Ser feliz é parecer feliz.

Autor Mensagem
Minow
Veterano
# mai/09 · Editado por: Minow


Esse realmente é do Jabor, tou com o jornal na minha frente.
Quem quiser ler, leia, quem não quiser, que VAZE DE CÓCORAS e vá poluir outro tópico com vossa inutilidade.




Ontem comecei um filme sobre a "busca da felicidade", essa ideia fixa do Ocidente, transcrita até na Constituição americana. No filme, não trato da atual "bem-aventurança" atual, mas de uma felicidade "de epoca", ao final dos anos 50.

Não havia ainda a abertura "psicologica" de hoje; a felicidade se encolhia pelos cantos de um cotidiano reprimido, temeroso de grandes alegrias, dentro e fora das familias. Era quase feio demonstrar muito prazer, como se a risada fosse um luxo. Minha avó aconselhava:

"Cachez votre bonheur" (esconda sua felicidade)à Era diferente do narcisismo compulsivo que vemos agora, com ricos, jovens e famosos expondo suas gargalhadas na midia.

Felicidade muda com a época. Antigamente, a felicidade era uma missão, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros, a felicidade demandava o sacrifício. A felicidade se construía.

Hoje, felicidade é ser desejado, é ser consumido. Confundimos nosso destino com o destino das coisas. Uma salsicha é feliz? Os peitos de silicone são felizes?

Ja escrevi sobre isso e volto agora por causa do filme, ao examinar com fascínio as revistas mundanas. Olho com inveja e rancor as fotos dos afortunados, pois todos são mais felizes do que eu. Ser feliz é parecer feliz.

A dúvida e as dores da vida são ocultadas. Já houve tempo em que era chique não sorrir, já houve os olhos fundos dos existencialistas, a cara abatida dos "beats", fotografias em que o espectador era olhado com desprezo acusatório.

Hoje as celebridades parecem dizer: "Azar o teu por não estares aqui, "seu" anonimo. Aqui, não há fracassos, nao há o Inconsciente. Ninguém pode deprimir. Tristeza não é comercial.Tudo é claro e obvio como nossas gargalhadas".

Na felicidade industrializada, só o excesso é valorizado. Não há a contemplação elegante da delicadeza, nem a tradição de uma feliz sabedoria, de uma serenidade discreta. Nossa felicidade não é minimalista; está mais para uma imitação carnavalesca de Luiz XIV.

As personagens da midia feliz vivem como se não ouvesse armadilhas na existencia; apenas o narcisismo óbvio é cultuado como sendo o ideal a atingir. Este conceito redobrou em força, depois que morreram os antigos agentes da dúvida, os socialismos e desbundes. Assistimos ao triunfo da caretice disfarçada de libertação.

As fotos dos deslumbrados e deslumbrantes não precisam de caricatura; elas se criticam sozinhas, elas são paródias de si mesmas.

" Estaremos aqui para sempre, eternos em nossas baladas e desfiles - parecem dizer -conquistamos isso tudo, estes cães de luxo, estas sopeiras de porcelana, este vaso Ming falso".

Muito importante é ver, nas fotos de milionarios e colunaveis, a cenografia onde eles posam como peixes em aquarios de luxo, orgulhosos de seus tesouros: as casas e eles mesmos.

Não se vêem vestígios "dark". Tudo é novo, tudo brilha, tudo é presente. Contra o decorrer do tempo, existem os "make overs", jorros de silicone e bochechas de botox. Para essa gente, não houve crises e mudancas no mundo. Nao houve anos 60, nem guerras quentes e frias, nem fraturas ideologicas, muros caidos, fim de utopias, nada.

Não aprenderam nada e não esqueceram nada, como disseram dos Bourbon.

Nas fotos , só aparecem gestos e coisas que gritam: lustres de cristal, galgos de bronze com olhos de safira, marmores falsos, ouro de tolos, ninfas de marfim, objetos no estilo catete-gótico, "barroco Teodoro Sampaio" ou "Early Lar Center", atacando a arte contemporanea numa blitz feroz.

A decoração dos ambientes é para eles ou eles são para a decoração? As pessoas combinam com a casa.

Uma vez uma perua me perguntou como era o restaurante aonde iríamos, para botar uma roupa que combinasse. É extraordinário como para eles tem de haver continuidade no mundo, uma coisa puxando a outra, num lógica que começa num elefantinho de prata e acaba na idéia de Deus.

Em muitas fotos parece não haver figura e fundo. Há fotos em que os eternos felizes posam orgulhosos diante de seus retratos, criando um efeito narcisico de espelhos infinitos. Quem está ali? A dona ou o retrato?

Tudo ali é controlado pela ideia de simetria total. O abajur tem seu par, o castiçal tem seu par, o marido abraça a mulher em perfeita perspectiva com as duas colunas romanas que os ladeiam e todos os pecados se apagam ali no sereno tapete e no brasão do jaquetão de comodoro. Tudo passa a ideia de autosuficiência, de ilha de paz e tranquilidade, realizacao do ideal de casa, contra a rua do mundo. São abrigos contra o mundo, são abrigos anti-atômicos num estilo rococó que resiste a todos os avanços do bom gosto; ali pode-se viver, andar de cavalinho de plástico na piscina e rolar no veludo durante qualquer catastrofe economica ou politica. Nada os atingirá.

Os "venturosos" contemporaneos não se contentam em mostrar seus bens, caras e bocas; se sentem tão acima de nós, que adoram exibir e justificar qualquer vicio, perversão ou vexame que cometam. Não ha mais nada a esconder; ao contrario eles têm o prazer de ostentar uma mentirosa auto-consciencia, como se tivessem controle sobre o que são. "Ah, sim, eu ja me prostitui muito, sim, eu gosto de transar em mictorios publicos, sim, me excita até ver cenas de crimes ou chacinas me sinto liberadoàsabe? Mas, tudo numa boa, sacou? Sou livre e maduro.."

Mas, afinal, temos liberdade para desejar o quê? Bagatelas, mixarias, uma liberdade vagabunda para nada, para rebolar o rabo em revistas, uma liberdade fetichizada, produto de mercado disfarçado de revolta de festim. Somos livres dentro de um chiqueirinho de irrelevancias, buscando ideais como a bunda perfeita, recordes sexuais, sucesso sem trabalho, a fama em vez do merecimento. Nao precisamos fazer nada ou saber nada. Basta aparecer, pois o pior castigo é o anonimato.

No futuro, (se houver algum) essas colunas e revistas de ricos e famosos serão uma valiosa contribuição para a semiologia da nossa caretice.



Pequena obs: engraçado isso ser publicado justamente n'O Globo. Bastante irônico.
Dissertem.

-Dan
Veterano
# mai/09
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Acho que preifro os textos do jabor falso.

Minow
Veterano
# mai/09
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-Dan
Eu postei há menos de 30 segundos, você não leu.

-Dan
Veterano
# mai/09
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Minow
li os primeiros paragrafos e me deu ansias estomacais.

Minow
Veterano
# mai/09
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-Dan
Então vai ler tua Caras.

Horcruxes
Veterano
# mai/09
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Concordo. Mas acho que faltam umas boas aspas nesse título.
É triste pensar que hoje em dia a felicidade que tanta gente quer tá atrelada à essa superficialidade toda. É a história da uniformização que eu falei no tópico sobre os Jonas Brothers (alguém ainda lembra?): numa sociedade que lutou tanto pra ser individual, tá tudo cada vez mais homogêneo e uniforme.
Triste... =/

Julia.
Veterano
# mai/09
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Minow
O que eu gosto de pensar é: na fotografia aquelas pessoas são o símbolo da perfeição. Tem vidas perfeitas, bundas perfeitas, casas perfeitas, filhos perfeitos. Olham para nós, mortais, como se fossemos a escória, seus súditos.
Mas por trás disso tudo, são pessoas destruídas, vazias, problemáticas, que vivem para sustentar essa falsa ideia de perfeição. Só têm aquela imagem. Eles são uma imagem. E só.

B.Frusciante
Veterano
# mai/09
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VAZE DE CÓCORAS
Nome de filósofo grego do século VI.



[/dogs2]

Minow
Veterano
# mai/09
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Julia.
s2

-Dan
Veterano
# mai/09
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Minow
Então vai ler tua Caras.

pode deixar. Mas tive que te parabenizar pelo "Vaze de Cócoras". Valeu a pena ler isso ahshuasasuas.

Kensei
Veterano
# mai/09
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Horcruxes
uma sociedade que lutou tanto pra ser individual, tá tudo cada vez mais homogêneo e uniforme.

Não sei se é isso, mas vamos lá. Pense mais ou menos assim, sabe o pessoal conhecido como "alternativos" ? Pois é, eles diferem do estilo comum de toda a sociedade. Mas vc já viu coisa mais homogênea do que os alternativos?? São todos idênticos.

Mas acho que viajei duas vezes. Em relação ao seu comentário, que na verdade me leva a um paradoxo. E ao fato de não ter a ver com o tópico.


Minow
Irônico é pouco. Seria o Jabor e sua família icones da contra-cultura elitista?

brunohardrocker
Veterano
# mai/09
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Bom texto.

TheBreakdown
Veterano
# mai/09
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Eu prefiro o anonimato. Como já dito, essas pessoas "perfeitas" são pessoas destruídas, vazias, problemáticas.

brunohardrocker
Veterano
# mai/09
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Não sei se é isso, mas vamos lá. Pense mais ou menos assim, sabe o pessoal conhecido como "alternativos" ? Pois é, eles diferem do estilo comum de toda a sociedade. Mas vc já viu coisa mais homogênea do que os alternativos?? São todos idênticos.

haha, bem nessa.

Morenah_22
Veterano
# mai/09
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Julia.

Mandou bem. Falou tudo!

+1

Julia.
Veterano
# mai/09
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Kensei
Mas vc já viu coisa mais homogênea do que os alternativos?? São todos idênticos.
heuheUUEHuue!

Dogs2
Veterano
# mai/09 · Editado por: Dogs2
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Ser feliz é parecer feliz.

O que eu conheço por felicidade não tem muito a ver com aparência e sim com essência. No texto as palavras "gargalhada" e "parecer" me fizeram entender que o Jabor tá tratando mais do que eu chamo de alegria do que o que eu considero felicidade.
E como o filósofo Vaza de Cócoras dizia: prontodissertei

Minow
Veterano
# mai/09
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Não sei se é isso, mas vamos lá. Pense mais ou menos assim, sabe o pessoal conhecido como "alternativos" ? Pois é, eles diferem do estilo comum de toda a sociedade. Mas vc já viu coisa mais homogênea do que os alternativos?? São todos idênticos.

Exatamente, na verdade não existe mais uma identidade, tudo é um retrato caricato do que já existiu. Esses que você falou, que inventam de ser beatniks, ou guri que acha que é punk, etc. Eles não sabem e nunca vão saber o que foram esses movimentos/culturas, vão continuar protestando contra coisas que aconteciam há 50 anos atrás, ao invés de abrir os olhos pra o que tá acontecendo hoje.
O fato é que nada deixou de acontecer, tudo bem que não vivemos no pós guerra ou em 68, mas vimos várias guerras (Chechênia, Kosovo, Iraque, Afeganistão), a destruição do WTC, a execução do Sadam... as pessoas é que deixaram de reclamar. Ou então vêem uma notícia no jornal, falam "oh, que coisa, hein?", mas preferem ver Grey's Anatomy do que fazer alguma coisa a respeito.
A gente tá vivendo na década mais alienada da nossa história e nossa cultura se baseia na novela e nos seriados americanos fantasiosos onde todo mundo é lindo. A verdade é, que de agora em diante, isso não vai mudar. Gente burra é um ótimo negócio, e até a nossa dita "elite cultural" é facilmente controlável, então é isso. Acabou, contemplem a morte da cultura e da arte.

mult
Veterano
# mai/09
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esse tema me lembra uma epoca que eu tinha que fingir pra todos que eu tava feliz, quando na verdade eu estava sofrendo muito

e as coiencidencias nao acabam por ai, hoje 22 de maio, faz 2 anos que meu pai morreu



Minow

descupe desvirtuar o topico, mas é pq o tema me lembrou isso

Julia.
Veterano
# mai/09
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Minow
Legal mesmo é quando geral diz que queria viver nos anos 60 porque aquela era uma época em que as coisas aconteciam, tinham algo para lutar.
- Acorda, filho da puta. Perceba o mundo ao seu redor.

Kensei
Veterano
# mai/09
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Minow
Acabou, contemplem a morte da cultura e da arte.

Hoje pela manhã, percorrendo os caminhos sinuosos na internet me deparei com isso. Vc citou a morte da arte e da cultura, nesse site eu encontrei justamente uma nova arte, demonstrada de várias maneiras diferentes.

E o que eu tinha comentado aqui com meu amigo "eu não vejo nada disso nas mídias de massa". Então, ao que me parece, a internet é o último refúgio dos livres pensadores que não se contentam com a massificação da felicidade estilo fake plastic trees. Enfim, se sentir inclinado, confira:

http://blog.uncovering.org/

Julia.
Veterano
# mai/09
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Kensei
Sou sua fan, Kensei.
Quer que eu lamba sua bunda?
Aproveite a oferta.

Kensei
Veterano
# mai/09
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Julia.
É recíproco, logo vai rolar uma dupla lambida carpada.

Julia.
Veterano
# mai/09
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Kensei
*.*
Cabritinho.

Pseudonimum
Veterano
# mai/09
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Beijo grego? Beijo grego?!

Julia.
Veterano
# mai/09
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Pseudonimum
Eu lambo sua bunda também.

Mila Turunen
Veterano
# mai/09
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Julia.
Pseudonimum
Eu lambo sua bunda também.

Gata, cai fora. Sério.
¬¬'

Pseudonimum
Veterano
# mai/09
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Ai ai... (L)

Julia.
Veterano
# mai/09
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Mila Turunen
Nossa. A sua bunda eu lambo lictrös.
A racha eu lambo só da maggie. HAHAHAHAHAHA.

Parei.

Pseudonimum
Veterano
# mai/09
· votar


Mila Turunen
Nossa. A sua bunda eu lambo lictrös.


Xispa. u.u

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