waltercruz Veterano |
# jan/17
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Publiquei o textinho abaixo no meu site, publicando aqui porque acho que tem um certo público que possa se interessar :)
http://waltercruz.com/peter-zinovieff-e-david-cockerell-sintetizadores -a-moda-inglesa
Peter Zinovieff era filho de aristocratas russos que tinham emigrado para a Inglaterra. Rico, apaixonado por síntese e vom alguns conhecimentos em eletrônica, começou a criar osciladores, filtros. Em 1965, criou o Electronic Music Studios, onde gastava todo o seu tempo fazendo esses experimentos.
Outro engenheiro inovador que entrou logo no EMS foi David Cockerell. Pelos relatos e entrevistas, Peter era o criativo, que chegava com as idéias malucas e David Cockerell era quem efetivamente transformava as idéias em realidade. Um mais criativo e o outro com o perfil mais técnico (um tipo de parceria bem comum). Por sugestão de Cockerell, Zinovieff comprou um mega-computador para a época (um PDP-8, daqueles que você programa com cartões perfurados), que usava em suas experiências sonoras.
Peter era um sujeito criativo sem dúvida, mas até aquele momento tinha demonstrado pouco talento para ganhar dinheiro com suas invenções. Essa característica peculiar dele fez com que em pouco tempo o EMS entrasse em sérias dificuldades financeiras. Por isso, a partir de 1969, eles transformaram o estúdio numa empresa, com o plano de criar sintetizadores para venda ao público.
O VSC3 é criação do Cockerell. Foi o primeiro sintetizador portátil lançado na história, em 1969, mas não atingiu uma popularidade tão grande quando o Minimoog, lançado um ano depois. O VSC é um sintetizador modular, mas ao invés de usar cabos para conectar as entradas e saídas dos módulos, ele tinha uma matrix de roteamento de modulação, num board parecido com um campo de batalha naval, onde pode se conectar a saída de um módulo a outro através de pinos. Obviamente, essa arquitetura era MUITO mais difícil de ser entendida do que a arquitetura bem mais direta e simples do minimoog.
Pra ajudar, Zinovieff tinha alguns gostos bem peculiares: não era fã de teclados (“o teclado é o demônio para a música”), portando o VSC3 era controlado por joysticks. O sintetizador ficou bem conhecido na verdade por ser daquele tipo que se usa para fazer timbres de bleeps e bloops, uma vez que seus osciladores eram difíceis de manterem-se afinados e também porque é muito difícil ter um recall de um patch programado anteriormente: variações na resistência dos pins faziam com que um mesmo patch recriado, não soasse exatamente igual por conta disso. Um teclado adicional era vendido pela empresa para controlar o synth. Obviamente, o teclado era criação de Cockerell, o mais pé no chão da dupla.
O VSC-3 foi a base dos sintetizadores subsequentes fabricados pela agora empresa EMS. O Synthi, que tinha um pequeno teclado capacitivo acoplado e foi usado para criar a On The Run do Pink Floyd, e foi também bastante usado pelo Brian Eno. Já o VSC3 foi usado nos discos da trilogia Berlim do Bowie, além de ser usado por artistas como Portishead, Aphex Twin, e foi o principal instrumento utilizado por Jean Michel Jarre por muitos anos, sendo um dos principais instrumentos do Oxygene 2. O Synthi 100 foi usado na criação da trilha sonora da série Dr. Who. Recentemente o Yage, da Future Sound of London, criou um disco totalmente baseado no synthi.
Mas a tentativa de alcançar um certo mercado não foi totalmente bem sucedida. Por causa dos projetos peculiares e enigmáticos, que não se traduziam em muita praticidade de uso, a empresa foi definhando e foi a falência em 1979. Peter Zinovieff abandonou o mercado e David Cockerell continuou, com passagens pela Akai e pela Electro-Harmonix.
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