Dúvida sobre carreira acadêmica em musicologia

    Autor Mensagem
    Else Marie Radigue
    Membro Novato
    # mai/18


    Há alguns anos eu estudo por conta própria a produção científica em musicologia e a cada dia fico com mais vontade de entrar na carreira acadêmica nessa área, mas tenho pouco conhecimento técnico no meu instrumento (piano), em técnica vocal e não tenho tanto o impulso para compor. Apesar de considerar muito importante a performance e a criação, e querer alcançar um nível satisfatório, reconheço que isso pode levar muito tempo e eu não tenho ambições de me tornar virtuose ou uma exímia compositora. O problema é que para alcançar meu objetivo (carreira acadêmica em musicologia) eu preciso entrar em uma faculdade de música, e não sei se um nível técnico tão baixo é suficiente pra sobreviver ao curso e à carreira em si. Apesar de não existir prova específica para licenciatura na universidade da minha cidade e eu já ter visto alguns programas de pós-graduação que não requerem prova prática pra área, eu não sei se é realista ser musicóloga no Brasil entrando no ensino superior com uma técnica insuficiente, se algo do tipo seria visto com bons olhos pela comunidade acadêmica.

    Então, é possível ser um pesquisador e professor de musicologia sem ser razoavelmente bom em performance e/ou em composição?

    Dental Floss Tycoon
    Veterano
    # mai/18
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    Estou atualmente na pós-graduação em Música, e vejo que muitos colegas meus não se preocupam tanto com a parte de ser instrumentista. Quanto a pegar mal já não sei. O pessoal da música popular tende a ficar um tanto encucado com isso, tanto que essa é uma das maiores encrencas que eles tem com o pessoal da educação musical.

    Acredito que seja interessante você adquirir algum nível de proficiência em um instrumento, voz ou regência, por principalmente dois motivos: primeiro que conhecer o repertório te faz entender melhor o lado teórico, acredito que em todas as áreas. E também porque se você quer seguir carreira acadêmica, muito provavelmente terá que realizar uma prova prática.

    Mas também tenha em mente que em pelo menos boa parte dos departamentos não vai exigir que você seja uma virtuose nem nada do tipo. Claro que isso dependendo da disciplina que você pretende ministrar, porque não faria sentido dar aulas de piano, por exemplo, se a pessoa não tem um nível alto...

    Bom, pelo menos é o que tenho observado por aqui.

    Ken Himura
    Veterano
    # mai/18
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    Else Marie Radigue
    Então, é possível ser um pesquisador e professor de musicologia sem ser razoavelmente bom em performance e/ou em composição?
    Sim, plenamente possível e muito comum, até. Agora, não existe musicólogo sem proficiência em teoria musical. Então, vão te cobrar conhecimentos sólidos de harmonia tonal e modal, contraponto, forma, estética, análise etc.

    Geralmente, os programas de pós-graduação em musicologia aqui no Brasil não pedem prova prática de instrumento, mas têm provas específicas de musicologia com análises de estilo e as ferramentas da teoria musical nisso são indispensáveis.

    Claro que o nível de exigência também vai variar de programa pra programa, de escola pra escola. Mas estudar pra uma dessas mais pesadas mal não fará.

    Mauricio Luiz Bertola
    Veterano
    # mai/18
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    Else Marie Radigue
    Sou Doutor em História, Professor e pesquisador de duas universidades (uma pública e uma privada) e, como acadêmico posso te dizer uma coisa: Essa "defasagem" é relativamente comum, mas não é desejável. Não é incomum termos bos pesquisadores que não são bons em sala de aula e vice-versa. Os que se tornam referências são exatamente os que unem os dois lados da coisa.
    Abç

    Mauricio Luiz Bertola
    Veterano
    # mai/18 · Editado por: Mauricio Luiz Bertola
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    post duplo

    Else Marie Radigue
    Membro Novato
    # mai/18
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    Dental Floss Tycoon
    Acredito que seja interessante você adquirir algum nível de proficiência em um instrumento, voz ou regência, por principalmente dois motivos: primeiro que conhecer o repertório te faz entender melhor o lado teórico, acredito que em todas as áreas. E também porque se você quer seguir carreira acadêmica, muito provavelmente terá que realizar uma prova prática.
    Compreendo a importância da prática e pretendo continuar melhorando. Não acredito na impossibilidade em alcançar um nível de proficiência, minha preocupação é apenas o tempo pra tal, já que desejo entrar na graduação esse ano.

    Iniciei meu estudo de piano por conta própria há 2 anos devido a uma mudança no currículo do curso livre da minha cidade, que não abriu vagas pro instrumento até esse semestre. Realizei boa parte dos exercícios do Beyer e consegui tocar algumas músicas, mas sempre com receio de estar aprendendo de forma errada. Esse ano comecei a frequentar aulas em nível introdutório e a professora reconheceu alguns vícios. Por isso, estou tendo que aprender a tocar praticamente do zero.

    Ken Himura
    Sim, plenamente possível e muito comum, até. Agora, não existe musicólogo sem proficiência em teoria musical. Então, vão te cobrar conhecimentos sólidos de harmonia tonal e modal, contraponto, forma, estética, análise etc.
    Entendo a obrigatoriedade da parte teórica nessa área. Já venho estudando teoria há algum tempo, além de percepção, e, fazendo a parte teórica das provas de THE de algumas universidades, vejo que tenho um nível bom pra passar por elas.

    Geralmente, os programas de pós-graduação em musicologia aqui no Brasil não pedem prova prática de instrumento
    A preocupação sobre a criação e performance surgiu após pesquisar o currículo de alguns profissionais na área, pois vi que boa parte tem experiência nesses âmbitos.

    Ao ler trabalhos de musicologia (e etnomusicologia) percebi que pra fazer pesquisa e dar aula não é necessário criar ou interpretar (o que se verifica, pelo que você falou, pela falta de prova prática), o que passou pela minha cabeça foi a hipótese de não ser uma exigência explícita, mas uma preferência da comunidade acadêmica, utilizada, por exemplo, como critério de eliminação durante entrevistas pra seleção de pós-graduação e concurso pra professor, ao analisar as experiências artísticas do candidato.

    Outra hipótese foi a falta de cursos de graduação que focam nessa área no Brasil (existentes só na UFPel e na Unila), fazendo com que os profissionais possuíssem background em interpretação e criação. Como não conheço de perto a realidade do meio acadêmico, resolvi perguntar aqui.

    Dental Floss Tycoon
    Veterano
    # mai/18
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    Else Marie Radigue
    Entendi. De qualquer forma, espero que você consiga alcançar o que quer. Sou pianista, me disponibilizo em te ajudar se tiver dúvidas.

    Ken Himura
    Veterano
    # mai/18
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    Else Marie Radigue
    A preocupação sobre a criação e performance surgiu após pesquisar o currículo de alguns profissionais na área, pois vi que boa parte tem experiência nesses âmbitos
    Sim, claro. Mas é aquilo: um músico, ainda mais treinado na tradição clássica, é formado ao longo dos anos para ser um intérprete e costuma trabalhar nessa direção. Porém, um musicólogo não é intérprete a priori - ele trabalha sobre a música em n áreas diferentes, mas não sobre a interpretação e execução.

    Lógico que tocar proficientemente também é uma excelente habilidade para qualquer carreira da música - ainda mais se lidar com musicologia histórica, cena que ainda não tem tantos intérpretes comparada às demais - mas não é um pré-requisito para a área.

    Outra hipótese foi a falta de cursos de graduação que focam nessa área no Brasil (existentes só na UFPel e na Unila), fazendo com que os profissionais possuíssem background em interpretação e criação
    Não entendi bem isso aqui. Você diz que não existem muitos cursos de pós-graduação em musicologia no Brasil ou que não existem cursos de musicologia com interpretação?

    Bom, como disse, não é esperado que um musicólogo seja um exímio intérprete, então raramente vão colocá-lo para tocar - é melhor colocar para isso alguém que se dedica à interpretação como carreira. Agora, musicologia (em especial etnomusicologia, o Brasil é muito forte nisso) e educação musical são as duas maiores áreas da pós-graduação em música no Brasil; qualquer faculdade pública ou privada que tenha programa de pós vai ter um ou ambos os cursos. Já instrumento, composição e linhas que vêm dessa mistura (poéticas da criação, práticas criativas, práticas interpretativas etc) têm bem menos ofertas/vagas. Ah, e surgiram recentemente também os mestrados profissionais, ainda não mapeei bem os campos e vagas.

    Já venho estudando teoria há algum tempo, além de percepção, e, fazendo a parte teórica das provas de THE de algumas universidades, vejo que tenho um nível bom pra passar por elas.
    Perfeito, esse é o espírito! Agora que o THE já ficou fácil, avance na dificuldade do estudo, conforme faria na faculdade mesmo, nas cadeiras de percepção. Procure o livro "Rítmica", de José Eduardo Gramani e "Modus Vetus", de Lars Edlund. O primeiro você encontra por um bom preço em livrarias e sebos, e o segundo em pdf fácil pela internet. Estude-os bem. O "Modus Novus" é interessante também, mas é mais avançado.

    Depois de algum tempo, comece a sobrepor "camadas" de ação: enquanto solfeja alguma sequência do Modus Vetus, dê passos na pulsação da música e bata palmas em alguma subdivisão do tempo ou em diferentes ritmos. No Gramani, você pode fazer isso também improvisando com uma ou mais escalas no solfejo enquanto você bate os ritmos com as mãos e pés.

    Bons estudos!

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