One More Red Nightmare Veterano |
# fev/15
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Em tempo: A meretriz (Augusto dos Anjos)
A rua dos destinos desgraçados Faz medo. O Vício estruge. Ouvem-se os brados Da danação carnal... Lúbrica, à lua, Na sodomia das mais negras bodas Desarticula-se, em coréas doudas, Uma mulher completamente nua!
É a meretriz que, de cabelos ruivos, Bramando, ébria e lasciva, hórridos uivos Na mesma esteira pública, recebe, Entre farraparias e esplendores. O eretismo das classes superiores E o orgasmo bastardíssimo da plebe!
É ela que, aliando, à luz do olhar protervo, O indumento vilíssimo do servo Ao brilho da augustal toga pretexta, Sente, alta noite, em contorções sombrias, Na vacuidade das entranhas frias O esgotamento intrínseco da besta!
E ela que, hirta, a arquivar credos desfeitos, Com as mãos chagadas, espremendo os peitos, Reduzidos, por fim, a âmbulas moles, Sofre em cada molécula a angústia alta De haver secado, como o estepe, à falta Da água criadora que alimenta as proles!
É ela que, arremessada sobre o rude 'Despenhadeiro da decrepitude, Na vizinhança aziaga dos ossuários Representa, através os meus sentidos, A escuridão dos gineceus falidos E a desgraça de todos os ovários!
Irrita-se-lhe a carne á meia-noite. Espicaça-a a ignomínia, excita-a o açoite Do incêndio que lhe inflama a língua espúria.
E a mulher, funcionária dos instintos, Com a roupa amarfanhada e os beiços tintos, Gane instintivamente de luxúria!
Navio para o qual todos os portos Estão fechados, urna de ovos mortos, Chão de onde unia só planta não rebenta, Ei-la, de bruços, bêbeda de gozo Saciando o geotropismo pavoroso De unir o corpo à terra famulenta!
Nesse espolinhamento repugnante O esqueleto irritado da bacante Estrala... Lembra o ruído harto azorrague A vergastar ásperos dorsos grossos. E é aterradora essa alegria de ossos Pedindo ao sensualismo que os esmague!
É o pseudo-regozijo dos eunucos Por natureza, dos que são caducos Desde que a Mâe-Comum lhes deu início... E a dor profunda da incapacidade Que, pela própria hereditariedade A lei da seleção disfarça em Vício!
É o júbilo aparente da alma quase A eclipsar-se, no horror da ocídua fase Esterilizadora de órgãos... É o hino Da matéria incapaz, filha do inferno, Pagando com volúpia o crime eterno De não ter sido fiel ao seu destino!
E o Desespero que se faz bramido De anelo animalíssimo incontido, Mais que a vaga incoercível na água oceânea... E a Carne que, já morta essencialmente, Para a Finalidade Transcendente Gera o prodígio anímico da Insânia!
Nas frias antecâmaras do Nada O fantasma da fêmea castigada, Passa agora ao clarão da lua acesa E é seu corpo expiatório, alvo e desnudo A síntese eucarística de tudo Que não se realizou na Natureza!
Antigamente, aos tácitos apelos Das suas carnes e dos seus cabelos, Na óptica abreviatura de um reflexo, Fulgia, em cada humana nebulosa, Toda a sensualidade tempestuosa Dos apetites bárbaros do Sexo!
O atavismo das raças sibaritas, Criando concupiscências infinitas Como eviterno lobo insatisfeito; Na homofagia hedionda que o consome, Vinha saciar a milenária fome Dentro das abundâncias do seu leito!
Toda a libidinagem dos mormaços Americanos fluía-lhe dos braços, Irradiava-se-lhe, hírcica, das veias E em torrencialidades quentes e úmidas, Gorda a escorrer-lhe das artérias túmidas Lembrava um transbordar de ânforas cheias.
A hora da morte acende-lhe o intelecto E à úmida habitação do vício abjecto Afluem milhões de sóis, rubros, radiando... Resíduos memoriais tornam-se luzes Fazem-se idéias e ela vê as cruzes Do seu martirológio miserando!
Inícios atrofiados de ética, ânsia De perfeição, sonhos de culminância, Libertos da ancestral modorra calma, Saem da infância embrionária e erguem-se, adultos, Lançando a sombra horrível dos seus vultos Sobre a noite fechada daquela alma!
É o sublevantamento coletivo De um mundo inteiro que aparece vivo, Numa cenografia de diorama, Que, momentaneamente luz fecunda, Brilha na prostituta moribunda Como a fosforescência sobre a lama!
É a visita alarmante do que outrora Na abundância prospérrima da aurora, Pudera progredir, talvez, decerto, Mas que, adstrito a inferior plasma inconsútil, Ficou rolando, como aborto inútil, Como o ....... do deserto!
Vede! A prostituição ofídia aziaga Cujo tóxico instila a infâmia, e a estraga Na delinqüência ....... impune, Agarrou-se-lhe aos seios impudicos Como o abraço mortífero do Ficus Sugando a seiva da árvore a que se une! .............................................................. .............................................................. .............................................................. .............................................................. .............................................................. .............................................................. Enroscou-se-lhe aos abraços com tal gosto, Mordeu-lhe a boca e o rosto... .............................................................. .............................................................. .............................................................. .............................................................. Ser meretriz depois do túmulo! A alma Roubada a hirta quietude da urbe calma Onde se extinguem todos os escolhos: E, condenada, ao trágico ditame, Oferecer-se à bicharia infame Com a terra do sepulcro a encher-lhe os olhos!
Sentir a língua aluir-se-lhe na boca E com a cabeça sem cabelos, oca... .............................................................. Na horrorosa avulsão da forma nívea Dizer ainda palavras de lascívia... ..............................................................
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