Da consistência do pensamento.

Autor Mensagem
brunohardrocker
Veterano
# fev/12
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Dental Floss Tycoon
neologist_

Mais uma vez, grato pela paciência.
Eu li e compreendi, mas preciso estar no "clima" pra pensar e refletir de verdade.

neologist_
Veterano
# fev/12 · Editado por: neologist_
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One More Red Nightmare
Atlas Shrugged - Ayn Rand.

O julgamento do corpo vale tanto quanto o do espírito e o corpo recua ante o aniquilamento.

Nossa, que bizarro. Esse Camus é um desajustado. Além de supor uma moralidade do corpo e outra da mente, ele dá ao corpo o poder de decidir sobre a escolha moral básica de todo ser humano (existir ou não existir)? O sujeito conclui que a vida é um erro e, ao invés de adotar o padrão moral da não-vida - segundo o qual nenhum valor é possível (nem mesmo a vida), ele se sujeita ao julgamento de seu corpo?

Esse seria o extremo oposto da concepção de integridade que citei no post anterior. E, ao negar o valor da vida - um valor básico e fundamental - mas optar por seguir vivendo, esse posicionamento se torna problemático em vários outros aspectos, porque toda a moralidade do sujeito se assenta em uma contradição que, em sua existência, também será básica e fundamental.
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Edit:

Adquirimos o hábito de viver antes de adquirir o pensar.

Ele não percebe a relação que o pensar tem como o viver, no caso humano.

Cito:
"A mente do homem é o instrumento básico de sua sobrevivência. A vida lhe é concedida, mas não a sobrevivência. Seu corpo lhe é concedido, mas não o seu sustento. Sua mente lhe é concedida, mas não o seu conteúdo. Para permanecer vivo, ele tem de agir, e, para que possa agir, tem de conhecer a natureza e o propósito de sua ação. Ele não pode se alimentar sem conhecer qual é seu alimento e como tem de agir para obtê-lo. Não pode cavar um buraco, nem construir um cíclotron, sem conhecer seu objetivo e os meios de atingi-lo. Para permanecer vivo, ele tem de pensar.

Mas pensar é um ato de escolha. A chave daquilo que vocês denominam, com tanta leviandade, 'natureza humana', o segredo de polichinelo com que vocês convivem, porém não ousam assumir, é o fato de que o homem é um ser cuja consciência tem poder de escolha. A razão não atua automaticamente. Pensar não é um processo mecânico. As conexões lógicas não são feitas por instinto. A função do estômago, dos pulmões, do coração é automática, mas a função da mente não é. A qualquer momento, em qualquer etapa da vida, vocês são livres para pensar ou se esquivar do esforço de pensar. Porém não são livres para escapar da sua natureza, do fato de que a razão é o seu meio de sobrevivência - de modo que para vocês, como seres humanos, a questão do 'ser ou não ser' é a questão de 'pensar ou não pensar'.

Um ser cuja consciência tem poder de escolha não possui um curso automático de comportamento. Ele precisa de um código de valores para orientar seus atos. 'Valor' é aquilo que se age para ganhar ou conservar; 'virtude' é o ato por meio do qual se ganha ou conserva o valor. 'Valor' pressupõe uma resposta à pergunta: valor para quem e por quê? Pressupõe um padrão, um objetivo e a necessidade de ação em oposição a uma alternativa. Onde não há alternativas não pode haver valores.

Só há duas alternativas fundamentais no universo - existência ou não existência -, que só se aplicam a uma única classe de entidades: os organismos vivos. A existência da matéria inanimada pe incondicional, mas a existência da vida não é: ela depende de um curso de ação específico. A matéria é indestrutível, muda de forma, mas não pode deixar de existir. É apenas o organismo vivo que se defronta com duas alternativa constantes: vida ou morte. A vida é um processo de ação que se autossustenta e gera a si própria. Se um organismo fracassa nesse processo, ele morre. Os elementos químicos que o compõe permanecem, mas a vida desaparece. É apenas o conceito de 'vida' que torna possível o conceito de valor. Só para um ser vivo as coisas podem ser boas ou más.

A planta precisa de alimento para viver. O sol, a água, as substâncias químicas de que ela precisa são os valores que a natureza dela a faz buscar. Sua vida é o padrão de valor que orienta os seus atos. Mas as planta não pode escolher um curso de ação. Há alternativas nas condições que ela encontra, porém não nas suas funções: ela age automaticamente para preservar sua vida e não pode agir em prol de sua autodestruição.

O animal possui meios que lhe possibilitam preservar sua vida. Seus sentidos lhe oferecem um código de ação específico, um conhecimento automático do que é bom ou mau. Ele não tem o poder de aumentar esse conhecimento nem de se esquivar dele. Quando seu conhecimento se revela inadequado, ele morre. Porém, enquanto está vivo, ele age com base em seu conhecimento, com segurança automática e sem poder de escolha. Ele é incapaz de ignorar seu próprio bem, de optar pelo mal e agir para destruir a si próprio.

O homem não possui nenhum código de sobrevivência automático. O que o distingue de todos os outros seres vivos é a necessidade de agir em face de alternativas por meio da escolha de sua vontade. Ele não possui um conhecimento automático do que é bom ou mau para ele, de quais são os valores em que se baseia sua vida, de que curso de ação tais valores precisam. Voês vivem falando em instinto de autopreservação, não é? Pos instinto é uma forma de conhecimento automático e infalível. Um desejo não é um instinto. Um desejo de viver não dá a vocês o conhecimento necessário para viver. E até mesmo o desejo de viver do homem não é automático: o mal secreto de que são culpados hoje é justamente o fato de que vocês não têm este desejo. O seu medo de morrer não é amor à vida e não lhes dará o conhecimento necessário à preservação dela. O homem é obrigado a adquirir conhecimentos e a optar entre cursos de ação por meio de um processo de raciocínio, processo esse que a natureza não pode obrigá-lo a utilizar. O homem tem o poder de agir em prol de sua autodestruição - e é assim que ele vem agindo durante a maior parte da sua história.

Um ser vivo que considerasse mau o seu meio de sobrevivência não poderia sobreviver. Uma planta que se esforçasse para destruir suas raízes ou uma ave que tentasse quebrar as próprias asas não permaneceriam muito tempo vivas. Porém a história do homem tem sido uma luta voltada para a negação e a destruição de sua mente.

Afirma-se que o homem é um ser racional, porém a racionalidade é uma questão de opção - e as alternativas que sua natureza lhe oferece são estas: um ser racional ou um animal suicida. O homem tem que ser homem - por escolha, ele tem que ter sua vida como um valor; por escolha, tem que aprender a preservá-la; por escolha, tem que descobrir os valores que ela requer e praticar suas virtudes. Por escolha.

Um código de valores aceito por escolha é um código moral.

[...] Existe, sim, uma moralidade da razão, uma moralidade própria ao homem, e a vida do homem é seu padrão de valor.

[...] A vida do homem é o padrão da moralidade, mas a própria vida é o objetivo dela. Se a existência na Terra é a sua meta, vocês têm que escolher seus atos e valores com base no padrão daquilo que é próprio ao homem - com o objetivo de preservar, concretizar e desfrutar o valor insubstituível que é a sua vida.

Como a vida exige um curso de ação específico, qualquer outro caminho a destruirá. Um ser que não tenha a própria vida como motivo e meta de seus atos age com o motivo e o padrão da morte. Um ser assim é metafisicamente monstruoso, um ser que luta para se opor, negar e contradizer o fato de sua própria existência, correndo às cegas numa trilha de destruição, incapaz de gerar o que quer que seja que não a dor."

Dental Floss Tycoon
Veterano
# fev/12
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Vocês são fodas demais, é difícil acompanhar. Mas continua.

Black Fire
Gato OT 2011
# fev/12
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Taí uma coisa que eu nunca alcancei.

One More Red Nightmare
Veterano
# fev/12
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nuss, o post quintuplicou.

neologist_
Veterano
# fev/12
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One More Red Nightmare
hahaha

Sei que textos grandes não são muito bem vistos no OT, mas... sei lá, você vale a pena. =P

One More Red Nightmare
Veterano
# fev/12 · Editado por: One More Red Nightmare
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neologist_
Não vou poder ler tudo, estou de saída, mas um ponto suscitou um questionamento:

Se a vida é um constante ato de sobrevivência, se essa sobrevivência é uma atitude de entender a natureza e suas próprias necessidades, como o ato de pensar pode ser tido como opcional? Quer dizer, se sobreviver é um ato de instintos, como é possível entender a natureza sem que o ato de pensar sobre a natureza não seja igualmente instintivo?

Como você imagina a hipótese de um homem que, por escolha, optou por deixar de pensar?

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O sujeito conclui que a vida é um erro e, ao invés de adotar o padrão moral da não-vida - segundo o qual nenhum valor é possível (nem mesmo a vida), ele se sujeita ao julgamento de seu corpo?

O julgamento não seria o próprio instinto de sobrevivência? Desculpe, mas não entendi o que você quis dizer com ''padrão moral de não-vida". Não é possível viver nesse contradição?

Mais tarde eu continuo, abraço.

neologist_
Veterano
# fev/12 · Editado por: neologist_
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One More Red Nightmare
Como você imagina a hipótese de um homem que, por escolha, optou por deixar de pensar?

Você não consegue imaginar um homem capaz de alienar um elemento da realidade e optar por não submetê-lo a um processo de raciocínio lógico? Então os tópicos de religião estão fazendo falta. =P

O julgamento não seria o próprio instinto de sobrevivência? Desculpe, mas não entendi o que você quis dizer com ''padrão moral de não-vida". Não é possível viver nesse contradição?

A vida é um valor. O padrão moral de vida é aquele que orienta a ação de modo a gerar ou conservar a vida, e o padrão moral de não-vida ou de morte é aquele que faz exatamente o oposto.

Se alguém conclui que sua vida é um erro e sua sobrevivência é má, o que o faz adotar outro padrão que não seja o de morte? Como ele pode ser tão corrupto a ponto de deixar que um valor percebido por ele como mau possa orientar todas as suas ações? E por "todas as ações" eu me refiro a tudo que não seja um tiro em uma das têmporas.

No trecho que você postou, Camus aponta para o recuo do corpo diante da morte. Então é o corpo quem faz com que o sujeito viva de acordo com um padrão moral orientado por um valor que considera mau. O corpo: aquele que, ao ser por Camus separado da mente, se torna por definição estranho às faculdades mentais e, portanto, incapaz de emitir um julgamento, seja ele de ordem moral ou não. Ainda assim, é o "julgamento do corpo" que empurra alguém à vida, enquanto sua própria mente a condena.

É uma contradição elementar, sim. É possível viver e se opor, negar e contradizer o fato de sua própria existência, como o mostra qualquer niilista de botequim. Mas eu acho que esse sujeito não tem nada resolvido, a começar pela escolha básica na qual está fundamenta toda sua moralidade.

Die Kunst der Fuge
Veterano
# fev/12
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Já pularam corda?

Se lembram quando a galera tava batendo a corda rapidão e você tava de fora e tinha de "entrar"?

Então, esse tópico tá assim =P

Dental Floss Tycoon
Veterano
# fev/12
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Die Kunst der Fuge

No momento eu to num canto jogando dominó.

Die Kunst der Fuge
Veterano
# fev/12
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Dental Floss Tycoon
No momento eu to num canto jogando dominó.

Auhauahuha Vou chamar a AnaClara pra te fazer companhia, enquanto ela borda as toalhas dela.

Aí os dois podem ouvir Rachmaninoff enquanto isso.

Chapeletta
Veterano
# fev/12
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Você precisa estar aberto às contradições, pois elas são inerentes à experiênca básica que temos da vida, só a partir é que você pode formar as suas convicções, que vão ser em um número bem mais reduzido. Fazer o caminho inverso é dar uma de Sheldon Cooper.

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