O que é o conservadorismo e quem são seus inimigos.

    Autor Mensagem
    Joseph de Maistre
    Veterano
    # mar/14 · Editado por: Joseph de Maistre


    O texto é um pouco grande, mas é uma verdadeira pérola.

    Como todas as coisas que eu defendia nesse fórum há 3 anos atrás estão começando a orkutizar no Brasil e aparecer nas ruas e na mídia com uma frequência que muito me anima, vou postá-lo aqui para ver se dá sorte e o nível cultural do país melhora ainda mais.

    Por que eu sou um conservador

    Por Andreas Kinneging

    “Hoje em dia, o Iluminismo e o Romantismo são nossas religiões civis; o primeiro, primariamente, em nossa vida pública e o segundo, em nossa vida privada”.

    A resposta curta é que sou um conservador porque o conservadorismo nos fornece a visão de mundo mais exata e verdadeira sobre a vida. Ele pinta o melhor retrato da condição humana e é útil, portanto, para responder àquela eterna pergunta de como se deve viver e conviver. Obviamente, essa resposta curta não é lá muito esclarecedora, uma vez que permanece em um nível muito abstrato. Ela dificilmente explica alguma coisa. Para me fazer entender, eu devo entrar no mérito do que significam as noções conservadoras de “vida” e “condição humana”. Temo eu que isto tornará a resposta consideravelmente mais longa. Mas não é possível mudar isso. A nossa necessidade de exposições longas sobre a vida e a condição humana é, por si só, um importante elemento da condição humana. Diferentemente dos animais, não podemos evitá-las. Sendo assim, ei-la aqui, a resposta longa.

    O conservadorismo tem por objetivo seu conservar. Mas conservar o quê? Alguns acreditam que o conservadorismo defende os costumes e as tradições per se, não importando o que eles prescrevam, porque o simples fato de que algumas práticas tornaram-se costumes e tradições já prova que elas funcionam, já prova que elas são úteis. O conservadorismo se torna, assim, uma espécie de filosofia cética, prática e anti-utópica, que estimula uma atitude de confiança naquilo que está posto, de reformas graduais e de iniciativas descentralizadas de tentativa e erro. Essa concepção, que nós encontramos em, por exemplo, Michael Oakeshott, remonta a David Hume. Eu não contesto a sabedoria desses argumentos, mas me parece que essa atitude cautelosa, decorrente de uma autoconsciência socrática da ignorância e falibilidade humanas, é apenas um dos aspectos do conservadorismo, e não o seu mais importante.

    Muito bem, mas Burke, cujas Reflexões sobre a Revolução em França fizeram dele o santo-patrono informal do conservadorismo, não se enquadra perfeitamente nessa linha de pensamento cética e anti-utópica? As Reflexões não são um longo panegírico dos costumes e tradições? Sim, são; mas o são de certos costumes e tradições em específico, não dos costumes e tradições em geral. Que costumes e tradições específicas são esses? A constituição antiga? Os direitos dos ingleses? A Igreja da Inglaterra? O Parlamento? De certa forma, sim. Mas, para Burke, essas coisas não eram valiosas em si mesmas. Elas eram valiosas como expressões particulares de duas tradições espirituais, que não eram bem exatamente inglesas ou britânicas, mas, sim, europeias.

    “Não existe nada mais certo do que o fato de que nossa boa educação, nossa civilização e todas as coisas boas que estão conectadas à boa educação e à civilização dependem, há eras, neste nosso mundo europeu, de dois princípios; e, de fato, foram o resultado de ambos, combinados; tais princípios são o espírito do cavalheirismo e o espírito da religião.

    O espírito do cavalheirismo e o espírito da religião; o que Burke defendia eram essas tradições europeias e os costumes que deles se originaram, contra o ataque total que lhe era feito pelos revolucionários franceses. Parece-me que é precisamente isso o que constitui o conservadorismo. O conservadorismo é a defesa do espírito do cavalheirismo e do espírito da religião vis-à-vis um outro espírito, um espírito moderno, que surgiu nos últimos séculos: o espírito do Iluminismo e do Romantismo.

    O espírito do cavalheirismo se refere a certas convicções sobre o que um homem deveria e não deveria dizer e fazer, sobre que qualidades ele deveria e não deveria ter. Era uma ética aristocrática, cuja essência remonta à Antiguidade grega e romana, especialmente a Platão e Aristóteles. Desde a Antiguidade, essa ética do cavalheiro tem sido o ideal de comportamento pessoal predominante nas camadas mais altas da sociedade europeia, e também, em alguma medida, das classes médias, que tinham uma tendência a imitar seus senhores na esperança de um dia “chegar lá”. Os contornos dessa ética continuaram mudando ao longo dos séculos, uma vez que diferentes épocas enfatizaram diferentes aspectos dela, e, em algumas delas, ela foi mais elaborada do que em outras, mas sempre, no entanto, permaneceu, reconhecivelmente, a mesma ética. Somente agora, em nossa época, ela parece ter finalmente desaparecido por completo. Nos dias de Burke, o espírito do cavalheirismo ainda estava muitíssimo vivo em toda a Europa e até mesmo na América, supostamente anti-aristocrática, embora já não mais reinasse sem oposição. Como Burke inequivocamente observou, os revolucionários franceses, ao praticarem aquilo que haviam pregado os filósofos iluministas, desejavam substituí-la por uma ética diferente.

    A lista de virtudes discutida por Aristóteles em Ética a Nicômaco — provavelmente o tratado de ética mais influente de toda a história — pinta um retrato bastante preciso do espírito do cavalheirismo. Razoabilidade, justiça, coragem, moderação nos prazeres e na raiva, generosidade, sinceridade, bom-humor, afabilidade e um senso de vergonha: todas elas se tornaram parte e porção do espírito do cavalheiro. Mas ele é caracterizado, acima de tudo, por aquilo que Aristóteles chama de grandeza da alma (megalopsychia): “a honra é o objeto com que se preocupam os grandes de espírito, já que é a honra, acima de tudo, que os grandes homens reclamam e merecem”. Um cavalheiro, em síntese, é um homem de honra. Mais do que qualquer outra coisa, ele deseja e merece ser honrado. Mas honrado pelo quê? Pelo seu dinheiro? Pelo seu poder? Pelo seu berço nobre? Não. O verdadeiro homem de honra deseja e merece ser honrado por sua virtude: “a honra é o prêmio da virtude”, o “ornamento que a coroa”.

    É verdade, sem dúvida, que a ideia do cavalheiro sempre foi, há muito, associada a dinheiro, poder e berço nobre. Mas nenhum cavalheiro jamais acreditou que essas coisas em si bastassem para fazer de um homem um cavalheiro. Acreditar em uma tal coisa é — como Aristóteles diz — um equívoco tipicamente plebeu,

    “[...] os dons da sorte também levam à grandeza da alma; pois os bem-nascidos e os poderosos ou ricos são considerados dignos de honra..... Mas, na realidade, somente o homem bom deveria ser honrado..., ao passo que aqueles que possuem os dons da sorte sem virtude não podem reivindicar grande valor, e não podem ser considerados grandes de espírito, já que o verdadeiro valor e grandeza da alma não pode existir sem virtude”.

    Não que dinheiro, poder e berço nobre não sejam importantes. Pelo contrário. Eles definitivamente são um ativo para o cavalheiro. O dinheiro faz dele um “homem de meios independentes”, dando-lhe uma grande porção de liberdade espiritual para dizer aquilo que pensa e fazer aquilo que acha bom e adequado. Além disso, o dinheiro faz dele um “homem de tempo livre”, dando-lhe tempo para estudar e pensar, e para participar do governo do país. O poder é importante, pois participar do governo, exercer uma posição de autoridade, é considerada a tarefa por excelência do cavalheiro. Somente em tal posição, o cavalheiro pode mostrar quem é. E a sociedade precisa que os cavalheiros governem. Pois o poder é algo perigoso. Seria melhor, portanto, que ele fosse deixado nas mãos dos homens de bem. O berço nobre, enfim, é importante porque as crianças nascidas em um tal contexto familiar tendem a receber uma boa educação, direcionada explicitamente para fazer delas cavalheiros, homens de honra e de virtude. Sendo assim, o dinheiro, o poder e o berço nobre são, claramente, vantagens. Mas elas, em si mesmas, não fazem o cavalheiro. Pode-se ser um cavalheiro sem elas. Tudo que é necessário é a virtude.

    Ao falar do espírito da religião, Burke tinha em mente o cristianismo. Esse é o segundo pilar da civilização. Além do espírito do cavalheirismo, e em combinação com ele, o cristianismo é a pedra-fundamental não apenas da civilização europeia, mas da melhor de todas as civilizações, tout court. Esse parece ser o ponto de vista de Burke. E ele está certo. Houve e ainda há muitas outras civilizações, mas nenhuma jamais foi tão civilizada, tão humana e tão iluminada — sim, iluminada — quanto a civilização cristã que a Europa já foi um dia.

    Joseph de Maistre
    Veterano
    # mar/14
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    “O que é o cristianismo?”, poder-se-ia perguntar, diante da proliferação de igrejas e seitas cristãs desde a Reforma. A resposta deve ser que é um cristianismo passível de ser encontrado em várias igrejas e em várias formas de adoração. Muito mais importante do que o que divide as diferentes tradições cristãs é aquilo que as une: a crença na Bíblia como a palavra de Deus e a crença de que o Novo Testamento nos obriga a, acima de tudo, amar a Deus com todo o coração, toda a alma e todo o entendimento, a amar o próximo como a si mesmo e a considerar todos os outros seres humanos, independentemente de sua religião, convicções, contexto social, ou seja lá o que for, ainda que sejam nossos inimigos, como nosso próximo. Por mais inequívoco que seja, tal princípio do amor (agape), assim como todos os demais princípios, não nos dá respostas concretas para questões práticas, quer na vida diária, quer em relação às instituições da vida social e política, tais como a família, a igreja e o Estado; pode-se dizer, assim, que a história do cristianismo é, de certa maneira, uma discussão contínua sobre o modo correto de aplicar o princípio do amor na vida pessoal, social e política.

    Não existe princípio equivalente no pensamento pagão da Antiguidade, inclusive em Platão e Aristóteles. O princípio do amor é quintessencialmente cristão, embora possua raízes judaicas. Levítico 19:18 também diz “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Mas o significado da noção de próximo no Antigo Testamento é muito mais restrito do que no Novo Testamento. É somente neste que a noção é estendida de maneira a incluir todos os seres humanos, tornando-o, assim, um princípio verdadeiramente humanista. O pensamento pagão é fundamentalmente diferente do cristianismo no que diz respeito ao princípio do amor.

    Tal constatação levou, vez por outra, alguns pensadores cristãos — de Tertuliano a Lutero e Karl Barth — a argumentar que o Cristianismo e a Antiguidade são estranhos um ao outro e têm pouca coisa em comum. Esse ponto de vista, no entanto, sempre permaneceu minoritário entre os pensadores cristãos, tanto católicos como protestantes. A maior parte deles concorda que ambos possuem uma grande semelhança familiar e, em vários aspectos, vêem as coisas da mesma maneira. O pensamento clássico — particularmente o de Platão e Aristóteles — é comumente entendido como uma protorrevelação, análoga àquela do Antigo Testamento: mesmo não tendo julgado tudo corretamente, ainda assim continha em si muita verdade. (A palavra “revelação” parece inadequada para se referir ao pensamento clássico, mas não é. Se, tal como crê o Cristianismo, a razão humana participa da Razão Divina, é Deus quem revela Suas Ideias através da razão humana, sempre que nós porventura raciocinamos corretamente. Assim, a distinção que é feita algumas vezes entre razão e revelação precisa ser qualificada).

    Como resultado disso, o pensamento clássico foi incorporado ao Cristianismo e se tornou uma parte integrada sua. Daí, Santo Agostinho, por exemplo, fazer parte tanto da tradição platônica quanto da tradição bíblica. Santo Tomás de Aquino é, ao mesmo tempo, cristão e aristotélico. Algo parecido pode ser dito da maioria dos pensadores cristãos até nossa própria época. Nas obras desses autores, o espírito do antigo pensamento pagão — o espírito do cavalheirismo — e o Cristianismo — o espírito da religião — se tornaram um único e um só. Essa combinação se tornou o espírito europeu — e, mais tarde, o espírito ocidental. É o espírito do cavalheirismo cristão. Essa é a verdade histórica que Burke queria lembrar a seus leitores. E esse é o espírito, me parece, que o verdadeiro conservador deseja conservar. O conservadorismo é — ou deveria ser — uma defesa do ideal do cavalheiro cristão (inclusive sua contraparte feminina, a dama cristã), contra os ideais modernistas de homem que vieram à tona com o Iluminismo e o Romantismo, e que hoje dominam o mundo.

    Que ideais foram esses? Quem são os adversários espirituais do conservadorismo? Primeiramente, há a visão iluminista do homem, que remonta a Hobbes e hoje influencia e é articulada nas fórmulas matemáticas pseudo-sofisticadas dos economistas. Os iluministas vêem o homem como um animal governado por seus desejos, cuja felicidade consiste inteiramente em correr atrás e tomar para si tudo aquilo que ele porventura deseje. O “eu”, como sendo algo além dos desejos, desaparece. A razão se torna “a escrava das paixões”, i.e., dos desejos.

    Não é possível enfatizar o quanto isso foi uma reviravolta em relação à visão tradicional. Ao passo que o ideal do cavalheiro cristão era baseado na crença de que um homem podia moderar e, se necessário fosse, matar seus desejos, e de que deixar-se governar por tais desejos era o cúmulo da desonra, o Iluminismo argumentava que perseguir seus desejos não apenas “não era pecado”, mas também o verdadeiro propósito da vida. Dessa maneira, a ética tradicional da auto-negação e da auto-transcendência foi substituída pela ética oposta da auto-afirmação e do saciamento dos desejos.

    As implicações dessa nova ética são várias e significativas. E, à medida que a visão iluminista, a princípio compartilhada por apenas alguns poucos radicais, gradualmente começou a tomar o lugar da antiga tradição do cavalheirismo cristão, tais implicações mais e mais foram se materializando e mudando a face do planeta. A mais importante dessas implicações é a ideia de que o mundo deve ser melhorado, i.e., colocado mais em harmonia com os desejos do homem. (Do ponto de vista da tradição, isso constitui uma revolta contra a natureza das coisas. Não é o mundo que é o problema, mas os desejos do homem). Esse espírito progressista, que é como nos podemos chamá-lo, esconde-se por trás da tecnologia moderna e da extensão do mercado a todos os setores da sociedade. A tecnologia e o mercado estão em tão alta conta e demanda porque são eles, especialmente quando combinados, os meios mais eficazes já descobertos de saciar os desejos do homem. (Existe uma velha tirada sobre aqueles que estão sob a influência desse espírito: eles querem melhorar tudo, menos a si mesmos)

    Uma segunda implicação da emancipação dos desejos, também muito importante, foi que a maior parte das virtudes tradicionais passou, gradualmente, a ser vista como opressiva e estultificante. A causa disso é evidente. A ética da auto-afirmação e do saciamento dos desejos trouxe consigo o adágio de que todo mundo deveria fazer o que quisesse, não importasse o que fosse. Isso claramente não se coaduna com a concepção substantiva de Bem e Mal implícita no catálogo tradicional de virtudes. É claro que a honra continua a existir — embora, frequentemente, sob a forma de pseudônimos, como “status” ou “respeito” —, mas ela não está mais atrelada às virtudes. Ela agora é o prêmio do grau com que um homem é considerado bem-sucedido em saciar seus desejos.

    Os românticos imaginaram um ideal de homem muito diferente daquele elaborado pelo Iluminismo. Existem algumas similaridades estruturais entre a visão romântica e a visão tradicional, o que levou alguns a acreditar que o romantismo e o conservadorismo são entes coincidentes, ou até mesmo idênticos. Isso, entretanto, não é verdade. Eles possuem ideias opostas nas questões fundamentais.

    O mais relevante, para nossos propósitos, é a rejeição do ideal do cavalheiro cristão pelos românticos. Não porque ele é incompatível com a livre busca dos desejos, como pretende o Iluminismo, mas porque é inconciliável com aquilo que Mill chamava de individualidade do homem, i.e., a natureza única de cada pessoa. De uma perspectiva romântica, tal ideal é uma camisa-de-força moral. Todo indivíduo, sendo completamente diferente dos demais, deveria seguir seu próprio caminho e descobrir para si o que é apropriado para sua personalidade única e o que não é. Ele não deve seguir o exemplo de ninguém. Nem de heróis, nem de santos, nem muito menos das massas, pois o que é bom para os outros pode ser mau para ela, e vice-versa.

    Ao invés de olhar para fora de si, e se guiar por padrões de excelência testados e aprovados, como aconselha a tradição cristã, os românticos acreditam que o indivíduo deve olhar para dentro e tentar encontrar o seu verdadeiro e único “eu”. O conhecimento de si próprio, em uma nova acepção não délfica da palavra, é crucial, porque, sem ele, o indivíduo não consegue ser autêntico, não consegue ser ele-próprio; ficará sempre brigado consigo mesmo e, como consequência, dividido e infeliz.

    Adquirir conhecimento do seu “eu” único está longe de ser uma tarefa fácil, já que ele é diferente do seu “eu” empírico, que é um balaio misto de desejos, opiniões e sentimentos plantados ali pela sociedade — a outra que vive dentro de seu peito — e de desejos, opiniões e sentimentos que são genuinamente seus. Separá-los é, obviamente, um desafio. E o fato de que a sociedade não irá gostar se uma pessoa, em nome da autenticidade, virar suas costas para os seus costumes, e tentará discipliná-lo e puni-lo por isso, torna tudo apenas mais difícil. Mas é algo que deve ser feito.

    É nesse ponto que encontramos a similaridade estrutural entre o romantismo e a tradição cristã: ambos concebem a vida como uma escolha entre um caminho difícil e um caminho fácil. O caminho fácil é mais atraente, mas, mesmo assim, deve ser evitado, pois traz a ruína. O caminho difícil, por outro lado, leva à nossa salvação. Mas, ao passo que o Romantismo vê a escolha como sendo uma entre ser você mesmo e se conformar aos desejos e ideias da sociedade, a tradição sustenta que é uma escolha entre virtude e vício, i.e., pecado. De fato, é uma escolha muito diferente!

    Outra coisa: como o indivíduo pode conhecer o seu “eu” único? Os românticos estão convencidos de que raciocinar, pensar, não tem utilidade alguma. A Razão é superficial, ainda que apenas pelo fato de ser universal e precisar obedecer às mesmas regras lógicas em toda pessoa. Assim sendo, a Razão nunca nos dará uma compreensão clara do nosso “eu” único. Para tanto, nós dependemos das nossas emoções, dos nossos sentimentos. Estes, ao menos quando são realmente espontâneos, e não mediados pela Razão, são um claro indicador de quem nós realmente somos. As emoções do indivíduo são, portanto, o melhor guia que ele pode ter na vida. Ele deve aprender a escutá-las e deixá-las determinar suas decisões.

    Muito mais poderia ser dito sobre tudo isso, mas eu preciso fechar o círculo e chegar a uma conclusão. A principal questão é: quem está certo? Quem nos fornece a melhor, mais rica e mais profunda visão desse peculiar ser chamado homem? Qual das três visões pinta o melhor retrato da condição humana? O conhecimento dessas coisas é da maior importância para nós, porque, sem ele, estamos condenados a dar a resposta errada à questão mais importante que existe — como viver? — e, consequentemente, faremos uma bagunça com nossas vidas, tanto na esfera individual como coletiva.

    Tanto o Iluminismo quanto o Romantismo têm estado conosco já há bastante tempo, mas, até bem recentemente, essas ideias estavam limitadas a uma pequena elite. Até o distante século XX, a maioria esmagadora dos povos no Ocidente manteve os pés firmemente na tradição cristã. Até mesmo aqueles que não eram cristãos eram moldados pela união do espírito da religião e do cavalheirismo, simplesmente em razão de sua presença predominante na cultura ocidental. Tudo isso mudou drasticamente na segunda metade do século XX, particularmente nos anos sessenta e setenta. Foi ali então que o Iluminismo e o Romantismo conseguiram tomar de assalto a imaginação das massas e removeram o Cristianismo de seu pedestal de religião civil, rebaixando-o àquilo que o Iluminismo e o Romantismo tinham sido até aquele momento: a convicção de alguns poucos. Hoje, o Iluminismo e o Romantismo são nossas religiões civis; o primeiro primariamente em nossa vida pública e o segundo, em nossa vida privada.

    Isso é progresso? Ou é, ao invés disso, decadência? Trata-se, claramente, da segunda alternativa. O Iluminismo e o Romantismo conseguiram fechar a mente ocidental para a verdade sobre o homem. Se não formos bem-sucedidos em reverter a maré, eles conseguirão, finalmente, nos fazer descer de volta ao nível dos homens das cavernas. E isso é o que já está acontecendo, tanto na vida pública como na vida privada.

    Insufferable Bear
    Membro
    # mar/14
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    Analfabetos funcionais não podem ler esse texto. As pessoas daqui simplesmente não querem ler, acho que somos diferentes.

    Antoine Roquentin
    Membro
    # mar/14
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    aê mano, get a laje, na boa.

    One More Red Nightmare
    Veterano
    # mar/14
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    uma dissertação excelente para uma conclusão pífia.

    sallqantay
    Veterano
    # mar/14
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    Me tornei conservador pois é uma parada vintage, mais vintage só o anarcoprimitivismo (só que esse da maior trampo)

    sallqantay
    Veterano
    # mar/14 · Editado por: sallqantay
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    Cabe ao indivíduo dialogar com sua própria cultura para buscar a mudança dentro dela, e saber o que deve ser preservado. Antropologia tá aí para isso: nos fazer entender algo mesmo estando imersos nele

    só a existência do indivíduo já justifica a civilização ocidental e sua defesa acima de outras culturas. O indivíduo pragmático (nao o romântico) é o auge da civilização

    landlord
    Veterano
    # mar/14
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    Tipo, o mundo se resume a meio quilo de França e 2 quilos de Inglaterra?

    Legal hein...

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