Ismah Veterano |
# set/19
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Bom, eu vou responder como funciona comigo... Existem dois momentos do show, em que meu assessorado da harmonia (um beijo, Móica) provavelmente precisará de ajuda... Normalmente ele se vira sozinho, pra tudo - e aí se vê o degrau que existe entre um artista e um guitarrista! Os instrumentos até afinam direito e ficam afinados, mas ele confere a afinação no intervalo de TODAS as músicas. As vezes mais de uma vez.
Nas trocas durante o intervalo das músicas, se precisar invado o palco com a segunda guitarra na mão, e apenas piso no Polytune (afinador) pra fechar o sinal. E espero ele, que desconecta a guitarra e me passa. Pega a que está comigo, a conecta, checa a afinação e segue.
Por corda arrebentada, dependendo da corda, ele segue tocando até o final da música e então fazemos a troca. Eu já espero sempre com TODOS os instrumentos afinados. Se vejo algo fora do normal, que me leve a crer que ele vá querer trocar, dou uma segunda checada no instrumento. Aconteceu uma ou duas vezes em 2 anos, o que é surpreendente.
_________________AS TROCAS PROGRAMADAS_________________
Na performance solo, ele canta e toca uma música da banda, chamada "Eu não vou desistir", sem nada demais... Porém, a performance termina, com ele jogando a guitarra no chão, tirando a cinta e surrando a guitarra...
Achei uma gravação da música ao vivo...
https://www.youtube.com/watch?v=18ZEwEDWcyA
Obviamente, é uma guitarra preparada previamente, só para isso. Se trata de uma Tagima, do tipo Telecaster de modelo desconhecido, que foi convertida em "NoCaster"*... O motivo é óbvio, o impacto com o chão pode acabar quebrando alguma coisa, como aconteceu recentemente. Logo, tem lógica usar um instrumento mais barato para isso, do que as demais guitarras.
Geralmente é só uma entrada desse instrumento, logo são duas trocas. E procedo como disse, invado o palco com o próximo instrumento, muto o afinador e espero ele.
* Pra quem não sabe, quando Leo Fender (e trupe), conceberam a primeira guitarra de corpo sólido, para ser tocada como uma guitarra tradicional (haviam as lap steel sólidas), esta foi chamada de Esquire. Porém, a Gretsch tinha uma bateria com esse nome, e precisaram mudar. Até a ideia de Telecaster surgir, os instrumentos vinham só com a logo estilizada "Fender" no headstock. Instrumentos desse período são chamado de NoCaster. Há um déficit de informações, mas aparentemente há diferenças entre as Esquire e NoCaster. Todavia, é um instrumento bastante peculiar no uso, mas soa como uma Tele. ____________________________________________________
O segundo momento, é na música que ele compôs para o pai, e gravou solo, mas agora foi lançada pela Acústicos e Valvulados, chamada "Vou com você" - está sendo preparado um lyric video. Essa música é bem peculiar. Usa a afinação em Drop D, e o capotraste na 5ª casa. Como disse também, ele é extremamente independente, e acaba afinando o instrumento e pondo o capotraste ele mesmo. ____________________________________________________
Dentro da proposta da banda, sendo tudo ao vivo, isso é parte do show. Num gênero como o sertanejo universitário, pode não pegar tão bem... Vai muito da identidade e proposta da banda / grupo / artista como um todo. Alguns gêneros são extremamente performáticos, e tudo PRECISA estar no seu lugar. Arrisco dizer, que para artistas com renome, podem se permitir criar um suspense. A música seguinte, será aplaudida de qualquer forma. Agora a dupla Jão e Tonhão, que não é conhecida nem no bairro, não pode deixar "esfriar a pista", com uma longa pausa entre as músicas. Nas gravações de festivais como RiR, Lollapalooza, Hell Fest, Monsters of Rock e demais, é bem nítido as pausas. Algo normal, quando rolam essas trocas - e hoje se troca não só instrumento, mas a cena das consoles. Para os headliners em festivais, e em shows específicos, não é incomum se passar mais de uma vez o show INTEIRO, para ajustar tudo. Cada música ou medley tem uma cena própria.
A vantagem é que muitas vezes, uma música, pede um processamento diferente de outra. Em termos práticos, uma banda que toque Misirlou (Dick Dale), quem puxa é a guitarra solo. Logo, escutar ela melhor, facilita tocar o apoio. Em Seven Nation Army (White Stripes) é o baixo, e tendo como ouvir ele e a bateria, fica mais fácil de executar. Agora para tocar uma canção, sempre se toca em cima do vocal. E tem quem nem queira ouvir os outros! Já peguei músico de apoio, que apenas queria seu instrumento, a voz principal e o metrônomo no seu monitor. A forma como o sertanejo universitário é, com um excesso de virtuosismo de tudo que é lado - que chamo de tiroteio, pode ser causado por isso: a banda não existe como uma unidade, e cada um acaba tocando apenas pra si, sem ouvir o todo. Use muitas dobras, comprima muito, e teremos o que se ouve por aí.
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