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Denis Guitar Veterano |
# mai/12 · Editado por: Denis Guitar
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ALF is back "pegue o violão ou guitarra...faça aquele dó simples...sem pestana...apenas dó...
uma das ditas avoid notes, como o Mateus abordou, é o IV grau de jônio.... pois bem... pegue esse dó simples e substitua a terça mais grave dele (a nota q o dedo 2 faz) pela 4ª (usando o dedo 4, por exemplo) agora toque e me diga se esse acorde é desagradável de ouvir é um dos acordes mais bonitos q ja ouvi! "
Olá Alf, lembre que a Avoid Note se refere ao acorde de Grau 1 do Campo Harmônico Maior, o Tétrade. A nota não é evitada na tríade!! Deixe eu explicar melhor:
Por definição tonalidade é um ciclo com afastamento e aproximação da dada tônica. Conseguimos esse movimento através das tensões e a mais importante delas é o trítono do acorde dominante. Esse contraste que define tonalidade. O problema da nota de quarto grau em acorde tônico é que ela forma um trítono com a sétima criando ambiguidade na função. Normalmente quando essa relação dá certo não estamos escutando a função tônica mas uma variação da dominante. Em tonalidade acorde tônico é sinônimo de repouso (não digo ausência de tensão - vide o Blues por exemplo). O ponto de partida é a referência da qual os outros acordes são elaborados. A tríade de C sempre vai aceitar a quarta justa, mas na maioria da vezes se torna mixolídio. Tenha o conceito de avoid note correto: evita-se o repouso longo da quarta justa em acorde tétrade tônico quando deseja-se manter a função do acorde. Mas concordo com o texto: música não é só regra plana, depende também de roupagem, linguagem, interpretação, situação e muitos outros fatores que no final se alinham a um determinante comum, o gosto pessoal.
Abraço!
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Ken Himura Veterano |
# mai/12
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Denis Guitar O problema da nota de quarto grau em acorde tônico é que ela forma um trítono com a terça criando ambiguidade na função Trítono aonde??? O.o
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Scrutinizer Veterano |
# mai/12
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Ken Himura Mas o serialismo é uma técnica bem mais geral que a das sequências de doze sons. Quero dizer, existem sistemas em que duas notas podem se repetir sem que as outras tenham sido executadas. Não é? O dodecafonismo é estudado, mas não é usado, com exceções na área do cinema, pelo jeito, e talvez outras coisas aqui e ali, como arrigo barnabé.
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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Ken Himura "Trítono aonde??? O.o"
Acorde tônico dentro do campo harmônico Maior são os acordes de Primeiro, terceiro e sexto graus. No caso acima foi citado o acorde de C.
Grau 1-> C7M (notas C E G B)
Ao repousar a nota Fá nesse acorde ele forma um trítono com o B.
No caso da tríade a nota B fica de fora, por consequência não existe a formação do trítono. De qualquer maneira ao improvisar nesse acorde é mais comum o uso de C Mixolídio (C D E F G A Bb).
Abraço!
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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De forma geral não faz diferença se a nota B tá no acorde ou na escala usada, quando ele encontra o F gera tensão (trítono) que define a tonalidade. A forma que irá soar depende do contexto que desprendemos a esse acorde dentro do improviso. Se quisermos sensação de tônico o efeito do trítono deverá ser de passagem, não repouso. Se quisermos sensação de dominante pode-se repousar na nota mas o acorde mudará de contexto (função).
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Ken Himura Veterano |
# mai/12
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Scrutinizer O Serialismo, por causa do que veio a se tornar, acabou extinguindo o termo "dodecafonismo" academicamente, tanto que vários autores influentes (Stefan Kostka, por exemplo) chamam a segunda escola de Viena como "Serialismo Clássico" - o que veio depois com caras como Boulez e Stockhausen seria o "Serialismo Integral".
O que acontece é que existem sistemas com séries de qualquer parâmetro musical que você imaginar. Séries de alturas, intervalos, acordes, articulações, ritmos, timbre, dinâmica, efeitos etc. Em música eletroacústica, por exemplo, tem gente fazendo serialismo com canais de som (um canal só recebe algum som de novo depois que todos os outros receberem).
É um sistema muito aberto ainda.
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Ken Himura Veterano |
# mai/12
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Denis Guitar Cara, se liga. Tétrade é extensão (como 9, 11,13) , B não faz parte do acorde de C maior a priori. Dominantes são as únicas tétrades de fato porque o trítono (3 e 7 do acorde) é necessário para a afirmação da função de dominante, pra não causar ambiguidade em contextos mais complexos e pra forçar a resolução na tônica (mesmo que isso muitas vezes não aconteça).
Pensar assim causa problemas graves em harmonia vocal (também chamada tradicional) e principalmente em contraponto, porque Dó-Si é um intervalo de classe 1, inexiste em um acorde perfeito maior, logo uma dissonância.
A 7ª só é adicionada nesses acordes para embelezamento, pra dar um quê a mais, assim como outras dissonâncias. Ou seja, não é nota fundamental do acorde, nem pode ser pensada desta maneira.
É um problema que acontece muito frequentemente hoje em dia. Muitos tomam bomba em contraponto porque não consideram 7as e 9as, por exemplo, como dissonâncias por causa dos acordes extendidos tão comuns na música hoje, aí montam estruturas que são dissonantes demais e mudam o contexto harmônico, enquanto eles pensam que são consonâncias.
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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Ken Himura
A Harmonia não explica apenas os encadeamentos de acordes mas a relação total do contexto musical, a soma de todos os elementos em determinado espaço de tempo. E dentro disso estão: 1 - Os acordes. 2 - A melodia formada pelas notas. 3 - O rítmo harmônico, que é a duração de cada acorde e o espaço que ele ocupa dentro da música. 4 - O contraponto.
Harmonia é um conceito amplo, traduz em como todos os elementos da música se relacionam.
Campo Harmônico não é tríade ou tétrade e sim tudo aquilo que se faz com as notas da respectiva escala, ou seja:
- Notas individuais. - Intervalos. - Tríade, Tétrades e todos os acordes possíveis, de forma harmônica ou melódica. - Outras escalas, reduções da escala principal.
Quando se fala em grau de escala se pensa em todas as extensões, que podem ou não serem usadas. Um acorde existe dentro de um contexto e cabe ao compositor querer ou não definir com exatidão a sua função.
O acorde de tríade de C pode estar ausente da sétima na sua formação, mas ela está definida com o uso da melodia e da expectativa. Ela desempenha um papel na cadência musical da música tonal.
Ter uma tríade de C + nota B na melodia ou um tétrade de C7M por si só quer dizer a mesma coisa harmonicamente pois essa se define com a soma de todos os elementos. Na música tonal o que define a tonalidade é o trítono e com B e F juntos o tom é Dó maior ou Dó menor. Daí a ambiguidade na função do acorde de primeiro grau com trítono que deveria ser a partida ou retorno de todo movimento harmônico, o contraste que define tonalidade.
A harmonia funcional é outra história pois pensamos na função exercida pelo acorde de forma pontual na cadência harmônica e a tonalidade pode se perder. Mas a tétrade ainda é considerada alicerce e passa sensação de repouso, ou já viu Bossa acabar em tríade? Tudo bem, sei que existem algumas, hehehe.
Arnold Schoenberg no livro Theory of Harmony (a bíblia da harmonia) separa tríades e tétrades como os pilares da tonalidade e todas as diferentes teorias sobre harmonia, independente da linguagem, vindas desse berço ocidental lidam a função da mesma forma.
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ALF is back Veterano
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# mai/12
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Antes de considerar a dissonancia do F com o B, temos um problema mais importante, que é o E com o F...essa sequencia certamente vai existir em qualquer C4...seja com sétima com 9 com 11 com 40... numa base C simples, improvisar em C jonio e repousar no F pode gerar muitos efeitos indesejaveis, e é nisso que temos q focar... acho o conceito avoid note muito pertinente pra iniciantes que precisam de orientações na hora de se aventurarem no improviso...ao ler q o F do C jonio é avoid, é capaz de fazer o cara sair fritando a escala PULANDO todos os F, pq assim ele nao terá um efeito indesejavel....e nao é bem assim...ta aí o exemplo do C4 (com a terça maior junto)...nesse exemplo, a terça esta num intervalo composto...isso ajuda a tirar a dissonancia
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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ALF is back Concordo demais com você, é isso mesmo. Num contexto tonal para o improviso tonal é bacana usar o mesmo balanço que define a tonalidade, o afastamento e a aproximação da tônica do tom. Então ao evitar o repouso na quarta justa em acordes tônicos e repousar nela nos demais acordes criamos movimento e interesse. Claro, isso não é regra, não vamos fugir de toda a discussão criada pelo artigo do Mateus.
Pro improvisador iniciante é penoso criar esses contrastes pois além de saber a digitação ele deverá localizar cada grau da escala e ter consciência do acorde que está atrás, pra daí criar o fraseado. Acho válido mas ele não deve perder a capacidade intuitiva e usar o ouvido e bom senso para determinar suas construções e nesse caso as únicas notas evitadas são traçadas pela estética pessoal.
Outra coisa, não vamos confundir jônico com escala diatônica maior, são coisas diferentes. Modo é intenção, não formação.
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ALF is back Veterano
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# mai/12
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Denis Guitar exatamente! partindo do principio q esse topico muito interessa a iniciantes nos modos que tanto ouvem falar de avoid notes, temos q encorajar essa galera a desavoidar essas notes, experimentando diversas situações!
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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Ou podemos como professores nos fazermos de loucos:
"Como assim nota evitada? Nunca ouvi falar!", hehehe.
Deixa o cara achar que tudo vale e ver no que dá, deixe ele achar sua própria estética e definir suas opções musicais, depois podemos falar do comum.
E pros alunos avoidados podemos receitar o Desavoitil 200mg, hehe.
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Ken Himura Veterano |
# mai/12 · Editado por: Ken Himura
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Denis Guitar A Harmonia não explica apenas os encadeamentos de acordes mas a relação total do contexto musical, a soma de todos os elementos em determinado espaço de tempo. E dentro disso estão:
1 - Os acordes. 2 - A melodia formada pelas notas. 3 - O rítmo harmônico, que é a duração de cada acorde e o espaço que ele ocupa dentro da música. 4 - O contraponto. Harmonia é um conceito amplo, traduz em como todos os elementos da música se relacionam.
Não exatamente. Contraponto, dependendo da técnica ou do período, pouco vai se lixar pra harmonia; o que importa aqui é o fluxo melódico, a qualidade e a independência de cada voz, a harmonia resultante é consequência.
Pensar na melodia de forma harmônica é meio errado também porque é possível harmonizar uma melodia de milhões de formas diferentes, ela tem que ser livre como melodia e não ficar dependendo dessa ou aquela sequência harmônica. Claro que pode funcionar, mas eu acho pior trabalhar assim.
Arnold Schoenberg no livro Theory of Harmony (a bíblia da harmonia) separa tríades e tétrades como os pilares da tonalidade e todas as diferentes teorias sobre harmonia,
"(...)The seventh is a dissonance and thus belongs to those phenomena produced by the desire to bring into use the more remote overtones. I mentioned already, in my discussion of the VIIth degree, one way these may have come into commom usage: as passing tones; a voice of this interval by giving the intervening, dissonant parts. It gives them fleetingly, only in passing as it were, without emphasis (on the strong beat). (...)" (Schönberg - Theory of Harmony pág. 81, 3a edição)
"(...)We prepare the seventh chord the same way we prepared the triad on VII. The tone to be prepared should be a consonance in the preceding chord. Thus, if we want to prepare the seventh chord on the Ist degree, the seventh of this chord, the b, could in the preceding chord be either the root (octave) of the triad on VII, fifth of the triad on III, or the third of that on V. (...)" (pág. 82)
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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Ken Himura "Não exatamente. Contraponto, dependendo da técnica ou do período, pouco vai se lixar pra harmonia; o que importa aqui é o fluxo melódico, a qualidade e a independência de cada voz, a harmonia resultante é consequência."
Não tratei o contraponto como teoria independente e sim como instrumento da harmonia. A teoria do contraponto segue uma lógica diferente da harmonia tradicional mas coincidem e cruzam em vários pontos. O contraponto está presente dentro da maioria dos estilos musicais e dentro da maior parte das escolas teóricas, imerso dentro das regras de cada uma. Contraponto não é só "A Teoria do Contraponto", mas é uma ferramenta usada pelas diferentes lógicas musicais.
Schoenberg trata a sétima como dissonância (nosso ouvido atual escuta a sétima de forma diferente, é outro contexto, outra época), e como toda dissonância ela tem que ser preparada. O trítono no acorde dominante também tem que ser preparado, mas isso não muda a sua função harmônica. É a isso que me refiro, o grau sempre é analisado no contexto do seu uso (as 7 notas da escala, ou tríade + 4 notas, ou tétrade + 3 notas). A teoria tradicional se baseia em parte na voz cantada, por isso as preparações, para facilitar a execução do cantor. Mas ao longo do livro o próprio Schoenberg rediscute e desprende as amarras.
O livro do Schoenberg é a verdadeira bíblia de harmonia, explica de forma muito didática a formação do nosso ouvido ocidental, regras que germinaram ao longo dos principais períodos da música clássica, o Barroco, o Clássico e o Romântico, e que foram sacudidos pelo moderno e contemporâneo. Mas o livro não explica o que somos agora, e isso é o fator fundamental nessa discussão.
Qualquer teoria tem que andar, representar o panorama do atual, ou então será mera representação do passado, história. O livro do Schoenberg está sendo reescrito através das teorias modernas, dentro de cada linguagem musical, e essa é a sua importância, a semente da discussão harmônica.
A função harmônica independe de nominarmos o acorde como consonante ou dissonante apenas, a classificação é mais complexa, leva em conta o contexto. O própria definição de tensão é subjetiva, ou então estaríamos ainda na idade das trevas onde a separação plena do conceito era determinante para se fazer música. O bom e o ruím, o céu e o inferno, o certo e o errado.
Penso que a tétrade é a raiz fundamental do acorde e isso me serve para tocar, compor e apreciar música. Como dizia John Cage, cada pessoa escuta de forma diferente, não posso dizer como outra pessoa absorve o que ouve. Agora minha experiência me diz que quem ainda não se acostumou com o som do tétrade costuma restringir o leque musical, aceitando apenas as velhas cadências clichês do período clássico.
Um detalhe, não estou pensando na harmonia de forma melódica, acho que não fui claro. Entendo que a harmonia é uma soma de todos os elementos que compõem a música e a melodia é um desses elementos.
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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Ken Himura "Pensar na melodia de forma harmônica é meio errado também porque é possível harmonizar uma melodia de milhões de formas diferentes"
Melodia de forma harmônica ou harmonia de forma melódica:
Acho que estamos usando conceitos diferentes de harmonia. Como expliquei acima penso na harmonia do conjunto e não estou usando a palavra harmonia como sinônimo de cadência de acordes.
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12 · Editado por: Denis Guitar
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Vou ilustrar o que estou falando:
Imagine o acorde de G7, qual a sua função harmônica? Não tem! A determinação da função depende do contexto musical. Ele pode:
1 - Ser G7 de Dó maior. 2 - Ser G7 de Dó menor. 3 - Ser G7 (subV7) preparando F# ou F#m. 4 - Ser G7 tônico, ou sub, ou dom Blues. 5 - E milhares de outras alternativas.
Então o que define a função do acorde?
Suas notas e suas tensões aliadas a cadência musical. Se as tensões não existem dentro do acorde elas devem ser fornecidas pelo contexto, tudo que está antes dele e estará depois. Não importa, essas tensões estão embutidas no acorde, ou de forma real, ou contextual.
Cada acorde de uma música tem função ou então o compositor não o teria adicionado. Essa função pode ter ambiguidade, são os truques da arte da composição, mas desempenha papel definido.
Faço uma pergunta, um acorde ou escala é característico pelas notas que tem ou pelas notas que não tem?
Outra pergunta: uma tríade é uma tétrade sem uma nota ou um tétrade é uma tríade com mais uma nota?
Enquanto discutimos definição o acorde ainda existe.
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Ken Himura Veterano |
# mai/12
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Denis Guitar Não tratei o contraponto como teoria independente e sim como instrumento da harmonia. A teoria do contraponto segue uma lógica diferente da harmonia tradicional mas coincidem e cruzam em vários pontos. O contraponto está presente dentro da maioria dos estilos musicais e dentro da maior parte das escolas teóricas, imerso dentro das regras de cada uma. Contraponto não é só "A Teoria do Contraponto", mas é uma ferramenta usada pelas diferentes lógicas musicais. Harmonia veio do contraponto, e não o contrário, tanto que a primeira vez que distinguiram os termos foi no século XVIII, antes disso contraponto = harmonia. E como contraponto, a preocupação principal é interação melódica, depois pensa-se na implicação harmônica que isso causa .
O livro do Schoenberg é a verdadeira bíblia de harmonia, explica de forma muito didática a formação do nosso ouvido ocidental, regras que germinaram ao longo dos principais períodos da música clássica, o Barroco, o Clássico e o Romântico, e que foram sacudidos pelo moderno e contemporâneo. Mas o livro não explica o que somos agora, e isso é o fator fundamental nessa discussão.
Qualquer teoria tem que andar, representar o panorama do atual, ou então será mera representação do passado, história. O livro do Schoenberg está sendo reescrito através das teorias modernas, dentro de cada linguagem musical, e essa é a sua importância, a semente da discussão harmônica. Já foi. Ainda é um livro ótimo, mas a chamada "bíblia" hoje em dia é do Kostka ("Tonal Harmony"), mais completa e leva mais longe. Também mais 3 livros muito usados: Persichetti ("20th Century Harmony"), Diether de la Motte ("The Study of Harmony") e H. Schenker ("Harmony" - daí que veio a teoria da análise schenkeriana). Outros muito usados, só que abordam mais que a harmonia, são do Kostka ("Materials and Techniques of 20th Century Music") e do David Cope ("Techniques of the Contemporary Composer") também.
E todos esses livros falam a mesma coisa que o Schönberg, a diferença é que já tem exemplos de aplicações atuais (tacar as dissonâncias sem preparar, por exemplo).
Mas, de certa forma, isso também é um estudo histórico, visto que nenhuma corrente artística erudita se usa da linguagem tonal mais. É necessário o estudo desta matéria, assim como outras técnicas como contraponto e formas, para se ter um ferramental completo para a criação musical atual. É necessário dominar isto e principalmente intervalos pra conseguir entender e criar usando teorias vigentes, como a teoria dos conjuntos (música pós-tonal, vide o livro de Allen Forte, a bíblia disso), pandiatonicismo, serialismo etc etc.
Um detalhe, não estou pensando na harmonia de forma melódica, acho que não fui claro. Entendo que a harmonia é uma soma de todos os elementos que compõem a música e a melodia é um desses elementos.
Não vejo assim (nem vejo sentido nisso), pra mim o todo é Música. Melodia, Harmonia, Ritmo, Textura, Densidade e qualquer outro parâmetro tem o mesmo peso. Na verdade verdadeira, sempre alguns parâmetros vão ser mais explorados que outros, sempre vai ser assim. Só que mesmo assim, um só vai prevalecer sobre o outro naquele contexto, às vezes só naquele compositor ou obra - nunca no geral.
Então o que define a função do acorde? O contexto. Um acorde isolado é apenas um acorde.
Faço uma pergunta, um acorde ou escala é característico pelas notas que tem ou pelas notas que não tem? Normalmente pelas notas que tem. Mas pode ser pelas notas que não tem, dependendo do contexto. Ou mais simples ainda, pode ser por nenhuma dessas duas opções, e sim pela disposição/espaçamento das notas num acorde, por exemplo: Stravinsky - Sinfonia dos Salmos, o acorde de abertura, uma simples tríade de E menor, soa de maneira tensíssima (chega a "rosnar") por causa do espaçamento das notas, sonoridade completamente "diferente" do E menor.
Outra pergunta: uma tríade é uma tétrade sem uma nota ou um tétrade é uma tríade com mais uma nota?
Eu prefiro pensar que 7 é sempre adicionada, nunca parte fundamental do acorde. Aliás, se fosse, o número não apareceria do lado da cifra, não? (heuheuhe)
Mas depende muito do contexto. Hindemith, por exemplo, usava tétrades pra estabelecer o material "normal" de várias músicas, e deixava as tríades puras apenas pra cadências importantes - exatamente por serem mais "puras", vão soar completamente destoante do bolo geral e vão chamar atenção pra si. Dá pra fazer parecido (com um pouco mais de trabalho) num contexto contrário, só tríades e do nada aparecem tétrades.
Bom, é isso.
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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Ken Himura Muito boas as tuas colocações e vi que concordamos na maioria das coisas, mas pra mim a tétrade é parte da função. De qualquer forma que diferença faz a definição? Se cada um pensasse da mesma forma não teríamos tal riqueza musical. Claro, é fundamental a discussão como parte do aprendizado e esse processo nos faz constantemente repensar e reavaliar os próprios conceitos.
A teoria, independente do tipo, é uma ferramenta para auxiliar a conquista de um objetivo, nesse caso a elaboração e entendimento musical. O processo criativo por sua vez não precisa ser lógico, muitas vezes é empírico. Se fosse diferente não teríamos música para começar.
O conceito teórico ainda é nossa tentativa medíocre de explicar um processo que vai além da razão, que usa o íntimo da emoção, que expõe nossa alma através de sensações e que brota muitas vezes sem o nosso controle. O efeito de uma linda melodia e o mistério do seu surgimento não é explicado por fórmulas, nem será, pois a música muda e com ela mudam as teorias do conceito.
A harmonia sempre será o passado pois primeiro mudamos a música que fazemos para depois tentar explicar. Primeiro muda o homem, depois muda a música e por último muda a teoria. Ela é um pacto, um conjunto de experiências vividas pelos diferentes músicos, tão frágil quanto a sua própria razão de existência. É como tentar desenhar algo que não fica parado, que muitas vezes vai embora e cede lugar ao novo.
E nisso voltamos ao tópico, existe nota evitada? O que existe são as necessidades estéticas de cada compositor, evitar por teoria é limitar a palheta sonora. Ao improvisar e compor estamos tentando traduzir o momento e é soltando as amarras que conseguimos ser fiéis ao que sentimos.
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mateusstarling Veterano |
# mai/12 · Editado por: mateusstarling
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Legal o debate dos amigos acima, foi em alto nível o acaba sendo ótimo para todos. O enunciado do topico é meio provocativo mas eu acredito que já tinha dado a resposta no meio do texto: "A melhor prova que podemos ter é a prática. Qual a sensação que temos quando tocamos a terça e quarta de um acorde maior ao mesmo tempo? Pode soar horrível num contexto, mas pode ser exatamente o que você procura em outro. Esse conhecimento tradicional é importante, porque em tese é a regra vigente no mundo musical ocidental, portanto, se queremos quebrar regras precisamos saber quais são elas, mas existe aquele lindo ditado: “Não sabia que era impossível, foi lá e fez.”
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Denis Guitar Veterano |
# mai/12
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mateusstarling Isso Mateus, só completo a colocação do teu texto:
"...Qual a sensação que temos quando tocamos a terça e quarta de um tétrade tônico maior...".
A nota só e considerada evitada no tétrade, não na tríade. Explico:
Como mencionei num post anterior o problema é a relação da quarta com a sétima do acorde, formando um trítono no acorde tônico trazendo confusão na função harmônica.
Exemplo: C7M (C E G B) + repouso em F. A soma das notas indica que a escala usada é Dó maior (em música tonal), então o trítono entre B e F gera confusão pois o acorde perde a sensação de repouso.
No caso da tríade tônica, originalmente não era usada a quarta como repouso. Com a prática da apojatura para o destaque da melodia, com a resolução tardia do trítono no acorde tônico, essa quarta passou a ser embutida e hoje em dia não há mais necessidade de resolução. O leque abriu, é comum essa quarta vir acompanhada da terça e as duas coexistem sem problemas, mesmo que a opção mais comum seja tratar a tríade como mixolídio.
Exemplo: C | Dm7 Dm6 | Db7(#11) G7 | C11 (C mixolídio)
Cifrei C11 para manter a terça, lembre que C4 o acorde é suspenso, não tem terça.
O que determina o sucesso da colocação dessa quarta em tétrade é o contexto. Outro exemplo:
- Um acorde de C por mais comum que seja, pode soar completamente "dissonante" numa cadência com acordes elaborados. - Se uma música tiver uma construção tonal forte, com muitas cadências e melodias clichês, embutir a quarta pode ser difícil. - Se a melodia tiver apoio forte na quarta e ela for preparada com antecedência a tendência é que nosso ouvido aceite o conflito.
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mateusstarling Veterano |
# mai/12 · Editado por: mateusstarling
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Denis Guitar Na pratica a sensação de se tocar uma quarta sobre uma tetrade maior continua sendo uma sonoridade indesejavel dependendo do contexto musical. Num contexto de harmonia quartal por exemplo, muito usado no jazz, a terça e a quarta andam de mãos dadas mas se o contexto for pop dificilmente vc vai uma tetrade de 7M com a quarta justa na sua estrutura eu pelo menos não lembro de uma musica que tenha isso no ambiente popular. Agora usar uma triade maior com a quarta tamb em sua estrutura pode ficar otimo quanto mais num contexto vanguardista o pianista Brad Mehldau usa bastante esse tipo de triade maior com quarta. Portanto, para mim seja triade ou tetrade o que vale é o contexto.
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Ken Himura Veterano |
# mai/12
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Bom, se for o caso, pode fazer um macetão que os compositores na época do Palestrina (século XVI, antes até) usavam na chamada música ficta (fictícia/falsa): pega o si, que tá dando conflito, e diminui um semitom, arbitrariamente mesmo. Pode-se usar este macete em todos os motos litúrgicos, tanto autênticos quanto plagais, também em qualquer transposição, desde que a nota alterada seja o sétimo grau. A sétima vai ficar menor, mas evita o trítono quando o repouso for no fá. A cor não vai mudar muito e, dependendo da condução (voicing), a sonoridade da 2a menor entre mi e fá encobre a dó-sib.
No contexto daqueles caras, essa alteração (e outras possíveis) era(m) para evitar uma das três seguintes situações: * trítono / diabulus in musica (problema parecido com o nosso, mas no caso deles era proibição pela igreja mesmo hahaha); * enfatizar a finalis (nota que inicia e termina a composição modal, uma espécie de tônica); * impedir a terça menor no final, a 3 ou mais vozes (convenção estética, nego gostava de terminar as músicas com um acorde perfeito maior, mesmo em modos onde a 3a era menor).
Acho que dá pra usar esse recurso aqui no nosso ambiente, não?
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clebergf Veterano
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# mai/12
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mateusstarling
Mais um belo texto Mateus. Realmente o contexto é a única regra para o que pode e o que não pode...óbvio que isso não exclui o estudo e o entendimento, pois a melhor forma de fugir de uma "regra" é conhece-lá bem....
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LeandroP Moderador |
# mai/12
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mateusstarling
Parabéns pelo excelente tópico! Gerou uma conversa muito esclarecedora acerca das "notas evitadas". Tinha uma noção básica do assunto mas já vi que isso ainda vai longe, o que é muito bom pra quem gosta desse tipo de assunto. Acho que tão prazeroso como tocar é aprender coisas novas antes delas chegarem ao instrumento; e de pegar a guitarra com um propósito, com uma ideia nova na cabeça.
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mateusstarling Veterano |
# mai/12
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clebergf LeandroP Obrigado amigos, na verdade o merito do topico é de todos os que contribuiram.
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