Deji Veterano |
# ago/07 · Editado por: Deji
Argentino 'As leis de família' é um dos melhores exemplares de paternidade dos últimos tempos
Plantão | Publicada em 02/08/2007 às 10h14m
Daniel Levi - O Globo Online
RIO - François Truffaut tem a ver com "As leis de família", novo filme do argentino Daniel Burman ( veja o trailer ), por pelo menos dois motivos. Exímio diretor de crianças (e de adultos também), ele contracenou em "Contatos imediatos do terceiro grau" (1977) com Cary Guffey que, então com quatro anos de idade, tem uma atuação memorável, para sempre eternizada. Além disto, é creditada ao famoso diretor francês a frase: "o momento mais importante da vida de um homem é quando ele descobre que seus filhos são mais importantes do que seus pais".
Com uma passagem no Festival do Rio do ano passado com sucesso de crítica e público, "As leis de família" (que estréia esta sexta-feira no circuito) tem o pequeno filho de seu diretor como um dos destaques - dignos da posteridade - em um filme cuja jornada do protagonista é muito próxima à frase de Truffaut.
Um dos melhores exemplares sobre paternidade dos últimos tempos, o quinto longa-metragem do diretor argentino dá continuidade à sua investigação acerca de suas raízes judaicas e, mais importante, da relação pai e filho, o que já havia acontecido em seu último filme, o emocionante "O abraço partido", vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2004. Daniel Hendler, ator-fetiche de Burman e seu alter-ego cinematográfico, ganhou o prêmio por sua atuação. Aqui ele retorna à sua parceria com Burman, cada vez mais afinada, em um filme simplesmente encantador.
Em "As leis de família", Ricardo, o Perelman pai (Arturo Goetz), e Ariel, o Perelman filho (Daniel Hendler), são ambos advogados. O pai é um profissional estabelecido, referência para sua comunidade desde a infância do filho. Experiente e metódico, ele não tem tempo a perder em sua rotina inabalável no que concerne a horários, visitas a clientes e idas ao Fórum. Sempre sorrindo, tem enorme prazer no que faz, satisfeito com o rumo que sua vida tomou. Depois da morte de sua esposa, mãe de Ariel, contratou Norita (Adriana Aizemberg), companhia inseparável em seus turnos no escritório.
O filho, defensor público, dá aulas e se recusa a trabalhar em sociedade com o pai. Não quer dividir o escritório com ele, abrindo mão da sala que tem à sua disposição. Ele quer seguir seu próprio caminho e tomar suas próprias decisões, fazendo suas próprias escolhas e arcando, sozinho, com suas conseqüências. Perelman filho é um sujeito fechado e à sombra do pai, e que pouco sorri.
Isto muda quando, dando aulas, conhece Sandra (Julieta Díaz), sua futura esposa e mãe de seu filho, Gastón (Eloy Burman). A partir do nascimento deste, Perelman filho - agora também Perelman pai - começa a rever sua vida, seus conceitos, o que o futuro lhe aguarda e, principalmente, sua relação com a paternidade, enquanto filho e enquanto pai. E como ele se desenvolve e se modifica ao sofrer as conseqüências que esta nova responsabilidade incute a ele.
Lirismo, inteligência e beleza em obra autobiográfica
Como incutir uma identidade em seu filho sem antes definir a própria? A crise de identidade provocada pelo nascimento de Gastón faz com que sua relação com Perelman pai também se modifique. Caberá a Perelman filho encontrar seu lugar neste novo mundo, onde deixa de ser filho para ser pai. Assim, poderá ele também, compreender fatos de seu passado e de sua relação com Perelman pai, impossíveis de serem digeridos antes de sua nova condição.
"As leis de família" é um filme lindo, sensível e inteligente, que tem uma direção sóbria e com maturidade emocional, que não permite que o longa caia no truque fácil de apelar para o melodrama e/ou pieguice. Com diálogos inspirados - alguns engraçadíssimos - e uma atuação magnífica do trio principal (Perelman pai, filho e neto - sim, a criança - filho do diretor - também é espetacular), o filme ainda tem uma narração em off na qual a contraposição entre som e imagens faz, esplendidamente, com que o filme recuse aquilo que o narrador conta. A contradição entre a voz em off e a realidade objetiva dos fatos é explicitada quando Perelman filho age em contradição com o que diz.
Partindo da primeiríssima regra de roteiro cinematográfico - o que se vê, não se fala -, se estabelece um paradoxo genial entre a narração e a ação, que diz muito sobre o caráter de seu personagem e de seu diretor. Burman realizou mais uma obra autobiográfica com beleza, competência, lirismo e inteligência. Sem dúvida, um dos melhores lançamentos deste primeiro semestre.
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2007/08/02/297075111.asp
Eu vi e recomendo, um filme que fala da felicidade dentro do casamento e da família, sem aquela apelação americana de "traições" dentro do casamento.
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