever, só sabe falar!
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Lelo Mig Membro
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# fev/15 · Editado por: Lelo Mig
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Jabijirous
É bastante relativo amigo!
O fato de um sujeito dominar a língua portuguesa e o word não faz dele um poeta nem um escritor, nem fará.
A criatividade ainda é a mãe de toda a grande arte, seja feita por eruditos ou por leigos.
Não sou contra saber música, nem teoria, nem técnica. Apenas atento para que ambas, somente, fazem estes músicos, que conhecemos aos montes, e prefiro não citar nomes, que tocam muito, sabem tudo, mas não fazem uma só música que preste.
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makumbator Moderador
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# fev/15 · Editado por: makumbator
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Lelo Mig
Eu sou da opinião que a técnica e o conhecimento teórico ajudam bastante na criatividade. Tendo a concordar com o Jabijirous nesse ponto. O conhecimento através do estudo e da análise proporciona mais liberdade, e aciona áreas da criatividade que antes poderiam ficar fechadas.
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Lelo Mig Membro
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# fev/15 · Editado por: Lelo Mig
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makumbator
"a técnica e o conhecimento teórico ajudam bastante na criatividade"
Em momento algum discordei disso.
Repito, só atentei, para alguns perigos que conhecemos (vc é experiente, sabe bem ao que me refiro), de quem se prende somente a isso.
Muitos, até deixam de "ouvir" música, em prol da ambição técnico/teórica ou não se "permitem" ao lúdico de se aventurar sem regras prévias.
Muitas vezes é importante apenas tocar e procurar saber o que se tocou, depois, quando se surpreende com o resultado.
Mas, é apenas uma opinião/experiência pessoal...
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