DC Master Veterano |
# jan/04
A matéria a seguir foi extraída em parte do livro "The Bass Book - A complete illustrated history off bass guitar's" - Tony Bacon & Barry Moorhouse, GPI
Books Miloler Freeman Inc.
Um pouco de história
Os ancestrais ou parentes mais próximos de vários dos instrumentos
musicais de hoje podem ser traçados com certa precisão. Já para os
instrumentos de arco, como o violino ou o violoncelo, são muitas as
dificuldades em se estabelecer quando eles apareceram. O contrabaixo e
outros instrumentos com este tipo de função também encontram-se neste
caso.
As origens do contrabaixo remontam à cinzenta Idade Média. Descendente de
uma família chamada "Violas" e que se dividia em dois grupos: violas de
braço e violas de perna , o contrabaixo é hoje o herdeiro maior e de som
mais grave deste segundo grupo. Porém, o caminho que foi percorrido para
se chegar até a ele nem sempre é fácil e seguro de ser traçado.
Por volta do ano 1200, o nome Gige era usado para denominar tanto a rabeca
(instrumento de origem árabe com formato parecido com o alaúde) como o
"Guitar-fiddle" (espécie de violão com formato parecido com o do violino).
Na Alemanha, naquela época, quase todos os instrumentos tocados com arco
eram chamados pelo nome de Gige. Havia o pequeno Gige e o grande Gige. A
música que era executada nesta época era bastante simples. As composições
situavam-se dentro de um registro bastante limitado e, no que tange a
harmonia, as partes restringiam-se a 2 ou 3 vozes. Era muito comum
instrumentos e vozes dobrarem as partes em uníssono.
Com o desenvolvimento de novos estudos harmônicos, o número de partes foi
se expandindo para quatro. Em 1450, aproximadamente, começou-se a usar o
registro de baixo, que até então não era considerado. Com esta nova
tendência para os registros mais graves, os músicos precisavam de
instrumentos especiais capazes de reproduzir ou fazer soar as partes desta
região. A solução encontrada pelos construtores na época (luthiers) foi
simplesmente reconstruir os instrumentos existentes, só que em escala
maior, aumentando-lhe o tamanho, mas sem trocar a forma ou a construção
desses novos instrumentos.
Verificamos aí que a evolução técnica e artística de um instrumento
qualquer está imprescindivelmente ligada à história da música. Assim, a
evolução no número de partes da harmonia trouxe a necessidade de se criar
outros instrumentos que desempenhassem satisfatoriamente aquela nova
função.
Muitas pedras rolaram até que um instrumento que reunisse as qualidades
necessárias para a reprodução dos graves surgisse do meio de muitas
tentativas.
Historiadores narram que no ano de 1493 alguns músicos espanhóis, ao
visitarem a Itália, ficaram maravilhados ao verem violas tão grandes.
Na Itália, as violas tinham 3 tamanhos: a viola da gamba aguda, a tenor e
a viola baixa. No fim do século XVI, a família chegou ao número de seis
membros com a adição da pequeno baixo da Gamba , grande baixo da Gamba e
Sub-Baixo da Gamba.
Houve uma considerável experimentação com relação às violas. Algumas
chegaram a ter corpos de tamanhos fantásticos, umas outras com vários
formatos e tamanhos.
O ancestral mais próximo do Contrabaixo foi o Violone. Esse nome que é
freqüentemente encontrado referindo-se ao contrabaixo, originalmente
aplicava-se a qualquer dos instrumentos da família das violas, fosse ele
grande ou pequeno. No início do século XVII, o Violone tornou-se o nome
que designava o maior de todos: a Viola Contrabaixo.
Durante mito tempo, assim ele foi chamado e somente após a segunda metade
do século XVIII o nome do contrabaixo separou-se do violone.
O famoso compositor J.S. Bach sofreu muito na época por causa da
insuficiência dos contrabaixistas do seu tempo. De acordo com registros
históricos, até o ano de 1730 não foi encontrada nenhuma referência do
instrumento já atuando em Orquestras.
A partir da Segunda metade do século XVIII, com sua estrutura praticamente
definida, o contrabaixo passou a integrar as mais diferentes formações
musicais, como orquestras, Big Bands e pequenos grupos de jazz (ragtime,
dixland, Swing, Blues etc...).
No final dos anos 40, a amplificação já desempenhava um papel dominante
na música popular americana. Amplificadores, PAS, captadores e a guitarra
Fender Telecaster eram os elementos principais de uma tendência rumo à
música em um volume mais alto.
Alguns contrabaixistas – limitados a enormes baixos acústicos – instalaram
captadores, usando amplificadores adaptados para esse fim. Outros seguiam
o exemplo de Les Paul, ou seja, tocando seqüências de baixos nos bordões
das guitarras elétricas.
No início dos anos 50, Clarence Leo Fender, perito em eletrônica de
rádios e criador da guitarra elétrica que levava seu nome, observou que o
contrabaixo acústico apresentava alguns inconvenientes para pequenas
formações musicais, como seu tamanho e a sua baixa sonoridade (em
comparação com a guitarra elétrica), o que obrigava os contrabaixistas da
época a colocarem microfones para uma maior amplificação do instrumento.
Sob este prisma, Leo Fender, em 1951, construiu o primeiro contrabaixo
elétrico da história, usado pela primeira vez na banda de Bob Guildemann
(blues e rock) tendo como nome a designação Precision Bass.
O legado Fender
Depois de haver inventado, literalmente, a guitarra elétrica com corpo
sólido em sua oficina de rádio em 1947, Clarence Leo Fender com seu
pequeno time de auxiliares começou a conceber, na primeira metade de 1949,
um instrumento entre a guitarra elétrica e o grande contrabaixo acústico
utilizado desde então por todos os músicos da época. Não somente Fender
como todos os demais baixistas da época achavam o baixo acústico, além de
grande e incômodo (em caso de transporte), deficiente em nível de expansão
sonora (apesar de tentativa de amplificar seu sinal mediante a utilização
de microfones e captadores "especiais", os resultados obtidos eram
sofríveis...).
Leo, além de um profissional extremamente competente, estava sempre em
contato com músicos na época, integrando-se, portanto, a suas
necessidades, entre as quais, a construção de um instrumento que pudesse
substituir o acústico gerando ainda uma maior expansão sonora.
Leo Fender: - "O primeiro corpo sólido destinado a ser um instrumento
musical foi construído em 1943. Nesta época, eu tinha a patente dos
sistemas de captadores. Sendo assim, neste período, eu não estava
particularmente interessado em sons musicais e sim em captadores !! A
amplificação de qualquer sinal me fascinava !!.... O baixo fender foi o
próximo passo da evolução após a guitarra elétrica. Foi uma idéia que se
tornou uma obsessão..."
- ..."Nesta época, não existiam cordas de contrabaixo ainda. Sendo assim,
nos utilizamos de cordas específicas para o contrabaixo acústico. Tivemos
que cortá-las e adaptá-las em nosso projeto. Revestimos as cordas em uma
fina liga de aço permitindo assim que o sinal fosse magnetizado pelo imã
do sistema de captadores que tínhamos inventado. Mais tarde, iniciamos a
fabricação de cordas específicas para nosso novo instrumento..."
..." O principal objetivo de iniciarmos este projeto foi comodidade ! –
Queríamos um instrumento que o contrabaixista pudesse obter uma maior
sonoridade, que fosse confortável de ser tocado e que coubesse no
porta-malas de um carro !... Muitos amigos nossos diziam na época: ..."Leo
está completamente louco... ele nunca vai conseguir vender isto !!.. Mas
eu tinha uma visão... estes músicos precisavam de um novo instrumento...e
eu iria fazê-lo !!...".
..." O primeiro modelo foi construído no final dos anos 50. Muitos dos
músicos quiseram experimentar o primeiro protótipo. Todos tocavam guitarra
e não conseguiram entender como executar este estranho instrumento. Um
fato curioso também era que os guitarristas, acostumados com a técnica de
execução de seu instrumento, não tinham a mínima idéia de como criar
"moldes rítmicos" no contrabaixo elétrico, uma vez que todos nunca
"ouviram", com a devida atenção as estruturas rítmicas criadas nas músicas
executadas no período. Não se esqueçam: todos eram guitarristas. Muitos
dos baixistas acústicos da época solenemente desprezaram o novo
instrumento alegando dificuldade de execução, bem como uma "sonoridade
falsa" em comparação ao grande acústico.
As cordas eram afinadas de acordo com os moldes atuais, ou seja, E A D G.
Assim sendo, quando se iniciaram as primeiras incursões do novo
instrumento dentro do cenário artístico mundial, ele se limitava
simplesmente a repetir o que a guitarra tocava, somente uma oitava abaixo.
O grande trunfo deste novo instrumento era, além do tamanho e maior
qualidade sonora resultante, o fato de ter um braço mais curto que o
similar acústico, além de possuir trastes, o que facilitava sobremaneira a
execução do mesmo. Foi desta forma que Leo Fender, em uma chuvosa tarde de
dezembro de 1951 batizou seu novo invento: ... Sim, um instrumento que
seja diferente do acústico.. que possua trastes para uma execução
"precisa"... é isto mesmo: Um "Precision Bass..".
O resto é história...
Comparado à guitarra, o sentido é inverso: enquanto muitos guitarristas
promovem um revival de modelos de 30 anos atrás, os baixistas justamente
agora começam a explorar o instrumento de maneira mais ampla e em todos os
sentidos, como novas formas de técnicas de execução, em amplificação, na
construção de modelos mais avançados e com novos recursos (5,6,7,8,10,12 e
16 cordas !), bem como no uso de efeitos para incrementar o som do
instrumento. E, apesar de todo o progresso, parece que ainda há muito a
ser feito !!
A transformação do contrabaixo acompanhou a eletrificação das guitarras.
Não se poderia eletrificar o baixo acústico, por sua própria mecânica, seu
tamanho, sua técnica e dificuldade de transporte.
Então, a partir dos anos 50 foram surgindo os modelos elétricos parecidos
com os atuais.
Foi nos anos 50 que surgiram dois dos modelos clássicos de maior sucesso e
muito procurados até hoje: Fender Precision e Jazz Bass. Outras marcas
famosas na época eram os Rickenbacker, Hofner, Ephiphone, Gretsche e
Gibson; nomes que atravessaram as décadas seguintes, chegando até hoje com
razoável sucesso. A marca registrada destes instrumentos é a construção
cuidadosa, pesada e forte, propiciando a esses instrumentos um som
característico e que marcou época. São instrumentos que refletem muito bem
a evolução de muitos estilos ligados a eles. E, por isso, possuem um
preciosismo procurado por muitos músicos.
Fundamental na evolução do instrumento foi que, em algum ponto da década
de 70, luthiers americanos começaram importantes inovações na construção
dos baixos elétricos como a introdução de novos tipos de captadores
(eletrônica ativa) desenvolvidos pela Alembic e utilizados por músicos
como Stanley Clarke, Larry Grahan e Alphonso Johnson.
Chegamos à era dos instrumentos mais leves, de design arrojado, com
construção mais elaborada (na escolha de madeiras e ferragens) e com a
parte elétrica bem mais sofisticada, sendo que esta tendência até hoje é
uma constante na fabricação dos instrumentos atuais.
Marcas como Ibanez, Yamaha, Steinberger, Aria Pro, Fodera e Zon passaram
então a dominar a cena mundial de contrabaixos elétricos.
É óbvio que o contrabaixo sofreu algumas modificações ao longo deste
tempo todo, sendo as mais importantes os instrumentos construídos em
modulus grafite e fibra de vidro desenvolvidos por Ned Steinberger.
Contudo, desde o Precision, a maioria dos baixos quase não tem sofrido
modificações eletrônicas que aprimorem o pioneiro trabalho de Leo Fender.
Enquanto os amplificadores se tornavam mais eficientes e a invenção de
Fender se difundia entre os músicos, o som do Precision, grave e pesado,
passou a não corresponder totalmente para alguns contrabaixistas da época;
- "Faltam agudos ao Precision" – diziam.
Assim, o próximo passo lógico na evolução do contrabaixo elétrico foi
oferecer uma maior resposta às freqüências altas. Dois novos modelos
surgiram: o primeiro foi Fender Jazz Bass, que nasceu em 1960. O segundo
foi o Rickenbacker 4001, lançado logo depois.
Ambos utilizavam dois captadores em vez de um só, e a idéia era dar ao
baixista a opção de criar o seu próprio timbre através da mistura dos dois
captadores (um para os graves, outro para os agudos). Não por
coincidência, o Jazz Bass e o 4001 possuíam braços mais estreitos que o
Precision Bass.
Mas nem o Fender Jazz, nem o Rickenbacker 4001 agradaram completamente.
Mesmo não possuíndo uma boa resposta para as freqüências altas,
oPrecision, pelo menos, tinha um som contínuo e encorpado. Os baixos com
captadores duplos, por contraste, soavam ricos em todas as freqüências,
mas tendiam para certa falta de característica e de peso nos timbres
médios. Muitos baixistas, entretanto, tiraram proveito desse som, com
destaque para Larry Graham (Sly & the Family Stone) e seus "slap’s" com o
Jazz Bass e Chris Squire (Yes) com o seu Rickenbacker.
Quando a Companhia Alembic começou a construir guitarras e contrabaixos
em 1968, seus engenheiros empregaram circuitos ativos que selecionavam ou
filtravam certas freqüências antes do sinal partir para o amplificador.
Em meados dos anos 70, as pirotecnias de Stanley Clarke, com seu baixo
Alembic, causaram sensação entre os baixistas da época, consolidando a
utilização dos circuitos ativos em todo o mundo.
Depois de vender a sua companhia para a CBS, Leo Fender ajudou a
desenvolver, no começo da década de 70, outra lenda: o contrabaixo Music
Man. Mais tarde, Leo Fender fundou a G &L, cuja estrela da linha de baixos
com circuitos ativos foi o interceptor, cheio de graves e bem educados
agudos.
Contrabaixos com circuito ativo não necessitam ter mais botões do que o
amplificador, mas as vezes as fábricas ficam mais interessadas no visual
do que propriamente no aspecto funcional do instrumento. Mas tudo não
passa de tentativas de refinar o conceito do baixo elétrico, isto é, do
pioneiro Precision. Basta folhearmos qualquer revista estrangeira de
música para depararmos com toda sorte de coisas. Dos ousados Steinberger
ao Clevinger, um baixo de braço duplo. Também poderemos nos deparar com
baixos de 8 cordas. Este instrumento, que possui mais 4 cordas afinadas 2
oitavas acima da afinação normal, foi fabricado em 1963. No entanto, não
foi aceito pelos contrabaixistas da época, em virtude de seu peso
excessivo, problemas de afinação e braço muito grosso.
Alguns modelos surgiram com razoável aceitação, como os instrumentos
fabricados pela B.C. Rich, com um desenho contemporâneo e um braço
inteiriço que atravessa o corpo. Outros bons baixos de oito cordas são os
fabricados pela Hammer e Kramer.
Um novo salto da evolução surgiu com os contrabaixos Kubicki Ex Factor,
fabricados por Philip Kubicki em Santa Bárbara, Califórnia. Seu projeto
custou 18 meses de trabalho e tudo foi pensado ergometricamente: peso
total, centro de gravidade, desenho do corpo, enfim – tudo foi planejado
para proporcionar maior comodidade ao contrabaixista. Os circuitos
eletrônicos do Ex Factor possuem sete funções separadas, controladas por
dois botões e um seletor rotatório. Um outro fator interessante de sua
construção são os dois trastes adicionais na corda E (Mi bemol e Ré),
abrindo, na época, novas fronteiras para os músicos.
O Kubicki Ex Factor pode ser ouvido e admirado nos trabalhos em vídeo do
contrabaixista Stuart Hamm, onde são obtidas grandes variedades de
sonoridades e timbres, mediante a utilização das técnicas de Slap e
Tapping.
Em 1982, através do visionário Joe Zoon, foi criada a Zoon Guitars and
Bass.
Atualmente, o modelo "State of the Art" é o Zoon Hyperbass fretless,
desenvolvido para ser utilizado pelo maior contrabaixista da atualidade :
Michael Manring.
Este instrumento excepcional possui dispositivos Hipshot em cada tarracha
para reafinação instantânea em qualquer tom, ponte com microafinação em
dois níveis de ajuste para até dois tons, além de saída estéreo com plug
de oito pinos (dois para cada corda) e braço inteiriço feito em grafite e
fibra de carbono (não existem tensores – este tipo de braço não sofre
oscilações como os demais instrumentos).
Não vamos abordar o modernismo por aqui. Afinal o importante é atestar a
trajetória vitoriosa dos contrabaixos na sua essência.
|