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dr. Rey Membro Novato |
# fev/17 · Editado por: dr. Rey
“Na região cafeeira as consequências da abolição foram diversas. Nas províncias que hoje constituem os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, em pequena escala em São Paulo, se havia formado uma importante agricultura cafeeira à base de trabalho escravo. A rápida destruição da fertilidade das terras ocupadas nessa primeira expansão cafeeira - situadas principalmente em regiões montanhosas facilmente erodíveis - e a possibilidade de utilização de terras a maior distância com a introdução da estrada de ferro haviam colocado essa agricultura em situação desfavorável já na época imediatamente anterior à abolição. Seria de esperar, portanto, que ao proclamar-se esta ocorresse uma grande migração de mão-de-obra em direção das novas regiões em rápida expansão, as quais podiam pagar salários substancialmente mais altos. Sem embargo, é exatamente por essa época que tem início a formação da grande corrente migratória europeia para São Paulo. As vantagens que apresentava o trabalhador europeu com respeito ao ex-escravo são demasiado óbvias para insistir sobre elas. Todavia, se bem não houve um forte incentivo para que os antigos escravos se deslocassem em massa para o planalto paulista, a situação dos mesmos na antiga região cafeeira passou a ser muito mais favorável que a daqueles da região açucareira do Nordeste. A relativa abundância dê terras tornava possível ao antigo escravo refugiar-se na economia de subsistência. A dispersão, entretanto, foi menor do que se poderia esperar, talvez por motivos de caráter social e não especificamente econômicos.
A situação favorável, do ponto de vista das oportunidades de trabalho, que existia na região cafeeira valeu aos antigos escravos liberados salários relativamente elevados. Com efeito, tudo indica que na região do café a abolição provocou efetivamente uma redistribuição da renda em favor da mão-de-obra. Sem embargo, essa melhora na remuneração real do trabalho parece haver tido efeitos antes negativos que positivos sobre a utilização dos fatores. Para bem captar esse aspecto da questão é necessário ter em conta alguns traços mais amplos da escravidão. O homem formado dentro desse sistema social está totalmente desaparelhado para responder aos estímulos econômicos. Quase não possuindo hábitos de vida familiar, a ideia de acumulação de riqueza é praticamente estranha. Demais, seu rudimentar desenvolvimento mental limita extremamente suas ‘necessidades’. Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação de seu salário acima de suas necessidades - que estão definidas pelo nível de subsistência de um escravo - determina de imediato uma forte preferência pelo ócio.
Na antiga região cafeeira onde, para reter a força de trabalho, foi necessário oferecer salários relativamente elevados, observou-se de imediato um afrouxamento nas normas de trabalho. Podendo satisfazer seus gastos de subsistência com dois ou três dias de trabalho por semana, ao antigo escravo parecia muito mais atrativo ‘comprar’ o ócio que seguir trabalhando quando já tinha o suficiente ‘para viver’. Dessa forma, uma das consequências diretas da abolição, nas regiões em mais rápido desenvolvimento, foi reduzir-se o grau de utilização da força de trabalho. Esse problema terá repercussões sociais amplas que não compete aqui refletir. Cabe tão-somente lembrar que o reduzido desenvolvimento mental da população submetida à escravidão provocará a segregação parcial desta após a abolição, retardando sua assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do país. Por toda a primeira metade do século xx, a grande massa dos descendentes da antiga população escrava continuará vivendo dentro de seu limitado sistema de ‘necessidades’, cabendo-lhe um papel puramente passivo nas transformações econômicas do país”.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 32. ed. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 2003, pp. 146-147.
Diz o senso comum: os negros ficaram para trás por causa da escravidão.
Diz a História Econômica: os negros ficaram para trás porque quiseram.
Nenhum grupo étnico teve o seu progresso mais sabotado ao longo da História do que os judeus. Por quase dois mil anos, foram discriminados e perseguidos por europeus: da diáspora nas mãos dos romanos até o Holocausto, passando pelos guetos, pelas conversões forçadas, pela usura, por Dreyfus e pelas inúmeras referências culturais depreciativas -- ou, como diria meu antigo professor de direito dos grupos socialmente vulneráveis, “violências simbólicas”.
A imagem pública deles, que se refletia em sua autoimagem, era tão negativa que “Chariots of fire" tem como um de seus dois protagonistas um judeu inglês que, apesar de ser rico e estudar em Oxford, sente complexo de inferioridade por ser apenas filho de um banqueiro (um “usureiro”, para os gentlemen de sangue azul) e tenta ganhar uma medalha olímpica somente para provar a superioridade de sua família de uma vez por todas.
Esse filme retrata bem, no nível individual, aquilo que provavelmente aconteceu no nível coletivo: não é porque passaram quase vinte séculos sendo pisados sem motivo que baixaram a cabeça e viraram esmoleiros. Ao contrário, motivaram-se ainda mais para crescer e dominar: hoje, apesar de serem menos de 0,2% da população mundial, são 10 dos 50 bilionários do mundo e ganharam mais de 20% de todos os prêmios Nobel; de minoria oprimida, passaram a elite global.
Dito isso, deixo duas perguntas para discussão:
- É justo dar tratamento especial a negros, por meio de cotas e outras formas de discriminação positiva, com o objetivo de compensá-los por todos os seus insucessos desde o fim da escravidão?
- Será eficaz dar tratamento especial a negros, por meio de cotas e outras formas de discriminação positiva, com o objetivo de estimular seu progresso material e intelectual?
Dissertem como se valesse a pena.
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Black Fire Gato OT 2011 |
# fev/17
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Sem embargo
Só sei que nunca tinha visto essa expressão num texto em português.
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dr. Rey Membro Novato |
# fev/17
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Black Fire
Extremamente comum em livros de direito.
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One More Red Nightmare Veterano |
# fev/17
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Acho que o BF lê pouco.
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Black Fire Gato OT 2011 |
# fev/17
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dr. Rey Estou lendo um livro de direito, vou prestar atenção.
One More Red Nightmare Pode ser que sim.
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Adler3x3 Veterano |
# fev/17 · Editado por: Adler3x3
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Bem o tema ao meu ver é por demais complexo para se chegar numa conclusão num simples tópico de fórum.
Sou contra o sistema de cotas, ao meu ver o que deve prevalecer é o mérito.
Tem muita história, o certo é que a abolição da escravatura que já foi tarde demais, não foi feita adequadamente, não pensaram e nem planejaram o depois, ou seja o dia seguinte. E o Brasil tem sim uma dívida social para com os nossos compatriotas de origem da raça negra, mas não somente com eles.
Como fazer? Envolve muito conhecimento da história, preconceitos, como o citado acima:
"Diz a História Econômica: os negros ficaram para trás porque quiseram."
Não concordo, não é assim, não dá para iniciar um debate sério considerando uma frase preconceituosa como esta, já começa mal. Me desculpe, mas esta frase é inaceitável como uma premissa.
E em outra parte demonstra também uma influência religiosa, que não vai ajudar em nada a resolver o problema, pois as religiões sempre foram coniventes com a escravidão e foram responsáveis sim pelo que aconteceu, não é o manto divino que vai apagar isto da história.
Até hoje não foi encontrada uma solução adequada. Passa necessariamente por políticas pública sérias, que somente o desenvolvimento e o crescimento sustentado podem pagar. Passa por planejamento não de um só governo mas pela sucessão de vários governos, não tem solução de curto prazo, temos que firmar um novo pacto nacional, sempre para o bem livre de preconceitos, sejam religiosos e raciais, fora os conflitos religiosos, em que os Cristãos insistem em atacar as outras religiões, falta a Justiça.
Não é numa só gestão que vai se resolver, é um trabalho de décadas. Tem que começar mesmo que modestamente e ter um plano de acompanhamento, que independe de diretrizes partidárias, não é obra de um só governo.
E o momento é de profunda crise, mas enquanto não resolvermos estas crises política e financeira, não vamos conseguir avançar.
O primeiro pilar é a educação, o segundo pilar a fraternidade, todos temos que nos engajar nisto, não é somente uma solução do governo.
O foco tem que ser toda a população independente de raça, não se pode causar conflitos, como esta acontecendo, em se jogar negros contra brancos, sulistas contra nordestinos, um legado bom do Brasil é a União.
A América do Sul espanhola se desmembrou, e a América do Sul portuguesa se manteve unida, e assim deve continuar. Nada de radicalismos, seja de esquerda e de direita, que são conceitos tão ultrapassados como a própria escravidão.
A direita e a esquerda só atrapalham, esta polarização não ajuda em nada, chega de ódio, os debates entre eles sempre acabam assim, uma prova: - assista os vídeos de ambos os lados, tenha uma visão neutra, e comprove por si mesmo, que ambos os lados não prestam, o ódio se manisfesta, e é a força motriz destes alienados.
Com eles no poder não vamos conseguir evoluir, e muito menos fazer um diálogo construtivo.
Passa também pela reforma política, e uma reforma da Federação, entre outras reformas, principalmente a agrária, que os políticos atuais não tem vontade de fazer.
Falta estabilidade e as partes não conseguem fazer um diálogo construtivo, na verdade estamos mal representados em todas as esferas.
Não é possível a existência de partidos religiosos e de partidos trabalhistas ligados a sindicatos, assim como os nazistas não podem constituir partidos, assim deve ocorrer com os partidos comunistas, eles só querem o poder, e usam de falsidade ao se postarem que são democratas. Não dá certo, e nunca deu certo em lugar nenhum.
Fora com os radicais e ladrões, o espirito do povo brasileiro é de paz, eles não nos representam, foram eleitos com base em sucessivas fraudes eleitorais, praticadas pelos radicais tanto de esquerda como de direita, pelos sindicatos e pelos religiosos.
- Paz. - Vontade e ação; - Fraternidade; - Saber fazer. - Justiça.
Pronto, mais um texto longo, mas foi inevitável. Me desculpem se me excedi.
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alanis morre7 Membro Novato |
# fev/17 · Editado por: alanis morre7
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Sou terminantemente contra as cotas. O meu pai é um mulato, nascido e criado em uma comunidade pobre, numa cidade tão pequena que nem existe no mapa. Meu avô paterno era um verme inútil que largou a minha avó sozinha com 11 filhos para criar, em uma época em que ela provavelmente comeu o pão que o diabo estraçalhou, e mesmo assim os filhos dela nunca passaram fome, porque a velha era uma insubordinada que sabia plantar. Ela plantava de tudo; sempre tinha um remedinho natural para qualquer tipo de enfermidade e os filhos dela trabalhavam vendendo frutas na feira, tocando sanfona na rua, recitando literatura de cordel e o que mais surgisse. Naquele tempo, o ensino público era bom e ela não deixava seus 11 maltrapilhos perderem um dia de aula sequer. A velha era tão espartana que eles morriam de medo de sair da linha, tinham mais medo dela do que da polícia. O meu pai se mudou para São Paulo na juventude, onde trabalhou como engraxate, depois se tornou office boy, fez faculdade, virou auditor fiscal e hoje é empresário. Acho que faltou a ele a nossa sensacional educação marxista, que diz que você é uma vítima perpétua, incapaz de superar quaisquer obstáculos, só por ter nascido e crescido em um ambiente cruel, injusto, vulgar, precário e completamente distante dos ideais humanos de felicidade.
Se o ensino público não fosse essa porcaria meramente ilustrativa, cujo alicerce ideológico se organiza dia após dia para sepultar o senso crítico e a erudição em todas as suas formas, esse debate sobre as cotas nem sequer seria necessário.
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Fidel Castro Veterano |
# fev/17 · Editado por: Fidel Castro
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que diz que você é uma vítima perpétua, incapaz de superar quaisquer obstáculos, só por ter nascido e crescido em um ambiente cruel, injusto, vulgar, precário e completamente distante dos ideais humanos de felicidade.
eu acho que existe uma diferença entre constatar um problema e assumir uma postura não-combativa perante a ele.
há de se mostrar o absurdo da desigualdade, de forma a criar pessoas que pensem em um capitalismo mais consciente de suas próprias fraquezas e que tenham um senso de comunidade (tá merda pra mim, mas tá meio merda pra todo mundo) além da revolta que é necessária a qualquer ageente de mudança (nunca vi gênio conformista, ou empreendedor que acha que está tudo ok).
senão a gente fica formando drone em curso técnico para sobreviver na babilônia
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alanis morre7 Membro Novato |
# fev/17 · Editado por: alanis morre7
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Fidel Castro
Eu sou a favor das medidas assistencialistas quando o objetivo é corrigir a miséria, porque às vezes as pessoas realmente precisam de ajuda para sair da sarjeta em que se encontram, mas sou contra esse paternalismo indiscriminado que estimula a inércia de indivíduos que tem toda a capacidade do mundo para conquistar seus objetivos por conta própria. Eu conheço um cara que estudou em escola pública a vida inteira e, mesmo tendo recebido uma educação extremamente deficiente, conseguiu passar no vestibular sem cota nenhuma, recebeu uma bolsa para fazer doutorado sanduíche nos EUA e hoje é professor de uma federal. Ironicamente, sempre que ele se declara contra as cotas, os alunos dessa universidade ficam criando grupinhos no facebook contra ele, chamando-o de intolerante, racista, nazista ou coisa pior.
Uma coisa é ficar indignado com o preconceito e buscar aliviar o sofrimento de quem foi negligenciado de todas as formas imagináveis, outra coisa é tentar tapar as profundas crateras do nosso sistema educacional com uma camada papel adesivo, só para conseguir mais cookies sociais e ser eleito o suprassumo da benevolência por uma massa de ruminantes. E até acho que as cotas tem um efeito deletério para a causa negra, gerando ainda mais discriminação e dúvidas quanto à real capacidade daqueles que ingressaram nas universidades por intermédio delas. Sem uma reforma estrutural no ensino, não adianta recorrer a esse improviso grotesco, imoral e completamente antagônico ao conceito de meritocracia.
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sallqantay Veterano |
# fev/17
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- É justo dar tratamento especial a negros, por meio de cotas e outras formas de discriminação positiva, com o objetivo de compensá-los por todos os seus insucessos desde o fim da escravidão?
Pode até ser, mas vai abrir precedente para todo e qualquer grupo reivindicar uma dívida histórica
Exemplo: meus antepassados italianos foram vítimas de escravidão por dívida, preconceito social (carcamanos FDP) e perseguidos pelo estado na 2a guerra.
- Será eficaz dar tratamento especial a negros, por meio de cotas e outras formas de discriminação positiva, com o objetivo de estimular seu progresso material e intelectual?
não. A dificuldade é saber quem é negro no BR. Nos EUA, a ascendência é bem marcada e conhecida pois o país sempre se dividiu em brancos, negros, amarelos e vermelhos.
As cotas podem ser implantadas em uma sociedade dividida claramente, e o sistema vira uma zona quando chega no BR
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General Patton Membro Novato |
# abr/17 · Editado por: General Patton
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http://foreignpolicy.com/2017/04/05/brazils-new-problem-with-blackness -affirmative-action/
As the proudly mixed-race country grapples with its legacy of slavery, affirmative-action race tribunals are measuring skull shape and nose width to determine who counts as disadvantaged.
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acabaramosnicks Membro Novato |
# abr/17
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Eu acho engraçado as coisas que as pessoas consideram como critérios para tomar decisões. Digo isso de maneira bem generalizada mesmo, mas se aplica às cotas também.
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Schadenfroh Membro Novato |
# abr/17
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A dificuldade é saber quem é negro no BR.
O que dá espaço pra todo tipo de bizarrice que se vê por aí.
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Adler3x3 Veterano |
# abr/17 · Editado por: Adler3x3
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Como já disse anteriormente não sou favorável ao sistema de cotas.
O sistema deve basear-se no mérito.
Entretanto há de se reconhecer que muitas pessoas independentemente de raça necessitam de ajuda para poderem subir na vida e atingir um nível de dignidade humana, somente com um desenvolvimento sustentável um país consegue fazer isto acontecer.
Mas é necessário primeiro seriedade no trato da coisa pública, tem que haver um mínimo de estabilidade para se poder progredir, é um processo lento, não dá para queimar etapas, e não existem soluções milagrosas nem salvadores da pátria.
O que se exige é muito trabalho e dedicação e acima de tudo união em projetos viáveis, que não pertencem a um só partido ou mandato, é um projeto de longo prazo de toda a nação.
Os nossos governantes não sabem o que vão fazer nem no próximo mês, inexiste uma base que sustente o desenvolvimento, os desequilíbrios não são somente financeiros.
A crise financeira é apenas a consequência de mal práticas em todas as áreas.
Pontos: - Pobreza e meio ambiente não combinam; - Direitos iguais para todos, e não para uma minoria como acontece hoje, mas acima de tudo primeiro temos que cumprir as nossas obrigações: Para descansar primeiro temos que nos cansar (isto é trabalhar). - Entretanto o diferencial sempre será o mérito, que deve ser exaltado e valorizado; - Acesso a educação e a cultura com investimentos massivos; - Trabalho e oportunidades em todas às áreas não só no comércio e na indústria, na agricultura e derivados, mas na inserção do setor de serviços, no sentido mais amplo aonde fica patente o grau de desenvolvimento de uma nação;
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