Konrad Veterano |
# nov/11
RIO - Dez pessoas, entre policiais e traficantes, foram presas no início da noite desta quarta-feira, durante operação da Polícia Federal, quando cinco agentes civis e militares escoltavam cinco traficantes que esteriam fugido da Favela da Rocinha. A comunidade deve receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no próximo domingo. De acordo as primeiras informações, o grupo estaria dividido em quatro carros que foram interceptados por agentes da PF em frente ao Shopping da Gávea e ao Jóquei, na Zona Sul do Rio. Um dos bandidos presos é o traficante Anderson Rosa Mendonça, conhecido como Coelho, braço-direito do traficante Nem e chefe do tráfico no Morro de São Carlos. Nos carros foram apreendidas armas, granadas e drogas. Todos foram levados para a sede da PF, na Praça da Bandeira. Os bandidos teriam negociado, segundo uma alta fonte da Polícia Civil, o pagamento de cerca de R$ 2 milhões pela escolta feita pelos agentes do estado. Com escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, agentes federais estavam monitorando os traficantes e flagraram os policiais em conversas com os bandidos. objetos pertencente aos traficantes Foto Domingos Peixoto / agência o Globo
Entre os presos, segundo a PF, estão três policiais civis, sendo deles da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) - Carlos Renato Rodrigues Tenório e Wagner de Souza Neves - e um da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Saúde Pública (DRCCSP) - Carlos Daniel Ferreira Dias. O grupo também conta com dois ex-PMs, José Faustino Silva e Flávio Melo dos Santos, de acordo com nota enviada pela PF na noite desta quarta-feira. Os outros cinco são traficantes. Além de Coelho, outro dos principais chefes do tráfico no Morro de São Carlos, no Estácio, também estaria entre os presos na noite desta quarta-feira. Sandro Luiz de Paula Amorim, o Lindinho ou Peixe, foi procurar abrigo na Rocinha logo após seu reduto ser ocupado por uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Ele foi encarregado de assumir também o comandos das favelas de Macaé, após a morte do traficante Roupinol, ocorrida em 2010. Os outros três bandidos são Paulo Roberto Lima da Luz, conhecido como Paulinho; Varquia Garcia dos Santos, conhecido como "Carré"; e Sandro Oliveiro.
Três fuzis, dez pistolas, cinco granadas e 20 carregadores, além de reais e euros em quantidade ainda não revelada, foram apreendidos. Também foram apreendidas joias em ouro.
Segundo o Tribunal de Justiça, a PF pediu auxilio à Vara de Execuções Penais para monitorar um dos integrantes do grupo que foi preso. A PF sabia que ele, por ser foragido do sistema penal, estava usando uma tornozeleira eletrônica. Através desse monitoramento, foi possível localizar o grupo.
A correria dos policiais para capturar os bandidos transformou a rotina da Rua Arthur Araripe, uma via curta, predominantemente residencial, em frente ao shopping da Gávea, que liga a Marquês de São Vicente à Autoestrada Lagoa-Barra. Os policiais fecharam o trânsito em dois pontos durante a operação, que mobilizou cerca de 40 agentes. Algemados, os bandidos presos eram colocados deitados no asfalto.
A colunista Lu Lacerda estava na Gávea e presenciou a cena. Conforme descrito em seu blog , a "Santos Dumont, de pracinha bucólica que é, transformou-se numa zona de guerra". Segundo ela, quatro carros com policiais à paisana tentavam interceptar um Honda Civic de placa de final 5036, em frente ao Jockey Club. Um policial recebeu a denúncia, que foi confirmada quando dois carros da Polícia Civil conseguiram interceptá-los, e com eles encontraram pistola, fuzil, maconha, carregador de arma e granada. Os bandidos, inclusive o policial, foram jogados no asfalto, algemados e presos ali, diante de pedestres chocados, de acordo com a colunista: "Sirenes soavam, o trânsito parou, algumas pessoas corriam, outras berravam, com muito, muito medo." Uma estudante da Pontifícia Universidade Católica, na Gávea, também contou os momentos de tensão que viveu durante a operação. Em vídeo postado no Twitter , ela revela que agentes do Bope entraram na universidade. Foto do traficante Peixe divulgada pelo Disque-Denúncia (Foto: Divulgação)
A quatro dias da provável ocupação da Rocinha, as corregedorias da Polícia Civil e Militar investigam a denúncia de que o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, também deixaria a favela escoltado por um carro da polícia. Segundo o corregedor da Polícia Civil, delegado Gilson Emiliano, a informação de que Nem sairia escoltado foi passada pelo Disque-Denúncia (2253-1177) na manhã desta quarta-feira, e dá conta de que o traficante sairia da favela num carro preto com soldados do tráfico fortemente armados e escoltados por viaturas. A denúncia não mencionou se a escolta seria feita por policiais civis ou militares. Por precaução, Gilson Emiliano montou uma operação para evitar a fuga e prender os policiais. Até o momento nenhum suspeito foi preso.
- A denúncia, recebida às 10h40m, diz que Nem sairia num carro preto hoje ou amanhã. Enviei policiais da Coinpol em quatro carros escoltados por agentes da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais) em dois carros. Estamos revistando todos os veículos escuros e observando carros da Polícia caracterizados que entram e saem da favela - contou o corregedor da Polícia Civil, que informou ainda que um veículo da Coinpol com três agentes ficará de plantão na 15ª DP (Gávea) até quinta-feira para entrar em ação rapidamente.
O corregedor da Polícia Militar, coronel Waldir Soares, informou que delegou à 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) a investigação da denúncia. Segundo ele, agentes daquela unidade apoiam uma ação da Corregedoria Geral Unificada (CGU). O corregedor geral, o desembargador Giusepe Vitagliano, confirmou a denúncia e afirmou que já há equipes em campo para evitar a suposta tentativa de fuga do bandido e prender os policiais.
Segundo a polícia, o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Rocinha, continua na comunidade. A Polícia Militar reforçou o patrulhamento nos acessos à Rocinha e à Favela do Vidigal, também na Zona Sul, inclusive com viaturas da corporação. Agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ocupam a Vista Chinesa, uma das possíveis rotas de fuga de bandidos da Rocinha.
Policiais na subida da Estrada da Gávea revistam carros que passam pela via / Foto: Fabiano Rocha
O Batalhão de Choque da PM realizou entre a noite de terça-feira e a manhã desta quarta uma operação na Favela da Rocinha. Cerca de 50 policiais, em 12 patrulhas, se fixaram em dois pontos (na saída da Rua 1 e na Estrada da Gávea) e começaram a revistar vans e outros veículos. Segundo o serviço reservado do batalhão, o objetivo da operação era impedir a fuga de bandidos. Não houve presos, e o clima era de tranquilidade na comunidade. Nesta manhã, os policiais do 23º BPM (Leblon) continuam fazendo patrulhamento nos arredores da comunidade.
Na terça-feira, o delegado titular da 15ª DP (Gávea), Carlos Augusto Nogueira Pinto, afirmou que instaurou um procedimento para investigar a denúncia de que Nem estaria intervindo nas associações de moradores na região. Há informações de que o traficante teria determinado a antecipação da eleição para a escolha dos presidentes das entidades. Bandido cobra taxas de vans, motos e prostíbulo
A expectativa da ocupação da Rocinha e do Vidigal pela polícia, para a implantação de UPPs, fez com que Nem se reunisse com seus cúmplices na segunda-feira, na tentativa de antecipar as eleições em três associações. Segundo o delegado Carlos Augusto, o bandido estaria disposto a deixar pessoas de sua confiança à frente das entidades e de seus negócios ilícitos. O delegado explicou que, além do dinheiro do tráfico, Nem recebe uma espécie de "pedágio" de vans e motos que circulam nas favelas, além de cobrar taxas de uma clínica de aborto, interditada na semana passada, e de uma casa de prostituição.
Em novembro, a delegacia da Gávea já recebeu 20 informações do Disque-Denúncia sobre Nem. De acordo com o delegado, o bandido teria ido um dia à Praia de São Conrado.
- Chegamos a ir lá, mas ele não estava mais na praia. Não estamos deixando de averiguar nenhuma informação. Foi assim com a denúncia de que Nem se encontrava na UPA da Rocinha, recebendo tratamento médico . Havia cerca de 40 traficantes fazendo a segurança do bandido. Quando nos aproximamos da UPA, os criminosos soltaram fogos anunciando a nossa chegada - contou o delegado.
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/11/09/pf-prende-na-gavea-policiai s-que-escoltavam-traficantes-em-fuga-da-rocinha-925767334.asp#ixzz1dGw yqpOJ
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