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soruji Veterano |
# jun/13
Há um tempo venho observando e apreciando essa linguagem musical e tenho me identificado muito com ela. Ouço muitos músicos de jazz e várias vertentes do gênero. O que venho trazer em pauta hoje se refere a identidade do pianista no jazz. Pois bem, por inúmeras vezes ouvi faixas de discos sendo tocadas em rádios e somente por um slide, acorde, velocidade da execução das notas, harmonia, pude identificar qual pianista estava tocando (muitas vezes acertei). Creio que isso se deve ao fato do pianista ter uma identidade registrada nas teclas, digamos assim. Porém, em alguns pianistas, em sua maioria contemporâneos, não consigo perceber um elemento musical que os caracterize frente a seu instrumento. Isso seria versatilidade ou falta de "RG musical"? Esses dias estive ouvindo Brad Medhlau (acho que é assim que se escreve), e me soou muito ChickCoreano em sua fase erudita-solo, por exemplo.Fato é que não consegui achar um elemento que o caracterize, mas isso pode ser por não tê-lo ouvido o suficiente, enfim. Para não deixar o tópico muito extenso, eu gostaria de saber de vocês o seguinte:
O piano jazz já está bem explorado de modo que seja difícil fazer algo novo?
O pianista que não tem um elemento chave que o caracterize é um pianista intitulado versátil, ou isso seria falta de uma identidade frente seu instrumento?
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Lelo Mig Membro
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# jun/13 · Editado por: Lelo Mig
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soruji
Cara... Sou guitarrista, mas me sinto à vontade de comentar aqui, porque a realidade não é diferente no mundo das guitarras.
Creio que há uma saturação, absolutamente esperada, de quase todos os gêneros musicais. São milhares de músicos mundo afora, circulando, principalmente pelos estilos mais populares do mundo, como o Jazz, o Rock, o Pop e suas vertentes.
Não creio, ser muito possível, ou ser muito difícil, alguém conseguir criar algo realmente inovador em alguns desses estilos.
Durante a década de 70, o experimentalismo e ousadia de muitos artistas, as vezes nem tão bons músicos (tecnicamente falando), fez toda a diferença. À partir dos anos 80, principalmente o virtuosismo técnico se sobressaiu, atingiu níveis muito complexos, mas também está chegando, ou já chegou ao limite. E cá prá nós, com algumas exceções, o virtuosismo de guitarra no rock se tornou um grande "pé no saco"!
Com relação aos teclados, me perdoem aqui a "heresia de leigo", mas acho que , ao contrário da guitarra, houve uma involução. Como ouvinte, vejo que em quase todos os gêneros, relegaram os tecladistas a segundo plano. Tenho vontade de jogar uma bomba, quando vejo (com algumas exceções), uma banda de rock moderna, com tecladista prá fazer "meia dúzia" de strings e preencher buracos, como fosse um coadjuvante.
Nos anos 70, os tecladistas "eram os caras".... os maestros e virtuoses das bandas, era o "nerd" que fazia toda a diferença. Era o cara que tinha estudado música e trazia sua bagagem de erudito e jazz para suas bandas.
Não sei exatamente o que aconteceu, nem prá onde a coisa vai, só sei que penso muito, e espero ouvir, pelo menos mais uma vez antes de morrer, algo que me surpreenda de fato e não tenha aquele ranço de "é legal mas parece com..." ou "já ouvi isso antes..."
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waltercruz Veterano |
# jun/13
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soruji Acho que de alguma forma acabamos sempre vinculando ao que veio antes né?
Conheço pouco do Brad Mehldau, inclusive preciou ouvir mais.
Um pianista que me impressionou bastante foi o Svensson. Mas podemos considerar de certa forma o trabalho dele como uma certa continuação do Bill Evans, talvez, na questão da introspecção absurda.
O último disco dele, póstumo apontava em algumas direções interesantes, porém que me desagradaram um pouco na época. Ele estava meio que abandonando as melodias para usar o piano como um instrumento criador de texturas. Algo novo? Não sei se tão novo.
Eu, carinhosamente, chamo o estilo de minimal jazz, pq na minha cabeça o estilo dele tem crossovers com o jeito minimalista e com o minimal da música eletrônica. Aliás, penso que se ele estivesse vivo haveria alguma probabilidade dele ter caminhado para esse lado.
Segue um vídeo dele, mesmo não sendo uma novidade total, ainda assim é absurdamente gostoso de ouvir.
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Bclamberti Veterano |
# jun/13 · Editado por: Bclamberti
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Pergunta 1 Na minha opinião, sempre é possível inovar. Mas no mundo hoje existem dois tipos de pianistas. 1 - O que vê alguem tocando e quer aprender a tocar, daí procura escola de música, estuda piano 300 anos, sempre refém de partituras, cifras, etc.... Esse nunca terá uma identidade própria. 2 - O cara que vê alguem tocar e quer aprender, e descobre que tem o "dom" pra música, investe em escola de música pra ampliar seu feeling, que lê partituras mas valoriza a improvisação.
Pergunta 2 A versatilidade muitas vezes é que dá a caracteristica própria ao músico. Tem um pianista de jazz excepcional chamado Scott Wikie. Nos seus cds, ele vai desde o piano solo ao "jazz in band". Tudo instrumental e composições próprias. Em contrapartida, podemos pagar o exemplo de Richard Clayderman. Excelente pianista, toca demais. Toca Jazz, classico, samba.....mas apenas versões de músicas de sucesso no piano. Esse não tem uma identidade própria. Outro exemplo é Yanni. Composições próprias, mas se prende à própria composição. Tem identidade própria, mas não considero um pianista "inovador".
Os três são excelentes músicos. Mas são casos que não basta o músico ser conhecido, precisa ter uma identidade própria. É muito relativo. O pianista "certinho demais" tem seu público. Mas há quem se identifica mais com o pianista versátil e improvisador.
O que falta é investimento. E atualmente o lixo musical é mais lucrativo. Jazz é algo mais intelectual, pois a maioria dos apreciadores de jazz são pessoas cultas, classe média/alta. Enquanto esse pessoal que escreve porcarias e posta vídeo no youtube, tiver gente pra atrair, isso nunca vai mudar. Tanto o jazz como blues, classico, etc, vão continuar assim.
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waltercruz Veterano |
# jun/13
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Lelo Mig Acho que talvez por isso, por causa dessa saturação, há uns anos atrás, tenha havido o tal boom da 'world music' (categoria nefasta, mas enfim, gravadoras precisam etiquetar tudo)
E realmente, o teclado no rock deu uma involuída mesmo. Mas tem uma coisa interessante, que são essas bandas indies que as vezes é tipo, um cara que é meio tecladista, meio dj tocando e uma mina cantando, as vezes mais um guita ou um baterista. Não é o supra-sumo da musicalidade, mas ao menos aponta em algo um pouco diferente do habitual (apesar que lá fora isso já é o habitual).
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soruji Veterano |
# jun/13
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Bom, eu entendo o ponto de vista expresso, mas poderíamos afunilar isso mais para o contexto "jazzy" da coisa?
Eu creio que desde os primórdios do jazz, muitos artistas tiveram suas fontes de inspiração, suas influências. Muitas vezes o que deixa o músico sem identidade talvez seja o quanto essas influências são acentuadas em suas obras também. Algo diferente disso, por exemplo, é se pegarmos Chick Corea e Keith Jarret e olharmos para onde suas influências apontam. Chegaremos a Bill Evans, mas não de forma explícita, e sim implícita.
Na opinião de vocês, como se deve dosar essa questão de influência x cover? Ao meu ver é um fator que descredencia muito o músico.
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Lelo Mig Membro
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# jun/13 · Editado por: Lelo Mig
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soruji
Estes caras do passado eram influenciados de forma bem diferente da que a galera é hoje.
Quando Chick Korea era adolescente (e mesmo adulto), não havia MP3, Internet, Youtube e etc. Não tinha nem TV ao vivo!
Então, estes músicos, nesta época, se concentravam em poucos artistas (se compararmos com hoje em dia), mas em compensação, escutavam, estudavam, dissecavam a música de seus ídolos à exaustão. Conheciam profundamente o "modus vivendi" de seus ídolos, sabiam detalhes das obras e tocavam o repertório todo com perfeição e assim desenvolviam-se tecnicamente, num primeiro momento "reinventando as obras de seus ídolos".
Se você pegar o "jovem Chick Korea", por exemplo, durante a infância e adolescência todo seu desenvolvimento foi em cima da música erudita (já que seu professor foi Salvatore Sullo, que era concertista) e o bebop, muito por influência de seu pai que era trompetista.
Quando Chick Korea começou a construir seu trabalho, com um olho no passado (suas influências) e outro no presente (o Jazz Moderno e o Rock) ele simplesmente "inventou" o Fusion, porque tinha já uma bagagem musical, técnica e experiência monstruosa.
O que não dá, é prá um músico de 16 - 18 anos de idade, ainda mais sem o estofo de um Chick Korea, querer re-inventar a pólvora! E é muito isso, que temos hoje em dia... músicos com capacidade técnica, mas sem bagagem, sem estofo, sem vivência... tem cara que pula do quarto pro sucesso, sem nunca ter "comido pó da estrada".
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soruji Veterano |
# jun/13
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Lelo Mig
Muito interessante seu ponto de vista Léo. Vocês acreditam que o jazz puro está perdendo espaço para o jazz híbrido? (com rock, pop, rap). Seria essa a salvação do jazz, se fundir a outros estilos?
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Lelo Mig Membro
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# jun/13
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soruji
Não, não acho que seja salvação....
Acontece, que de tempos em tempos, de forma cíclica, músicos e ouvintes cansam do purismo... aí "contaminam" o estilo com elementos diferentes, exóticos e modernos.
Mas, depois de um tempo, satura, e volta-se ao purismo, e assim a roda gira.
Sempre existirão os puristas, os que os defendem e o preservam o estilo imaculado.
Em contrapartida, experiências são importantes e têm de ocorrer, é o que faz a música evoluir. Não dá prá ouvir mais do mesmo por décadas. Imagine somente os mesmos standards do Jazz sendo executados da mesma forma com os mesmos instrumentos, em 60 anos de Jazz?
Haja saco!
Só acho, particularmente, que estamos muito limitados, há séculos, ao estudo de música no padrão europeu, tanto rítmico quando melódico.
O "padrão de bom gosto" divulgado pela mídia, não incluem algumas sonoridades e ritmos. Sinto muita dificuldade, principalmente nos mais jovens, em tentar ouvir um Mambo, uma Salsa, uma Valsa, um Choro, um Maxixe, uma Tarantela, e olha que tudo isso é "ocidental". Imagine o campo vasto nas terras do Oriente?
Talvez, alguma fonte de renovação, esteja justamente em ir buscar inspiração em algo menos convencional.
A mesmice tá foda!
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BrunoSchefa Membro |
# jun/13
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Eu acho que isso não chega a importar tanto Na minha minha mera opinião, a música é um conjunto, e não um artista solo. Então nem ligo muito para peculiaridades entre os músicos. Seja um Herbie Hancock ou um tecladista de bar, se o som for bom, tá valendo.
Mas noto bastante mudanças nos timbres, isso é lógico. Mas é engraçado, pois às vezes consigo identificar de quem é a música só pelo timbre do rhodes, por exemplo.
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