É longo e dá trabalho II

    Autor Mensagem
    maggie
    Veterana
    # jun/05


    Galera, achei uma reportagem muito boa sobre a indústria fonográfica no Brasil.

    Plagiando o nosso meu amigo Ëdio, vou postar aqui na íntegra e dar os créditos, afinal o site da Agência Carta Maior é ótimo e eu sempre estou lendo as novidades.

    Quem não conseguir ler de uma vez, tente pelo menos em partes. Vou tentar cortar o texto pra ficar mais fácil. Abços.

    FAQ
    O texto é longo?
    É.

    Por que devo ler?
    Por que vale a pena, seu pangaré sem cultura.

    E se eu não quiser?
    Então não leia e não poste.

    Li e gostei/odiei.
    Então comente!

    maggie
    Veterana
    # jun/05
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    Sete faixas contra a crise

    A crise da indústria do disco adentrou o século 21 como sombra sobre artistas, produtores e executivos do setor. As explicações para ela são muitas e variadas, às vezes, confusas e conflitantes (pirataria, internet, mudança no padrão de consumo, segmentação, etc.). Mas o certo é que ninguém sabe exatamente o que fazer para reverter a queda constante das vendas ou abrir novos flancos de comércio para a música. Iniciativas aparecem aqui e ali mundo afora.

    Das experiências brasileiras que já vêm tateando caminhos, algumas características aparecem como traço comum. As mais evidentes são reuniões em coletivos de músicos de afinidades eletivas no campo estético e estratégias que reduzem custos de produção e, teoricamente, o preço para o consumidor, além do MP3 como consolidação de um promissor formato (ainda uma incógnita em termos de escala) e até a busca mais sistemática pelo mercado externo via relançamentos remasterizados. A Agência Carta Maior inicia hoje série de reportagens mostrando algumas dessas iniciativas: o que propõem, como operam e as expectativas que as cercam.

    A Elo Music, do baixista paulista Paulo Lepetit (na foto), é o pontapé da série. Lepetit juntou-se aos parceiros Carlos Zimbher e à cantora Vange Milliet para produzirem discos de apenas sete faixas. Há uma iniciativa no Rio de Janeiro, com o selo Cardume, de Bruno Levinson, que grava CDs de seis faixas. O início do projeto de Lepetit, batizado de CD 7, foi com um disco de Naná Vasconcelos e Itamar Assumpção, lançada em abril do ano passado (Isso Vai Dar Repercussão). Lepetit foi músico e produtor de Assumpção (1949-2003), ícone da vanguarda paulistana nos anos 80. Um dos próximos títulos do projeto será o registro da banda da filha de Itamar Assumpção, Anelise, que canta no grupo Dona Dica.

    Três novos álbuns do projeto são os discos dos próprios Lepetit (Peças), Zimbher (Coração Contemporâneo) e o do trombonista Bocato (Cacique Cantareira - leia sobre eles abaixo). Paulo Lepetit falou com a reportagem, por telefone, de Campinas. Na conversa, além do baixo custo, o músico justificou esteticamente o CD 7 ("acho suficiente para firmar um conceito"), disse não crer no fim do CD como formato e falou de uma nova etapa da gravadora (que também faz dublagens para CDs de jogos eletrônicos).

    A Elo Music, criada há cinco anos, estreou agora como produtora de shows, outra característica dessas novas trilhas alternativas no mercado da música (seguida também pela Trama). O primeiro show da Elo Produções foi realizado no começo do ano, em São Paulo, reunindo Naná Vasconcelos e Zélia Duncan. Confira a entrevista:

    maggie
    Veterana
    # jun/05
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    Agência Carta Maior - Por que só sete faixas num CD?
    Paulo Lepetit - Achamos que é uma alternativa de viabilização mercadológica. Queremos negar um pouco essa convenção de que um CD teria que ter 14, 15 músicas. Avaliamos que sete é um número suficiente para se definir um conceito, fixar objetividade com qualidade e ganhar tempo e baixar custo. Além do que, para o artista que trabalha na independência, isso pode reduzir a periodicidade de lançamentos, que é de cerca de três, quatro anos.

    CM - Em quanto diminui o custo de produção de um disco no projeto e a que preço ele tem chegado ao consumidor?
    PL - A diminuição maior é em tempo de estúdio e hora trabalhada dos músicos, porque na prensagem e no encarte nem tanto. Temos conseguido fazer com uma economia de cerca de 35% na produção, vendemos os discos nos shows a R$ 10 e sugerimos aos lojistas não passar de R$ 15. Nossas tiragens têm ficado em torno de mil cópias por disco, com exceção da estréia com Naná e Itamar, que abrimos com 2 mil cópias.

    CM - O projeto tem 10 meses, que avaliação você faz dele? Os discos têm sido vendidos como você esperava?
    PL - Está tímido ainda, as pessoas demoram para entender a proposta, mas é uma coisa que tem nos animado. Tem vendido bem, mas aos poucos, e acho que essa é a tendência mesmo em um trabalho como o nosso. Posso dizer que nossa perspectiva é continuar, os próximos álbuns vão sair neste formato. Se daqui a dois anos descobrirmos que o caminho não é esse, que é necessário voltar aos discos maiores, reavaliaremos.

    CM - Distribuição é um gargalo? Quem a faz para a Elo Music?
    PL - É, diria que hoje é o principal. Começamos com uma parceria com a Sony, que acabou não dando certo para nós. Agora nós mesmos fazemos e a saída tem sido um contato direto com os próprios lojistas, daí a dificuldade de chegar em todo o Brasil, claro.

    CM - Como você avalia a internet como possibilidade de mercado? Os artistas da Elo produzem também em MP3?
    PL - Mesmo para o mercado da música de uma forma geral, a internet ainda não resolveu o problema. Para vender na rede, você precisa de um volume que ainda não se consegue facilmente por título. Agora, a Elo não deixa de estar ligada no desenvolvimento de novos modelos de negociar, isso é inevitável. Pelo nosso site [www.elomusic.com.br], é possível ouvir algumas faixas em MP3 e comprar os discos com envio postal, só não dá para baixar as músicas. É uma coisa que estudamos com calma, assim como chegar ao mercado externo.

    maggie
    Veterana
    # jun/05
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    CM - O formato CD vai acabar?
    PL - Não creio nisso. Acho que terá público para as duas coisas. Há a garotada que não quer saber de ficha técnica e vai ouvir os sucessos pela internet, mas sempre existirá aquele que quer saber de quem é aquela música que ele está ouvindo, quem toca, que instrumentos foram usados, etc.

    CM - Você não acha paradoxal que, num momento em que a tecnologia permite ampliar o número de músicas para o consumidor, os artistas se vejam numa situação de ter de reduzi-las para se viabilizar comercialmente?
    PL - Continuo achando que sete músicas é um número suficiente para você dar um conceito ao seu trabalho, não é mais a quantidade que importa. Por isso, acredito na sobrevivência de formas alternativas de baratear os discos, é uma tentativa diferente.

    maggie
    Veterana
    # jun/05
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    Pescadores de pérolas

    Se o desenho do mercado fonográfico ainda é um rascunho, há anos o desmoronamento do antigo modelo baseado no poder das majors e as facilidades tecnológicas abriram possibilidades de negócio para experiências diversas, até para as muito pessoais. São os casos de reedição em CD de catálogos próprios ou das grandes gravadoras, as majors, que optam por lucrar também com os “pescadores de pérolas”, negociando direitos de reprodução de fonogramas originais.


    Ronaldo Bastos, o carioca mais mineiro do Clube da Esquina, chega agora aos dez anos com seu selo Dubas Música, que relança com capricho raridades esquecidas nos baús da EMI, Universal, BMG e outras. Em Curitiba (PR), há 17 anos, Leon Barg, um comerciante filho de judeus romenos nascido no Recife (PE), tem a Revivendo Música, que reedita em CD pepitas como os primeiros discos de Luiz Gonzaga, Noel Rosa, Alvarenga e Ranchinho, Francisco Alves, Orlando Silva e outros nomes famosos da música popular brasileira dos anos 30 e 40.

    Barg, de 74 anos, diz que, “com a morte dos velhinhos saudosos” (público-alvo dele), tem mudado o foco das reedições para os artistas dos anos 60 e 70. “Em 2003, perdi 15% dos meus compradores fixos, pessoas que faziam coleção dos discos da Revivendo”. E no ano passado, como ficou? “Não quis contar para não ficar mais angustiado”, brincou, sério, durante a entrevista que concedeu à Agência Carta Maior. Leon Barg não é músico, mas fez da paixão pela música uma atividade comercial para si e para a família (as filhas trabalham com ele na administração do negócio). Sai tudo da coleção dele, um acervo de 64 mil títulos (metade LPs, metade bolachões de 78 RPM), mas os direitos são das gravadoras, com quem ele negocia.

    A Dubas de Ronaldo Bastos (Beto Guedes sempre o tratou como Duba, nome ratificado por sugestão de Caetano Veloso e usado no selo) relança o catálogo da MPB dos anos 50 aos 70. A bossa que já fazia e acontecia fora do Brasil, assim como os instrumentistas que criaram um caminho próprio com base nessa linguagem. É o samba-jazz de J.T. Meirelles, a versatilidade de João Donato, a ritmia sofisticada de Dom Um Romão, gente que achou uma saída para a música que fazia no “Aeroporto do Galeão”, como dizia Tom Jobim. Ou os que ficaram e tornaram-se os principais nomes da cena: Chico, Milton, Gil, Gal... todos refeitos em luxuosas compilações. Bi ou trilíngües, inclusive, com destino ao mercado exterior. A distribuição é da Universal.

    O próprio maestro Tom Jobim também entra na roda dessas reedições no formato modernoso dos lounge, a calmaria eletrônica dos tempos modernos, uma predileção de Leonel Pereda, jovem uruguaio radicado no Rio que se tornou braço direito de Bastos nas reedições e compilações do catálogo Dubas. “Tudo isso tem a ver com minha própria carreira, com minha formação. Não sou técnico, nem instrumentista, sou um compositor que sempre teve uma visão especial do objeto disco”, disse Bastos em conversa com a reportagem, do Rio de Janeiro. Confira trechos das duas entrevistas:

    maggie
    Veterana
    # jun/05
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    Entrevista: Ronaldo Bastos:

    Agência Carta Maior - Como é a liberação de direitos nos relançamentos da Dubas? Quanto vai para as gravadoras nesse processo?
    Ronaldo Bastos - É uma atividade diplomática, conheço a maior parte dos executivos das gravadoras e a Dubas Editora funciona direitinho para eles. O percentual varia de disco para disco, é uma negociação particular com cada gravadora, depende do álbum, número de faixas, etc., mas é um bom negócio para todos. Hoje tem menos coisas para relançar e temos feito compilações, mas compilações que soem com um disco novo.

    CM - Por que só trabalhar com reedições?
    RB - Mas não trabalho só com reedições, lancei Wado, Jussara Silveira, o grupo Arranco de Varsóvia e agora preparo o novo do Arranco e vamos lançar também o sambista Osvaldo Pereira [maranhense, ganhador do Prêmio Sharp]. Gostaria de lançar mais, só não o faço por falta de patrocínio. Hoje há mercado para esse trabalho, mas tem muita concorrência, às vezes até desleal. Gasto dois dias remasterizando um disco e tem neguinho que faz em 40 minutos. E tem também um gargalo que acho que é social no Brasil. O fato é que nem sempre as pessoas mais legais têm grana para comprar discos. Quem tem muita grana, ao invés de ficar falando bobagens nas colunas sociais, acho que deveria comprar discos de dois modos: adquirir o objeto disco e patrocinar os artistas, como fez Olivetto [Washington, publicitário], que “comprou” o último disco da trilogia que fiz com Celso Fonseca.

    CM - Como está a internet como ferramenta de mercado para a Dubas?
    RB - Estamos tateando ainda, não sabemos ao certo como será isso. O problema é que é preciso escala, meu catálogo já é razoável em tamanho, mas a maioria não é de propriedade da Dubas, o que dificulta a questão dos direitos autorais. E não posso entrar nesse discurso do “vamos liberar os direitos por causa da internet”. Acho que essa coisa do Creative Commons [sistema de licença criada nos EUA que permite ao artista escolher a forma de liberação – total ou parcial – de direitos autorais na internet; idéia encampada no Brasil pelo Ministério da Cultura e Escola de Direito da FGV] está sendo confundida, é uma bobagem essa história de liberar tudo, levou-se muito tempo para construir um sistema de direito autoral, com muita gente envolvida, não dá para acabar com isso de uma hora para outra.

    CM - O formato CD vai acabar?
    RB - Não vai acabar como os vinis não acabaram, o vinil inclusive não pára de ser relançado na Europa. O CD não vai acabar como não acabou o livro, como propagaram, nunca se editou tanto livro e tão bem como agora. Acho que todos os formatos vão conviver.

    CM - O Ronaldo Bastos compositor foi anulado pelo empresário Ronaldo Bastos?
    RB - Não, continuo compondo. Na verdade, a Dubas nasceu para viabilizar minhas coisas, como os discos que fiz com Celso Fonseca, que acho álbuns muito conceituais. Demos um outro ar para o pop, com outra linguagem, como fiz também nos primeiros discos do Ed Motta, mas são coisas que a crítica não vê, prefere me tratar até hoje como “bicho grilo”. Mas não reclamo, faz parte, talvez isso aconteça pelo fato de o Clube da Esquina não ter feito média com a mídia. Acho que nunca fomos perdoados por isso.

    maggie
    Veterana
    # jun/05
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    Entrevista: Leon Barg

    Agência Carta Maior - Por que resolveu negociar sua própria coleção?
    Leon Barg - Paixão pessoal mesmo, juntei o útil ao agradável. Tinha uma loja de discos na década de 80 e as pessoas sempre procuravam coisas que não havia mais no mercado, como tinha um repertório grande disso resolvi reeditar. No começo, foi muito bem; depois, a coisa foi complicando quando os velhinhos saudosos foram morrendo. Em 2003, perdi 15% dos meus clientes fixos, pessoas que faziam coleção dos discos da Revivendo. No ano passado nem quis contar para não ficar mais angustiado. O público não se renova, reeditei um disco-coletânea sobre rock e nem assim... acabou encalhado. Agora tenho apostado mais nos artistas dos anos 60, 70, mas minha predileção é os anos 30 e 40, que continuo reeditando, nunca deixo de fazer.

    CM - Como é a negociação do senhor com as gravadoras?
    LB - Peço direitos para as editoras e gravadoras. É uma negociação tranqüila porque elas estão há 17 anos comigo e acho que não querem perder a galinha dos ovos de ouro. Da minha parte me viro, alguma fórmula você precisa ter para escapar neste país.

    CM - Mas a Revivendo não tem público cativo?
    LB - Tem, mas não dá lucro, tenho recuperado o investimento, no máximo. Dá para manter a administração do selo, onde faço praticamente tudo sozinho, remasterização, digitalização, correções de áudio, tudo. A venda é feita na nossa página, que, para sobreviver, tem recebido produtos de terceiros, pequenas e grandes gravadoras.

    CM - Que discos o senhor gostaria de reeditar que não tenha feito ainda?
    LB - A obra de Pixinguinha, tento fazer isso há cinco anos, mas sem patrocínio não dá. São cerca de 900 músicas, algo em torno de 40, 42 discos com tudo onde ele colocou o polegar dele, de composição à orquestração e arranjos. Já me cadastrei quatro vezes na Lei Rouanet, mas é assim mesmo, um dia eu chegou lá, mesmo com minhas filhas brigando [risos]... porque são coisas que encalham. Uma delas já desistiu, tá partindo para vender jóias.

    maggie
    Veterana
    # jun/05
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    A propósito, o tópico não vai ter muita audiência, mas pelo menos é uma ótima fonte de info. :D

    JediKnight
    Veterano
    # jun/05
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    Vou ler, mas de antemão já digo: Se a Revista Veja fosse metade do que é a Carta Maior, a Veja seria uma puta revista!!!

    TIO_TEDDY
    Veterano
    # jun/05
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    E se eu não quiser?
    Então não leia e não poste.


    eu naum vo ler e vo postar soh pq eu sou teimoso =P

    Ed_Vedder
    Veterano
    # jun/05
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    Bom, eu li.

    Acredito que não irá vingar, mas para bandas e musicos não deixa de ser interessante projetos como o CD7. Se isso servir para que bandas que não possuem disponibilidade financeira de lançar um Cd convencional, ou mesmo não possuirem faixas bastante para completa-lo, ja será uma grande coisa.

    Arthas_2
    Veterano
    # jun/05
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    porra, quando eu vi o titulo...eu ja fui pensando merda...
    e LONGO(roliço e tem cabeca vermelhinha) e dá TRABALHO!(Pra "deixa-lo" cansado...sabe)

    _gozado_
    Veterano
    # jun/05
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    jamais lerei isso
    (2)

    dutcl
    Veterano
    # jun/05
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    _gozado_
    lê nao cara...ela fechou o seu topico!!!

    Dreamchaser
    Veterano
    # jun/05 · Editado por: Dreamchaser
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    maggie
    Eu li.
    E na última parte sobre o Pixinguinha, se reeditassem tudo seria um deleite para mim. Daí ler que ninguem apoia uma coisa dessa, que a coisa fica emperrada é de matar. (lembrando no que o mercado injeta grana e distribui)

    São cerca de 900 músicas
    !!!

    ROTTA
    Veterano
    # jun/05
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    maggie
    Por que devo ler?
    Por que vale a pena, seu pangaré sem cultura.


    Muito estimulante! :-)
    Abraços.

    PéZAUM
    Veterano
    # jun/05
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    jamais lerei isso

    auhauahuahuhaau

    PéZAUM
    Veterano
    # jun/05
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    a discurssao aki nesse topico sobre "pq devemos ler esse texto?" e nao sobre o tema dele hehehehe

    maggie
    Veterana
    # jun/05
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    up?
    huehueehue

    Arthas_2
    Veterano
    # jun/05
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