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The Root Of All Evil Veterano
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# fev/10
Alguém sabe dizer por que causa razão ou circunstância a polifonia praticamente não existe em música popular?
Digam ai suas teorias, conspirações, idéias, imaginações que expliquem este fato.
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makumbator Moderador
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# fev/10
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The Root Of All Evil
Não são muitas, mas existem é claro!
Choro é um exemplo de música com bom uso de contraponto. Pixinguinha era um contrapontista famoso,por exemplo.
Música balinesa é praticamente só contraponto(além de sobreposições de compassos diferentes).
Há muitas músicas étnicas(muitas obscuras, inclusive) ricas em contraponto
Mas no âmbito do POP a homofonia fala alto. Mas na música erudita, uma boa parte também é homofônica.
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The Root Of All Evil Veterano
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# fev/10
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makumbator Mas no âmbito do POP a homofonia fala alto.
Então, eu dirigi mal a pergunta, na verdade é a causa disso que eu queria saber.
Por que motivo isto acontece?
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makumbator Moderador
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# fev/10
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The Root Of All Evil
Sinceramente não sei se existe uma razão precisa e exata, mas com certeza muita coisa conspira para isso:
1. É mais fácil compor e tocar dessa maneira
2. A origem da música ocidental foi na homofonia, e isso pode significar muita coisa, no entanto, algumas culturas já iniciaram no contraponto(Bali é um exemplo)
3.Há ciclos de polifonia e homofonia na música ocidental.
4. O mesmo pode se dizer do tonalismo. Seria uma mera preferência ou facilidade maior?É interessante que algumas culturas isoladas também chegaram a formas muito próximas de tonalismo, apesar de outras criarem alternativas muito diferentes. O tema é realmente muito complexo e vasto.
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The Root Of All Evil Veterano
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# fev/10 · Editado por: The Root Of All Evil
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makumbator
Você tocou em 2 pontos que eu pensava:
1. É mais fácil compor e tocar dessa maneira
Concordo, outro dia parei pra pensar, com 1 único violão dá pra tocar harmonias com acordes de até 6 vozes, sendo que se for até 4 vozes é bem tranquilamente, mas se for tocar um contraponto a 3 vozes já fica complicado e limitado.
4. O mesmo pode se dizer do tonalismo. Seria uma mera preferência ou facilidade maior?É interessante que algumas culturas isoladas também chegaram a formas muito próximas de tonalismo, apesar de outras criarem alternativas muito diferentes. O tema é realmente muito complexo e vasto.
Neste ponto, eu acho que o tonalismo em si não surgiu simplesmente pela facilidade, mas pela forma naturalmente agradável dos sons harmonizados, se formos pensar lá no começo mesmo, com o Pitágoras, portanto, acredito que é preferência mesmo.
O tonalismo não é agradável aos nossos ouvidos meramente por costume (embora seja o argumento de um monte de caras a favor de umas bizarrices), pois quando Pitágoras bolou a escala diatônica, ele não estava acostumado a ouvir este tipo de música. Ela foi agradável aos ouvidos porque ela é naturalmente agradável.
E como os caminhos da arte sempre foram feitos pra seguir o que é agradável e belo, acho que por isso que o sistema tonal é seguido.
Mas isto é apenas analisando por um dos aspectos.
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makumbator Moderador
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# fev/10 · Editado por: makumbator
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The Root Of All Evil O tonalismo não é agradável aos nossos ouvidos por costume, pois quando Pitágoras bolou a escala diatônica, ele não estava acostumado a ouvir este tipo de música. Ela foi agradável aos ouvidos porque ela é naturalmente agradável.
Sim, mas então porque algumas culturas não chegaram ao mesmo resultado? Será que é mais agradável mesmo ou ficou mais agradável? É difícil julgar, pois estamos contaminados com séculos de tonalismo.
Pode-se dizer que não é uma decorrência obrigatória da natureza(seja do cérebro ou dos sons), pois senão, todas as culturas isoladas teriam que chegar ao mesmo sistema(e não é isso que acontece). Isso inclusive já foi muito discutido por antropólogos musicais.
Lembro-me de uma questão na linguística que surgiu há alguns anos em pesquisas de um grupo americano aqui no Brasil, em uma tribo que era totalmente isolada à época(final do século XX), isolada não só da civilização ocidental, mas também de outras civilizações indígenas.
Pois bem, essa pesquisa derrubou algumas certezas na área, como a que em todas as culturas há designações para eventos ocorridos no passado. Nessa tribo, estranhamente não havia, na linguagem deles não se remetia a eventos já acontecidos(não fazia sentido para eles, era como se não houvesse história).
Outro ponto era que não se usava nenhum recurso para falar com uma pessoa sobre outra terceira pessoa(coisa que na época achava-se que era universal). Pois bem, nessa cultura, só se tratava com uma pessoa assuntos dela, eles não entendiam o conceito de se referir a uma terceira pessoa. estranho não? Será que na música não há nada assim também?
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Dogs2 Veterano |
# fev/10
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The Root Of All Evil O tonalismo não é agradável aos nossos ouvidos meramente por costume (embora seja o argumento de um monte de caras a favor de umas bizarrices)
Que tipo de bizarrice?
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The Root Of All Evil Veterano
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# fev/10
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makumbator Pode-se dizer que não é uma decorrência obrigatóriada natureza(seja do cérebro ou dos sons), pois senão, todas as culturas isoladas teriam que chegar ao mesmo sistema(enaõ é isso que acontece). Isso inclusive já foi muito discutido por antropólogos musicais.
As culturas que não chegaram, pode ter sido por incapacidade ou falta de oportunidade, ou mero acaso e eles que acabaram se acostumando aos sons que eles obtiveram e pra eles se tornou agradável.
É uma possibilidade, mas também teriamos que analisar pra ver, né?
Eu sei que o instrumento mais antigo que existe no mundo é uma flauta feita em osso, tem 5 buracos e a afinação dela é semelhante a de instrumentos atuais.
Pois bem, essa pesquisa derrubou algumas certezas na área, como a que em todas as culturas há designações para eventos ocorridos no passado. Nessa tribo, estranhamente não havia, na linguagem deles não se remetia a eventos já acontecidos(não fazia sentido para eles, era como se não houvesse história).
Outro ponto era que não se usava nenhum recurso para falar com uma pessoa sobre outra terceira pessoa(coisa que na época achava-se que era universal). Pois bem, nessa cultura, só se tratava com uma pessoa assuntos dela, eles não entendiam o conceito de se referir a uma terceira pessoa. estranho não? Será que na música não há nada assim também?
Muito interessante!
Eu viajo nas idéias, dai a primeira coisa que me veio à cabeça nisso foi a escala pentatônica, base da música oriental. Ai lembro de um documentário que vi aqui no FCC que falava que ela foi criada porque os outros 2 sons excluidos não harmonizavam bem com os demais e estas 5 notas entre apresentam uma relaçção matemática perfeita, de forma que todas as notas ficam agradáveis quando tocadas juntas entre si.
Dai a base da música oriental é a pentatônica, seria semelhante a esta tribo que abandonou 2 outros comportamentos que pra nós é comum.
eheheheh
Mas agora respondendo sua pergunta, acho que é possível sim acontecer isso com música. Cê sabe de algum caso tipo assim que seja bem documentado?
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makumbator Moderador
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# fev/10 · Editado por: makumbator
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The Root Of All Evil Mas agora respondendo sua pergunta, acho que é possível sim acontecer isso com música. Cê sabe de algum caso tipo assim que seja bem documentado?
Não me lembro de nada específico, tem muito tempo que não leio essas coisas de antropologia musical(área bem interessante por sinal). Mas deve haver conceitos universais falsos por aí.
As culturas que não chegaram, pode ter sido por incapacidade ou falta de oportunidade, ou mero acaso e eles que acabaram se acostumando aos sons que eles obtiveram e pra eles se tornou agradável.
Mas será que não é etnocentrismo achar que eles não chegam ainda em nosso grau de sofisticação? A música de Bali por exemplo, em termos de ritmo, é mais sofisticada que qualquer coisa do ocidente(brasileiro se acha o rei do ritmo, vai tocar aquilo lá pra ver como é...hashsaha), e foi feita por uma cultura "atrasada" para muita gente. A métrica indiana(baseada na prosódia) parece a métrica de música de cantochão, que foi abandonada no ocidente há séculos(justamente por causa do sugimento do contraponto), eles estão atrasados em relação ao ocidente? Sei lá...
Dai a base da música oriental é a pentatônica, seria semelhante a esta tribo que abandonou 2 outros comportamentos que pra nós é comum.
A pentatônica é uma dessas certezas(que pode ser falsa, mas até agora se mantém). Ela surgiu em vários pontos do globo(em diferentes épocas), em culturas que não tinham conexão alguma. O sucesso dela em aparecer assim é decorrência do cérebro humano, e sua necessidade em arrumar tudo de certas maneiras? O que vem da natureza da própria acústica sonora? será que alguma cultura chegou a ela e a rejeitou, partindo para outras coisas? difícil dizer.
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Endurance Veterano |
# fev/10
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The Root Of All Evil Eu viajo nas idéias, dai a primeira coisa que me veio à cabeça nisso foi a escala pentatônica, base da música oriental. Oriental ou ocidental? Sr fosse a ocidental, seria até cabível, mas a oriental, com todas as semi-tonalidades de comas e etc, soa meio esquisito Oo
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The Root Of All Evil Veterano
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# fev/10 · Editado por: The Root Of All Evil
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Endurance
Oriental mesmo. Toca só nas teclas pretas do piano ai, aleatoriamente e várias juntas. Vai soar bem em todos os casos e vai soar chinês =P
Mas tem um vídeo ai que fala isso.
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The Root Of All Evil Veterano
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# fev/10 · Editado por: The Root Of All Evil
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makumbator Mas será que não é etnocentrismo achar que eles não chegam ainda em nosso grau de sofisticação?
Eu parti do pressuposto que o nosso sistema foi construido apenas pela característica agradável dos sons. Sem dúvida foi descoberto e criado de uma forma muito inteligente, por uma cara muito intelgente, um gênio da matemática. Apenas creio que os povos possam não ter tido esta percepção pra organizar um sistema desta forma e ai seguiram outros caminhos, não baseados na agradabilidade (existe esta palavra?) mas é claro que cogito que eles possam ser na verdade os mais avançados ou pelo menos em alguns dos aspectos da música, como você citou ai o do ritmo.
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Minow Veterano |
# fev/10 · Editado por: Minow
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The Root Of All Evil As culturas que não chegaram, pode ter sido por incapacidade ou falta de oportunidade, ou mero acaso e eles que acabaram se acostumando aos sons que eles obtiveram e pra eles se tornou agradável.
Então a música africana é muito mais desenvolvida do que a música européia ritmicamente, ou algumas orientais melodicamente porque os europeus eram "incapacitados"? Eu acho que não, acredito que o tonalismo seja mais adotado por uma questão cultural mesmo. Pra o desenvolvimento de uma harmonia mais complexa, adotamos regras e padrões mais limitados.
Endurance Essa nossa pentatônica, do blues, é também conhecida como pentatônica chinesa. Existem várias outras, Pelog, Hirajoshi, Kumoi... tudo oriental.
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makumbator Moderador
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# fev/10
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Endurance
a pentatônica é base de várias músicas orientais, como a China e Japão(mas não de outras, como a indiana,por exemplo). Claro que isso não significa que sejam obrigatoriamente tonais e dividam a oitava da mesma forma(até porque, até no ocidente o temperamento igual pode ser considerado "recente").
Eu parti do pressuposto que o nosso sistema foi construido apenas pela característica agradável dos sons. Sem dúvida foi descoberto e criado de uma forma muito inteligente, por uma cara muito intelgente, um gênio da matemática. Apenas creio que os povos possam não ter tido esta percepção pra organizar um sistema desta forma e ai seguiram outros caminhos, não baseados na agradabilidade (existe esta palavra?)
Então, mas será que o deles não soava agradável também? O objetivo não deveria ser a totura sonora, obviamente. Sempre que se fala em extraterrestres, penso em como seria a música deles(caso eles a tivessem). Será que chegariam também em sistemas parecidos com os dos humanos?
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makumbator Moderador
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# fev/10
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Minow Então a música africana é muito mais desenvolvida do que a música européia ritmicamente, ou algumas orientais melodicamente porque os europeus eram "incapacitados"?
Também penso assim. Todos os sistemas são avançados e atrasados de acordo com a análise.
Da mesma forma, que na música indiana tradicional não há acordes(há ajuntamento de notas, mas não há a concepção de harmonia, funções harmônicas e tudo que isso acarreta), e isso a tornaria muito inferior à música européia. Por outro lado, a métrica constante da música do ocidente é enfadonha para a cultura indiana, que nesse ponto é mais sofiticada que a nossa.
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Dogs2 Veterano |
# fev/10
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The Root Of All Evil Apenas creio que os povos possam não ter tido esta percepção pra organizar um sistema desta forma e ai seguiram outros caminhos, não baseados na agradabilidade (existe esta palavra?)
O que me dá agonia nessas tuas idéais é que parece que o que vc subjetivamente não considera agradável, é algo, no absoluto, desagradável.
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Minow Veterano |
# fev/10
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makumbator Esse negócio do que "soa tenso" ou "soa consonante" também é bem relativo, né... Afinal intervalos de terça já foram considerados dissonantes... depois os de sétima, ou de nona. Hoje um acorde com tensão de #11 soa lindo. Amanhã quem sabe o que vamos estar acostumados? Ligeti faz consonâncias e dissonâncias de maneira totalmente linear, Stockhausen tá aí pra provar que até as notas musicais como as conhecemos já não são mais a única opção... Tem um monte de gente já pensando mais no espectro do som do que nas frequências fundamentais...
Esse tópico é legal!
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Alvaro Henrique Veterano |
# fev/10
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Música comercial é um produto pras massas. Pra falar com o máximo de pessoas possível, é preciso empregar um "vocabulário" menor, que o máximo de pessoas conheçam.
Assim como as letras só empregam palavras e expressões bem chavões, que qualquer manézinho sabe do que se trata (quando não usam verdadeiros clichês à Jorge Ben Jor), musicalmente é preciso que o vocabulário mais simples possível seja empregado. E quando falamos de combinação de vozes, a opção mais simples de combinar voz solista com instrumentos é a homofonia.
Mas só deixando claro: homofonia não é pecado nem coisa de compositor ruim. Monteverdi e Caccinni são alguns dos compositores que "inventaram" a homofonia, no início do Barroco, e dezenas de grandes compositores empregaram-na em suas obras.
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Blackus Veterano |
# fev/10
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Minow Onde eu posso achar mais informações sobre outras escalas orientais como as que você citou, por favor?
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Joka Cardoso Veterano |
# fev/10
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amei esse topico, eu realmente não tenho nada a acrescentar ao assunto, mais posso dizer que está muito agradavel ler o que o pessoal esta dizendo!!!
abraço
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makumbator Moderador
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# fev/10 · Editado por: makumbator
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Blackus
Vc quer meramente as escalas ou informação sobre origem e a cultura por trás delas?
Caso seja apenas as escalas propriamente ditas, te recomendo dois livros(em inglês, e deve ter para baixar na internet, mas não tenho certeza, pois tenho a versão física deles, que comprei na Freenote e na Amazon):
Scales - Guitar reference guide de Joe Charupakorn(Cherry Lane music company)
http://www.amazon.com/Scales-Guitar-Educational-Joe-Charupakorn/dp/157 5602458/ref=pd_bxgy_b_img_b
Esse é vapt vupt, não fala nada das escalas(só as mostra), mas é um compêndio gigante(nunca achei um de guitarra mais abrangente). Tem as escalas comuns, as pouco comuns e as nada comuns(como todas as que o Minow citou). São mais de 70 tipos diferentes para cada tom. Mostra a escala na partitura, em fórmula e em mini braços de guitarra. São Mais de 200 páginas de escalas. Excelente.
O mesmo autor tem um de acordes e outro de arpejos no mesmo esquema(vapt vupt com 3 zilhões de acordes ou arpejos)
Mel Bay's Encyclopedia of scales, modes and melodic patterns(for all instruments) de Arnie Berle (Mel Bay publications)
http://www.amazon.com/Encyclopedia-Scales-Modes-Melodic-Patterns/dp/07 86617918/ref=sr_1_fkmr2_1?ie=UTF8&qid=1267329161&sr=1-1-fkmr2
Esse tem menos escalas, mas explica um pouco o background de cada uma, as aplicações, sonoridade, etc...tem todas as comuns, a maioria das pouco comuns e algumas das nada comuns).
Para saber as informações culturais e mais profundas sobre cada escala, a dica são enciclopédias de música(como a de Música e músicos da Grove) e dicionários de música(como o dicionário Grove).
As antigas enciclopédias comuns também tem muita informação na área. Antes de haver internet, eu li bastante na Barsa e Mirador sobre essas escalas e música em geral. Vc acha info delas não apenas nos verbetes de música, mas também no dos países em questão(ìndia, China, Bali, etc...) Por incrível que pareça tem bastante coisa nessas enciclopédias comuns(inclusive pequenas partituras com exemplos).
O livro O Som e o sentido do José Miguel Wisnk(Companhia das letras)também aprofunda nessa área de música oriental. Ele vem até com CD de exemplos de músicas de diversos tempos e lugares
http://www.livrariagalileu.com.br/home/detalhe.asp?id_livro=36199&Shop pingUol
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Minow Veterano |
# fev/10
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Blackus O camarada makumbator já falou tudo!
O livro O Som e o sentido do José Miguel Wisnk(Companhia das letras)
Esse livro é ótimo, o cd é bem interessante, tem exemplos inclusive em músicas eruditas, mas com instrumentos inusitados (como sintetizadores) pra separar melhor os timbres.
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james_the_bronson Veterano |
# mar/10
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The Root Of All Evil O tonalismo não é agradável aos nossos ouvidos meramente por costume (embora seja o argumento de um monte de caras a favor de umas bizarrices), pois quando Pitágoras bolou a escala diatônica, ele não estava acostumado a ouvir este tipo de música. Ela foi agradável aos ouvidos porque ela é naturalmente agradável.
Faltou dizer "agradável aos ouvidos... DELE"...
E às vezes nem foi, vai que ele quis forçar isso só para justificar alguma teoria dele...
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Alvaro Henrique Veterano |
# mar/10
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The Root Of All Evil
O tonalismo não é agradável aos nossos ouvidos meramente por costume (embora seja o argumento de um monte de caras a favor de umas bizarrices), pois quando Pitágoras bolou a escala diatônica, ele não estava acostumado a ouvir este tipo de música. Ela foi agradável aos ouvidos porque ela é naturalmente agradável.
Root, acho que você precisa ler mais sobre o tema. Você está bastante desinformado.
Os primeiros instrumentos melódicos gregos eram a harpa e a flauta. Tanto a harpa quanto a flauta gregas estavam afinadas de acordo com uma escala diatônica.
O que Pitágoras e cia. foram fazer séculos depois dessa prática musical consolida foi observar na música aplicações da matemática. Uma delas foi que a relação entre os sons das escalas que os gregos já ouviam há séculos tinham uma relação numérica simples entre si que podia ser expressa como frações inteiras de uma corda ou de sinos em relações matemáticas simples entre si (1:2, 3:2, 2:3, etc.).
Ou seja, sendo mais claro impossível: na festa de primeiro aniversário do Pitágoras as canções que foram cantadas pra animar a festinha usavam a escala diatônica. Depois que ele cresceu e virou homenzinho é que descobriu as relações numéricas entre as notas da escala diatônica.
Pelo que sei, não há registro de sociedade sem influência Europeia que tenha produzido música tonal. Modal há, mas o tonalismo está baseado em alguns princípios que, ainda hoje, não fazem muito sentido pra culturas não-Européias. Um colega que foi ministrar masterclasses na China (e não há no mundo atualmente país com tantas orquestras quanto na China) disse que teve muita dificuldade em fazer os alunos tocarem, em composições tonais, mudanças abruptas de tensão e repouso ao invés da contrução da tensão e liberação da tensão como um arco de mudança gradativa, tal qual as estações do ano (característica da música medieval e renascentista). E com youtube, gravações, e tudo o mais...
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The Root Of All Evil Veterano
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# mar/10
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Alvaro Henrique
Falha minha! Valeu ae pelo esclarecimento.
Você poderia dizer ai então sobre a origem, e justificativa de tal origem, da escala diatônica? Gosto da maneira clara com que você explica as coisas! Você já escreveu algum livro sobre música?
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thmenezes_RJ Veterano |
# mar/10
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Muito bom tópico. Li inteiro, belas discussões.
Por favor continuem !!
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Edson Caetano Veterano
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# mar/10
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Pelo que eu saiba a origem da música grega data de seculos antes de cristo, porem infelizmente, ao contrario da arquitetura, nao restaram muitos vestigios sobre a musica daquela época e principalmente sobre como foi formada, portanto acredito que como eles chegaram a escala diatonica ficou perdida aí no meio
Até chegar Pitagoras e teorizar sobre a música de seu primeiro aniversário (Esta colocaçao do Alvaro foi excelente) e fazer música virar matemática e chegar até a gente como conhecemos
Root poderia, para eu me situar, me dar alguns exemplos de polifonia em bandas modernas, nao somente de voz cantando uma linha e a melodia em outro, apenas em tempo diferente, mas mais interessante ainda, seria um exemplo de polifonia com melodias diferentes se justapondo.
Até
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nichendrix Veterano
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# mar/10 · Editado por: nichendrix
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Alguém já parou pra pensar que motivos socio-culturais e históricos à parte, um motivo bem mais simples para o homofonia dominar a musica popular seja o fato de que elas são tocadas por grupos geralmente pequenos, que muitas vezes dificultariam o uso de polifonias?
Eu vejo muito isso no Jazz se você fizer um tour com a evolução do estilo desde os primórdios na virada do século até às vertentes mais vanguardistas de hoje, fica fácil perceber que em geral os grupos que costumam empregar algum de polifonia e/ou poli-ritmias em geral são grupos um pouco maiores (normalmente sextetos, heptetos ou orquestras), onde é possível usar esses recursos de forma mais eficaz?
Acho que o mesmo vale pro Choro embora possa ser tocado por grupos menores, um grupo de choro em geral tem 2 violões, bandolin, cavaquinho, uma sessão de percussão e não raro uma flauta ou saxofone, as vezes até um naipe de metais mais completo com trombone e trumpete.
Quando vc tem mais elementos, é bem mais simples manter a musica coesa e fazer contraponto.
Então embora eu ache que todos os motivos discutidos sejam válidos, acredito que essa peculiaridade também não deve ser deixada de lado.
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Alvaro Henrique Veterano |
# mar/10
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The Root Of All Evil Você poderia dizer ai então sobre a origem, e justificativa de tal origem, da escala diatônica?
Como nosso colega Edson Caetano bem colocou, só foi existir uma forma vaga de registro musical por volta do século IX a.C, muito depois do fim da Grécia Antiga e da queda de Roma. Portanto, esse momento fascinante da história da música permanecerá um mistério.
A teoria musical grega, assim como a teoria musical em qualquer outro momento da história, sempre foi o registro por escrito de práticas musicais já consolidadas há bastante tempo. Hoje o "gap" é um pouco menor porque com frequência o mesmo cara que compõe é o que faz tratados teóricos. Na Grécia Antiga, pelo que sei, não há entre os teóricos um só músico, eram todos filósofos ou matemáticos, e incluiam entre eles pessoas que eram contra os músicos. Platão, por exemplo, fez comentários pertinentes sobre a relação entre a música e os sentimentos que ela exorta, base da teoria dos affetus do Barroco, mas na sua república ideal os cantores não fariam parte da sociedade. É porque no tempo dele não tinha advogado, publicitário, deputado...
Gosto da maneira clara com que você explica as coisas! Você já escreveu algum livro sobre música?
No http://www.alvarohenrique.com/artigos.html tem algumas coisas. Tenho feito alguns artigos para a Violao Pro.
nichendrix Não falta música pra um instrumento com uso de polifonia. E não falo só do piano. Por exemplo,
ou
Sobre a formação do choro, velho, me avisa aonde estão tocando essa cambada toda que eu vou. Mesmo em casas famosas de choro é no máximo do máximo um quarteto. O normal é um trio (violão 7, pandeiro, flauta ou bandolim) e algum músico amigo dá uma canja, toca umas três composições e volta pro trio.
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nichendrix Veterano
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# mar/10 · Editado por: nichendrix
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Alvaro Henrique Não falta música pra um instrumento com uso de polifonia. E não falo só do piano. Por exemplo,
Cara, a gente só pode ter um problema enorme de comunicação ou então você não lê direito o que eu falo... hehehehhe
Eu não falei que não existe musica polifônica para um ou poucos instrumentos, eu disse que é um processo de composição mais difícil e que o uso de um maior numero de instrumentos tende a facilitar o processo pois a parte de cada instrumento individual tenderia a ser mais simples, portanto com menor exigência técnica para execução.
Musica polifônica ou uso de contraponto em grupos pequenos ou mesmo em um instrumento só, não é algo que qualquer zé mané que aprendeu meia duzia de acordes pra tocar Legião Urbana ou os NX-0 da vida consiga fazer, em geral exige um nível técnico e de conhecimento bem acima da média do que se vê em musica popular (uma vez que a pergunta do tópico é porque a musica popular em geral é homofônica).
Um exemplo fácil de ver isso é esse choro que você postou, pra executar isso o cara já treinou pelo menos o suficiente pra passar do nível do Iniciação ao Violão do Henrique Pinto (O básico do básico de violão), agora pegue o pessoal que toca na maioria das bandas de musica "popular" desses projetos de Legião Urbana da vida, e vá tocar Bourré, Lágrima ou Greensleves, que são musicas bem simples e que fazem parte do repertório de qualquer iniciante de violão erudito e veja quantos conseguiriam tocar qualquer dessas musicas facilmente. Se essas musicas do repertório de iniciante já seriam consideradas um desafio, imagine algo mais complexo.
Por isso que eu acho interessante ver a evolução de estilos populares onde esses conceitos são usados com mais frequência, como o jazz ou o choro, todos vem de formas bem simples e vão ficando cada vez mais complexas a medida que o nível técnico dos compositores/instrumentistas vai evoluindo.
Se você pegar um Ragtime da Década de 10, Swing ou um da decada 20 e 30 e o Bebop da década de 40 e 50, são dois níveis técnicos totalmente diferentes e depois compare isso com o que foi feito com o Fusion na decada de 70 e com o que é feito hoje em dia.
Fazendo isso, você vê facilmente como a coisa começou bem simples e homofônico, com ritmos simples, e com o tempo foi incorporando vários conceitos mais complexos, entre ele polifonias, poliritmias, contraponto etc.
Se você for procurar já no Ragtime vc encontrava uma ou outra musica ou pessoa que fazia algo mais complexo, mas eram apenas gatos pingados. Essas formas vão se tornando mais comuns à medida que o nível técnico pra "dominar" o repertório básico do instrumento, vai se tornado cada vez mais alto.
Sobre a formação do choro, velho, me avisa aonde estão tocando essa cambada toda que eu vou. Mesmo em casas famosas de choro é no máximo do máximo um quarteto. O normal é um trio (violão 7, pandeiro, flauta ou bandolim) e algum músico amigo dá uma canja, toca umas três composições e volta pro trio.
Cara a formação mais tradicional do choro é Violão de 7 cordas, violão, bandolim, flauta, cavaquinho e pandeiro.
Sempre teve grupos maiores ou menores, afinal, cada grupo surge de uma necessidade e realmente não duvido que hoje em dia quem vá viver de tocar choro, com certeza não vai poder dividir o cachê por 6 podendo dividir apenas por 3.
Sobre onde estão tocando essa cambada toda, eu não vou nem longe não, aqui perto de casa tem um dos barzinhos de choro mais tradicionais da cidade, em geral os grupos que tocam lá são sextetos e heptetos, sendo que toda terça feira toca uma orquestra de chorões, que é formada por 4 violões, 2 cavaquinhos, 2 bandolins, flauta, Sax alto, sax tenor, trombone, um trompete e 2 percucionistas na sessão ritmica.
Eu não sei como estão as coisas aí por São Paulo, mas aqui em geral se toca choro com grupos mais próximo das formações tradicionais, e acredito que em parte seja porque a maioria dos musicos que tocam choro são os aposentados da velha guarda sendo que os musicos mais novos em geral tocam o choro por "gosto" e tocam em grupos de outros estilos para sua subsistência.
Sem contar que aqui em geral musico não vive de musica, se vc pegar de cada 10 músicos, uns 7 vão ter outro emprego que não tem nada haver com a musica.
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