Its Fucking Boring To Death Veterano |
# jul/10 · Editado por: Its Fucking Boring To Death
É uma entrevista velha, mas muito interessante desse grande baixista. Tem pouco material dele na rede. Por isso, resolvi postá-la aqui.
"
Qual o nível dos baixistas brasileiros atualmente?
Das gerações anteriores temos diversos mestres como Sérgio Barroso, Sabá, Nicolaus Tchevtchenko, Luizão Maia, Cláudio Bertrami, Arthur Maia, Celso Pixinga, Arismar do Espírito Santo, Sizão Machado, Jamil Joanes, Adriano Giffoni e Jorge Oscar só pra citar alguns. Dos mais novos contrabaixistas brasileiros temos os cariocas André Neiva e André Rodrigues, o gaúcho André Gomes, o alagoano Fernando Nunes, o mineiro PJ, o baiano Geisan, os paulistas Chico Gomes e Zuzo Moussawer e um ou outro excelente baixista aqui e ali, mas a questão é outra... Estamos falando do geral no Brasil. A grosso modo não há muitas novidades nas atuais gerações, todos os baixistas se parecem sonoramente, embora tecnicamente estamos melhorando muito, mas... Música é só técnica? Com a massificação do estilo americano de ensino musical estamos atualmente formando centenas de clones que tocam como se todos fossem uma só pessoa, com as exceções citadas acima, além de algumas poucas outras. Muita gente improvisando sempre no estilo BeBop, mesmo quando a música é um samba...(!) todo mundo com os mesmos licks... e quase ninguém preocupado em criar algo diferente, improvisar de uma forma original, ter uma sonoridade própria que o identifique e faça a diferença entre o mar de timbres existentes. Já notou como todos nós soamos americanizados? Não que seja errado usar o BeBop, mas todo mundo quer tocar assim. Também não estou fazendo apologia contra as escolas americanas, porém precisamos urgentemente aprender a "como aprender!" Estamos querendo improvisar o tempo inteiro e nos esquecendo de que tocamos contrabaixo em primeiro lugar. Outro fator curioso é a enorme quantidade de baixistas com os licks do Pastorius. Eu mesmo sinto que a maioria dos músicos quer que os baixistas toquem assim, pois quando se faz um groove com o jeito do Jaco o pessoal vai ao delírio... Só existe esta maneira de tocar? Outra forma não funciona? Por quê? Que norma padronizada é esta? Por outro lado, quantos baixistas da nova geração brasileira podem ser identificados por sua sonoridade, timbre ou fraseado próprios? Você é capaz de ouvir uma gravação brasileira e dizer pelo som do instrumento ou fraseado, quem está tocando o baixo? Eu cito dezenas de americanos, europeus e cubanos que podem ser identificados apenas pelo timbre, mas pouquíssimos baixistas brasileiros, além dos já citados. Mas não se iluda, esta busca é constante e impiedosa. Os que atingem este ponto e são identificados facilmente são felizes... eu ainda estou procurando minha voz.
É possível estabelecer uma escola brasileira de baixo a partir da técnica dos nossos instrumentistas? Temos uma estética musical definida em cima do nosso folclore e nossa própria história. E nossos ritmos, apesar de focados na influência africana, são distintos das outras culturas mundiais. Olhando o lado específico da sonoridade, sem estar cometendo o erro da comparação, podemos dizer que: assim como eles tem Jaco Pastorius, Marcus Miller, Abe Laboriel, Cachao Lopes, Carles Benavent, Alain Caron, John Patitucci... nós temos Yuri Popoff, Arthur Maia, Arismar do Espírito Santo, Luizão Maia, Sizão Machado, Celso Pixinga, os saudosos Nico Assumpção e Cláudio Bertrami... Jamil Joanes... Bororó... Jorge Oscar... Adriano Giffoni... Pedro Ivo... Silvio Mazzuca jr... Zeca Assumpção... por outro lado, por causa da problemática identificada em sua questão anterior, poderemos perder tudo o que as gerações passadas adquiriram. Ou você vai me dizer que estes músicos que eu citei estudaram na Berklee e BIT da vida? Um ou outro estudou arranjo, ou mesmo técnica, os demais adquiriram aqui mesmo, e criaram uma escola própria com um jeito distinto de tocar e cada qual pode ser identificado apenas pela audição de um CD... pode ser pelo fraseado, pelo timbre ou técnica utilizada, mas pode-se ouvir qualquer um dos citados e comprovar que eles tem uma voz própria. Nenhum deles imita o Jaco Pastorius, ou Gary Willis, ou Victor Wooten, ou John Patitucci, ou o Billy Sheehan! Ao contrário, são imitados pela nova geração que também imita os americanos! existem vários Sheehan clones, Willi clones Jaco clones, Miller clones, Maia clones e Nico clones espalhados pelo Brasil. Caras que tocam muito bem tecnicamente, mas não tem nenhuma individualidade própria. Eles não tem nada pra dizer que seja por eles próprios. Há uma diferença astronômica em influência e imitação pura. O sujeito que possui influências benéficas guarda suas próprias peculiaridades. Por outro lado o imitador usa todos os recursos para soar e as vezes parecer fisicamente com seu ídolo, coisa que um bom psicanalista pode facilmente resolver, basta o dito cujo aceitar que isto é um problema!
Como você vê a participação do baixista na música brasileira atual? Os baixistas brasileiros são de um modo geral os mais versáteis do mundo. Tocamos em nosso dia-a-dia centenas de ritmos diversos das mais variadas culturas sem perceber a importância devida deste fato.
O que é mais importante, técnica ou feeling? A junção das duas partes com musicalidade e bom senso.
Qual a importância da escolha do instrumento e periféricos no trabalho de um baixista? Eu diria que como em qualquer profissão as ferramentas de trabalho formam partes vitais das atividades diárias. Os instrumentos corretamente escolhidos proporcionam o determinado veículo ao qual o artista irá se expressar, estruturando inclusive sua própria voz musical.
Como fazer a escolha certa dos equipamentos? Pesquisando, lendo, estudando e principalmente testando comparativamente diversos equipamentos, sempre que possível. Há muitas opções hoje em dia para o sujeito que deseja estar informado e atualizado. Desde lojas especializadas com os mais modernos equipamentos recém lançados no mundo até revistas especializadas, livros, jornais, escolas, professores, enfim tudo o que é necessário para não haver mais desculpas. Aliás, em falar nisso, o jovem brasileiro precisa adquirir o hábito da leitura. Tento fazer minha parte instruindo minha filha a ter uma cultura social e musical.
Qual a importância de um estudo formal de música? (respirando profundamente) Um dentista pode trabalhar sendo analfabeto? Um mecânico pode trabalhar sem conhecer uma chave fixa de 10¨, ou o funcionamento de uma simples chave de roda? por outro lado, pode um piloto comandar um "Boeing" sem um brevê de aviador? Um advogado pode exercer a profissão sem os estudos formais devidos e a documentação necessária? Então porque nós músicos não temos essa consciência?.. o estudo liberta o ser humano. A cultura de um povo é tudo o que se pode ter como legado.
Histórico Como você se interessou pela música? Isto vem desde cedo quando eu e minha irmã colocávamos discos do grupo Os Carbonos na "vitrola" e dublávamos os instrumentistas. Morávamos em Santo André (SP). É claro que nossa noção de instrumentos musicais vinha apenas do que era visto na televisão. Os festivais de música da Globo, o Globo de Ouro... quando era adolescente tinha muitos discos de bandas de rock, muitos mesmo. Principalmente os brasileiros como o Barão Vermelho, quando me inspirei no Dé. Cheguei a colecionar o Genesis, banda que amo até hoje, o Kiss, Dire Straits, Yes, e muita música brasileira que era influência de minha mãe. Ela, que nasceu em Vitória da Conquista (Bahia), ouvia todo dia o movimento da Tropicália com Gil, Caetano, Gal, Bethânia, além de Roberto Carlos, Ney Matogrosso, na época com os Secos & Molhados. Isto tudo aliado a influência que vinha de meu pai com seus discos de música clássica e folclore europeu. Durante este mesmo período minha irmã e eu nos juntávamos todas as semanas para ouvir um tio nosso tocar todas as músicas do Beatles ao violão. Todos os meus tios maternos cantam, compõe ou tocam violão. É maravilhoso ter este background. É o que consigo captar de mais influente em minha infância. Mais tarde em uma das minhas primeiras bandas fazíamos covers do David Bowie.
Seu primeiro instrumento foi o baixo? Não só o primeiro como a única paixão da minha vida musical. Descobri isto com a banda Kiss, por mais estranho que pareça. Como disse anteriormente, gostava de dublar os caras, enquanto ouvia e cantava junto com os discos. Me influenciou muito ver o Gene Simmons na televisão com aquelas pinturas no rosto, tocando um baixo em forma de machado (risos). No colégio era a época de bandas de garagem e meus amigos formaram um grupo de rock progressivo. Como não sabia tocar nada fui tentar ser cantor. Claro que não deu certo (mais risos). Certa ocasião o baixista da banda estava vendendo o Snake semi-acústico dele para comprar um Giannini, que era o máximo para aquela época. Bom! Pensei: "Quero este baixo, mas não tenho dinheiro...". Como solução eu vendi minha coleção inteira de discos, revistas e pôsteres do Kiss e comprei o Snake. foi no início de 1986.
Qual a sua formação profissional? Desde que me interessei mais profundamente em música fui muito estudioso. Fiz parte da primeira geração da ULM. Formei-me músico profissional na FASCS e passei pela Escola Municipal de Música SP estudando baixo acústico por dois anos com Sandor Molnar Jr. Mas minha meta era estudar com professor particular. Estudei fretless com Cláudio Bertrami durante dois anos, estudei dois anos de baixo acústico com o, também falecido, mestre Russo Nicolaus Tchevtchenko, aliás, fui o último aluno que ele teve... aquele senhor foi uma lição de vida... me chamava de amigo urso por eu dar mais importância ao baixo elétrico (silêncio e reflexão). Quando vi o Arthur (Maia) tocando com o Milton Nascimento e, logo em seguida, com o Cama de Gato falei para mim mesmo "Hum! Preciso estudar com este cara!". Estudei! ... Mas não aprendi a tocar até hoje! (risos) De qualquer modo somos muito amigos (mais risos).
Quais foram seus principais trabalhos no passado? Ainda em São Paulo fiz muita coisa que me deixou feliz. Como os shows com o violinista Cássio Poletto, o trio que formei com o batera Maurício Leite e o guitarrista Sidney Carvalho, logo que ele voltou do GIT, também foi ótimo. Viajamos e tocamos muito juntos, pena não termos quase nada gravado desta época. Apenas umas três músicas. Com a banda do batera Duda Neves também foi legal, da mesma forma quando toquei em um quarteto com o guitarrista Aldo Landi, estes caras me ensinaram muito. Um trabalho que marcou bastante foi com o tecladista, programador e sintesista Edu Helou. Uma gig New Age/World Music com Teclados, Harpa, Koto, Percussão, Bateria e Baixo fretless. Tudo Muito exótico e experimental, pois eu tinha a liberdade de frasear, groovear, solar, enfim o baixo era um dos instrumentos de ponta na gig. Aqui no Rio me sinto em casa e já fiz parte do trio de Celso Fonseca junto com o Wanderlei Silva na percussão quando abrimos os shows do Stanley Clarke no antigo Metropolitan e no antigo Palace, toquei e viajei muito com a banda do Arthur Maia onde se revezavam o Jorginho Gomes, Carlos Bala e o Cláudio Infante na bateria, o Glauton Campello ou Paulo Calazans nos teclados, o Marcelinho Martins e o Zé Canuto nos saxes, o Celso Fonseca, Cláudio Zoli ou Fernando Caneca nas guitarras. Tocamos com essa super banda no Canecão Lotado em 96 onde também participaram o Cama de gato, Gilberto Gil e Lulu Santos. Isto está gravado pela TVE do Rio. Foram mais de 1.500 pessoas nos assistindo. Na platéia lembro de ter visto o Nico Assumpção, o Yuri Popoff, Jorge Oscar e Marcelo Mariano. Toquei e gravei também com Dom Um Romão, José Roberto Bertrami, Luiz Bonfá, Cláudio Infante, Mário Castro-Neves, Kiko Zambiancchi, Roberto Menescal, Gilberto Gil, Carlos Lyra e Sylvio César, o pessoal do Barão Vermelho Guto Goffi, Maurício Barros, José Carlos Bigorna, Fernando Magalhães, Rodrigo Santos... gente à vera. Substituí o Arthur Maia numa pré-produção do Zé Ramalho, alguns anos atrás, que ele não pode comparecer e durante uma semana que ele ficou doente quando tocava com o Ney Matogrosso em 2001. Foi bárbaro ter na mesma banda o Ricardo Silveira, o Cláudio Infante, Leandro Braga, o Márcio Montarroyos, Zé Nogueira, Chico Sá, todos tocando na mesma gig!
Falemos sobre seu CD solo. Destrinche a ficha técnica deste trabalho. Assinei com a Jazz Station Records (selo sediado em Nova York, do produtor Arnaldo DeSouteiro) e isto está me tomando um tempo realmente grande. A distribuição vem sendo feita através da Tratore no Brasil e Japão, além da VoicePreint-UK na Europa. Pra você ter uma idéia da importância da JSR, por exemplo, a grife foi eleita pela DownBeat entre as quatro melhores de jazz no mundo inteiro. Já a VoicePrint distribui na Europa discos de nomes de ponta como Bill Bruford, Chet Baker, BB King, Billy Cobham, Steve Howe, John Lennon, Paul MacCartney, Ringo Star, Softmachine, Synergy, Tangerine Dream e Madonna. Meu disco está ao lado destes aí (risos). Trabalhei duro na produção executiva deste projeto, organizando, agendando, criando e arranjando a maior parte das coisas. A produção musical ficou a cargo do próprio Arnaldo DeSouteiro e o disco tem participações muito legais desde Eumir Deodato, Dom Um Romão, Cláudio Infante, Alfredo Dias Gomes, Glauton Campello, Widor Santiago, Ithamara Koorax, o baterista americano Nick Remo, o Guilherme Isnard do ZERØ, o pessoal do Barão Vermelho Guto Goffi, Maurício Barros e o Zé Carlos Ramos, enfim, muita gente. Note que com relação aos tecladistas procurei usar ao máximo aparelhos vintage com sonoridade analógica. Hammond, Moog, Matrix500, Fender Rhodes e até Mellotron foram usados. Isto para garantir meus princípios musicais. Sabe, sou fortemente influenciado por toda a música dos anos 70. Ouço muito os discos de jazz e fusion da CTI, Lps antigos de rock progressivo, além de apreciar todo o movimento sacro da Renascença e do Barroco. Iniciei as gravações de duas faixas com o Dom Um Romão em Niterói no estúdio do Arthur Maia, mas como fica muito longe do meu cantinho em Guaratiba, acabei por fazer as gravações e as mixagens no Estúdio Century no Recreio dos Bandeirantes. Aliás, devo muitos agradecimentos ao compositor e amigo Cury Heluy, que é dono do estúdio, pela paciência e amizade, pois eu extrapolei em muitas horas o combinado e em outro estúdio, fatalmente teríamos problemas. Gravei em 4 ADAT's, numa mesa Allen & Heat, com pres valvulados maravilhosos e alguns Lexicons. O áudio ficou a cargo das mãos competentíssimas do João Moreira com 25 anos de Polygram, e o que necessitou de computador ficou com o cirurgião Lula Lavor. Já as mixagens foram feitas em uma mesa Amek de 48 canais. O disco conta com um repertório variado jazz, rock, fusion, latin... Mas tendo evidentemente o critério do Arnaldo DeSouteiro de mantermos a integridade do meu som. Há composições do Thiago de Mello, Eumir Deodato, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, jP Mendonça, que também fez um maravilhoso trabalho de Drum'n Bass em uma faixa e por aí vai. No que se refere ao meu set up nestas gravações posso citar na escalação o Condor BC4000 para os pizzicatos, o Fender Jazz Bass vintage 74 model Marcus Miller signature nos slaps, o Condor BC600, 6 cordas fretless, com captação ativa, nas melodias, O StickBass Chapman Enterprise de dez cordas para os tappings, o Vertical Bass Electric Upright do DiCarmo-SP para extrair a sonoridade do acústico, o piccolo fretless Cheruti-RS para as melodias de ponta, os harmônicos e o uso do EBow, o Baixolão Condor CB-1, cinco cordas, para um timbre de madeira, o Condor BC6000, seis cordas, para uma sonoridade mais moderna e o DiCarmo oito cordas fretless afinado em pares de oitavas, quintas ou quartas justas. Este último baixo possui cordas duplas sendo quatro pares de cordas padrão ao lado de cordas piccolo. Todos com as cordas são da NIG. No campo dos efeitos e apetrechos periféricos usei palhetas da Jim Dunlop .010¨ quando quis uma sonoridade mais radical, um EBow modelo novo que contém o Hi-EBow embutido para os feedbacks de harmônicos, e vários pedais análogos sendo um Cry Baby Jim Dunlop, Um MuTron III, o Fuzz Big Muff, além do Octave Boss, o Bass Synthesizer, um Flanger Ibanez e por aí vai... Nos shows este setup é completado com caixas Selenium feitas pela fábrica para meu uso próprio (2x15¨, 4x10¨+horn), potência da StudioR SX ADL com EQ, Comp e Crossover embutido. Usei este set para gravar algumas coisas microfonadas para este disco e foi uma experiência fascinante. A masterização foi feita no EG pelo Geraldo Brandão. As liner notes são de Douglas Payne um jornalista expert em CTI que já escreveu nos encartes de discos de jazzistas de peso como Lalo Schifrin, Hank Crawford, Phil Upchurch e Lonnie Smith. A composição de capa ficou com o pessoal da VoicePrint BR com a foto do mago Pete Turner, um dos maiores fotógrafos do mundo. Seus trabalhos estão em discos de Wes Montgomery, Herbie Mann, Wave de Jobim, George Benson, Paul Desmond, Eumir Deodato e Courage do Milton Nascimento, dentre dezenas de outros.
De que forma elas se encaixam no CD? Para "contar uma história" ou não existe necessariamente um encadeamento lógico?
Existe sim, e ela foi exaustivamente pensada e repensada pelo Arnaldo (DeSouteiro) e eu. O disco não leva o título de Grooves in the Temple atoa. Quem me conhece sabe do meu lado místico, sabe da minha paixão pela obra Rosacruz. Sabe que sou um defensor da obra dos Cavaleiros Templários, estudo Teosofia, civilizações desaparecidas, Ufologia... Levo a mensagem do Cristianismo puro em tudo o que faço. Esta história esta parcialmente contada neste Cd. Ouçam e percebam!
Alguma música foi composta especificamente para este CD?
Não com uma finalidade específica do tipo: "Ah! Vou compor uma para este disco". Tenho apenas três composições minhas no álbum e uma delas era bem antiga. Havia composto Meteor-ètude for Mr. Pastorius por volta de 98. Mostrei-a para alguns amigos e quando estávamos, eu e o Arnaldo, escolhendo o repertório do disco resolvemos incluí-la.
Qual o conceito musical proposto neste trabalho?
Música como forma de arte. Pura e simples como a natureza. Se eu fizesse um disco para contrabaixista estaria contradizendo meus próprios princípios. Este Cd é pra quem quer ouvir música, malabarismos deixamos para o circo. Quem quiser ouvir um cd com intermináveis e enfadonhos solos de contrabaixo só pra dizer: "Oh! Como ele toca bem... uau! Ele usou uma escala preenchetônica!.." Então passe longe, pois este não é cd pra esta finalidade. Tenho alguma mensagem pra passar adiante e como estou músico, uso meu dom pra divulgá-la.
De que forma este CD se encaixa no decorrer de sua carreira musical?
Como o começo, o start inicial de um projeto de vida. Hei! Quero ter uma carreira, não quero ficar no meio do caminho. Não posso nadar e morrer na praia. Já não chega meu Verdão (Palmeiras) nestes últimos anos, sem ganhar um campeonato? (risos)
Quais outros equipamentos de seu set-up foram utilizados na gravação?
Meu não, do estúdio. Gravei em 4 ADAT's, numa mesa Allen & Heat de 48 canais, com pres valvulados maravilhosos e alguns Lexicons. Já as mixagens foram feitas em uma mesa Amek de 48 canais.
Algum equipamento extra-set-up foi utilizado?
Alguns periféricos do estúdio Century, mas o grosso mesmo veio dos meus dedos e dos meus equipos.
Quais foram os músicos e artistas que participaram neste CD?
A lista é grande, então pra não esquecer ninguém vou ler aqui o featuring: Dom Um Romão (bateria e percussão brasileira), Ithamara Koorax (vocais), Luiz Bonfá (violão), Cláudio Zoli (guitarra semi-acústica), Eumir Deodato (Fender Rodhes), Laudir de Oliveira (percussão), jP Mendonça (flauta, sax, analog keyboards, programações), Paula Faour (mini Moog), André Gomes (cítara), Alfredo Dias Gomes (bateria), Nick Remo (bateria), Sidinho Moreira (percussão), três caras do Barão vermelho José Carlos "Bigorna" Ramos (sax soprano, ternor e barítono) Guto Goffi (bateria) e Maurício Barros (Hammond organ com Leslie), além de Widor Santiago (sax barítono), Cláudio Infante (bateria e percussão indiana), Guilherme Isnard (vocais), Sérgio Vid (vocais), Glauton Simmas Campello (analog keyboards), Manny Monteiro (bateria), Sérgio Nacife (bateria), João Palma (bateria), Cláudio Kote (guitarra), Dudú Caribe (guitarra), Roberto Marques (trombone), Dino Rangel (guitarra acústica), Mila Schiavo (percussão afro), Ricardo Brasil (tambourine), Vander Nascimento (flugel horn), Jéferson Nery (fagote), Diógenes de Souza (trompa) e Sérgio Malafaia (oboé) e o obscuro artista nipônico Akira Akurai (Taiko). Ta bom pra você? (risos)
Quais os critérios de escolha em função de cada faixa? Que sonoridade era pretendida?
Cada um foi escolhido pelo o que de melhor se caracteriza. Após pensar no arranjo... aliás, quando eu fazia o arranjo já pensava: "quero fulano, nesta". Daí já fazia o arranjo com a pessoa em mente.
Você pretende fazer shows deste disco? Eu quero fazer tudo o que seja possível no Brasil, mas não me iludo com nosso país, portanto não posso garantir que isto vá acontecer. O mercado está em fase aguda de mudanças, isto é cíclico. Acontece que quero me apresentar de forma correta, com uma grande banda e com a mesma sonoridade do disco e pra isso teria que movimentar muita gente. Isto custa dinheiro! Porém, se puder acontecer, estarei preparado para isto.
Que outros trabalhos, além é claro do Cd solo, desenvolve atualmente? Excursiono e gravo desde 1999 com a cantora Ithamara Koorax, que esteve como um dos cinco melhores artistas de jazz do ano 2003 pela revista Down Beat, com seu Cd Love Dance no qual gravei a belíssima faixa Someday. Ela é uma cantora fenomenal e a experiência tem sido fascinante. Gravei várias faixas do seu mais recente, Cd Brazilian Butterfly. Estou no grupo BRock ZERØ que retornou em 98, gravei no CD ZERØ EletroAcústico. Com este disco fizemos vários programas de tv como o Sérgio Groisman/Altas Horas/Globo SP, Jô Soares/Globo SP, Adriane Galisteu/Record SP, Mundo Clipper/CNT SP, Noite Afora/CNT SP, Atitude no Telhado/TVE Rio e outros. As novidades da banda podem ser conferidas no www.bandazero.com. A EMI, gravadora original do ZERØ, lançou no final de 2003 uma compilação com os dois LPs antigos remasterizados para CD chamado ZERØ Obra Completa, porém estamos com muito material novo que irá surpreender. Nosso próximo trabalho, que esta sendo produzido por Nilo Romero, será chamado "O Quinto Elemento", que faz menção ao filme de mesmo nome e fala, naturalmente sobre o amor, de uma forma roqueira, é claro! O disco do Dom Um Romão Lake of Perseverance, no qual eu gravei várias faixas, obteve ótimos resultados no mundo todo e estou contente por ter a oportunidade de gravar e tocar com um dos melhores bateristas do mundo, segundo a própria Down Beat que é considerada a Bíblia do Jazz. Esta gravação rendeu-nos como prêmio na Down Beat o sétimo lugar como melhor grupo de 2001 à frente do Tower of Power! Tenho uma banda pop chamada Linha Amarela com meu primo, guitarrista Cláudio Kote, e pretendemos lançar o material gravado. Estou envolvido na produção do novo trabalho do Lord K, compondo e cuidando da produção musical e executiva do Lord ao lado do Felipe Rodarte (EletroSamba) e do Cláudio Kote. Paralelamente o Lord K montou um show, que ele batizou de "Noite da Levada", onde ele canta um repertório de black music brasileira com muito groove e swing. A super banda deste evento tem, além de eu mesmo, o Kote na guitarra, o Chocolate na bateria, o Thiago Silva, filho do Robertinho Silva, na percussa e o Donatinho, filho do João Donato, nos samplers. Vários artistas convidados participam deste show como a Preta Gil, Rhossi "Pavilão 9", Jair Rodrigues, enfim, muita gente. Estou trabalhando, também, no lançamento nacional do meu livro dedicado ao baixo elétrico pela H. Sheldon editora. A mesma editora da revista Backstage, onde assino a coluna sobre contrabaixo à dez anos. Este livro possui 472 páginas de informações sobre o instrumento. Desde como ele é construído até um capítulo enorme com mais de 1000 exercícios. Ah! Este livro vem com um CD de exemplos gravados, também. A rede TKT de ensino musical, sistema de franquia com mais de 100 escolas espalhadas pelo Brasil, está com seis volumes do curso de contrabaixo elétrico que escrevi para eles. Já estou na fase final de uma nova série de livros contendo todas as técnicas avançadas do baixo, tipo Slap, Tapping, Acordes, Harmônicos, Fretless e Estudos Avançados de Pizzicato, e o primeiro volume que se chama Contrabaixo Completo para Iniciantes foi lançado no primeiro semestre de 2004 pela editora Irmãos Vitale. No campo dos equipamentos a Selenium com seu engenheiro Homero Sette Silva desenvolveu em parceria com o engenheiro civil Carlos Falcão, caixas acústicas sob minhas orientações. Uma tem 4 falantes de 10¨ e um drive. É pequena e confortável, mas com um som fascinante. A outra que tem um falante de 15¨ é a menor caixa para este tipo de falante que já vi. Possuo duas deste modelo. Fácil de transportar e compete com as importadas. Tenho um subwoofer de 18¨ deles também. O Ruy Monteiro da StudioR me enviou dois amps maravilhosos que alimentam tranqüilamente estas caixas todas. Estamos preparando alguns projetos juntos, eu, o Ruy da Studio R e o Homero Sette da Selenium. Uso os excelentes baixos da Condor que são brasileiros, pois são projetados e distribuídos exclusivamente aqui, porém fabricados na Coréia. Prefiro apostar no equipamento 100% nacional. Usei este equipamento em shows com Ithamara Koorax, Dom Um Romão, ZERØ, Linha Amarela e Arthur Maia Project já a uns três ou quatro anos e estou satisfeitíssimo. Estou projetando um baixo específico para tapping com MIDI, junto com uma marca daqui do Rio, porém não posso dar mais detalhes por enquanto. Vem surpresa por aí...
Em se tratando de seu novo livro como esta obra pode contribuir para a formação de baixistas iniciantes, iniciados e os mais experientes?
Carlos, talvez com a demonstração da possibilidade de se atingir objetivos desde que sejamos persistentes, profissionais, sei lá... Escalas, arpejos, este tipo de material pode ser encontrado em qualquer livro, mas todo este conhecimento junto em uma única obra, até este momento, é um fato inovador no mundo. Histórico do contrabaixo, a família do instrumento, dispositivos técnicos, fotos, gráficos, construção, parte tecnológica contendo explicações de amplificadores, efeitos e caixas em um único livro? Se o sujeito não aproveitar este material é por que quer somente criticar mesmo!
É um livro para ser utilizado como manual para quem está aprendendo ou ensinando contrabaixo, como complemento para o trabalho de aprendizagem?
Tudo isto junto.
Considerando todo o tempo de trabalho debruçado neste livro, você considera que o trabalho está completo, que seria esta mesmo a mensagem que você gostaria de passar?
Se ficasse mais tempo com ele não lançaria nunca. (risos) Cara, é difícil crer que o trabalho está completo, na verdade nunca está! O livro agora é como o Cd, não é mais meu e sim do público que adquirir o material.
Acredito que não é exatamente o livro como você planejou no princípio. Que evoluções este trabalho sofreu ao longo de sua produção para chegar a este resultado?
Atualizações de todo tipo, correções aqui e ali, informações novas a cada momento... Carlos são 14 anos debruçado sobre ele. Isto começou em 1991 quando eu estava no trem indo de Santo André para São Paulo ter mais uma aula da ULM. Contrabaixo nas costas, cadernos e muita força de vontade. Entrei na sala da minha professora, na época, Ge Cortez (baixista do Altas Horas da rede Globo) e disse: "Vou escrever um livro! Não um método, mas um livro diferente".Ela sorriu e com palavras de apoio deu algumas idéias inicias. Daí pra frente foram 10 anos de manuscritos, textos datilografados e depois digitados em computador. Somente quem faz uma obra destas tem a noção de quanto trabalho e quando de sua vida você tem que doar pra atingir os objetivos...
Este livro foi planejado em função da carência de material deste tipo no Brasil. Este ainda é um problema para a formação de baixistas no país?
Creio que sim, pois afora um ou outro bom livro, como os dois volumes maravilhosos do (Adriano) Giffoni, o livro de improvisação do Nico (Assumpção), e mais um ou outro, o resto do material ainda é pouco em quantidade e em qualidade. Já estou escrevendo mais uns 5 livros no computador. Todos técnicos. Tenho em mãos, material das aulas do Nico Assumpção que daria o melhor livro de improvisação de baixo que conheço, tenho também vários manuscritos do curso de fretless do Cláudio Bertrami, a apostila do Sérgio Pereira, a do Geraldo Vieira... E porque este material todo não está editado oficialmente? As editoras precisam abrir os olhos pra quem tem verdadeiramente "o que dizer". Se eu puder ajudar eu me disponho nestes casos citados.
Qual a influência deste processo educacional na formação teórico-musical de contrabaixistas?
Toda informação embasada teórica, técnica e cientificamente em exaustivos testes prévios é necessária e justa em qualquer área! Você não encontra profissionais de fim de semana em outras situações. Qualquer profissional que se preze tem como obrigação conhecer suas ferramentas de trabalho. Ter noções, básicas ao menos, do histórico envolvendo todos os processos criativos. Isto é cultura, amigo!
De que forma este livro pode colaborar para melhorar este quadro?
Informando, de maneira racional, os diversos caminhos que se pode seguir. Quais os projetos para o futuro? Além das expectativas sobre o CD, espero ter tempo para estudar mais, principalmente o StickBass que comprei do Luizão (Maia) no Japão em 99. Planejo organizar, em conjunto com uma produtora que trabalha comigo, uma série de workshows pelo país divulgando os livros, o Cd e os equipamentos. Talvez um outro vídeo-aula... continuar sendo feliz com minha esposa e filha... estar em paz com o Deus da minha compreensão... são muitos os planos! (risos)
Ping-Pong Um som? Do StickBass com efeitos analógicos, tipo filtros.
Palco ou estúdio? Se tiver que optar por apenas um... hum, os dois! (enfaticamente)
Uma boa cozinha (sessão rítmica)? Tony Levin e Jerry Marotta (da banda de Peter Gabriel).
Com quem gostaria de tocar? (respondendo prontamente) Posso exagerar? (risos) Peter Gabriel, Paul Young, David Bowie, Joni Mitchell, Steve Hackett, Mark Isham, David Grusin e, apesar de já haver gravado com ele, gostaria de participar de um grande show com o Eumir Deodato e orquestra. Embora até algum tempo eu ainda pensava que poderia contribuir com minhas pesquisas sonoras nos trabalhos de gente como Guilherme Arantes, Marina Lima, Cazuza, Lulu Santos, Barão Vermelho... sei lá. penso que posso ser mal interpretado como que se quisesse roubar a vaga de algum amigo que já está nestes trabalhos. por aí vai.
Um show? Pergunta difícil, mas shows inesquecíveis que eu participei foram os shows de abertura pro Stanley Clarke em 98 quando toquei com Celso Fonseca, o show de retorno do ZERØ em 99 com casa lotada e todo o público cantando os sucessos da banda, e o lançamento do CD Bossa Nova Meet's Drum'n Bass da Ithamara Koorax em 2000 Ballroom (RJ) com 9 músicos no palco, entre DJs, sopros, percussão, teclados e guitarra que foi de arrepiar.
Um disco? Unusual Weather do Michael Manring.
Uma música? Supper's Ready do Genesis.
Jaco Pastorius? (após um longo silêncio) Pioneiro... O divisor de águas... Ícaro!
Michael Manring? O sujeito que quebrou as barreiras entre técnica extremamente apurada e a musicalidade.
Tony Levin? Antítese e síntese!
Luizão Maia? O verdadeiro pai do Baixo brasileiro.
Arthur Maia? O filho do baixo brasileiro... ou melhor, o sobrinho (risos). Falando sério, um excepcional baixista e artista. Me trouxe de Sampa pro Rio porquê sabia que seria melhor pra minha carreira. Um irmão que me ajudou muito e o principal culpado por eu ser baixista. Obrigado Maia! Paz,
|