Lafayette no livro Roberto Carlos em Detalhes

Autor Mensagem
Rick Pac
Veterano
# fev/07


Mesmo que não sejam fã da música de Roberto Carlos, leiam o livro "Roberto Carlos em Detalhes" pois é uma aula de história da Produção Musical no Brasil. O autor Paulo César de Araújo fez uma imensa pesquisa e é divertidíssimo ler passagens memoráveis de nossa MPB.
Tem uma passagem do organista Lafayette muito interessante :

"Em julho de 1964, Erasmo Carlos convidou Lafayette para tocar piano no disco que ia gravar na RGE, um 78 rpm com 2 faixas: Jacaré e Terror dos Namorados. A gravadora não tinha estúdio próprio no Rio e alugava para seus artistas cariocas o estúdio da RCA-Victor. Ao chegar lá, Lafayette encontrou encostado em um canto um velho órgão Hammond B3 semelhante àquele usado por Ed Lincoln. Fascinado pelo instrumento de seu ídolo, Lafayette não perdia a oportunidadede tocar qualquer órgão que encontrasse pela frente. Enquanto Erasmo e os demais músicos se preparavam para a gravação, Lafayette tirou a capa preta que cobria aquele instrumento e ficou ali improvisando alguns temas religiosos e natalinos, típicos de órgão. Aquele somchamou a atenção de Erasmo Carlos, um cara que a turma reconhecia como de idéias avançadas e originais. " Puxa, Lafayette, que som legal". Enquanto ouvia Lafayette tocar mais um pouco, Erasmo teve um estalo. "Bicho, que tal a gente fazer um negócio diferente? Em vez de tocar piano, você tocar órgão na minha música?".
O diretor Benil Santos achou estranho. " Vocês querem tocar órgão em rock? Em música jovem?" De fato era estranho mesmo, pois até então esse instrumento não era associado ao rock. O mais comum era o uso do piano, que pode ser ouvido em profusão nos discos de Jerry Lee Lewis, Chuck Berry ou Little Richard. A banda inglesa The Animals, que vai propagar o uso de órgão no pop nos anos 60, surgiu na parada americana no final de 1964, ou seja depois da estréia discográfica de Lafayette.

Rick Pac
Veterano
# fev/07
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"Sim, vamos experimentar", insistiu Erasmo. Depois de ouvir o resultado final da gravação, ele exultou : " Puxa vida,é isso aí mesmo o que eu quero". Ainda não era o órgão de Lafayette que apareceria nos discos seguintes, mas já dava para perceber que algo diferente estava surgindo no som da chamada música jovem. Registre-se, entretanto, que no ano anterior a banda Youngsters já tinha usado órgão em algumas faixas de seu disco Twist Only Twist, da CBS. E, logo depois do disco do Erasmo, o órgão também apareceu no Lp de Rossini Pinto , na CBS. Mas essas experiências poderiam ter ficado por aí, sem maiores conseqüências, se um outro ouvido não tivesse sido também atraído pelo som de órgão : Roberto Carlos.

Rick Pac
Veterano
# fev/07
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Em janeiro de 1965, Lafayette recebeu um telefonema do cantor, convidando-o para participar da gravação de seu novo disco, um compacto simples com as faixas História de um homem mau( versão de Ol man mose de Louis Armstrong) e Aquele Beijo que te dei... No estúdio da CBS havia um órgão Hammond B3, que era usado para gravação de temas instrumentais. Evandro Ribeiro estava em dúvida se devia usar realmente o som de órgão naquelas 2 músicas, mas bastou a participação de Lafayette no ensaio para convencê-lo da idéia. " Ficou muito bom mesmo", afirmou Evandro após ouvir o resultado das gravações que marcaram a estréia de Lafayette nos discos de Roberto Carlos- e , pode-se dizer, a estréia do órgão no rock brasileiro dos anos 60, dada a pouca repercussão das experiências anteriores.

Rick Pac
Veterano
# fev/07
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Aquelas 2 faixas tornaram-se hits instantâneos de Roberto Carlos - confirmando a boa aceitação do órgão de Lafayette. A partir daí o cantor foi restringindo o uso de sax tenor em seus discos, que ganharam assim uma sonoridade pop mais moderna, contemporânea aos anos 60. Sim, porque nesse mesmo momento o órgão começou a ser usado pelos modernos artistas d0 rock internacional. Foi a partir de 1965 que o órgão apareceu nas canções de Bob Dylan, como se pode ouvir em To be alone with you, Positively 4th street e Like a Rolling Stones- esta eleita a melhor gravção de rock de todos os tempos pela Revista Rolling Stones.

Rick Pac
Veterano
# fev/07 · Editado por: Rick Pac
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Na época, o órgão se tornou um instrumento tão frequente no Rock que várias bandas tinham um organista em sua formação...
O fato é que, ao incorporar o som de órgão à sua música, Roberto Carlos caminhava na mesma batida do moderno rock dos anos 60 - e sem que fosse preciso ele ter ouvido bandas internacionais para adotar essa sonoridade.
O órgão Hammond B3 do estúdio da CBS era semelhante ao da RCA e em outras gravadoras, mas o som que Lafayette criou ali foi diferente de todos porque, além de seu talento com músico, contou com a colaboração dos técnicos de som Jairo Pires e Eugênio de Carvalho. Lafayette ficava com eles até altas horas no estúdio experimentando diversos sons e equalizações para o instrumento; "...

E foi mesmo depois de muita experimentação que os técnicos encontraram o eco ideal para realçar aquelas puxadas ou chicotadas( o nome certo é glissando) que Lafayette fazia no órgão - efeito que marcaria o seu som definitivamente a partir do toque de abertura em Quero que vá tudo para o Inferno. A quela introdução marcou muito e ficou como uma espécie de toque registrado de Lafayette..."

El_Cabong
Veterano
# fev/07
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Esta citação abaixo, que está num tópico do FCC, é muito interessante. Se isto realmente aconteceu o Rei pisou na bola!!

Tem uma curiosidade bacana sobre ele: o Lafayette tocou com o Robertão nos anos 60, quando a "onda" no Brasil era imitar as bandas e cantores gringos (em especial os italianos, que tinham um movimento semelhante à jovem guarda). E o que as bandas gringas usavam em sua maioria? Aquele timbrezinho safado transistorizado de órgão Farfisa, não por acaso italianos (hoje são cultuados, mas na época eram usados por serem mais portáteis e baratos, uma imitação bem precária de um hammond). E o Lafayette, ao tocar nas suas primeiras sessões, foi lá com o seu Hammond e tirou até o sangue do monstrão, com aquela timbragem que a gente conhece muuuuuiito bem de outros carnavais. Mas o bicho pegou: não sei ao certo se o foi o produtor ou o próprio RC, que ao ouvir as primeiras gravações já com o Hammond, soltou a piriquita e "obrigou" o coitado a achar o timbre das bandas que eles estavam tentando clonar. Ele acabou criando registros de drawbars e vibrato próprios, colocando nos discos o mesmo som que se ouvia nos LPs que eram a "referência estrangeira" da época.

Ou seja, o Lafayette foi um dos "introdutores" do hammond no Brasil, mas tinha que usar o instrumento de forma limitadíssima (leslie? nem pensar), para emular o timbre de teclados que na época tentavam (sem sucesso) simular um B3. É mole?


Joker
Veterano
# fev/07
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El_Cabong

Conheço essa citação. Foi um cara muito foda que escreveu no forum.

:)

Rick Pac
Veterano
# fev/07 · Editado por: Rick Pac
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O Lafayette não foi o pioneiro do Hammond no Brasil. Ele foi inovador na maneira de inseri-lo na música POP da época. Antes dele já tocavam WalterWanderley, Ed Lincoln, Waldir Calmon, Djalma Ferreira, Steve Bernard, Celso Murilo e André Penazzi. Esta informação também é do mesmo livro

Joker
Veterano
# fev/07
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Rick Pac

Isso que eu falei, foi "um dos". Tinha gente antes dele, mas ele fez parte da primeira leva de certa forma.

Rick Pac
Veterano
# fev/07
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Desse citados eu conheço o Lafayette (pessoalmente), o Ed Lincoln e o Waldir Calmon, (assisti um baile dele nos anos 70. Tinha um órgão com as teclas iluminadas. E o cara tocava legal , com uma harmonia muito bem transada Era o máximo !!!)

AUTOBOT
Veterano
# mar/07
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No Altas horas de ontem estava o Lafayette & os Tremendões, grupo foramdo pelo Lafa e, pelo que observei, érica Martins nos vocais e o Gabriel dos Autoramas no vocal e guitarra, além de outros dois guitarristas, um baixista e um baterista.

O detalhe interessante da apresentação foi ver o Lafayette usando um Korg PA 50 como teclado.

PÔ, TOKAI!!! Esse cara tinha que ser endorser de um TX5, né?

mano_a_mano
Veterano
# mar/07
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Volta e meia toca Lafayette na Rádio Guaíba (para quem não conhece: uma emissora de música instrumental de Porto Alegre, sintonizada em 101,3MHz, em FM). Eu respeito o trabalho dele, embora não faça muito o meu gênero...

fernando tecladista
Veterano
# mar/07
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O detalhe interessante da apresentação foi ver o Lafayette usando um Korg PA 50 como teclado
eu estava já meio ensonado mas achei que era um ketron

PÔ, TOKAI!!! Esse cara tinha que ser endorser de um TX5, né?
no minimo, achei meio estranho já que uma das coisas vendidas neste pacote Lafayette & os Tremendões e o lafayette e a sonoridade dele e da época em sí, seria legal ver um simulador lá além de ficar mais com o visual da banda, já que os tremendões estão lá todos com visual, costeletas, topetes, lancamento de vinil.... e o lafayette no canto com um teclado arranjador

Rick Pac
Veterano
# mar/07
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O mais estranho está no site do Altas Horas : fala da apresentação mas o Lafa não aparece em nenhuma foto, só os Tremendões.

_Rattu_
Veterano
# mar/10
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Grande tópico!



fiquei muito interessado. Vou procurar e comprar o livro.

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# mar/10
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_Rattu_
Só que esse livro foi censurado por um processo judicial encetado pelo próprio Roberto Carlos que alegou que o mesmo "denegria" a sua imagem. Foi um caso rumuroso e lamentável. Felizmente vc consegue "baixar" o livro pela internet.
Em tempo, o PC Araújo é meu colega professor.
Abç

Cleber Vaz
Veterano
# mar/10
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Grande tópico! (2)

arilevita
Veterano
# mar/10
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Grande tópico! (3)

arilevita
Veterano
# dez/10
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Vale a pena dar um up neste tópico para oa críticos de plantão melhorarem o conhecimento e a importância do RC.

teclado roots
Veterano
# fev/12
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Ele usava hammond ou farfisa? naquele clip de "Quando" eu vejo um farfisa , mas aqueles sons todos das musicas antigas é de hammond ou de farfisa?

Eu tou comprando um tokai tx5 , ele tira sons estilo lafayete?

Obrigado!

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# fev/12
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teclado roots
Farfisa.
Abç

Shadad
Veterano
# fev/12
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teclado roots

O Lafayette usa um TX-5 hoje em dia.



teclado roots
Veterano
# fev/12
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Ishh ,. irado, vou comprar o tx5 hoje! depois de 5 meses de economia! ahuehuae

teclado roots
Veterano
# fev/12
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Mauricio Luiz Bertola
Cara , imaginei , só perguntei pq um cara me disse uma vez que ele usava um hammond e imatava o som do farfisa no hammond, tem como tirar um timbre estilo roberto carlos "Esqueça" com o tx5?

Vlw irmãos!

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# fev/12
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teclado roots
tem como tirar um timbre estilo roberto carlos "Esqueça" com o tx5?
Não sei cara.;..
Abç

Mauricio Luiz Bertola
Veterano
# fev/12
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teclado roots
tem como tirar um timbre estilo roberto carlos "Esqueça" com o tx5?
Não sei cara.;..
Abç

teclado roots
Veterano
# fev/12
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Já comprei , quando chegar vou analizar o brinquedo!

adao chagas
Veterano
# fev/12
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teclado roots

Não se esqueça de alterar as configurações básicas para obter um timbre mais fiel:

VIBRATO RATE 6.8 HZ

HORN SPEED 48 400
ROTOR SPEED 40 345
ACCEL HORN 19 ROTOR 0

PERCUSSION

DECAY 8 12
GAIN +4 +8

É possivel conseguir o timbre de "Esqueça".

teclado roots
Veterano
# fev/12
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adao chagas

Vlw adão dos órgão! vc é o cara!

Obrigado pela dica , quando chegar eu vou checar esses registros ai!

Vlw cara!

Rick Pac
Veterano
# fev/14 · Editado por: Rick Pac
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O Lafa agora com um Hammond

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