A verdadeira essência da Música

    Autor Mensagem
    _music_4_ever_
    Veterano
    # jul/08 · Editado por: _music_4_ever_


    Tenho reflectido sobre o assunto...

    Aquelas peças atonais todas matematicamente correctas, muito cerebrais ou simplesmente show off (mostrar efeitos, etc.), parecem mostrar que os compositores se perderam entre as fórmulas e os efeitos e as teorias e as experiências musicais...e se esqueceram da verdadeira essência da música. Mas o que será realmente a verdadeira essência? Parece que esses compositores estão mais preocupados com o seu prestígio intelectual entre os eruditos do que em se agradarem a si mesmos. E quando compoem em função do seu agrado, fazem-no por gostarem do que ouvem ou para satisfação de um mero capricho intelectual em resolver equações?

    Penso nessas fórmulas e efeitos e teorias como um recurso entre muitos na concepção de uma obra musical. A Música o que deverá reflectir? Deverá ser descritiva? (descrever musicalmente sentimentos, sensações, pensamentos, ideias, ambientes...)...Qual o propósito da obra de Arte, da Arte? Qual o propósito do artista?

    Ken Himura
    Veterano
    # ago/08
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    Bom, o meu propósito é me agradar. Se agrada os outros, é lucro pra mim! =P

    Sim, sou bastante egoísta com isso.

    Khronos
    Veterano
    # ago/08
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    Não sei.. Acho que música, assim como qualquer outra arte, tem como "função" refletir os sentimentos, visões e coisas particulares de quem cria ou executa. Já cansei de ver ótimos músicos que para mim não fazem música, apenas a executam com um punhado de técnicas muito bem trabalhadas mas sem alma ou sentimento algum.
    Sem contar que através dos tempos, essa parte da arte ter se tornado cada vez mais comercial influenciou nesse aspecto, em que primeiramente tem de se agradar a critica do momento. E isso acaba por gerar uma satisfação própria, de mentira.
    É um começo de pensamento que eu desenvolvo mais tarde rsrs Por enquanto fica essa deixa.

    Ricnach
    Veterano
    # ago/08
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    Temos sempre que lembrar que não é porque não entendemos uma música que ela é desprovida de sentimento, valores ou qualquer outra coisa que se queira.

    Mais importante é entender que uma música nos impressiona, emociona, expressa e etc, o quanto mais a entendemos.

    falo isto por experiência própria.

    Sashsiam_2
    Veterano
    # ago/08
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    Não acho que deva ser censurado o "mero capricho intelectual em resolver equações". Há muita beleza na lógica, e os matemáticos sabem muito bem disso. Acontece que música em princípio deveria exprimir sentimentos do compositor, ou uma mensagem dele, ou então simplesmente agradar. Tem hora em que eu penso "pô, vamos parar com toda essa idolatria ao Bach, à revolução que ele fez, à genialidade de suas obras. Vamos simplesmente ficar quietos, escutar sua música e nos deleitarmos com ela. Depois a gente continua a falação." Em todo caso, acho que a beleza lógica das peças modernistas deve sim ser apreciada e respeitada, mas quando eu quiser ouvir uma coisa pra me esquecer dos problemas, para me divertir, ou para me emocionar, eu pego meu mp3 e boto uma boa sonata de Mozart.

    Scrutinizer
    Veterano
    # ago/08
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    mas quando eu quiser ouvir uma coisa pra me esquecer dos problemas, para me divertir, ou para me emocionar, eu pego meu mp3 e boto uma boa sonata de Mozart.
    E eu ouço um balé de Stravinsky... Sim, para me divertir, emocionar, etc.
    Enquanto você não se emociona com modernistas eu não me emociono com Mozart.

    _music_4_ever_
    Veterano
    # ago/08
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    Ricnach
    Temos sempre que lembrar que não é porque não entendemos uma música que ela é desprovida de sentimento, valores ou qualquer outra coisa que se queira.

    Mais importante é entender que uma música nos impressiona, emociona, expressa e etc, o quanto mais a entendemos.

    falo isto por experiência própria.



    Realmente, a imagem que pareço transmitir é que não sou apreciadora de música actual...Mas apenas me encontro num período de imensa dúvida e confusão ... E iniciei esta busca pela essência da música...Uma procura que agora vejo ser tão subjectiva...

    Sashsiam_2
    Não acho que deva ser censurado o "mero capricho intelectual em resolver equações". Há muita beleza na lógica, e os matemáticos sabem muito bem disso. Acontece que música em princípio deveria exprimir sentimentos do compositor, ou uma mensagem dele, ou então simplesmente agradar.

    Todo o ser humano procura de forma consciente e inconsciente a lógica, a simetria...O nosso cérebro está programado para isso...Mas a Música não deveria transmitir algo em específico? Não deveria descrever sensações, sentimentos, ideias...? Para resolver equações temos já as ciências exactas, que é isso que procuram: respostas objectivas. A Música não...A Música como Arte deveria procurar o subjectivo, a sugestão, a diversidade de respostas...Tornar a Música objectiva é deturpar a sua essência artística...



    ou então simplesmente agradar
    Então a Arte não deve ser necessariamente funcional?

    algol_i
    Veterano
    # ago/08
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    Se não me engano, certa vez comentando sobre o motivo pelo qual foi estudar música, Celibidache disse: "Queria saber o sentido daquela linguagem sem palavras, matemática e poética ao mesmo tempo''. De fato a música é matemática, e assim sempre foi desde que o ser humano começou a criar música! Isso, pois tendemos a criar/interpretar simetrias, e descrever o nosso universo através de tais simetrias...

    Alguém aí quer fazer uma análise de uma fuga de Bach? Ou de uma sonata de Beethoven? Não? Talvez vocês prefiram Schoenberg? Ah, sim, Oscar Peterson, Herbie Hancock, Miles Davies também... Ou quem sabe Pink Floyd, Kraftwerk e Queen? Ah, não precisam parar por aí, que venham Eötvös e Ligeti... pode ser até mesmo Ivete Sangalo...

    Em qualquer conjunto de sons que você possa chamar de música, existirá algum nível de simetria, e logo de matemática.

    Da mesma forma que neste momento estamos utilizando conjuntos de letras para formar palavras, e palavras para formar frases e frases para transmitir idéias, na música utilizamos conjuntos de freqüências para criar timbres, e conjuntos de timbres para formar harmonias e harmonias para criar melodias e melodias para exprimir experiências... e nós conhecemos bem o funcionamento desses blocos por meio da acústica, que é um assunto sobre o qual atingimos um bom nível de sofisticação física - que por sua vez possui uma sólida descrição matemática baseada em equações, que por incrível que pareça, foram criadas para explicar a condução de calor em objetos aquecidos: para quem se interessar, são chamadas séries e transformações de Fourier.

    Mas saber que em pequena escala as coisas são matematicamente explicáveis não significa que na grande escala elas o sejam - embora isso já seja um bom começo. Entretanto, qualquer pessoa que possa escutar, ou que saiba ler uma partitura, pode perceber claramente todos os níveis de simetria existentes na construção das músicas - seja por meio da simetria na melodia (modulada ou não!), no ritmo, na harmonia, ou nos timbre escolhidos!

    Mas a música tem um quê a mais além da simetria que é justamente a interpretação do intérprete e aquela de quem escuta. Para nada serve uma partitura se ela não é interpretada por um ser humano. Os discos por exemplo, não importa o quão bem gravados, servem apenas como referência histórica. A experiência da música não pode ser gravada, pois existem relações particulares entre interpretação, momento, acústica do local, instrumentos, interpretes, cadeira em que você está sentado na sala, etc que não podem ser reproduzidas mecanicamente... e não importa o quão caro o equipamento que você utilize para gravar e para reproduzir o som, eles jamais serão capazes de serem fiéis à experiência original.

    A música não é formada apenas por uma coleção de notas! Nem tão pouco pelos conjuntos de frases musicais! Ela é sim formada pelo que se experimenta seja intelectualmente ou emocionalmente! Sobre isso já foi dito, também por Celibidache:

    "What is the "interpretation" in what we are doing here? It's nothing else but finding out what the composer had in mind. He starts from an experience and looks for the notes. We start with the notes to come to his experience."

    "What is the sense of a musical phrase? 'Tata hee hoo hii doo pff' Why is this senseless? Because the beginning has no relation to the end. A sequence of tones follows a structure which finally connects the beginning with the end. When do I know that a piece has come to its end? I know it when the end is in the beginning. When the end keeps what the beginning promised. Continuity doesn't mean: to go from one moment to the next, but: after going through many moments to experience timelessness. That is where beginning and end live together: in the now. What is required to experience any structure as a whole? The absolute interrelation between the individual parts. When I don't feel the parts but the whole, what did my mind do? Integrate."

    "Something starts to move, but you don't notice that it is moving in time. If anyone has the feeling it is either too long or too short, he is already out of the music. Here you can somehow live beyond time."

    Bom... acho que já falei demais por hoje!!!! ;-)

    Uma abraço!

    Alberto.

    _music_4_ever_
    Veterano
    # ago/08
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    algol_i

    Interessantes os pensamentos de Celibidache. Hei-de ler mais a respeito...

    Mas quando eu falava da Matemática na Música - algo que também sinto nesta Arte - falava no seu modo de concepção. Será que há compositores que apenas se apoiam numa fórmula qualquer ou numa sequência qualquer de números e compõem, esquecendo o resto? Esquecendo o subjectivo que a Música deveria incluir? Seguindo teimosamente aquela fórmula, aquela sequência só porque é lógico, mesmo que lhe desagrade ao ouvido? (há peças atonais que soam bem e outras que nem por isso, assim como também acontece com as tonais e com as modais).

    J. S. Coltrane
    Veterano
    # ago/08
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    _music_4_ever_

    Ótimo tópico. Vou fazer um paralelo com a física, uma vez que a arte pode ser somente uma desculpa para podemos falar da arte e de outras coisas na medida em que tudo cruza o nosso caminho durante a nossa pequena existência por aqui.

    Hoje existem dois paradgimas que não são compatíveis. A teoria relativistica de Einstein [que englobou Newton] é geométrica, deteminada e está alinhada com várias correntes da música erudita. Isso explica o macro

    A teoria quântica é estocástica [probabilística], fundamentalmente indeteminada e micro. Através do método analítico, desmontamos a matéria e descobrimos que somos cheio de vazios. Seria possível atravessarmos uma parede se consiguissemos entrar em ressonância com ela, mas a probabilidade é de 0,0[infinitos zeros]1

    O santo graal da física é a teoria do tudo, uma vez que o micro não encaixa no macro. Para isso foi constuido aquele acelerador de partículas na Suiça/França, que visa testar a teoria das supercordas [que não tem evidência empírica]

    E a música?

    A música erudita por muito tempo procurou a perfeição geométrica na tentativa obssesiva de se livrar do ruído enquanto esse dominava o mundo através da maquinaria industrial. A "música das alturas" acabou chegando ao ruído no modernismo! Ao propor usar o I-Ching para compor, John Cage colocava o acaso de volta ao sistema. Isso foi há muitos anos atrás, e poucos entendem essas coisas. Acho que a tarefa que colocam para a juventude [e que assumimos aqui] é imensa. Depois de tudo isso temos que encontrar sentido entre o mundo despedaçado e a morte libertadora.

    Como colocou o Jung no prefácio do I ching:
    "Poderia haver uma posição mais desconfortável intelectuamente do que a de pairar sobre o ar rarefeito, sem saber o que é verdade e o que é ilusão?"

    Ricnach
    Veterano
    # ago/08
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    Para introduz esta questão sobre a especificidade das idéias musicais indico a leitura de Eduard Hanslick, a obra "Do belo Musical".

    Em resumo, musica não é matemática, e não é sentimento, e não visa reproduzir os sentimentos do compositor. Nós seres humanos podemos nos emocionar com qualquer coisa isto não é privilégio da música, assim como podemos matematizar qualquer fenômeno, artistico ou não.

    Se um compositor usa uma equação para gerar sons, isto não diz respeito a sua musica, pois estes sons devem ser organizados musicalmente, e eu ralmente desconheço qualquer periodo da musica que não tenha trabalhos interessantes...

    Mas a música, o que ela expressa então? idéias musicais, só (ou tudo)


    Dêem uma olhada no conceito de Mônada também, em T. Adorno.

    Hyrah
    Veterano
    # set/08
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    Há diversas formas de se apreciar um trabalho artístico. Há quem se apegue pela forma, pelo sentimento, pelo ideal, e por inúmeras razões de natureza pessoal. O que eu realmente acredito, é que a música precisa ser, antes de tudo, autêntica, não importa se é Stravinsky ou Ramones. Só assim a música supera as barreiras da superficialidade com seu ouvinte.

    No mais, é um tema bastante abstrato. É possível demonstrar a matemática através da música, mas o inverso é contestável.

    []'s

    Pardal
    Veterano
    # set/08
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    Música é a capacidade do homem de se expressar através de sons, numa lingüagem não necessariamente verbal.

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