Música em Campos de Concentração

    Autor Mensagem
    maggie
    Veterana
    # jan/05


    Universidade alemã estuda relação entre música e ditadura

    De alguns anos para cá cresce o interesse em pesquisar a música nos regimes ditatoriais, como o nazismo alemão. A Universidade de Wuppertal organizou um simpósio sobre o tema e a DW-WORLD conversou com um dos seus idealizadores, professor Oliver Kautny.

    Em 1995, a Universidade de Wuppertal realizou um simpósio sobre "Música e Nazismo". A ditadura nazista do Terceiro Reich é o exemplo emblemático de um regime que proibiu certos estilos de música, como o jazz, mas sobretudo excluiu os músicos judeus, que tinham um importante papel na vida musical da Alemanha.

    Os nazistas tinham um projeto radical, que era exterminar a raça judia, considerada inferior, explica o professor Kautny. Os compositores judeus foram excluídos da vida musical, a partir da década de 1930. A principal vítima da ideologia nazista foi a chamada música de vanguarda. Por exemplo, as composições de Arnold Schoenberg – compositor austríaco que revolucionou a música do século 20 – foram proibidas no Terceiro Reich.

    Fim da música de vanguarda

    Na verdade, os nazistas baniram a música experimental, pois esta não se prestava à mobilização das massas. Para conquistar o apoio popular, a ideologia nazista privilegiou os coros masculinos e as grandes óperas patéticas de Wagner e outros compositores alemães. Nada de música dissonante que contrariasse as normas vigentes, afirma Kautny.

    O nazismo impediu o desenvolvimento da música de vanguarda na Alemanha, tanto erudita como popular. Só restou a música fácil, de caráter folclórico. Foi uma catástrofe, diz o professor.

    Depois da Segunda Guerra Mundial, os compositores adotaram uma postura radical, negando tudo o que estivesse relacionado com o nacionalismo alemão. Foram buscar novas formas de expressão musical, como a música eletrônica, no estúdio da Rádio WDR de Colônia.

    A música no fascismo, comunismo e outras ditaduras

    Embora seja o exemplo emblemático, a ditadura nazista não foi a única a reprimir manifestações musicais. O fascismo italiano, o comunismo da União Soviética, o regime de Franco na Espanha, a China durante a época de Mao, e mesmo a ex-Alemanha Oriental também impuseram ideologias a serem seguidas pelos compositores e músicos.

    Será que há características comuns entre as músicas de diferentes ditaduras? Esta é uma das questões cruciais que levou Oliver Kautny e Helmke Jan Keden a idealizarem o simpósio "Música em Ditaduras do Século 20".

    Kautny e Keden são professores do departamento de Pedagogia Musical da Universidade de Wuppertal, que organiza o simpósio, em colaboração com a Central Alemã de Formação Política (Bundeszentrale für politische Bildung – BPB).

    Aspectos políticos, estéticos e ideológicos estão agendados nos dois dias do encontro (28 e 29 de fevereiro), que tem a participação de pesquisadores alemães e europeus. A hipótese do simpósio, segundo o Kautny, é que há semelhanças entre as diferentes ditaduras no plano musical.

    A música pega pelo emocional

    Todas as ditaduras se aproveitam do aspecto emocional e ritual da música para mobilizar as massas. Isto é uma das características principais de todas as ditaduras, ao lado do fato de possuírem um só partido e empregarem métodos terroristas, afirma Kautny.

    A música é um meio eficaz para atingir o emocional, pois tem elementos que unem as pessoas, por exemplo o canto. Os espetáculos de massa têm um papel fundamental em ditaduras. Os nazistas foram mestres em encenações de massa, onde milhares de pessoas se reuniam para praticar esporte, dançar ou cantar.

    Manifestações de massa ocorreram também na União Soviética e outras ditaduras do século 20, lembra o professor. No Brasil, há o exemplo dos gigantescos encontros de canto orfeônico, popularizados por Villa-Lobos, durante a ditadura de Getúlio Vargas.

    As ditaduras e a mídia

    Quando se fala em música de massa, logo se tem em mente o papel que a mídia tem hoje na difusão musical, por exemplo na música pop. Perguntamos ao professor se este papel "massificador" da mídia pode ser comparado a uma ditadura.

    Oliver Kautny acha que devemos ter cuidado neste tipo de comparação. Embora a economia global capitalista "dite" normas musicais, os pesquisadores restringem o termo ditadura aos regimes que possuem um partido único, utilizam métodos terroristas e mobilizam as massas.

    Ou seja, em todas as ditaduras há uma forma de poder central, opressor, que não pode ser comparado à economia de mercado e à comunicação de massa.

    Aspectos positivos da música em ditadura

    Um dos aspectos surpreendentes, revelados pela pesquisa, é que existem aspectos positivos da música em regimes ditatoriais. Embora a ditadura não seja em si algo positivo, observa Kautny, surpreende a diversidade musical que existiu na China durante os anos mais duros do regime maoísta.

    Outro exemplo é o da música erudita contemporânea na União Soviética, onde muitas obras foram proibidas, mas os concertos estavam sempre lotados. O público tinha uma sede imensa de música nova, que representava uma válvula de escape para as limitações da vida política.

    Hoje, o público russo – e o público ocidental de uma forma geral – estão "saturados" de ouvir música.

    Paulo Chagas

    maggie
    Veterana
    # jan/05 · Editado por: Moderador
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    Theresienstadt e Auschwitz: música sob o signo do Holocausto

    A música não era sagrada para o regime nazista. Mesmo nos campos de extermínio ela era meio de diversão, elemento tranqüilizador e álibi para o regime. Mas também a possibilidade de fuga interna e forma de protesto.

    O campo de concentração Terezin (Theresienstadt) ficava a 60 quilômetros da capital da então Tchecoslováquia, Praga. Para dezenas de milhares de prisioneiros tratava-se de uma estação de passagem para as câmaras de gás de Auschwitz. Para o regime nazista, era um assim chamado “campo-modelo”.

    De início, toda e qualquer atividade artística era punida com a morte. O que não impediu muitos condenados de inventar todo tipo de artifício para não se separar de seus instrumentos. Um violoncelo – grande demais para passar despercebido – era, por exemplo, desmontado, e, uma vez dentro do campo, o músico voltava a colar suas partes. Com esses instrumentos contrabandeados, realizavam-se concertos secretos nos porões ou sob os telhados de Terezin.

    Alta qualidade musical

    Logo, os mentores do Holocusto perceberam como explorar até mesmo a energia artística “ilegal” dos sofridos detentos. Exibir a rica atividade musical em Terezin era uma forma de provar à opinião pública que as notícias sobre os horrores dos campos de concentração não passavam de propaganda dos inimigos do nacional-socialismo, legitimando as atividades do regime. Só para quem quisesse ser enganado, é claro.

    O fato de cada vez mais atores, diretores, cientistas e músicos serem confinados aos guetos garantia produção musical de alta qualidade em Terezin. Entre os detentos contavam Peter Deutsch (ex-regente da Orquestra Real de Copenhague), o libretista Leo Strauss e compositores como Pavel Haas, Viktor Ullmann e Hans Krása. Uma ópera infantil deste último, Brundibar, chegou a ser utilizada pelos nazistas como instrumento de propaganda.

    Música de um judeu para a propaganda nazista

    Anna Flachová, sobrevivente do “lar de meninas” L410 de Terezin, relembra como, durante a realização de um filme de propaganda, ela e suas companheiras receberam a incumbência de cantar a obra de Krása, “para mostrar à Cruz Vermelha e a todo o mundo como se vivia bem em Theresienstadt. Mas era tudo mentira”. O cínico roteiro do filme visava mostrar Hitler presenteando aos judeus uma nova cidade.

    Os ensaios da ópera infantil composta em 1938 realizaram-se num porão, acompanhados por piano, ou apenas por um acordeão. Dependendo de se os músicos podiam permanecer ou se eram subitamente transportados para Auschwitz, havia por vezes uma pequena orquestra.

    Apesar de tudo, Anna Flachová adorava Brundibar, não só pela alegria de cantar, como pelo reencontro, ainda que por alguns momentos, com a infância roubada: “Sentíamos falta de ser ainda crianças”. Brundibar foi executada 55 vezes em Terezin, porém a maioria dos participantes não sobreviveu aos anos da Segunda Guerra.

    Silêncio em Terezin

    No campo tchecoslovaco, não apenas se executava música, como também se compunha intensamente. Viktor Ullmann (Der Kaiser von Atlantis) lá produziu muitas de suas obras, e o jovem e promissor pianista Gideon Klein completou seu Trio de cordas apenas nove dias antes de ser deportado para Auschwitz.

    “Carrega-se o pesado destino como se não fosse tão pesado, e se fala do futuro melhor como se já fosse amanhã”: esta é uma citação de Als ob (Como se), uma das numerosas canções com textos de Leo Strauss. Os versos contêm uma crítica velada a seus companheiros de cativeiro, que mesmo em Terezin cultivavam a esperança e se alimentavam de ilusões.

    Entretanto, em 16 de outubro de 1944 quase toda música emudeceu em Terezin. O trem de transporte ER 949 levou Haas, Ullmann e Klein, entre outros, para Auschwitz. Os mais idosos, como Hans Krása, foram diretamente para a câmara de gás, após o desembarque.

    Pausa musical em Auschwitz

    O próprio campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, possuía uma orquestra feminina, com cerca de 50 instrumentistas, entre 17 e 20 e poucos anos de idade, sob a regência de Alma Rosé, além de outras dez, que copiavam as peças a mão.

    Para que música na sala de espera da câmara de gás? Claro, para os de fora, a existência dessa orquestra era um álibi, a falsa prova de que os internos viviam em condições humanas. Mas também não faltavam verdadeiros melômanos entre os oficiais da SS, entre eles o abominável Dr. Josef Mengele, apelidado o Anjo da Morte, extremamente musical e que, mesmo durante o exílio na América do Sul, não deixava de freqüentar concertos. Outros, como Adolf Eichmann, exigiam entretenimento durante a inspeção dos campos.

    As musicistas eram confrontadas diariamente com uma amarga tarefa: cronicamente subnutridas, executar música de forma convincente, para os assassinos de suas famílias e amigos, e possivelmente seus próprios futuros algozes. Um precário prolongamento da vida, que podia acabar numa nota mal tocada.

    Regente-heroína

    Apesar dos relativos privilégios de que gozavam as instrumentistas, música era acima de tudo uma forma de trabalho forçado em Auschwitz, envolvendo um mínimo de 10 a 12 horas diárias de ensaios. Além disso, a qualquer hora um oficial podia resolver escutar sua melodia favorita, e neste caso as mulheres tinham que estar sempre a postos.

    Outra cruel função da orquestra feminina era tranqüilizar os novatos, que acabavam de chegar ao campo após viagem massacrante no vagão de carga de um trem.

    Nesse contexto de vida ou morte, a figura da regente Alma Rosé toma proporções de heroína. Com enorme habilidade psicológica, ela conseguiu durante anos manter o difícil equilíbrio entre o rigor necessário à disciplina da orquestra e o calor humano indispensável à sobrevivência mental de cada uma das mulheres sob a sua batuta. Até hoje, algumas das musicistas de Auschwitz afirmam dever a vida a essa mulher.
    Augusto Valent

    Fonte

    gustavo macaco
    Veterano
    # jan/05
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    nao i, mas se fala de musica e nazismo deve falar de Wagner

    Lord Derfel Cadarn
    Veterano
    # jan/05
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    caraio muito grande p/ ler agora parei na metade e pileu pro fim :P


    pq ninguem em obriga a ensaiar 10 a 12 horas por dia?

    Zedin
    Veterano
    # jan/05
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    O filme O PIanista tem muito a ver com isso, vejam!

    inthelight
    Veterano
    # jan/05
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    Muito interessante isso.nunca tinha ouvido falar que eles obrigavam os judeus a tocare pra fazer propaganda

    Zedin
    É, esse filme eh mto bom !

    maggie
    Veterana
    # jan/05
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    Zedin
    O filme O PIanista tem muito a ver com isso, vejam!

    Eu achei fraquinho.
    A Lista de Schindler é mais real.

    Zedin
    Veterano
    # jan/05
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    Eu já vi os 2 e realmente acho q a Lista de Shindler eh mais real mas citei O Pianista pelo contexto que foi abordado acima.

    inthelight
    Veterano
    # jan/05
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    maggie
    Mas o pianista a história realmente aconteceu daquele jeito!

    the_walrus
    Veterano
    # jan/05
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    inthelight
    eh tu roberto?? eh o luiz..!! lembra
    da epoca do dvd do led...
    ta com msn?

    maggie
    nunk vi o pianista naum, mas smp me disseram q eh bom

    Ken Himura
    Veterano
    # jan/05
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    Texto muito bom ;)

    Prefiro mesmo a Lista de Schindler...é mais comovente, para mim.

    inthelight
    Veterano
    # jan/05
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    the_walrus
    KCT, vc por aqui?? Ha qto tempo, hein? eu naum tenho MSN naum cara, to usando pouco a net agora. Mas sempre apareço aqui no forum, tinha feito ateh um topico com varias informações do Led hehe

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