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kafka à beira-mar Membro Novato |
# abr/22
Porque ainda não existe nenhum tópico sobre esse belíssimo gênero do final do século XIX.
Tomarei a liberdade de abrir com um belíssimo rag criado pelo Scott Joplin em parceria com o Louis Chauvin! Heliotrope Bouquet.
Contribuam!
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Juquinhaa Membro Novato |
# abr/22
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É bacana, lembra aqueles tangos do Ernesto nazaré. O interessante é que é mais ou menos da mesma época do início do choro.
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kafka à beira-mar Membro Novato |
# abr/22
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Juquinhaa
É verdade! O choro é de mais ou menos da segunda metade do século XIX, enquanto o ragtime é do final do século XIX, 1890 pra cima.
O interessante é que os dois gêneros compartilham de raízes bastante próximas, com fusões parecidas: com a vinda da família real pro Brasil em 1808, veio também parte da cultura musical europeia: alguns ritmos mais dançantes como a valsa, a polca, alguns instrumentos europeus como piano, violão, flauta, etc. Aí os instrumentistas daqui perceberam que uma fusão entre a música europeia e ritmos africanos presentes no Brasil por causa da escravidão dava um resultado bacana. Daí nasceu o choro.
Já o ragtime, se não me engano, nasce naquela parte mais escravocrata dos EUA: Louisiana, Missouri, por aí. Lá, a marcha era um gênero muito presente por causa do forte patriotismo e da recém independência dos EUA. Aí os caras pegaram o ritmo da marcha, misturaram com a melodia da música erudita que era difundida entre as elites e deram uma sincopada na mão melódica, dando uma pegada meio swingada, parecida com a música difundida pela comunidade africana dos EUA, sobretudo entre os povos escravizados que desembarcavam nos portos de nova orleães, o porto com o maior desembarque/comércio desses povos.
É bacana a gente perceber que até mesmo a história de um gênero musical consegue nos ensinar bastante sobre a história de um país.
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Lelo Mig Membro
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# abr/22 · Editado por: Lelo Mig
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Juquinhaa kafka à beira-mar
Imaginem a seguinte situação:
Um escravo preto, com muito amor a música, musicalidade e trânsito na Casa Grande, ouve, quase diariamente, a sinhazinha tocando polcas, mazurcas, valsas e algumas peças eruditas ao piano.
Este preto, têm acesso ao piano e pode brincar eventualmente... o resultado é essa música magnífica, na forma de ragtime nos E.U.A, choro no Brasil, a Rumba em Cuba e por aí vai...
Scott Joplin é primeira geração pós escravidão, não sei como ele teve acesso ao piano (instrumento da elite branca)... mas... o cara foi gênio. Mas o D.N.A da bagaça é esse... o pretinho senta no piano da sinhazinha e arregaça.
Exemplo da parada em Cuba, não menos interessante e igualmente complexa.
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kafka à beira-mar Membro Novato |
# abr/22
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Lelo Mig
O Scott Joplin nasceu no Texas, e viveu parte da sua infância numa cidade na fronteira do Texas com o Arkansas que não recordo o nome agora. O pai dele era um ex-escravo, e acabou conseguindo um emprego na ferrovia dessa cidade. O pai dele tocava violino, e ensinou aos irmãos do Scott a tocarem violino e banjo, deixando um legado musical na família.
Pelo que me recordo, ele só conseguiu ir pra escola por volta dos 12 anos. Durante a infância ele tocava piano na casa de um vizinho e na casa de um advogado dessa cidade pacata. Perto dos 20 anos, ele decidiu se especializar em música. Teve que se mudar pra o Missouri, pra estudar música em uma universidade que aceitava negros (a coisa mais rara daquela época). Ele teve um professor teuto-americano que se impressionou com o talento do Scott, e foi através desse professor que se deu o contato dele com a música erudita. O cara se encantou tanto que ensinou ele de graça.
Essa música que você compartilhou é fantástica. Dá pra sentir que esses gêneros musicais tem um mesmo feeling, uma mesma pegada, só que com diferentes instrumentos que provém das diferentes origens coloniais desses países, bem como um quê de regionalismos. Não conheço muito bem a história da música cubana, mas imagino que seja igualmente complexa e rica na sua história.
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Juquinhaa Membro Novato |
# abr/22
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Sempre lembra música de cabaré pra mim.
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Wanton Veterano |
# abr/22
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Stop! Hammertime
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kafka à beira-mar Membro Novato |
# abr/22
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Eu bem queria que o cabaré que frequento tocasse ragtime. As playlists dos cabarés atuais são sofríveis.
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Juquinhaa Membro Novato |
# abr/22
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Cabaré digo aqueles salons de filme de faroeste.
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Lelo Mig Membro
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# abr/22
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Juquinhaa
"digo aqueles salons de filme de faroeste."
Aí sim... mas, era a música da moda na época dos saloons.
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kafka à beira-mar Membro Novato |
# abr/22
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Juquinhaa
Imagine alguns homens bebendo tranquilamente em um saloon. Uns bebem no balcão, outros numa mesa enquanto jogam pôquer. O dono do saloon lava um copo de vidro com um pano, e um pianista toca uma música ambiente. Até que entra um desafeto de um desses homens que tá bebendo tranquilamente no balcão. Os dois se provocam, um quebra uma garrafa na cabeça do outro e aí o quebra pau torna-se generalizado. Garrafas voando, mãos em riste e o pianista pula no banquinho do piano e começa a tocar esse tema:
Aposto vintão como essa cena existe em mais de 1 filme de bang bang.
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makumbator Moderador
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# abr/22
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Ragtime sempre me evoca a saudade de um tempo que nunca vivi. O mesmo ocorre com o choro tradicional (que me transporta para um Rio de Janeiro mítico no fim do século XIX e início do século XX).
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Juquinhaa Membro Novato |
# abr/22
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Aposto vintão como essa cena existe em mais de 1 filme de bang bang.
Combina também com tom e Jerry, ou os três patetas.
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Wanton Veterano |
# abr/22
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kafka à beira-mar Aposto vintão como essa cena existe em mais de 1 filme de bang bang.
Tem muita cara de trilha de cinema mudo.
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kafka à beira-mar Membro Novato |
# abr/22
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Wanton Juquinhaa
É verdade! Combina tanto com Tom e Jerry quanto com exibições de filme na época do cinema mudo. O ragtime é da mesma época, não acho difícil ter aparecido em algum desses filmes. É bem a cara daqueles filmes comédia pastelão que ainda deve passar semanalmente na TCM.
makumbator
Acho fantástico esse poder que a música tem de evocar um sentimento de pertencimento a uma época ou experiência que você não viveu, mas mesmo assim se sente nostálgico. Tem uma cena do poderoso chefão que me passa essa mesma sensação. É uma cena intermediária, depois que o Michael mata o capitão de polícia e vai se refugiar na Sicília. Começa a tocar uma música no piano escrita e tocada pelo Carmine Coppola, pai do Francis. Pra muita gente essa cena passa despercebida, mas pra mim ela condensa tudo que o filme se propõe a transmitir de maneira sublime e em menos de 2 minutos. Essa música me inspira uma sensação de nostalgia de algo que eu nunca vivi, que é NY no final dos 40's e toda aquela efervescência cultural causada pela imigração e a própria máfia italo-americana, com uma certa melancolia.
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Lelo Mig Membro
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# abr/22
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makumbator Moderador
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# abr/22
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kafka à beira-mar em uma cena do poderoso chefão que me passa essa mesma sensação. É uma cena intermediária, depois que o Michael mata o capitão de polícia e vai se refugiar na Sicília. Começa a tocar uma música no piano escrita e tocada pelo Carmine Coppola, pai do Francis.
Nem precisei ver o vídeo que postou pra saber qual cena é! Lembro bem. Só não sabia sobre a autoria da peça.
Aqui uma faixa de um disco moderno que evoca tempos passados (mas em tom de homenagem, não de caricatura ou pra frear o progresso musical):
https://www.youtube.com/watch?v=HqgJnseQVU8&list=PL4vyaIFfy0DtHFX1ro7m LIprP0r7B3G9x&index=8
Tenho esse CD, e de vez em quando escuto pra poder viajar ao passado.
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Lelo Mig Membro
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# abr/22
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makumbator
"em tom de homenagem, não de caricatura ou pra frear o progresso musical"
Aquele game indie Cuphead, é nessa pegada (tanto visual como sonora) e têm uma das trilhas sonoras mais impressionantes que já ouvi num game. O baguio é loko!!
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makumbator Moderador
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# abr/22
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Lelo Mig
Sim! Esse jogo é top! E bem difícil no nível mais alto.
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kafka à beira-mar Membro Novato |
# abr/22
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