Morador de rua e a Bolsa Família

    Autor Mensagem
    Wanton
    Veterano
    # 07/dez/24 12:31


    Me ajudem a entender. Por que existem quase 40 mil moradores de rua em São Paulo se eles podem receber o auxílio do governo? R$ 686,31 não é nenhuma fortuna, mas com esse dinheiro dá para comprar comida, não é preciso ficar revirando o lixo em busca de restos.

    Lelo Mig
    Membro
    # 07/dez/24 13:26 · Editado por: Lelo Mig
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    Wanton

    Cara, eu acho que uma boa parte desse montante, têm problemas de saúde mental. E muitos problemas mentais turbinados por vícios.

    Eu sei que se a pessoa vai atrás de um CRAS, ela tira documentos, usa o endereço do próprio CRAS e consegue receber. Mas muitos, estão apenas "vivos", nada além disso. O cara nem sabe de seus direitos, não dá ouvidos a Assistentes Sociais.

    Sabemos que poderia haver políticas melhores, mais práticas, menos burocráticas. Aqui sempre cabe uma certa ineficiência Estatal e mesmo do funcionalismo público. Mas o problema é muito complexo.

    Acredito até que tenha muita gente (funcionários e assistentes sociais) recebendo Bolsa Família, roubando, de gente que nem sabe do direito.

    Não acho que seja um problema do programa (ainda que, como exemplifiquei, creio haver desvios no caminho) mas acho que ele não "atinge" a todos. Têm cara, por exemplo, que fincou pé na cracolândia e nunca mais saiu de lá... não sabe nem mais o próprio nome.

    E olha, eu lembro de ter lido em algum lugar, (vou até pesquisar) que um morador de rua, por conta de outros benefícios temporários que têm direito, consegue, se for atrás, mais do que os R$ 686,31 que você citou. Acho que quase dobra esse valor.

    Black Fire
    Gato OT 2011
    # 07/dez/24 13:39
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    Pedro, devolva a conta do Wanton!

    Wanton
    Veterano
    # 07/dez/24 16:16
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    Lelo Mig
    Não acho que seja um problema do programa (ainda que, como exemplifiquei, creio haver desvios no caminho) mas acho que ele não "atinge" a todos.

    Sim, não estou questionando o programa, mas tentando imaginar as dificuldades enfrentadas para fazer com que esse dinheiro sirva para mudar a vida dessas pessoas.

    Black Fire
    Pedro, devolva a conta do Wanton!

    Ficou igualzinho aos questionamentos com selo Pedro Bó de qualidade, admito. Mas não há nenhuma insinuação maliciosa por trás da pergunta do tópico.

    JJJ
    Veterano
    # 07/dez/24 16:32
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    Acho que o principal fator é ignorância mesmo. Muitos vivem como zumbis, não tem documentos, não sabem nada sobre seus direitos.

    Lucmac
    Veterano
    # 07/dez/24 17:49
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    Lelo Mig
    Wanton

    Legítima a dúvida. O Lelo disse tudo.

    Consegue um salário, Lelo. Acho que é o máximo.

    Além do estado emocional quebrado, agravado pelo álcool e crack, como ressaltou, há o fato de serem vítimas de preconceito, segregados e tratados como sub-humanos, menos que gente. Mas são humanos e sentem como qualquer um. Não confiam em ninguém, não querem seguir ninguém, não têm esperança e já desistiram de acreditar em qualquer possibilidade de recomeço.

    São comportamentos relacionados à natureza humana, e se há algo que entendemos bem, é sobre a nossa própria espécie.

    Outro fato é que muita gente que trabalha diretamente com assistência social não tem, necessariamente, talento para isso. Roubar o benefício continuado dessas pessoas é um exemplo, mas maus-tratos, abuso de poder, humilhação ou até mesmo aqueles conselhos chatíssimos, do tipo 'para de usar droga, isso vai acabar com a sua vida', cansam. Imagina o cara quebrado ouvindo conselhos para parar de fazer o que talvez seja a única coisa que entende valer a pena... Não dá

    Por isso, Júlio Lancellotti denuncia tanto a aporofobia quanto a arquitetura hostil. Porque, embora possamos entender como degradante o modo de vida dessas pessoas, pelo menos o direito de escolher viver assim deve ser garantido e respeitado.

    Lucmac
    Veterano
    # 07/dez/24 18:05
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    Apenas para não deixar lacunas e corrigir uma eventual generalização no comentário, embora confie que vocês compreenderam, acho importante acrescentar que, infelizmente, nem todos os profissionais da área de assistência social possuem as habilidades ou a empatia necessárias para lidar com essas situações complexas.

    Outra coisa que mencionei sem explorar como deveria, foi sobre a questão do direito de escolha. Embora muitas pessoas em situação de rua façam escolhas (como o uso de substâncias), essas escolhas não são necessariamente livres, já que a pobreza extrema e a exclusão social muitas vezes limitam as opções reais de vida. Deixei de reconhecer que, ainda que a autonomia de escolha deva ser respeitada, as condições em que essas pessoas estão inseridas dificultam a verdadeira "escolha" de viver de maneira diferente.

    makumbator
    Moderador
    # 07/dez/24 18:09
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    Wanton

    Como o Lelo já apontou, existe uma parcela que é totalmente resistente a se enquadrar em programas que os retirem das ruas. Seja por conta de vício ou problema mental (ou ainda as duas coisas juntas).

    Lelo Mig
    Membro
    # 07/dez/24 18:11 · Editado por: Lelo Mig
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    Wanton

    Sim, eu entendi sua questão... só acabei enchendo linguiça. Mas acho que você me entendeu.

    JJJ
    makumbator

    Sim, é bem isso mesmo. Há muito de saúde mental nesse meio, existe uma parcela de "mendicância" que não têm nada a ver com pobreza. É uma opção ou "desopção" social e existem em todo mundo, até no "paraíso". Muitos vivem num universo paralelo.

    Aqui na minha cidade têm um famoso, porque ele é jovem (deve estar na faixa de 30 anos) é alto e forte e possui modos e traços finos, uso correto da língua e cultura geral que entregam alguma educação formal anterior.

    Eu moro no centro da cidade, então ele é meu vizinho, pois mora na praça. Me despertou bastante curiosidade, mas é preciso algum cuidado, porque ele pode ser violento as vezes. Mas, já aprendi a detectar seus sinais, quando posso ou não me aproximar. Depois de muito observá-lo e investigar sobre ele, descobri que ele é de família de bom nível na cidade. E que os comerciantes ao redor da praça foram orientados (pela irmã dele) a deixar ele pegar qualquer coisa que for de comer e beber (sem álcool), apenas anotarem. Ela passa uma vez a cada 15 dias e paga à conta.

    Então imagine o mundo dele? Ele fica numa praça conversando com seus amigos imaginários e pode comer e beber num mundo onde tudo é de graça.

    As vezes dá algum B.O. Ele sumiu uns 40 dias, apareceu todo quebrado. Estava no hospital. Moeu um sujeito na porrada, há um tempo atrás, o sujeito voltou com uma galera e ele foi espancado. Descobri que suas crises de violência, geralmente são decorrência de "meter álcool por cima dos remédios para esquizofrenia".

    Consegui chegar a irmã dele uma vez. Ela me disse que já tentaram de tudo, mas o jeito de mais fazê-lo feliz é deixá-lo na praça e dar suporte de forma indireta, como garantir comida, roupas, cobertor no frio, medicação e etc.

    Mas, ela sabe que a qualquer momento pode receber a notícia de que ele foi morto... (ou matou alguém).

    Desviei do assunto questionado pelo Wanton, mas é só um exemplo da complexidade disso.

    Wanton
    Lucmac


    Estou, dentro de devidas proporções, defendendo o Governo Paulista (não o atual, mas o legado de vários) que, ainda que saibamos longe do ideal, à grosso modo e apenas usando a frieza matemática, podemos dizer:

    "Se têm acesso ao Bolsa Família e acesso ao Bom Prato" (que suponho estão ainda em funcionamento)... fome (no sentido de ficar sem ingerir alimentação razoável) não têm porque passar.

    Por isso salientei a complexidade da parada. O Lucmac acrescentou mazelas e misérias humanas (no sentido emocional e psicológico) que enriquecem bastante a análise.

    Lucmac
    Veterano
    # 07/dez/24 18:35
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    É bom ler o que vocês escrevem.

    Lucmac
    Veterano
    # 07/dez/24 18:47
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    Eu moro no centro da cidade

    O mano é burguesão

    Lucmac
    Veterano
    # 07/dez/24 19:43 · Editado por: Lucmac
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    Lelo Mig

    Bicho... como alguns frequentadores eventuais do fórum me conhecem em outro contexto, ou sabem de mim de alguma forma, porque participei por um bom tempo ativamente de um grupo que surgiu no Orkut chamado ProgVacas, seria falta de ética eu desenvolver esse assunto com os detalhes que minha experiência merece.

    Só o que posso dizer é que eu conheci pessoas muito boas, pertencentes a uma mesma família, muito querida, tomada por doenças mentais de vários tipos, mas que não os inabilitavam completamente para a vida social. As principais doença evidenciadas foram transtornos de ansiedade e depressivo, mas a esquizofrenia, ainda que àquela altura não havia sido diagnosticada em mais de duas pessoas, e que nenhuma delas havia morrido em decorrência da doença, dois acontecimentos me chocaram e me fizeram conhecer melhor sobre depressão e esquizofrenia.

    Primeira coisa é que uma dessas pessoas, que hoje teria aproximadamente a minha idade, morreu de depressão. É literalmente a causa mortis de seu atestado de óbito. Para mim, a possibilidade real de alguém morrer devido à depressão, sem ser por suicídio, foi uma descoberta chocante.

    A segunda é esquizofrênica do tipo paranoide. Chegou, veja você, a estocar sêmen e entregar no prédio ao lado, para o porteiro, com uma carta endereçada para a sua namorada. Esse foi para o porteiro o alerta para que procurasse a família. Algumas vezes antes desse episódio ele deixou flores e presentes caros, joias e relógios, para essa pessoa. O apartamento era vazio. Como o pai de sua mãe era esquizofrênico, a mulher logo soube o que fazer. O diagnóstico foi esse mesmo, esquizofrenia paranoide, e ele passou a tomar os remédios do tratamento. O haloperidol era o mais forte, engolia mais de 20 comprimidos por dia. O resultado é que ele ficava catatônico, "abobado", o dia todo. Dormia mais de 12h.

    Contei a história, principalmente a do esquizofrênico, para refletirmos sobre essa doença mental. O tratamento para ela é praticamente a morte (não em todos os casos típicos), porque se para tratar a doença é necessária a ingestão de uma quantidade de remédio que faz a pessoa simplesmente ficar inabilitada para as atividades diárias, da vida humana... cara, que barra.

    John Nash, o famoso matemático, também era esquizofrênico paranoide e escolheu não tomar os remédios. Conheço a história dele apenas pelo filme, mas é possível estender sua decisão aos outros, que para eles é justamente o tratamento com esses remédios que mata, e da pior forma, e, sem querer parecer insensível, chego a pensar se não é crueldade tal tratamento e se isso não é um procedimento que serve muito mais a propósitos alheios, da sociedade, da família, do que para o próprio paciente.

    Lucmac
    Veterano
    # 07/dez/24 19:48
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    Só para eu não parecer pateta, pois disse que não iria desenvolver com detalhes e acabei praticamente publicando uma biografia, entretanto as pessoas que me proporcionaram essa experiência, e a própria intimidade e acessibilidade hiperrestrita aos detalhes, mantém-nas ocultas.

    Lelo Mig
    Membro
    # 07/dez/24 20:29 · Editado por: Lelo Mig
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    Lucmac

    É bem complexo mesmo. Quando conversei com a irmã desse rapaz que mencionei; é uma mulher esclarecida e educada. Ela disse que tentaram de tudo com ele, de terapias convencionais à alternativas, todo tipo de clínica e tipos de abordagem para mantê-lo em casa. Disse que ele têm amigos invisíveis gentis e amáveis e alguns cruéis e violentos (que fazem ele ser violento). Me disse que ele já bateu seriamente na mãe e no pai, por diversas vezes. Mas, na praça, é onde ele quer ficar e onde menos os "amigos invisíveis do mal" como ela classificou, interagem com ele. Então é onde ele fica mais pacífico, em contrapartida, exposto.

    Ela me pareceu sincera e eu acreditei, afinal se não estivesse "nem aí" teria simplesmente o largado, não estaria agindo indiretamente para ajudá-lo.

    Eu converso com ele as vezes, ele é calmo, fala manso, mas não chapado. Durante alguns minutos conversa de boa, depois começa a mostrar irritação, É a deixa para despedir com educação e ele fazer o mesmo. Se passar desta linha ele começa a te ofender, e a ofensa não é pouca não, e se passar daí, então, você será agredido.

    A vantagem de cidade pequena é que todos o conhecem, então o protegem. A GM têm um "ponto" na praça, não o perturba também.

    Mas, claro, as vezes têm um imbecil para provocá-lo e ser socado por ele.

    Sabe, eu adoro sorvete, desde criança. Então, vira e mexe, vou a sorveteria, sento num banco da praça (no melhor estilo Tiozão do dominó sem dominó) e fico o observando. Não sempre, mas as vezes, a conversa com algum ou alguns amigos é tão real, tão convincente, que quase posso vê-los.

    E outra coisa que me chama atenção, quase sempre alguém diz prá mim: É droga! Drogado!.

    Eu penso, formulo: "Não, não é droga seu preconceituoso filha da puta e ignorante do caralho. É esquizofrenia! Sabe o que é isso arrombado?"

    ... mas só penso. Fico quieto, não falo nada.

    Lucmac
    Veterano
    # 07/dez/24 21:07
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    Lelo Mig

    É ignorância. Os esquizofrênicos sofrem muito abuso, em sociedade fundada na normalização, até mesmo, como já refleti, no tratamento.

    Vou assistir John Nash, agora.

    Lucmac
    Veterano
    # 07/dez/24 21:08
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    Não sei se é algum doença, mas curto repetir filmes, músicas e séries.

    Lelo Mig
    Membro
    # 07/dez/24 21:13
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    Lucmac

    "...repetir filmes, músicas e séries."

    Também faço isso. É importante avaliar obras que gostamos, ao decorrer da vida, com as abordagens diferentes que a maturidade vai incluindo.

    -Dan
    Veterano
    # 08/dez/24 11:33
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    Tô com medo da resposta do Pedro nesse topico

    Lucmac
    Veterano
    # 08/dez/24 12:02
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    -Dan

    Apaga.

    Lucmac
    Veterano
    # 08/dez/24 12:02
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    Tá atraindo

    Wild Bill Hickok
    Membro Novato
    # 10/dez/24 06:17
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    O mano gasta tudo em dorgas

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