Crazy_Horse Veterano |
# set/03
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"Hoje... é o dia..." A letra da música do Capital foi a primeira coisa que lembrei assim que coloquei os pés em Brasília.
Afinal, era dia de conhecer o presidente. Seríamos recebidos por Lula, dona Marisa, Gilberto Gil, Zé Dirceu e toda a trupe top-pop do Palácio do Planalto. A expectativa era grande, já que como guitarrista, eu nunca tinha sido recebido nem pelo presidente do sindicato dos músicos.
A cerimônia marcaria a doação de uma guitarra para o Fome Zero. No almoço, fiquei pensando... o que dizer ao presidente? "Viva a cultura", "o palácio é bonito", "o tempo esfriou, né" "e a reforma da Previdência?" Não, não, não! Seria ridículo. Vou conversar no Palácio com o presidente, não no elevador com meu vizinho... O Fê (baterista) trouxe a câmera e, pra variar, a bateria estava no fim.
Entramos e não havia ninguém... "Será que é hoje mesmo?", perguntei ao Flávio (baixista). Logo começou o movimento. Repórteres, fotógrafos e uma massa humana se formou ao nosso redor. Eu carregava uma guitarra, o Dinho Ouro Preto a outra. Quando voltei do banheiro, dei de cara com o ministro Gilberto Gil.
Dois minutos de papo sobre música, até que nos levaram para a sala especial, onde conheceríamos o presidente. Ao ver a bandeira do Brasil, lembrei que já tinha visto aquela sala antes. Na TV, claro. Logo chegou o presidente, com o Zé Dirceu e assessores. Silêncio. O próprio Lula quebra o gelo. "E aí, pessoal, como é que toca essa guitarra?". perguntou Lula. "É muito fácil, presidente. Faz assim, ó...", respondi. Enquanto isso, o Dinho apresentava o Capital, falava da origem em Brasília. "Como é que vocês fazem com a mão, mesmo?", quis saber o presidente.
Mostramos o gesto do rock, com o dedo indicador e o mindinho levantados. "Assim não dá, não tenho esse dedo!", disse Lula. "Tudo bem presidente, o Tony Iommi, guitarrista do Black Sabbath, também não tem e toca super bem", comentou o Dinho. Todos deram risadas.
O clima era ótimo. De repente, me vi falando com o ministro Gil sobre guitarras. "Prefiro a Fender Telecaster", disse Gil. "Eu sou mais a Fender Stratocaster", retruquei. "Ouve só, presidente", eu disse, tocando na guitarra um trecho do Hino Nacional. Já me sentia em casa. Mais papo e, antes de sair, falei: "Valeu Lula!" Nosso dever cívico - e musical - estava cumprido.
Yves Passarell é guitarrista do Capital Inicial. E fã do Lula.
YVES PASSARELL
Especial para o JT
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