Lord_Mackenzie Veterano |
# fev/05 · Editado por: Lord_Mackenzie
De boa, muitas pessoas consideram Brasilia como um dos berços do rock nacional, opinião ao qual eu concordo.
Na verdade, o rock surgiu em Brasília, na forma de grupos de dublagem - Harry Jones e Seu Conjunto, especialmente -, na mesma época que em todos os lugares, respeitando o fato de que a cidade - digamos, pré-fabricada -, foi "inaugurada" em 1960. De certa forma queimando a etapa da fase instrumental, o rock clássico e a Jovem Guarda produziram seus heróis locais na década de sessenta.
Os Primitivos, Os Infernais e Os Reges fizeram frente a uma cena que incluia dezenas de grupos, espalhados pelo Plano Piloto e pelas cidades satélites, como The Good Boys, Os Mugs, Valdo e Seus Blue Caps, The Golden Stones, Os Inocentes (onde tocava Jessé) e os Mig's, entre outros. Destes, Os Primitivos destacaram-se, tendo sido o primeiro grupo de Brasília a gravar fora - o lp Os Primitivos no Iê Iê Iê, em 1967, pelo selo Polydor. Também Os Infernais, em sua segunda formação, gravaram um compacto simples pelo selo Paladium/Bemol, de Belo Horizonte, no mesmo ano.
Na virada dos sessenta pros setenta, outros grupos surgiram, entre eles Os Quadradões, também pioneiros na gravação independente local, com o lp Os Quadradões, pelo selo PR Stúdios, com repertório que ia dos Beatles - I Need You em estilo de samba -, até covers de James Brown. Ainda fizeram parte da cena roqueira da Capital Federal naquele momento Os Fantásticos, Os Matuskelos, The Cheynes (grupo de mulheres), Os Geniais e Os Santos, entre outros.
A cena musical de Brasília ainda contou com a presença de cantores e cantoras na linha Jovem Guarda, destacando-se a cantora Márcia Valéria, que cantava acompanhada dos Infernais, Heron Tavares, autor do hit local Carmanguia, e a dupla Clodo & Ana, do irmão de Clésio e Climério.
A década de setenta trouxe, mais ao seu final, um dos melhores grupos de som progressivo do país - Tellah, que gravou um excelente disco, já relançado em cd, enquanto no início dos anos oitenta brilharam as bandas de folk-rural, como Mel da Terra e Por do Sol, que também gravaram álbuns e compactos.
A explosão dos oitenta, portanto, contou com uma longa preparação que, apesar de não contar, à sua época, com o reconhecimento nacional, assentou as bases do que viria a ser, a partir de Legião Urbana e demais grupos, o rock de Brasília, com sua marca registrada.
O rock de Brasília não usa o bom humor como principal ingrediente, como é de praxe no rock nacional, e sua música está longe dos acordes românticos de Lulu Santos ou do Kid Abelha. O melhor exemplo do estilo brasiliense está no LP do Legião Urbana, batizado com o nome do grupo formado em 1982 e que conta, na guitarra, com Dado Villa-Lobos, filho do cônsul brasileiro em Marselha.
Somos filhos da revolução Somos burgueses sem religião Nós somos o futuro da nação Geração Coca-Cola, canta Renato Russo, na letra de Geração Coca-Cola, um rock do melhor estilo agressivo detonado pelos grupos ingleses.
"Brasília, às vezes, parece uma Roma antiga: é incrível o que se vê nos bastidores do poder e isso se reflete no nosso trabalho", diz Flávio Lemos, ex-baixista do Capital Inicial. "Brasília propicia o surgimento do rock entre os jovens, é uma cidade rica, tediosa e vazia, mas para aparecer é preciso sair de lá", acrescenta Herbert Vianna, o líder do pioneiro Paralamas do Sucesso.
Apesar disso, o rock e Brasília floresceu. Nada mal para uma cidade que se queixa de importar toda cultura que consome.
Vou-me indo por hoje. Abraços e
Comentem.
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