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fernandesrc91 Membro |
# jan/14
A dúvida é sobre interpretação musical. Sabemos que na música, há um tipo de elo entre o compositor e o intérprete. O primeiro é o criador, e o segundo é o executor, a grosso modo. Mas o que define uma boa interpretação de uma interpretação medíocre?
Exemplo: Eu estou estudando uma obra de Chopin (Nocturne nº 20). Obra que considero intermediária. Eu ouvi essa mesma peça sendo tocada por outros pianistas e soa muito diferente. Tipo, boa parte da música, a mão esquerda toca duas colcheias por tempo. Ouvi um pianista quebrando isso, ora toca mais rápido, ora toca mais lento, raramente obedecendo a divisão. Outra questão é o trinado, tem alguns nessa peça. Eu não os toco tão rápido, uso uma velocidade média. Mas outros tocam extremamente rápidos, outros tão devagar que nem soa como trinado! Essa variação passa para a dinâmica, uso do pedal... etc. Acho que vcs entenderam o que quero dizer.
Apesar de ser do tipo que faz de tudo para seguir a partitura à risca, tocando inclusive com metrônomo, às vezes fico com medo de eu estar tocando "errado" de alguma forma, se é que existe "errado", em arte! kkk Valeu galera, abraço.
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makumbator Moderador
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# jan/14
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fernandesrc91 Ouvi um pianista quebrando isso, ora toca mais rápido, ora toca mais lento, raramente obedecendo a divisão
Isso é o rubato. É algo não escrito, e que depende totalmente do gosto e conhecimento do intérprete (pois o quanto, como e onde fazer rubato depende também do estilo da música, período histórico, compositor, etc...).
Outra questão é o trinado, tem alguns nessa peça. Eu não os toco tão rápido, uso uma velocidade média. Mas outros tocam extremamente rápidos, outros tão devagar que nem soa como trinado!
É a mesma ideia da explicação anterior. Se por um lado existe uma "norma" sobre como executar o trinado dependendo do período histórico (começando em nota superior, ou real, mais rápido ou não, mais ou menos uniforme ritmicamente, se começa logo na cabeça da nota ou aguarda um pouco, etc...) muito fica a cargo de quem toca.
Apesar de ser do tipo que faz de tudo para seguir a partitura à risca, tocando inclusive com metrônomo, às vezes fico com medo de eu estar tocando "errado" de alguma forma, se é que existe "errado", em arte! kkk Valeu galera, abraço.
A partitura é um guia, e junto com o conhecimento do instrumentista sobre a obra e período ainda haverá muito espaço para a personalidade individual do intérprete.
Quanto mais se recua nos períodos históricos, menos detalhadas são as partituras (possuem menos indicações de dinâmica, de técnicas, de marcação metronômica, etc...) então quanto mais antiga a peça mais conhecimento é preciso ter sobre o estilo para tocar minimamente bem (mesmo com as mudanças que se tem que fazer ao tocar música antiga em instrumento moderno).
Não pense em indicações de metrônomo e tudo mais como lei eterna, principalmente que boa parte dessas indicações sofrem alterações de editores (que colocam o que consideram o melhor de acordo com seu gosto). A não ser edições urtext, que são realmente o texto do compositor sem intromissões de editores
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mjbg Membro Novato |
# jan/14
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a boa interpretação leva em consideração diversos fatores, não somente o que tá escrito.
Por exemplo, como era tocado o piano na época que Chopin compos? o tempo usado na época era mais livre, ou era rígido de metrônomo? as articulações? as ligaduras? o uso do pedal? a dinâmica? etc.. fatores que você ja citou..
tudo isso é interpretação, porque nem tudo é possível ser escrito em partitura..
mas leve em consideração que existem diversos tipos de interpretação.. um interpretação histórica por exemplo que vai tentar soar exatamente como Chopin tocaria se estivesse tocando, que exige muito estudo e pesquisa sobre o compositor, época, etc.. nesse caso a qualidade da interpretação é mais objetiva.
mas pode ser também uma interpretação tentando adaptar ao modo contemporâneo de tocar piano.. que vai ser mais subjetiva já que não tem exatamente um parâmetro fixo a não ser talvez outras interpretações. etc etc
mas enfim.. eu pessoalmente acho que a qualidade da interpretação depende da proposta do interprete.. se ele for fiel ao que propõe pode ter certeza que terá uma boa interpretação.. o que não pode é ficar em cima do muro
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pianoid Veterano |
# fev/14
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a interpretação mais importante é a do ouvinte: não adianta tocar Chopin super bem, com rubato e tudo, para uma audiência composta de amantes de Michel Teló :lol:
o que todo pianista deveria almejar são ouvintes à altura e isso é cada vez mais raro (ou talez sempre tenha sido)...
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fernandesrc91 Membro |
# fev/14
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É vdd.. Sei que não toco lá tão bem, e engano uma galera aqui kkkk
E eu tenho tentado buscar melhorar minha interpretação e apreciação musical, focando muito na música clássica. Mas a pergunta correta seria: Como eu deveria estar tocando? E o quê ou como eu deveria estar ouvindo? Como foi dito antes:
mas enfim.. eu pessoalmente acho que a qualidade da interpretação depende da proposta do interprete.. se ele for fiel ao que propõe pode ter certeza que terá uma boa interpretação.. o que não pode é ficar em cima do muro
O que viria a ser essa proposta? Saca? Eu sinceramente não entendo a parte artística da música ainda... Num jeito mais simples de falar: "Eu não consigo sentir"... E isso vale tanto para a interpretação quanto para a apreciação.
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Adler3x3 Veterano |
# mar/14 · Editado por: Adler3x3
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A Interpretação musical além da técnica exige muito mais do interprete.
- estado emocional; - sentimentos; - suscetível ao momento; - imersão e profundidade musical (escutar e ver a música por dentro, fazer parte dela, de modo que até as células do corpo vibrem de acordo com a música); - êxtase musical, que só é obtido pela imersão, e uma boa interpretação pode causar êxtase também na audiência, é a beleza da composição com a execução, nada de drogas, é o momento mágico da música. o climax, que naturalmente não pode se sustentar por todo o tempo; - ambiente em que se toca; - receptividade da audiência; - conhecimento da teoria musical e as práticas de enriquecer a forma de tocar; - influências de estilos; - influência de outras artes; - proposta musical; - qualidade dos instrumentos - a busca das ideias do compositor da peça e a criação de variações; - o nível de cultura; - origem étnica do músico; - ornamentos e particularidades do estilo; - paisagens mentais musicais;
Por exemplo o "Minueto" é uma dança. Mas hoje em dia a maioria das interpretações que escutamos, parece que os interpretes esquecem que a peça é na sua origem uma dança. E não tocam direito, ou muito mecanicamente, e não dão enfase a alguns compassos ou notas e a música fica "xoxa", sem respeitar o estilo original ou variação. E se alguém sabe dançar não consegue dançar direito, pois a interpretação é falha. Os pés e o corpo não conseguem se movimentar direito com o que ouvem. Recentemente fiz uma gravação ainda não divulgada de um minueto, sai a procura de uma interpretação para ajudar a montar a parte de midi, e só encontrei gravações que descaracterizam a música, e daí tive que recorrer a exemplos musicais de escolas de dança, só aí consegui deixar a música em certas partes dançante. Vai tocar um tango, tem que saber dançar também. Ou vai dançar um samba, a maioria tem a cintura dura. Escute um Italiano tocando samba, não é samba. Tocam as notas certinhas, mas o som não fica dançante. Tem muitos estilos que tem origem numa dança, mas já se perdeu no tempo a dança, hoje quase ninguém dança direito. Muito da música que temos hoje em dia é de origem folclórica, ou seja de danças étnicas. A base do blues e do rock é "Celta", numa mistura de influências. Muitos compositores eruditos trabalharam e criaram peças com base no folclore. Ou vá tentar humanizar um arquivo midi de acordo com o estilo usando softwares, vai perceber que a humanização do software segue os estilos mais praticados no país de origem do programa, que muitas vezes não são aplicáveis. Até o rock o blues e outros estilos modernos derivam do folclore. Hoje em dia bem dizer a maioria da músicas que ouvimos são do formato de canções, e a maioria toca e canta mas não sabe interpretar o estilo de acordo com as suas origens. Existem músicos que são extremamente dedicados a imprimir na música toda espécie de sentimentos, hora tocam com os olhos fechados e até fazem caretas. Ou seja tem música que o interprete tem a capacidade de fazer uma espécie de imersão dentro da peça (maior profundidade, mais sutil), enquanto. outros tocam somente as notas. E tudo depende da escola do estilo de origem do músico, muitos tocam deixando a música mais jazzística,, mais blues, mais rock, mais sertanejo, mais clássico (muito relativo), mais lírico, e assim por diante. O músico sempre dá uma interpretação mais dirigida ao seu estilo preferido que esta acostumado a tocar com mais frequência, e assim insere ornamentos que são de outro estilo, fazendo uma mistura. Se você pegar um cantor do estilo de rock, mesmo que tenha uma voz magnifica, vai impor o seu estilo numa música mais clássica. Já um cantor lírico não vai saber cantar direito um rock.
Tem cantores que são muito bons, com vozes ótimas, mas não tem muito capacidade de transmitir emoções. Outros já com a voz não tão rica conseguem se expressar melhor. A interpretação musical é muito variada é algo que não se consegue definir tão facilmente. Se pegar dois ou mais interpretes de uma mesma música, de uma mesma partitura e depois for comparar vai notar muitas sutis diferenças. Numa peça musical um pode ter um melhor desempenho, na outra não, e para saber qual a melhor interpretação fica difícil, pois é a opinião do ouvinte. E o ouvinte pode esta acostumado a escutar de um jeito, ou até desacostumado com o modo certo de acordo com o estilo, por causa de bandas ruins que temos hoje em dia. Muitas vezes a platéia, ou seja a audição não esta a altura do desempenho do músico, não conseguem entender. O próprio Mozart e Beethoven no início da carreira foram criticados por suas músicas conterem notas musicais em demasia. Só a divulgação da cultura e de uma boa educação é que se pode mudar este cenário. Muitas composições de Chopin são danças. (citado no início do tópico, não necessariamente os Noturnos), Mas vá tentar dançar uma música dele, é muito difícil, depende da direção que o interprete deu, ou simplesmente esqueceu que a peça é uma dança. E no cenário que vemos hoje de músicas de estilo dançante, esqueceram de praticar a outra arte, ou seja a dança. A dança é que vai indicar a forma de tocar. Peças mais complicadas com uma melhor harmonia só podem ser assimiladas pela população aos poucos, ouvindo e ouvindo a populacha vai evoluir. O interprete perfeito seria aquele que não se deixa contaminar com a mistura dos estilos (ou até sabe dosar a mistura) e aplica a interpretação correta a música como foi feita originalmente, o que envolve muito estudo e pesquisa, sabe por exemplo quais ornamentos pode usar e quais não deve usar (que pertencem a outro estilo).
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pianoid Veterano |
# mar/14
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boa contribuição do Adler
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